APENAS LEMBRANÇAS

CAPÍTULO 14 – Dois encontros em um dia

Era começo de outono, e o vento frio arrancava as folhas das árvores, espalhando-as pelo chão. Eiji pisou em algumas folhas amarelas, que formavam um verdadeiro tapete sobre a calçada de pedra da praça. Ouviu sua mãe resmungando alguma coisa sobre não esperá-la estacionar o carro e não olhar a irmã, mas o garoto não deu atenção. Esquadrinhava cada pedaço da paisagem, à procura de uma figura tão sua conhecida.

Então avistou-o. Alto e magro, os cabelos castanhos e rebeldes. As mãos nos bolsos, a expressão fria.

-Papai!

O garoto desatou a correr, um sorriso a se espalhar pela face. Trombou com o homem, o abraçando pela cintura. Relena observou o filho correndo, feliz. Os olhos de Heero encontraram-se com os dela. Então, numa demosntração de carinho que poucas vezes vira o marido dar, ele levantou o menino e o segurou no colo. O abraçou, passando a mão pelos cabelos castanhos, tão parecidos com os seus.

Ela aguardou, apreciando a cena. Eiji desceu dos braços do pai e começou a caminhar ao seu lado, ainda agarrado à sua cintura. Heero caminhou em direção às duas garotas e parou à frente de Relena. Desta vez foi ele quem tomou a iniciativa, colando os lábios nos dela. Ela sorriu. Assim que sentiu o garoto afastar-se, passou os braços pelo pescoço dele, puxando-o para si novamente e aprofundando mais o beijo.

-Então depois que você recebeu esse e-mail resolveu simplesmente ir até lá, fazer uma visitinha pra esse cara? – perguntou Relena a Heero, ao seu lado. Estavam sentados em um banco um pouco mais escondido na praça, vez ou outra observando as crianças que brincavam correndo atrás de alguns pombos.

-Eu quero resolver essa história de uma vez por todas. Quero saber exatamente o que me aconteceu, porque perdi a memória. Quem são as pessoas dos meus pesadelos...

-Pois eu acho que é se arriscar demais... – disse ela, afagando os cabelos da nuca dele, sabendo que aquilo lhe provocava arrepios.

-Eu vou ao lugar de qualquer jeito, sinto que vou descobrir o que quero. Só queria pedir um favor...

-Um favor?

-Duo vai comigo, o cara não fez objeção nenhuma a isso. Não posso levar mais ninguém. Mas isso não quer dizer que você não pode ajudar.

A garota ficou em silêncio, esperando-o continuar.

-Quero garantir que vai dar tudo certo. Quero que vigie o lugar.

-Por que está me pedindo isso?

-Porque confio em você. Nada de mal vai acontecer, é só uma garantia.

Heero chegou ao hotel às cinco horas, apenas a tempo de pegar Duo e explicar-lhe o que estava acontecendo. Às cinco e meia, recebeu a mensagem no celular, confirmando o encontro no laboratório. Pegou o endereço e saiu, junto com Duo.

O laboratório tinha uma localização central, sendo que o acharam com facilidade. Heero passou os olhos pelo amplo estacionamento, à procura de um carro prata. Depois de um tempo avistou-o, estacionado na rua. Fez um aceno de cabeça discreto a Relena, sentada na direção, e então entrou no prédio.

-Estamos fechando. – disse a mulher do balcão assim que os viu entrar, um pouco irritada. – Se tinha alguma coisa marcada...

-Quero falar com o doutor Tyler. – Heero a cortou. Ela parou por um segundo, com uma cara que dizia o quanto desaprovava aquela situação, mas se levantou e entrou por um corredor. Depois de alguns minutos ela voltou, acompanhada de um homem de jaleco. Um homem muito novo, com cara de garoto, mesmo com o cavanhaque. Ele aproximou-se dos dois e estendeu a mão.

-Heero Yuy? E você deve ser Duo Maxwell. – eles trocaram cumprimentos, sem falar nada. O homem parecia extremamente interessado em Heero, não tirava os olhos dele. – Venham comigo, o doutor Enzo pediu para eu acompanhá-los.

Os dois o seguiram, entrando no corredor, sob o olhar reprovador da atendente do balcão. Heero lançou um olhar à Duo. Até aquela hora tudo correra bem, normal até demais. O homem parou à frente de uma porta e os dois pararam atrás. Tyler deu uma batida de leve com os nós dos dedos.

-Doutor Enzo? Eles estão aqui.

Ouve uma resposta de dentro do aposento e os três entraram.

A sala era ampla, com uma grande vidraça ocupando grande parte da parede oposta à porta. Em um armário com portas de vidro haviam vários recipientes etiquetados e meticulosamente alinhados. No meio da sala, atrás de uma mesa com um computador e alguns papéis empilhados, um homem observava os visitantes interessado. Ele fez um aceno, o garoto saiu da sala e os dois sentaram-se.

-Desculpe minha falta de educação, mas preferi não revelar meu nome no e-mail. Sou Enzo Haswell.

-O que você quer comigo? – disse Heero, encurtando conversa.

-Antes de mais nada quero saber exatamente como você conseguiu fugir do meu laboratório.

-Seu laboratório. Porque eu estava lá?

O homem soltou um suspiro.

-Já vi que enquanto eu não explicar você não vai sossegar.

Heero apenas aguardou que o homem, que o encarava fixamente, continuasse.

-Não foi nada fácil eu conseguir permissão para transfelí-lo para meu laboratório, se quer saber. Hanka queria matá-lo, como faz com todos que falham.

-E quem é esse tal de Hanka?– perguntou Duo, incapaz de se controlar.

-Willen Hanka. Administrador e responsável pelo projeto super-soldado.

-Projeto super-soldado... – murmurou Duo. – Me lembro de ter visto isso em algum lugar.

-É o nome do projeto ultra-secreto do governo. Fazem testes em veteranos de guerra... testes com drogas. Estudos de laboratório, experiências genéticas. Eles querem comprender as reações do corpo humano, o limite das pessoas e tentar chegar a um soldado ideal. Eu trabalhei por certo período de tempo neste projeto, mas apenas anotava as reações a algumas drogas. No começo não sabia do que se tratava, passava para eles alguns medicamentes que estavam em fase de pesquisa, e eles me passavam o resultado dos testes. Assim que soube do que se tratava, pulei fora. Foi quando já havia saído de lá há um mês que um colega comentou que um dos soldados, como chamam, havia sofrido um lapso e iriam matá-lo. Então resolvi intervir, seria útil para a minha pesquisa.

-Foi neste acidente que perdi a memória? – perguntou Heero, encarando o homem. Ele pareceu surpreso.

-Você perdeu a memória?

-Quando acordei, não me lembrava nem de quem era. – respondeu o homem.

O cientista pensou um pouco.

-Provavelmente uma amnésia psicogênica, provocada por um trauma. Você já se lembrou de alguma coisa?

Heero fez que sim com a cabeça.

-É isso mesmo. Você recuperará a memória aos poucos, ou repentinamente. É provável que nunca se lembre inteiramente do trauma, mas as partes anteriores de sua vida você irá lembrar.

Heero nada falou. Era estranho, mas não se sentiu aliviado com aquela resposta que buscou desde que acordara. O que era o passado para ele? Apenas algumas lembranças, algo como outra vida que vivera. É certo que seria bom se lembrar de alguns fatos aos quais outras pessoas faziam referência, mas naquele momento ele sentia que tinha tudo que queria.


N/a: Oie pessoas! Esse capítulo foi um pouco mais pacífico, e deu pra ver que a mentalidade do Heero mudou um pouco depois do acidente... Ah! E antes que alguém pergunte, o nome do projeto, Super-soldado, não tem nada haver com Arquivo X. Só peguei o nome porque achei que combinava, mas qualquer outra semelhança é mera coincidênica. Espero que tenham entendido o lance do projeto e tudo, se alguma coisa não ficou clara é só perguntar.

Tina-chan: Oie! Realmente, deve ser muito ruim a sensação de que algo está faltando... mas estamos falando do Heero, não é? Ele agüenta mais essa.
Bruna Fabiana:
Olá! O mistério aos poucos está se resolvendo... Também não curto muito yaoi, e acho que é legal ter uma grande variedade de textos, pra todo mundo ter direito a ler o que gosta... Vlw pelo review.

Bjos
Poly-chan