APENAS LEMBRANÇAS
CAPÍTULO 17 - Epílogo
Duo chegou na garagem e encontrou Heero sentado a uma mesa, cercado de chaves de fenda e parafusos. Estava mexendo em um rádio que não funcionava mais, e que Hilde iria jogar fora. Era um sábado frio mas agradável, e já faziam três dias desde o incidente da bomba. Heero e Relena haviam ido até a casa de Duo para pegar Eiji, que havia dormido lá e acabaram ficando para o almoço.
-E aí, cara. Foi bom pra você?
Heero o mirou com um olhar mortífero típico, ao que o outro apenas sorriu.
-Ah, qualé. Você acha que eu não sei porque pediram pra deixar o piá aqui? Não se preocupa, eu entendo...
Naquele momento Eiji entrou na garagem. Heero agradeceu mentalmente a presença do menino, assim Duo ficou quieto. Ele sentou-se em uma cadeira e ficou a mirar o trabalho do pai, cabisbaixo. Heero não havia gritado com Eiji, nem lhe dado broncas ou castigo. Mas ele sabia que o pai estava zangado com ele. Pelo olhar.
Heero tirou uma placa que estava na frente de alguns terminais que queria mexer. Colocou-a sobre a mesa e aproveitou para mirar Eiji de esgüela. Lançou um segundo olhar. O menino estava chorando?
Eiji viu que o pai o encarava, então as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto.
-Me desculpa. – disse o menino, sem encará-lo. – Eu não queria fazer mal, eu não queria te preocupar. Eu só fiz o que achei que era certo.
Esse menino tem um gênio difícil. O meu gênio. Mas ainda assim, há algo que o diferencia de mim... Essa preocupação com os outros que só pode ter puxado da mãe.
Heero não se mexeu, perdido em seus pensamentos. Eiji levantou-se para sair, já havia dito o que queria dizer.
-Venha aqui. – Ele se paralisou, surpreso com a voz do pai. Virou-se e chegou mais perto. Heero estendeu o braço, para pegá-lo no colo. Eiji passou os braços pelo pescoço do pai, para abraçá-lo.
Relena chegou à garagem, com um telefone na mão. Mas assim que viu a cena, esqueceu-se do que ia fazer. Desde que Heero retornara, estava ligiramente diferente, mais carinhoso. E naqueles últimos dias, à medida que ele recuperava mais memórias, aquela característica parecia estar se acentuando.
-Veio falar alguma coisa? – perguntou ele, ainda com o filho no colo, mirando o telefone na mão de Relena.
-Ah... – ela forçou a memória. – Enzo falou com o advogado hoje. Já está com os documentos sobre Hanka, diz que vão de desvio de dinheiro até assassinato de políticos influentes. Vai iniciar o processo, e provavelmente Hanka vai perder o cargo de administrador do projeto super-soldado.
Heero pressionou o filho de leve, para que ele descesse. Levantou-se e foi para a sala, junto de Relena.
-Mas o projeto não vai ser desativado. – disse ele, continuando a conversa.
-Não. Seria pretensão demais imaginar que encerraríamos o projeto só tirando o Hanka.
-Falei com Sally. Passei todas as informações que tinha aos Preventers. Mas levando em conta a natureza do problema, não sei se poderão fazer alguma coisa.
-Talvez se esse assunto vier à tona... se provocasse discussão entre os países... – disse Relena, refletindo.
-Não sei se é uma boa idéia. Agora que conseguimos nos livrar deste problema, se você se envolver novamente não vão nos deixar em paz.
-Mas não posso ficar sem fazer nada a respeito disso. E temos mais um problema. Não é segredo que você sumiu, pelo menos no Reino de Sank a noticía já vazou. Que explicação vamos dar?
-Podemos não dar explicação nenhuma. Fui encontrado sem memória, não me lembrava de nada que aconteceu. Em um ou dois meses, ninguém mais vai se lembrar disso.
Relena sorriu e encostou a cabeça no peito dele.
-Sabe que o Milliardo ligou hoje? Acredite se quiser, ele ficou bem preocupado com você.
-Seu irmão? – perguntou Heero, já com algumas memórias do seu antigo inimigo.
-Ele disse que estava preocupado comigo e com as crianças... mas não parava de perguntar como você estava.
-Quando vamos voltar para casa? – perguntou o ex-piloto, mudando de assunto.
-Ele está cuidando de tudo lá, não há pressa.
-Não é por isso. Quero voltar.
-Eu também quero... mas é melhor esperarmos até esse caso do Hanka se resolver. – respondeu Relena.
Sam entrou na sala como um foguete.
-Mamãe tá chamando!
-Já estamos indo, querida.
OoOoOoOoOoOoO
O tempo estava esfriando cada vez mais. Enzo olhou para os dois lados da rua, procurando um grupo de pessoas. Estava à frente do aeroporto, tentando proteger-se do vento frio atrás de uma coluna.
Viu duas crianças passarem correndo.
-Ah, finalmente. – virou-se para o grupo de adultos que vinha logo atrás, indo até eles.
-Enzo! – Duo foi o primeiro a reconhecê-lo, indo apertar a mão do homem.
-Olá para vocês. Que bom que cheguei na hora.
-Eiji e Sam! Voltem aqui! – Relena gritou, antes de também cumprimentar Enzo.
-Algum problema com o processo? – perguntou Heero, colocando as malas que carregava no chão.
-Não, não. Problema algum. Hanka não vai mais voltar para essa área, pode ter certeza. Vim apenas me despedir e agradecer pelo que fizeram.
-Agradecer? – perguntou Heero.
-Ora, vamos. Esse menino salvou nossas vidas.
Eiji, que havia voltado junto de Sam, levantou os braços, fazendo graça. Levou um tapa leve do pai na cabeça, ao que todos deram risada.
-Falando sério. – disse Enzo, retomando a conversa. – Se consegui tirar Hanka da pesquisa, foi graças à vocês.
-Não há o que agradecer. – disse Heero. – Vamos esquecer isso agora.
-É verdade. – concordou Relena. – E é melhor irmos andando também, se não quisermos perder o vôo.
-Sem correr... – disse Hilde tarde demais, vendo as duas crianças disparando na frente.
Todos começaram a andar, e Enzo os acompanhou. Conversaram sobre banalidades, num clima leve.
Chegaram ao portão de embarque, e começaram a despedir-se. Enzo chamou Heero a um canto e lhe estendeu um cartão.
-Se você precisar de qualquer coisa é só ligar.
-Qualquer coisa? – Heero estranhou. A que ele se referia?
-Ouça, devido aos agravantes da situação, tem algumas memórias que talvez você nunca recupere naturalmente. Mas posso testar...
-Não. – Heero o cortou. – Não há necessidade. Meu passado são apenas lembranças, não me importo se não recuperar algumas. Vou deixar isso pra trás e pensar no futuro.
Os dois ouviram um barulho e viraram-se. Um suporte plástico que era usado para separar as filas estava no chão. E ao seu lado estava um garoto, tentando fazer cara de inocente.
-Tinha que ser... – murmurou Heero. Com um aceno de cabeça, ele se afastou de Enzo, dirigindo-se para o portão.
-Vamos. Antes que quebre alguma coisa... – disse ele, chamando o filho.
Eiji seguiu o pai e logo Relena, com Aiko no colo, também os acompanhava.
-Vai com calma, menino das neves... – disse Heero ao filho. Mesmo fazendo uma brincadeira, seu rosto permanecia sério, o que de certa forma poderia parecer estranho para quem não o conhecesse. Eiji, já acostumado, respondeu com uma careta.
-Foi a mamãe que me encheu de roupas assim. Acho que ela quer me sufocar...
-Não reclame! Está frio. – disse Relena, irritada.
-Mas também não estamos no Alaska...
Relena suspirou, derrotada. Deixaria Eiji pensar que ganhara a discussão. Quando entravam no avião, dali a poucos minutos, o menino mal se lembrava dela. Enumerava para o pai as coisas que faria quando chegasse em casa, incluindo derrotá-lo numa partida de basquete.
Heero sentou-se no assento, agora pensando na conversa com Enzo.
Tenho coisas das quais não me orgulho em meu
passado. 'A vida é uma coisa sem valor, principalmete a
minha' Será que mudei tanto a ponto de achar esse raciocínio
absurdo? Talvez eu tenha mudado. Tenho motivos a mais para viver...
Já tenho tudo que quero. E o passado são
apenas lembranças.
-FIM-
N/a: Primeiro, desculpem a demora. Segundo... EU TERMINEI! Gente, eu realmente fiquei satisfeita com esse final
mas não sei o que vocês acharam. Acho que eu me desviei um pouco da minha proposta inicial, o fic foi se modificando à medida que fui escrevendo. No começo minha intenção era demonstrar que mesmo o Heero tendo uma família, continuava a ser a mesma pessoa fria de sempre. Ao longo da história, eu contradisse essa idéia algumas vezes... por culpa do Eiji. Ele foi um personagem que cresceu muito na trama, e acabou influenciando as atitudes do Heero. Mas acho que consegui sitetizar uma idéia: De que os pilotos, que se envolveram em guerras, têm um passado do qual nunca poderão se livrar. Mesmo assim, acredito que eles tentariam viver o presente e pensar no futuro, para aproveitar a chance de poder ser feliz. Sei que é um tema parecido com o que eu abordei no meu outro fic, mas é que acho que depois de tudo pelo que eles passaram lutando pela paz, seria justo pensar em algo do tipo.
Quanto a projetos futuros... bem, eu gosto de garantir que a história vai estar completa quando postá-la, porque não quero deixar ninguém na mão. A pior coisa que tem é você acompanhar uma fic e o autor ficar um ano sem atualizar, falo isso como leitora... Voltando aos projetos futuros. No momento estou com problemas criativos... (tradução: estou empacada) Estou me concentrando mais em um fanfic de Card Captor Sakura, mas também quero fazer uma 'versão da autora' do fanfic Escolhas, que originalmente eu escrevi para o concurso do Animearts. É que como havia um limite de páginas, eu compactei muito da idéia original, mas como gostei da história pretendo fazer uma versão estendida. Nesse famfic eu optei por escrever com o Quatre, um personagem com quem não escrevo com tanta freqüência e posso dizer que foi uma experiência boa. Além disso há um fanfic escrito em parceria com a Steph's, uma idéia dois fanfics. Só que eu não tenho previsão de quando poderemos postá-los...
Vlw, Tina-chan, pelo review do último capítulo, acho que o Hanka não
se ferrou tanto quanto você gostaria, mas eu costumo tentar escrever
próximo da realidade, e a realidade é assim...
Queria agradecer a todos que leram, aos que deixaram review e a uma certa pessoa que ficou me enchendo o saco um bom tempo, perguntando a toda hora quando ia atualizar... Vlw pelo apoio!
bjos
e até um próximo fanfic...
