APENAS LEMBRANÇAS

CAPíTULO 6 – Por que matar?

Heero e Eiji saíram do pequeno quarto e notaram que haviam mais alguns carros estacionados. Colado ao hotel havia uma lanchonete, agora aberta.

Heero se dirigiu ao extremo do hotel, onde o homem dissera que ficava o banheiro. Eiji o olhava e achava estranho o fato de ele estar tão tranqüilo. No quê estou pensando? Ele sempre foi assim.

-Pai, estou com fome – disse o garoto, assim que ele parou à porta do banheiro.

-Está bem. - disse ele, lhe estendendo uma nota de dinheiro. Não haveria mal algum se o garoto fosse sozinho até a lanchonete, até porque não era a vida dele que estava sendo visada.

Ele entrou no banheiro, que não era lá muito agradável, mas melhor que nada. A porta se abriu e outro homem entrou, e depois um terceiro. Heero estava prestes a sair quando o último homem que entrou gritou:

-Parados os dois! - ele sacou uma pistola da cintura. Ele olhou Heero com desdém, as roupas amassadas e a mochila velha nas costas. Então virou-se para o outro homem.

-Você, camarada. Passa a chave do carro! Eu vi quando você desceu daquele importado.

O homem ao lado de Heero estava tão nervoso que só faltava chorar. Tentando controlar a tremedeira das mãos, ele vasculhou o bolso. Heero analisou o assaltante. Era um ladrão de galinhas com certeza, e devia estar tão nervoso quanto o cara que estava assaltando. Não usava nada para cobrir o rosto, e também tremia um pouco ao segurar a arma. Mas ele não iria interferir. Queria passar despercebido, não podia ser notado...

A porta se abriu pela terceira vez. O assaltante se virou confuso, a arma ainda apontada para o homem. Eiji estancou, ao entender a cena.

Antes que qualquer um deles esboçasse uma reação, Heero se adiantou, chutando a arma da mão do assaltante. Ela voou longe, escorregando no piso de azulejo.

O assaltante se ajoelhou, pedindo para que não o machucassem.

-Sinto muito... - disse Heero, metendo um soco bem dado no estômago dele. O assaltante caiu, sem ar. Heero virou-se para sair, sem encarar o outro homem.

Eiji acordou do choque e seguiu o pai, com um pacote de batatas na mão. Estava um pouco impressionado pra falar qualquer coisa, o que, de certa forma, divertiu o homem.

-Vamos – disse ele.

-P.. pra onde?

-Pelo que vi na estrada ontem, tem outra cidade a alguns quilômetros daqui. Já ficamos tempo demais neste hotel.

-É. - disse Eiji sem reclamar, seguindo-o pelo mato baixo da beira da estrada.

Depois de alguns minutos Eiji pareceu se recuperar do choque, pois, para a insatisfação de Heero, ele recomeçou a falar.

-Eu nunca tinha visto você bater em alguém, mas deve ter feito muito disso, não é? Quero dizer, quando você ainda era piloto. Você matou pessoas?

Ele perguntou isso com um brilho no olhar, como se falasse de um jogo de videogame. Mas Heero estava impassível. Por acaso o garoto havia esquecido sua situação ou estava fazendo aquilo para provocá-lo?

-Não vai responder? - então ele viu o típico olhar mortífero do pai e pareceu se lembrar. - Ah, é. Desculpe. - Mudou de assunto rapidamente. - Não é perigoso andarmos aqui?

-Mais perigoso seria ficarmos lá. Com certeza a polícia vai aparecer.

-Mas você não disse que a cidade fica a alguns quilômetros? Vamos andando?

-Sim, pelo menos até a próxima lanchonete.

Eiji suspirou, mas apressou o passo.

Como Heero havia calculado pelas informações que recebera, a lanchonete não ficava muito longe, e era um pouco maior e mais movimentada que a anterior. Ele pretendia se informar a respeito da localização da cidade mais próxima, para ver se conseguia cortar caminho por outro lugar que não fosse a estrada. Se sentou em um banco à frente do balcão e pediu um café completo para ele e o filho.

Havia uma pequena televisão ligada no noticiário matinal, onde um homem falava sobre a greve dos bancos. Ele mirou a tv sem muito interesse, enquanto o atendente trazia a comida.

Os funcionários ameaçam ficar mais tempo paralisados se suas reivindicações não forem atendidas. É com você, Sandra.

Obrigado, Lemos. Ontem à noite um carro roubado foi encontrado na via 56, prensado contra uma árvore. Não se sabe...

Heero prendeu a respiração e sentiu algo tocar suas costas. Olhou para trás sem virar a cabeça. Um homem alto e sério lhe fez um sinal com a cabeça, indicando que ele devia se levantar e apontou para dentro da própria jaqueta, onde, com certeza havia uma arma. O toque que ele havia sentido nas costas.

Em menos de um segundo, ele avaliou a situação. Estava em um lugar público, não queria chamar a atenção, mas não sabia o que o homem queria. Um assaltante com certeza não era, pois não teria se dirigido a ele em particular. Mas ao menos o homem pareceu não notar que Heero estava com Eiji, o que era uma vantagem.

-Acho que vou ao banheiro – disse ele em voz alta, para que o garoto ouvisse, mas torcendo para que não protestasse. Por sorte ele estava tão concentrado na reportagem que simplesmente ignorara o fato.

Heero se levantou e foi até onde o homem indicava, saindo por uma porta lateral. Havia uma construção um pouco afastada do local, uma espécie de depósito. O homem andava atrás de Heero, a arma dentro da jaqueta apontada para seu peito.

Os dois alcançaram a construção sem encontrar ninguém, e então a ultrapassaram. Atrás havia um pequeno pedaço de terreno, uma cerca caindo aos pedaços e um rio. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Heero sentiu uma pancada na cabeça. Jogou as mãos à frente, para absorver a queda, mas acabou batendo o rosto no chão. Virou-se de barriga para cima, para encarar seu agressor. O homem havia tirado a pistola da jaqueta, e estava acoplando um silenciador a ela.

Heero se arrastou para trás, e o homem deu alguns passos, não iria deixá-lo escapar. Tinha-o bem na sua mira...

De repente o homem sentiu algo nos olhos. Levou a mão ao rosto.

-Desgraçado!

Heero se levantou rápido, aproveitando o fato de o homem não poder enxergar por causa da terra que havia jogado em seu rosto. Muniu-se com um galho grande e grosso que havia encontrado no chão e desencadeou vários golpes, em todas as partes do corpo que conseguia enxergar e com toda a força que podia. O homem resistiu, ainda com a arma empunhada, travada. Mas então caiu no chão e Heero, sem perder a oportunidade, jogou-se em cima dele com o galho em seu pescoço. A arma voou de sua mão e foi parar a alguns metros dos dois.

-Quem é você?

O homem finalmente abriu os olhos, mas o encarou sem nada falar.

-Porque ia me matar? O que eu fiz? Porque está me perseguindo? – ele ia ficando mais e mais nervoso. – O que foi que eu fiz?

O homem o encarava com o olhar tranqüilo, fazendo a cena parecer estranha.

-O que... o que eu fiz de errado? – Heero aumentava a pressão no galho, sua voz ficava mais rouca, sua expressão mais severa.

-Vamos, me mate.

Heero encarou seu oponente. O olhar tranqüilo, com paz. Coisa que ele não tinha. Porquê?

-Eu falhei em minha missão. Minha vida não presta. Me mate.

Aquilo de certa forma pareceu mexer com o ex-piloto. Imagens confusas, cenas longínquas pareciam surgir e desaparecer, como que para assombrá-lo. Mais do que isso havia uma voz, uma voz persistente... Como não vai matar? Você tem que matar. Você precisa.

O homem começava a ficar sem ar, mas não perdia o olhar pacífico. Heero o encarava confuso, porque matá-lo? Porque tinha que matar?

O galho caiu no chão. O homem olhou surpreso, e então a mão de Heero fechou-se e atingiu-o bem no meio do rosto. Ele desmaiou. Heero ficou um tempo na mesma posição, mirando-o.


N/a: Oieeeee pessoas! Esse cap saiu no prazo! Não falei que dava pra agitar um pouco as coisas? Como eu sei que vão perguntar, esse oponente do Heero é um cara como ele: uma espécie de projeto de soldado perfeito. Será que sanei alguma dúvida ou só aumentei o número de perguntas? Huahuahauhauahauhauhua Aguardem pelo próximo capítulo, vou aumentar um pouco mais o nível de adrenalina...

Has-has: Você está no caminho... espero que esse capítulo tenha respondido a algumas dúvidas.
Tina-chan: Huahauhauhaahua. Guria, eu ri muito do seu comentário. Também já passei por situação do carro quebrar, e ter que ficar na estrada esperando mecânico. Na hora que você tá se ferrando dá muito ódio... mas depois a gente dá risada..

Bjos e até o próximo!
Poly-chan