APENAS LEMBRANÇAS
CAPÍTULO 7 - Um tiro no parque
-Pai! – Eiji correu até ele, vindo de dentro do restaurante. Estancou ao ver o homem desmaiado e a arma esquecida no chão. Olhou para o pai, ainda com a mão no ar. Parecia um pouco atordoado.
-Pai, tem uns policiais fazendo perguntas na lanchonete, achei melhor não ficar lá. Quem era ele?
-Não sei. – disse ele, retomando um pouco os sentidos e a consciência. - Nem ao menos falou o nome.
-Vamos embora logo, anda! – disse o garoto puxando-o pela mão. Ele seguiu-o.
-Para onde agora? – perguntou Eiji assim que alcançaram o estacionamento.
-Por aqui. – disse Heero, entrando por uma trilha no mato alto da beira da estrada.
Os dois andaram por meia hora, com as plantas batendo nas pernas e o sol subindo no céu. A certa altura, o mato alto simplesmente desapareceu e tudo que se via à frente era um grande descampado.
-Será que a gen... – mas o garoto não terminou de falar, pois o pai já andava à frente, sem ouví-lo. – Me espera!
Eiji correu para alcançá-lo, mas estancou assim que ouviu um som de veículo. Virou-se e deparou com um grande carro prata, que estava estacionando a menos de meio metro de onde ele estava.
Um homem alto, sério e de óculos escuros desceu do carro. Olhava fixamente para Heero, que também havia parado, um pouco à frente. Eiji perguntou-se se devia correr para junto do pai, quando o homem abriu um largo sorriso.
-Você é o cara que me salvou daquele assaltante no banheiro! Nem tive tempo de agradecê-lo.
-Não foi nada. – disse o ex-piloto, já virando-se para continuar.
-Espere! Não há nada que eu possa fazer por você?
-Uma carona. – disse Eiji, e pela primeira vez o homem o olhou. – Estamos indo até a próxima cidade e nosso carro estragou.
-Mas é claro! Porque não falaram antes? É seu filho, não é? Venham, entrem.
Heero se aproximou do garoto e colocou a mão em seu ombro.
-Queria saber onde você aprendeu a mentir desse jeito. Espero que não comigo...
-Não disse nada mais que a verdade. – respondeu o garoto, com um sorriso maroto nos lábios.
Heero sentou-se no banco da frente e observou tudo com atenção. Aquele homem parecia não apresentar riscos, encontraram-no por uma casualidade, e com certeza seria muito mais seguro viajar com ele do que continuar a trilhar a estrada a pé.
-Você está bem? – Heero olhou para o homem ao seu lado, que apontava para seu rosto.
Ele olhou no espelho do painel, estava com alguns arranhões, resultado da pequena briga que tivera.
-Só um arranhão, nada demais.
O homem colocou a chave na ignição e deu a partida.
-Hoje não está sendo um dia muito bom para ninguém, não é?
-É.
-Vocês também estavam indo para a próxima cidade? Eu trabalho lá.
Alguns carros de polícia passaram no sentido contrário, fazendo barulho.
-Essa estrada hoje está cheia de policiais... é melhor seu filho pôr o cinto.
Heero se virou para trás para falar com Eiji, mas o garoto havia adormecido. Ele quase deixou escapar um sorriso quando viu a cena. Por isso que o menino estivera tão quieto.
-Você não está viajando a negócios, né?
-Não. – Heero viu um celular em um suporte do painel. – Preciso deixar o menino na casa dos tios... eu posso usar seu telefone para avisá-los que estou indo?
-Claro, cara. Ainda te devo uma.
Heero abriu a mochila que carregava e tirou uma agenda de dentro. Procurou pelo nome Duo Maxwell e discou o número. Depois de três toques uma voz masculina atendeu o telefone. Por um segundo Heero hesitou, pensando no que falaria. Ouviu Duo dizer o próprio nome e perguntar quem era.
-Estou com Eiji a caminho da Cidade do Oeste.
-Heero? É você cara? O que aconteceu? Onde vocês est...
- Venha pegá-lo em uma hora.
-Vai com calma! Aonde você quer que eu pegue o menino e porquê?
-Onde for melhor pra você. Não conheço a cidade.
-Tá, então pode ser na praça central, é fácil de achar... mas como Eiji foi parar com você? O quê tá havendo, porra? Heero? Heero!
Heero desligou o telefone e ia colocar no suporte novamente quando o homem protestou.
-Pode ficar com ele, vou trocar de modelo mesmo. Além do que, parece que você precisa mais do que eu.
Heero segurou o celular por um instante, na dúvida.
-Obrigado.
Em pouco mais de vinte minutos eles chegaram na cidade, muito parecida com aquela da qual tinham saído. O homem trabalhava em um escritório no centro, por isso poderia mostrar aos dois onde era a praça central, muito conhecida na cidade.
-Obrigado por tudo.
-Quê isso, obrigado vocês. Se cuidem.
O homem fechou o vidro do importado e acelerou o carro, sumindo de vista. Os dois viraram-se para o portal que dava entrada ao tal parque.
-Esse lugar é enorme. – disse Eiji, olhando para as várias ciclovias que circundavam o parque. – O que viemos fazer aqui?
-Por enquanto só dar uma volta.
Os dois caminharam pelos passeios arborizados, repletos de mães empurrando carrinhos ou puxando crianças pequenas. A certa altura, ouviram o burbúrio típico de um playground. Eiji olhou para o pai.
-Posso?
Ele encarou o filho com o rosto carregado de expextativa, uma criança ainda. Não haveria problema algum...
-Vai.
O garoto correu para o brinquedo, como se nada no mundo fosse melhor que aquilo. Heero o seguiu com o olhar e encostou-se em uma árvore para vigiá-lo. Apalpou o celular no bolso. Precisava dar um jeito de avisar Duo aonde estava, para ter certeza que o garoto ficaria bem.
Eiji subiu em um brinquedo feito de tubos de metal e sentou-se no mais alto deles. Observou a vista à sua volta, adorava ver as coisas de cima, observar como a escala de tudo pode variar dependendo de onde se olha. Viu o pai encostado à arvore, mexendo no celular. Virou para o outro lado e viu mais crinças, brincando descalças em uma caixa de areia; e então um pedaço da rua e um prédio. Olhou para cima, contando o número de andares, o sol se refletindo no vidro escuro. No topo do edifício, viu um homem com roupas escuras, andando. Não estaria ele com calor? Ele parou de andar. Estava observando o playground com muita atenção, algo em sua mão refletiu os raios de sol... O cano de uma arma.
Eiji olhou para o pai distraído e para o homem mirando. Obedecendo a um impulso, pulou do brinquedo para o chão, flexionando os joelhos para absorver o impacto. Ele podia estar errado, ele queria estar errado mas...
-PAPAI!
Ele correu para o homem encostado à árvore com pavor, as lágrimas já molhando a face, o desejo de abraçá-lo quase insuportável...
Um pequeno estopim foi ouvido, não mais do que isso. Heero sentiu, antes de ver, o filho pulando em seu colo e agarrando-se em seus ombros. Ouviu seu gemido baixo e viu o sangue manchar sua camisa.
As outras pessoas pareceram não notar a cena. Heero segurou o filho nos braços e lançou o olhar para o topo do prédio. Não havia ninguém. Baixou novamente os olhos para o garoto semi-consciente em seus braços e viu na altura do ombro uma grande mancha vermelha e o buraco da bala.
-Eiji! EIJI!
O menino sorriu antes de desmaiar. Heero mirou seu rosto sereno, um turbilhão de imagens e emoções tomando conta de seu corpo e mente...
...o receio de pegar pela primeira vez aquele embrulhinho frágil; a preocupação e o cuidado frente as iminentes quedas da criança cambaleante; o desespero diante dos acidentes do garoto levado...
-Eiji...
N/a: Oieeeeeee pessoas. Antes de tudo não me matem, por favor! Eu sei que eu coloquei o Heero numa situação complicada... mas que culpa eu tenho se o moleque dele é tão perceptivo? E que culpa eu tenho se os meus dedos não me obedecem mais e escrevem por conta própria? Huahuahauahua Viram? A culpa não é minha...
Tina-chan: Como você disse, com uma criança envolvida as
coisas ficam mais interessantes. E complicadas... Agora, uma coisa é
certa: é realmente divertido escrever com uma criança curiosa, ainda
mais junto com um cara frio como o Heero. Huahuahuahu
Has-has: Não era o Trowa, na verdade era só mais um dos projetos de soldado perfeito. Os outros não foram perseguidos porque só o Heero foi "usado" neste projeto, e conseguiu fugir. Como eu falei, os outros não vão aparecer nesse fic, só em fics futuros, blz?
bjos
Poly-chan
