APENAS LEMBRANÇAS

CAPÍTULO 16 – Salvos por um canivete

Todos ficaram em silêncio. Uma luz fraca vinha de uma abertura mal vedada, lançando um pouco da claridade do fim de tarde ao ambiente.

Heero mirou o filho, amarrado ao lado de Duo.

-Posso saber o que você está fazendo aqui?

-Você me pediu pra cuidar da mamãe, não se lembra? Foi o que fiz. Tá que meu plano não deu muito certo, mas eu tentei.

-Você não tem jeito! Está sempre se arriscando! – Heero parecia nervoso, e Duo notou isso com um pouco de surpresa. Relena respondeu a ele, com um tom irônico:

-Lógico. É seu filho...

Heero a mirou com seu olhar mais assustador, mas ela não se abalou.

-A mamãe tem razão. – disse o menino. – O que você faria no meu lugar?

Heero refletiu e percebeu que faria a mesma coisa, se arriscaria. Baixou um pouco o tom de voz.

-Podia ao menos ter pensado na sua irmã...

Todos ficaram em silêncio novamente, vez ou outra ouvindo um bipe indicando que o tempo estava passando.

-Eu... – Heero começou a falar, mas não soube como continuar. Relena o mirou, sabendo o que se passava na cabeça dele.

-Você não teve culpa.

-Mas eu acabei envolvendo todos vocês.

-Ah, pára com isso. Eu não estou te reconhecendo! – Duo protestou, balançando as pernas. – Se você ainda não pensou em uma maneira de sair daqui, é porque estamos ferrados, mas não vamos morrer nos lamentando.

Heero sentiu o braço de Relena encostar de leve no seu, tentando sem sucesso alcançar sua mão. Abaixou a cabeça, curtindo o contato.

-Como nos conhecemos? – perguntou ele de repente, em voz baixa. Ela o olhou com ternura.

-Você era um piloto treinado nas colônias e tinha sido mandado para a Terra em uma missão. Mas acabou não conseguindo chegar no lugar que deveria. Eu o encontrei caído na praia... assim que você acordou, tentou se detonar, mas não conseguiu. Então fugiu. Passou a me perseguir, dizendo que eu havia visto seu rosto e que iria me matar. – ela falou numa voz calma, sem tirar os olhos dele.

-Não foi nada romântico... – respondeu ele, ainda de cabeça baixa. Relena não riu. Continuou a encará-lo.

-Não importa. Você nunca cumpriu a promessa.

Heero finalmente levantou a cabeça. Os dois se miraram por um longo tempo. Então, num esforço extremo, ele tentou chegar mais perto. Empurrou o corpo para mais próximo do dela, sem se importar com as cordas que lhe pressionavam o peito. Ela também inclinou-se mais para frente. Ambos com as mãos presas, não podiam se tocar. Os lábios roçaram de leve.

-Tudo bem, finjam que não estamos aqui! – disse Eiji, com uma careta.

-Não atrapalha, moleque. – disse Duo, se divertindo um pouco com a situação.

-Sinceramente, o que acontece com vocês, adultos? Não foram pilotos gundam? Deviam agir mais...

-Me dê uma idéia do que fazer, que eu faço. – disse Duo.

O menino não respondeu, mas começou a se mexer na cadeira. Seus braços eram mais curtos que os dos outros, por isso suas cordas estavam mais soltas. Ele se contorceu, tentando por tudo trazer a mão direita para mais perto do corpo. Duo e Enzo observavam curiosos.

Por fim, com um ruído, algo caiu do bolso do menino para a cadeira. Ele esticou mais um pouco a mão, a corda já lhe cortando a circulação do pulso. E finalmente, primeiro com a ponta dos dedos e depois com a palma da mão, ele puxou o objeto. Um canivete.

-Não acharam que eu tinha vindo desarmado, né? – Duo riu do comentário do menino, imaginando como se sentiria se fosse salvo pelo canivete de um garoto de sete anos.

Eiji puxou as mãos para trás novamente, tomando cuidado para não derrubar o canivete. Abriu-o e posicionou a lâmina para cima, roçando na corda do pulso. Lentamente, ela começou a cortar as fibras da corda.

-Heero, não precisa de teste de DNA. Esse moleque é teu filho, com certeza. – disse Duo, mirando o menino aumentar a pressão na corda. Heero e Relena haviam se separado, e também observavam a cena com atenção.

Eiji levou algum tempo para cortar totalmente a corda, mas assim que o fez puxou as mãos para frente e começou a soltar a que o prendia à cadeira. E então estava em pé, com os pulsos esfolados sangrando, mas triunfante.

-Ótimo trabalho menino, Agora solte a gente. – disse Duo. Eiji não respondeu ao homem. Se aproximou da bomba. – Ei, o que você vai fazer?

-4 minutos. – disse o garoto, do chão.

-Eiji. – disse Heero, numa voz controlada. – Venha até aqui e corte minha corda.

-Tem um monte de fios aqui. – disse o menino, sem se mexer. – Qual será que tem que cortar?

-Eiji, ouça seu pai. Venha até aqui que ele cuida disso. – havia uma nota de desespero na voz de Relena.

-Eu posso fazer isso.

-Não seja idiota, menino. Deixe que eu faço isso. – A voz de Heero continuava firme. Ele não sabia se já havia desarmado bombas em sua vida, mas de certa forma sentia-se extremamente confiante no que deveria fazer.

-Eu quero fazer alguma coisa. – disse o garoto, observando a bomba, mas sem chegar mais perto.

-Você já fez muito, querido. Agora obedeça seu pai. – disse Relena. Eiji parecia estar pesando a situação, quando Heero falou.

-Você não precisa me provar nada, filho.

Aquilo foi o suficiete para persuadir o menino. Ele foi até o pai e cortou as cordas. Heero correu até a bomba, enquanto Eiji soltava os outros.

Heero analisou rapidamente o dispositivo. Sabia exatamente como ele funcionava.

3 minutos.

-Não dá tempo de fugirmos? – perguntou Enzo, levantando-se.

-Eu consigo destivá-la. – disse Heero, confiante. - Mas é melhor vocês irem na frente, pro caso de algo dar errado.

Relena foi até ele e pôs as mãos em seu ombro, como que para dizer que não sairia dali. Enzo foi até a porta, mas ela estava trancada.

-Está trancada. – informou ele aos outros. – Se formos morrer, vamos morrer todos juntos.

-Não vamos morrer. – disse Eiji, massageando os pulsos. - Eu confio no meu pai.

Depois de analisar o dipositivo, Heero pediu o canivete do filho. O timer indicava dois minutos. Um por um, o ex-piloto cortou três fios. A cada corte, todos prendiam a respiração.

Assim que ele cortou o último fio, o timer paralisou em 1:48. E os ruídos cessaram.

-Você conseguiu! – disse Relena, puxando o marido para cima e beijando-o. Duo se aproximou da bomba, para ver se não havia risco. Eiji sorriu e disse a Enzo:

-Eu não falei?


N/a: Oieeeee! Gente, tá acabando... pior que eu curti muito escrever essa história, foi divertido e gostei bastante de escrever com o Heero. Quanto a esse capítulo, parece que ninguém se arriscou a dar um palpite... então como ficou a forma como resolvi?Muito chata? Muito oc? Muito sem noção? Opiniões! Próximo capítulo... epílogo!

bjos
Poly-chan