APENAS LEMBRANÇAS

CAPÍTULO 2 – Nenhuma sensação familiar

Ele correu por duas quadras, mudando constantemente de rumo. Não havia visto ninguém seguindo-o, mas também não olhara muito para trás. Esgotado, mirou uma pacata lanchonete, que parecia o lugar perfeito para se recompor. Entrou rapidamente.

A lanchonete era pequena e aconchegante, com mesas encostadas às paredes e um grande balcão com banquetas. O homem foi sentar-se ao balcão, de onde ficaria de costas para a rua. Percebeu que algumas pessoas o olhavam. Devem ser estas roupas amassadas.

A mulher do balcão lhe deu um grande sorriso e lhe perguntou o que iria querer.

-Qual a especialidade? - com a fome que estava, comeria qualquer coisa.

-Nosso sanduíche completo. Quer um café pra acompanhar?

-Pode ser.

-Só um minuto. - a mulher foi até a cozinha e fez o pedido. Voltou e recolheu alguns copos. Encarava o homem de tempo em tempo, curiosa. Ele devia ter entre vinte e trinta anos, mas não tinha uma aparência muito boa. Parecia abatido e cansado, e suas roupas não eram de se admirar. Mas tinha algo em sua expressão... talvez os olhos, aqueles grandes olhos azuis.

-Becky? O pedido!

A mulher acordou de seus devaneios e foi levar o pedido do cliente. Ele agora lia um jornal, não muito interessado. Ela pôs o prato à sua frente, mas ele não disse nada. Apenas devorou o sanduíche como se nunca tivesse visto comida. Ela começou a limpar o balcão e se dirigiu a ele, interessada em começar uma conversa.

-Você não é daqui, né? Esta cidade é grande, mas reconheço um forasteiro quando vejo.

Ele se limitou a negar com a cabeça. Ela não desistiu.

-Você tem olhos lindos, sabia? Como é seu nome?

Ele olhou para os lados, à procura de uma inspiração. Era melhor dizer algo, não queria levantar suspeitas ou chamar a atenção... Viu uma garrafa de whisky na prateleira.

-Johnny.

-Gostei de você, Johnny.

Ele levou a mão ao bolso. Não haveria mal algum em se aproveitar da situação para obter alguma informação.

-Você sabe onde fica isso?

A garçonete leu o papel e franziu a testa.

-Sei, mas é meio longe. Fica naquele bairro mais nobre, na parte da sul da cidade. Algum parente?

-É. - respondeu ele, sem se alterar.

-Espera um pouquinho aí que vou fazer um mapa pra você...

Dali a alguns minutos ele saía da lanchonete, observando bem se não havia ninguém a seguí-lo. Munido do mapa que a mulher rabiscara em um guardanapo, ele foi até o ponto de ônibus. Era fim de tarde, e o ponto já estava lotado. Ele observou uma mãe com duas crianças em uniforme de escola, tentando convencê-las a pararem de correr e trepar no muro que havia logo atrás do ponto.

O ônibus chegou e todos subiram, o homem pagou a passagem e foi sentar-se em um banco no fundo. Ele viu quando as duas crianças passaram por ele correndo, com a mãe gritando atrás. Por sorte, eles se acomodaram bem longe dele.

À sua frente, porém, sentou-se um homem alto e moreno com uma garotinha no colo. Não devia ter mais que um ano, mas não parava de encará-lo por cima do ombro do pai.

Ele observou a garota sorrir a cada mínimo movimento que fazia e perguntou-se quando já tivera aquela sensação. Concentrou-se em resgatar alguma memória, uma imagem que fosse. Não adiantava. Sempre que fazia aquilo só se sentia mais nervoso. Olhou para a fora para se distrair. As ruas já estavam escuras, as luzes das casas acesas... Não sabia de quem era o endereço para onde estava indo, mas esperava descobrir em breve.

A viagem durou quarenta minutos, então o homem desceu no ponto assinalado em seu mapa de guardanapo. Andou duas quadras, em meio a grandes prédios residenciais. Parou à frente de um, o número exato do endereço que procurava. Foi até o portão e perguntou-se o que diria ao porteiro. Não teve que pensar muito, o portão foi aberto em alguns segundos. Ele entrou confuso, mas tentando parecer seguro.

-Olá, senhor. - disse o porteiro assim que viu-o – Não achei que iria voltar sozinho.

Ele não sabia o que dizer. O homem abriu uma gaveta e tirou uma chave.

-Aqui está. Como é bom ser prevenido, não?

Ele pegou a chave da mão do porteiro. Só conseguiu balbuciar.

-Pois é...

Entrou no elevador e subiu até o sétimo andar, o apartamento era o 715. Assim que chegou à porta sabia que não encontraria ninguém, uma vez que o porteiro lhe dera a chave. Colocou-a na tranca e abriu a porta.

Era um apartamento simples, com pouca mobília mas bem decorado. Era menor do que o homem esperava, com três quartos e dois banheiros; uma cozinha e uma pequena sala. Ele andou pelo apartamento inteiro, observou o quarto de casal e os dois quartos de solteiro. Então voltou para a sala e sentou-se no sofá. Só então notou os porta-retratos em uma mesa de canto. Se aproximou, ansioso.

Todas as fotos eram de crianças. Um garoto de bicicleta, de boné, de uniforme. Uma menina pequena, cercada de brinquedos, dentro de um andador, dormindo. O homem passou a mão pelos porta-retratos, um sentimento indescritível tomando conta de seu peito. Pegou uma das fotos, onde as duas crianças apareciam juntas. O garoto, que parecia ter uns sete anos, segurava a menina no colo, em um jardim. Ambos tinham cabelos castanho-claro, e a garota tinha os olhos muito verdes. O garoto, porém, tinha olhos azuis e marcantes. Olhos que o homem havia visto pela última vez no espelho do estranho lugar onde havia acordado.

Ele tirou a foto do porta retrato e guardou-a no bolso. Levantou-se e ficou parado por um momento, até achar o que procurava. No canto havia um pequeno armário, do qual ele começou a abrir as gavetas. Encontrou alguns papéis sem importância, e então um plástico com alguns documentos. Tirou-o para fora e levou-o perto da luz. Havia uma carteira de motorista, com sua própria foto. Ele leu o nome, lentamente e em voz alta.

-Heero Yuy.

O nome não lhe soou familiar nem estranho. Era simplesmente um nome. Mas ainda assim, pensou ele, era melhor que Johnny...

Sobre o armário havia um telefone e uma pequena agenda. Depois de guardar o documento que encontrara, ele apertou o botão no telefone referente à secretária eletrônica. Então, pegou a pequena agenda e começou a estudá-la, nome por nome. Os poucos nomes que haviam continham apenas telefones e não significavam nada para ele.

-E aí, galera, como é que vocês tão? - uma voz de homem, alegre e descontraída invadiu a sala. Heero parou para ouvir a mensagem gravada. - Que história é essa de vir pra cá e nem passar aqui em casa? Não tem desculpa, vocês têm nosso endereço e estão de férias, vão passar nem que a gente tenha de ir buscá-los. E se não ligarem de novo, vou deixar um monte de mensagens!

O som agudo do bip interrompeu a mensagem. Heero olhou no painel do telefone o número registrado e encontrou-o anotado na agenda. Era um dos únicos nomes que trazia junto endereço completo. Duo Maxwell devia significar alguma coisa para ele, mas não sabia o quê.

Ele largou a agenda e desligou o telefone. Estava exausto, e como aquele apartamento parecia ser seu não haveria problema em sentir-se em casa. Revirou a geladeira e tomou um banho, encontrando roupas limpas e dobradas no armário. Depois deitou-se na cama de casal do maior quarto e adormeceu quase que instantaneamente.


N/a: Oie people! Falei que tava muito na cara? huahuahuahua Esse capítulo foi um pouco mais tranqüilo, e com mais informações... quem serão os moradores do apartamento e o que Heero fará a seguir? aguardem os próximos capítulos... Ah! E dois avisos - Primeiro aviso: esse fic vai ser mais centrado no Heero. O Duo vai fazer uma participação especial, por isso vai dar as caras também. Mas eu optei por não colocar os outros, blz? Segundo aviso: não vai ter yaoi.

bjos

Poly-chan

ps.: vlw a quem deixou review - Shojo Mizu, Shanty, Mady-chan, Tina-chan -, vocês realmente me animaram. Quanto às perguntas da Tina-chan... não vou estragar a surpresa, né?