APENAS LEMBRANÇAS

CAPÍTULO 3 - Perseguição

O quarto de paredes brancas estava claro e agradável. A persiana de tecido filtrava apenas parte da luz, impedindo-o de continuar a dormir. Heero abriu os olhos e mirou à volta, a respiração tranqüila, a cabeça leve. O resultado de uma noite bem dormida. Levantou-se e foi se trocar. Havia decidido ir até o endereço do tal Duo Maxwell, queria descobrir mais coisas a respeito de si mesmo, e já havia esgotado as possibilidades daquele apartamento.

Em um dos outro quartos encontrou uma mochila e colocou a agenda, algumas roupas e coisas que pudesse vir a precisar. Colocou a mochila nas costas e olhou novamente o quarto em que estava. Tinha uma escrivaninha bem bagunçada, com roupas espalhadas. Ele viu um boné no topo do monte, um boné azul e branco que vira na cabeça do garoto do porta-retrato da sala. Colocou-o na cabeça. Sabia que mais do que obter informações, ele queria encontrar pessoas que o conheciam, falar com a lguém que pudesse lhe dar todas as respostas que procurava. Ou pelo menos alguma sensação familiar.

Quando passava pela sala para sair, notou um molho de chaves repousando em um cinzeiro, e pegou-as. Decididamente não tinha a mínima idéia de onde era a casa de Duo Maxwell, mas era bem melhor de encontrá-la com um carro. Tinha uma carteira de motorista, provavelmente sabia dirigir...

Sem nem pensar, trancou a porta e desceu pelas escadas. Quando chegou no térreo, o porteiro correu até ele, branco como papel.

-Me desculpe, senhor. Eu não consegui impedí-los... já acionei a segurança, logo...

-Do que você está falando?

-Dos dois homens que acabaram de subir pelo elevador... eles disseram que queriam vê-lo, mas eu disse que teria de anunciá-los primeiro. Então eles disseram que estavam armados e subiriam de qualquer jeito, e eu não pude impedí-los...

-Está bem. Se eles voltarem diga que não me viu, certo? E chame a polícia. Eu vou sair daqui.

O homem acenou com a cabeça, nervoso. Heero se virou para a escada que levava ao subsolo, e então parou.

-Só uma coisa... qual é o meu carro?

Ele colocou a chave na ignição e pisou no acelerador. Ao menos lembrava como dirigir. Saiu da garagem do prédio e olhou para os dois lados da rua. Haviam vários carros estacionados, podia haver alguém vigiando o prédio em um deles. Ele andou por entre as fileiras de carros, nem muito rápido nem muito devagar, tentando não parecer suspeito. Alcançou o cruzamento e olhou no retrovisor. Um carro escuro que estivera estacionado veio na direção da esquina onde ele estava. Ele acelerou e entrou na via rápida, depois virou à esquerda e encontrou um viaduto. Andava mais rápido do que deveria, olhando a toda hora para trás, mas sem nenhum sinal do carro escuro.

Parou em um sinaleiro e notou uma loja de fast-food na outra esquina. Entrou no drive-thru. A atendente lhe perguntou, sem emoção, o que iria querer. Ele pediu um sanduíche qualquer e entrou com o carro em uma fila de espera, de onde não se podia ver a rua.

Posso ter me preocupado à toa, mas é melhor não arriscar.

O lanche demorou mais do que deveria, o que deixou os clientes irritados. Mas não a ele. Revirou o porta-luvas e encontrou apenas um óculos escuros. Olhou em baixo dos bancos, nos suportes das portas, mas não havia mais nada.

Que ótimo. Eu podia ter deixado mais pistas, caso perdesse a memória algum dia...

A fila começou a andar e ele parou bem à frente da cabine. O homem lhe deu um sorriso e começou a desculpar-se pela demora. Ele não disse nada. Lembrou-se do endereço em seu bolso.

-Você sabe onde fica isso?

O funcionário não levou nem dois segundos para responder.

-Fica perto daquele shopping novo, é bem fácil de chegar. Você pega essa avenida que passa aqui do lado...

Alguns minutos depois Heero continuava a rodar, um pouco mais seguro de onde queria chegar.

Estava uma tarde quente, e Heero notou a grande quantidade de gente entrando e saindo do shopping center. Seria um bom lugar para estacionar o carro e continuar andando, uma vez que poderia se misturar com a multidão e chegar ao endereço a pé, pois agora sabia que ele ficava a umas duas quadras daquele shopping.

Haviam mães arrastando crianças por todos os lados, adolescentes andando em grupos e casais passeando juntos. Ele se perguntou porque as pessoas o olhavam tanto, com aquele casaco escuro e fechado, boné azul e óculos escuros. Parou à frente de uma loja de cds e fingiu observar os preços. Então ouviu um assovio baixo e distante. Olhou para cima. Era um som estranho, de onde estaria vindo?

Alguns segundos se passaram e o som havia sumido por completo, mas então...

Ele levou as mãos à cabeça, desesperado. O assovio entrava por seus ouvidos, dando a impressão que iria estourar seus tímpanos. Parecia ficar mais forte e constante, parecia estar em todo lugar, parecia vir de sua própria cabeça. Ele se atirou ao chão de joelhos e segurou a cabeça, era algo insuportável, tudo que queria era que silenciasse.

Haviam pessoas à sua volta, ele podia sentir isso. Sabia que elas sussurravam. Não estariam ouvindo também aquele som dos infernos? Porque só ele estava se contorcendo e agonizando?

Então o som cessou, da mesma maneira que veio. Ele levantou a cabeça e tentou focalizar os vários rostos que o cercavam, o suor frio escorrendo pelo rosto. Ouviu alguém perguntar se ele estava bem, se precisariam chamar uma ambulância. Ele negou e pôs-se de pé. Ajuntou os óculos e o boné e começou a andar. As pessoas começaram a se dispersar, ainda de olhos fixos nele.

Ele então notou um homem encostado à vitrine de uma loja, no final do corredor. Usava sobretudo e falava com alguém por um aparelho pendurado à orelha. Não era um segurança do shopping porque não usava o mesmo colete preto e amarelo dos outros. E estava olhando fixamente para Heero.

Heero se virou, primeiro andando devagar e depois desembestando a correr. Virou por um corredor, passou por algumas lojas, desceu algumas escadas. O homem havia largado seu posto e o perseguia, vez ou outra Heero o via.

Ele chegou a uma praça de alimentação e olhou para trás. Havia ganho certa vantagem. Correu até um canto, onde haviam algumas mesas encostadas à parede. Em uma delas havia um garotinho sozinho, brincando com uma revista. Ele sentou-se à frente do garoto e pôs o boné. O menino não poderia olhá-lo com uma cara mais espantada. Balbuciou:

-Min.. minha mãe tá sentada aí... ela f.. foi pegar lanche...

Heero pegou a revista da mão dele.

-Então fique quieto que eu já saio.

Escondeu o rosto na revista e observou a entrada da praça com o canto dos olhos.

O homem que o perseguira estava lá, acompanhado de outro, observando a caótica praça de alimentação. Olharam por uns dois minutos, e então saíram. Heero devolveu a revista ao garoto que, observou, ou estava paralisado ou à beira de um ataque. Ele fez um aceno com a cabeça, se levantou e saiu. Deu dois passos e ouviu os berros do menino.

Ele continuou a caminhar imperturbável, e quando chegou novamente ao corredor das lojas pegou o caminho oposto que vira os dois homens pegarem. Sairia pelos fundos do shopping.

Alcançou as portas de vidro. A entrada de trás era bem menos movimentada, havia uma rua comprida à esquerda por onde as pessoas caminhavam, e um estacionamento à direita.

Ele sentou-se em um dos bancos que havia, bem encostado a duas paredes. Estava ligeiramente sem fôlego, iria descansar só um pouco.

-Filho, venha logo! - as pessoas passavam pela calçada saindo do shopping tagarelando, num misto de vozes e ruídos. Ele baixou a cabeça e mirou as próprias mãos. Porque o estavam perseguindo? O que fizera? Aqueles homens não estavam de brincadeira, queriam pegá-lo de qualquer jeito.

A calçada ficou um pouco mais tranqüila e Heero não ouvia mais vozes. O silêncio dominou, até ser quebrado pelo ruído de algo caindo. Ele levantou os olhos. Bem à sua frente, do outro lado da calçada estava um garoto de bermuda e camiseta. No chão, um copo de refrigerante virado.

O que esses garotos vêem em mim? pensou ele contrariado. Mas então notou o semblante do menino. Estava literalmente de boca aberta, com os grandes olhos azuis fixos nele. Heero prendeu a respiração e sentiu algo estranho. Era como se estivesse vendo a si mesmo alguns anos mais novo. Era o garoto da foto.


N/a: Oie povo! Mais um cap detro do prazo! Yaayyy! E não é que eu dei um jeito de meter um garoto na história de novo? Huahuahauhauahu. Eu juro que não tenho nada haver com isso, meus dedos escreveram sozinhos!

Nesse cap eu optei por responder os reviews aqui, acho melhor assim mas não sei como vocês preferem...

Tina-chan: Sim, você tem direito de sonhar... prometo pensar no seu caso. huahuahahuahua
Steph's: Não vou abandonar ninguém. todo mundo sabe q sou uma pessoa totalmente séria q cumpre com seus deveres e... ei, do quê você tá rindo?
Has-Has: Sim, só o Duo vai aparecer... E sim, o Heero é casado com a Relena. Blz? Qualquer outra duvida grite. huahuahuahua
Mayumi Evans Potter: E aqui está o outro capítulo. E nem demorei... valeu pela força, continue acompanhando a história.

bjos e bom feriado!