APENAS LEMBRANÇAS

Capítulo 9 – A decisão de Heero

No último pavimento do hospital havia um terraço, àquela hora vazio. Heero encontrava-se encostado à uma das grades de proteção, a observar a cidade estendida a seus pés. Passara por muitas coisas nos últimos dias, e agora precisava tomar uma decisão. Continuar perto daquelas pessoas que o conheciam seria um risco. Precisava resolver seus problemas sozinho, sem envolver mais ninguém no assunto. Acontecera uma vez, não iria acontecer de novo...

Ele virou-se para voltar quando percebeu um vulto perto da porta de acesso aos outros andares. Disfarçadamente, continuou a observar. Um homem de meia-idade vestido em roupas escuras o observava. Parecendo perceber que Heero o notara, ele virou as costas e começou a descer as escadas. Heero foi atrás dele. Ele começa a descer as escadas mais rápido, e Heero correu a alcançá-lo, movido pelo instinto.

-Ei, você! Pare!

O homem pareceu nervoso e continuou a correr, sem olhar para trás. Antes que chegassem no acesso ao hospital, Heero o alcançou e o segurou pelo ombro. O homem tentou se desvencilhar dos braços fortes do outro.

-Por favor não me machuque. Não tenho nada a ver com eles, juro.

Eles? Seriam as pessoas que estavam perseguindo-no? Ele sentiu sua ira transbondar e meteu um soco no queixo do homem.

-Porque estão me espionando? Querem ver o estrago que causaram?

O homem segurou o queixo, tremendo.

-Não, senhor. Eu juro que não sei de nada, não estou envolvi...

Outro soco fez-o perder o equilíbrio. Vários papéis voaram de seu bolso, e ele caiu sentado, tentando apoiar-se com as palmas das mãos. Heero estava sentindo toda sua tensão extravasar ao descontar sua raiva naquele homem.

-Não sei o quê fizeram comigo, não sei porque querem me matar. Mas uma vez que meu filho foi envolvido na história vocês vão se arrepender!

O homem balbuciou do chão.

-E...eu já disse que não sei do que está falando, senhor. Sou só um emissário, me mandaram vir investigá-lo. – O homem estava quase começando uma crise de choro. – Eu só fiz o que me pediram, senhor,por favor não me mate!

Não me mate. Aquela frase causou um pouco de impacto no ex-piloto. Lembrou-se do filho perguntando se já matara alguém. Lembrou-se das vozes em sua cabeça...Não vai matá-lo? Porquê? Você TEM que matar...

Ele levou a mão à cabeça, confuso.

-Vá embora antes que eu faça isso.

O homem, do chão, o olhou abobalhado. Sangue escorria de sua boca e o queixo estava literalmente caído.

-Vá logo antes que eu mude de idéia!

O homem pareceu despertar de seu torpor, e levantou-se rápido, correndo em seguida, sem nem ao menos olhar para trás.

Heero virou-se para voltar ao terraço, sentindo-se confuso. Então notou os papéis que haviam caído do bolso do homem quando socara-o. Agachou-se e começou a remexê-los. Haviam algumas fotos suas, horários e endereços confusos. Ele desviou a atenção para um papel impresso.

Heero Yuy
Ex-piloto do gundam wing zero
27 anos
Família: sim
Moradia fixa: sim
Observações: Resistência à maioria dos testes com drogas. Tremenda forçade vontade. Recaptura imediata.

nota: maior detalhamento na ficha pessoal

Duo estava na recepção do hospital, próximo ao balcão de uma enfermeira. Esperava que Hilde ligasse novamente, avisando que estava chegando. Travava uma luta feroz contra uma máquina de refrigerante que havia engolido seu dinheiro quando viu Heero passar. Já fazia mais de uma hora que o amigo havia saído, e Duo pensava que ele estava no quarto de Eiji. Ia atrás dele para perguntar onde estivera, mas parou. Não adiantaria perguntar.

Heero seguiu pelo corredor da forma que o médico havia lhe explicado. Abriu a porta do quarto e entrou sem fazer barulho. Haviam duas camas. Eiji estava deitado na mais afastada, ao lado da janela. Parecia pequeno e frágil, sem toda a vivacidade que normalmente o caracterizava. Heero foi tomado por uma sensação angustiante ao vê-lo deitado e imóvel. Sentou-se perto da cama e ficou a observá-lo.

Um grito quebrou o silêncio e Heero virou-se a tempo de ver o outro paciente, na cama ao lado, agitar-se violentamente tentando levantar. Estava imobilizado, e em pouco tempo alguns médicos entraram no quarto para sedá-lo novamente. O berreiro do homem acabou fazendo Eiji acordar.

-Onde eu estou? – Resmungou ele, apertando os olhos para tentar evitar a luz forte.

-No hospital. Está tudo bem, fique deitado.

O menino pareceu forçar a memória por um instante.

-Pai! Você tá bem? O cara! Ele atirou em você!

-Está tudo bem, não me aconteceu nada.

O médico que acabara de ajeitar o paciente barulhento escutou a conversa e veio ao encontro dos dois.

-Seu nome é Eiji, certo?

-Sim.

-Quero que me faça um favor. – Disse o homem, colocando o dedo na mão direita dele. – Aperte.

Heero olhou o garoto, apreensivo. Eiji apertou-lhe o dedo como pedido, apesar de não entender o porquê de tudo aquilo.

-Pode apertar com mais força?

Eiji obedeceu novamente e o médico pediu que executasse alguns movimentos com o braço, devagar para não forçar os pontos. Em seguida virou-se para Heero, enquanto Eiji se sentava na cama reclamando do colchão duro.

-Bom, parece que está tudo bem. Não houve dano algum aos nervos, ao que parece. Ele vai se recuperar sem seqüelas. - O médico deu um sorriso aos dois e saiu do quarto. Heero parecia ter se livrado de uma carga enorme, e sentia um alívio imenso. Sentia-se tão bem que poderia até mesmo...

-Pai eu tou com fome, não tem alg...

Eiji não pôde terminar de falar, pois o pai enlaçou-o com força, mas tomando o cuidado de não encostar no ombro do garoto.

-O... o quê você está fazendo? – perguntou o garoto surpreso, a voz abafada.

-Nunca mais faça isso, menino. Não sabe o susto que me deu...

-Pai, você que tá me assustando...

Heero soltou o garoto que o mirava, seus grandes olhos azuis com uma expressão apreensiva.

-Duo está aqui. – disse ele, voltando a usar um tom de voz firme. – Você não precisa mais se preocupar, provavelmente ele chamou sua mãe...

-Porque está falando assim, pai?

Heero começou a se afastar da cama do garoto, em direção à porta.

-Você está seguro agora.

-Você não está pensando em fugir, está?

-Eu posso confiar nessas pessoas, elas cuidarão de você...

-Não faz isso. Não de novo...

Heero havia alcançado a porta e abrira-a. Eiji começava a se desesperar, ao entender as intenções do pai.

-Não faz isso com a gente! Não depois de tudo que passamos!

-Você vai ficar bem...

-Não sem você!

A gritaria do garoto chamara a atenção de uma enfermeira que passava pelo corredor. Ela entrou no quarto no momento que Eiji tentava se levantar. Segurou-o, tentando acalmá-lo.

-Não! Me solte! Assim meu pai vai...

Lançando um último olhar ao filho, Heero saiu do quarto. Ele vai ficar bem... vai ficar bem. Precisava repetir aquelas palavras mentalmente, para que acreditasse nelas. Precisava resolver seus problemas e recuperar suas memórias mas... havia algo que lhe dizia para ficar. Tinha vontade de ficar. Lutou contra essa vontade enquanto dirigia-se às escadas de incêndio. Não queria correr o risco de encontrar-se com Duo e ter de explicar-se.

Chegou ao térreo e encaminhou-se para a saída, já vendo a grande movimentação de pessoas na rua. Empurrou a porta de vidro...

-Heero!

Ele virou-se para ver quem o chamara. Uma mulher de longos cabelos castanhos, que estava a poucos centímetros dele, praticamente lançou-se em seus braços.


N/a: Oie pessoas! E Eiji retorna com todo estilo! Sim, pois não sou tão malvada assim; tenho um pouco de amor-próprio aos personagens. Mas eu não deixei o Heero fugir... tá pensando o quê? huahuahauhua.

Tina-chan: Nesse capítulo tivemos a revolta de um pai, parte I. Huahuahua. Quanto ao que você falou do Heero e da Relena, sabe que acho que é por isso que eu gosto desse casal? Os dois são bem determinados.
Has-has: Não sei se o Duo vai contar algo pro Heero, não tinha pensado nesta possibilidade. Mas quanto a avisar a Relena, ele já fez isso mais que rápido.
Isa Natsume: No resultado da enquete, a maioria das pessoas achou que a enfermeira não conseguiria tirar o Heero da sala. Mas como o fic é meu e ele tem que continuar, ela conseguiu! Huahuahuahua

Bjos!
Poly-chan