APENAS LEMBRANÇAS

Capítulo 10 – Memórias da guerra

Confuso, Heero sentiu-se envolver pelos braços da mulher, o rosto afundando em seus cabelos, o perfume a inebriar seus sentidos. Um perfume que lhe subia à cabeça, que causava uma estranha sensação... nostalgia?

Ela passou a mão pelos cabelos do garoto enquanto apertava-o contra o peito, murmurando coisas inaudíveis.

Heero estava petrificado. Podia não ter lembranças sólidas daquela mulher, mas parecia conhecer seu cheiro, seu toque, sua voz.

Foi arrancado de suas deliciosas descobertas por um ruído agudo. Outra mulher, de cabelos curtos e ligeiramente mais baixa observava a cena com uma garotinha no colo. A criança olhava para Heero agitando os braços e soltando gritinhos agudos. Relena passou a mão pelo rosto dele, e murmurou:

-Você pode não se lembrar dela, mas parece que ela se lembra muito bem de você.

Duo saiu de um dos elevadores, apressado. Fez uma cara de imenso alívio ao ver Heero, Relena e Hilde.

Hilde começou a andar na direção de Duo, mas a garota em seu colo fez um escândalo dos diabos. Ela voltou e entregou-a para Heero, que pegou a garota de forma um pouco desajeitada.

-Está na hora de lembrar como se faz isso. - disse ela, rindo um pouco.

Relena virou-se para Duo.

-E o Eiji? Como está?

-Porque não vai vê-lo? Ele está acordado agora.

Relena concordou, meneando a cabeça. Os olhos estavam um pouco vermelhos, mas a expressão era firme.

-Porque não vão vocês duas? Eu preciso falar com Heero.

Relena deu um beijo nos lábios do marido e acompanhou Hilde. Duo estava nervoso, e pronto a começar a discutir com Heero, mas não pôde deixar de sorrir ante a expressão abobalhada do amigo. Ele estava sem reação, e a menina continuava a dar gritinhos de alegria em seu colo. Duo recompôs-se antes que o outro notasse e disse, da forma mais séria que pôde: (n/a: imagina o Duo tentando dar uma de sério...)

-No quê estava pensando, cara?

Heero limitou-se a olhá-lo intrigado. Ele continuou.

-Passei no quarto e o moleque estava à beira de um ataque de nervos, dizendo que você tinha ido embora de novo. Só se acalmou quando me fez prometer que viria atrás de você.

Heero olhou nos olhos do outro, decidido.

-Duo, não vou mais envolvê-lo nisso. Não vou envolver mais ninguém.

-Perde a memória mas não muda de personalidade! Até quando você vai querer insistir em fazer tudo sozinho? Aqueles dois são fortes, mas não sei o que aconteceria se você os deixasse de novo... Será que você nunca pensa nos outros?

A menina começou a chorar quando Duo elevou o tom de voz.

-É por isso que eu devo fazer isso sozinho...

-Seja lá o que for que você vá enfrentar é melhor que não esteja sozinho.

Duo baixou o tom de voz, e percebeu que Heero balançava quase impercetivelmene a menina em seu colo, que pouco a pouco se acalmava. O americano continuou:

-Além do mais, não era você que sempre dizia que a única forma de viver é seguindo as emoções? O que me diz? Você realmente quer ir embora e abandonar tudo?

Heero sentiu novamente aquela sensação... queria ficar. A garotinha adormeceu e tombou a cabeça em seu peito. Ele a mirou. Queria ficar...

Quando Relena entrou na pequena sala de espera, encontrou Heero sentado a um canto, com Aiko no colo. Duo e Hilde conversavam do lado de fora, mas ela percebeu que o garoto vez ou outra lançava um olhar de esguela ao amigo, como se este fosse fazer algo de errado.

Ela sentou-se ao lado de Heero, já habituada com o costume dele de mirá-la sem falar nada.

-Como ele está?

Ela virou-se para ele, um pouco surpresa.

-Parece que bem, vai receber alta amanhã. Precisa ficar em repouso, não fazer esforços mas vai ficar bem. Voltou a dormir agora.

Ele virou-se para frente, mirando o nada. Ela o olhou, como se pudesse ler seus pensamentos. Então disse:

-Porque ele estava tão nervoso? Você realmente ia embora?

Ele não respondeu, continuou em silêncio.

-Heero... – ele mirou a garota, que não o encarava. Tinha um semblante pesaroso e parecia refletir se devia falar algo ou não. Então tomou fôlego e o olhou nos olhos, deixando-o desarmado. - Não faça isso de novo... não se isole. Eu te conheço, sei que gosta de fazer as coisas sozinho e à sua maneira, de tomar as responsabilidades como só suas. Mas não faça isso... não dessa vez, não agora. Nós precisamos de você, eu preciso de você... deixa a gente te ajudar.

Ele surpreendeu-se. Mirou seus olhos e perdeu-se em sensações. Como poderia negar um pedido a ela?

No dia seguinte, Eiji recebeu alta. Estava tão exultante com o fato de poder voltar para casa que não reclamou ao ser levado até o carro na cadeira de rodas.

Heero havia conversado com Duo a respeito do homem que encontrara no terraço, e os dois iriam investigar o caso assim deixassem todos em casa. Por medida de precaução, voltariam em dois carros, Heero com um e Duo, levando Eiji, em outro.

Heero estava encostado no capô do carro, no estacionamento. Esperava Relena terminar de assinar os papéis e se despedir dos filhos para que pudessem ir. Ele insistira em ir sozinho, mas ela insistira mais.

-Vamos? – Ela finalmete havia chego, com as chaves nas mãos.

-O quê está fazendo?

-Entrando no carro, ora.

-E quem disse que você vai dirijir?

-Eu vou dirijir e você vai tentar descansar um pouco.

-Mas...

-Você não dormiu quase nada essa noite, e pelo que Eij falou, faz algum tempo que não dorme direito.

-Você não v... – ela calou-o com os lábios, e ele ficou sem reação. Ela aprofundou o beijo, aproveitando o momento. Quando os dois se separaram para respirar, ela disse – Só faça o que eu peço, está bem?

Heero sentou-se ao banco de passageiros, pensando quanto aquela mulher mexia com ele. Ela ligou o carro, e em pouco tempo ele adormeceu profundamente.

-Você falhou. Como pôde deixar de matá-lo?
Ele não conseguia ver de onde vinha a voz. Ele não conseguia ver onde estava, tamanha era a escuridão.
-Não... não posso...
-Porque não cumpriu sua missão?
Escuro... do lado de dentro e do lado de fora.
-Não quero... não posso...
-Você é um assassino. Já matou gente antes, e sabe disso. Não pode negar o que é.
-Não... não sou... não!
Várias imagens tomaram conta dele. O espaço sideral, Odin Lowe, o povo das colônias, os mobile suits, os companheiros de batalha... explosões. Tiros. Pessoas correndo.
-Não!

-Heero? – Ele abriu os olhos assustado. Estava no carro, parado em um acostamento. Relena pôs a mão em seu ombro e ele virou-se, ainda assustado. – Pesadelo?

Ele balançou a cabeça, em sinal afirmativo. Desviou o olhar e limpou o suor frio da testa.

-O quê está acontecendo? Você e Duo descobriram alguma coisa sobre as pessoas que te seqüestraram? Estão planejando alguma coisa, não é?

Ele virou-se e encontrou aqueles grandes olhos verdes.

-Nós vamos deixar vocês em casa e então investigar estas pessoas. Tenho um endereço comigo, parece que é de uma empresa de segurança. Vamos invadir o lugar à noite e hackear meus dados. Nós achamos que ela foi contratada para me apagar, só precisamos descobrir quem contratou.

-Está bem. – ela limitou-se a dizer. Já estava conformada com o fato de que ele sempre se envolveria em coisas daquele tipo.

-Vai dar tudo certo, Lena. – ele disse a frase num impulso, sem perceber. Ela sorriu.

-É tão bom ouvir isso... sua memória está voltando, não está?

Ele nada falou.

-Ouça... eu sei que você tem algumas coisas no passado das quais não se orgulha, e que vai ser difícil relembrá-las e aceitá-las. Sei que se sente culpado por tudo o que fez, mas não deixe que isso o destrua, está bem?

Ela ligou o carro e logo estavam em movimento novamente, Heero permaneceu quieto e sério mas ela sabia que estava pensando no que lhe disera.


N/a: Oiiiieeeee povo! Cap 10 on-line! E então, muito reflexivo? Muito OC? Espero que não, esse cap foi difícil... ¬¬' Valeu ao povo que está companhando e à galera que deixou review! Valeu por não me abandonarem...

James Hiwatari: Olá! Quem bom que está gostando! Quanto ao nome "Eiji", não me lembro ao certo qual foi a primeira vez que vi. É um nome japonês bem comum, do qual eu gosto bastante. Só pra citar um exemplo, o autor do livro Musashi se chama Yoshikawa Eiji.
Tina-chan: É claro que não deixei o Heero fugir... e sabe que eu achei que nesse capítulo ele ficou menos teimoso que o normal? Talvez ele esteja em estado de choque. O.o
Has-Has:
Acho que a pergunta foi respondida no cap. Sabe que você tem umas idéias boas pra fics policiais? Vou pensar na sua proposta.

bjos
Poly-chan