Capítulo II
"Professora!".
Uma criança saltitante mostrou o desenho feito com tanto carinho para sua professora. A mesma sorriu, iluminando seu antes pensativo semblante. "Está lindo, Takei-chan".
"A senhora está bem?", o menino perguntou, tocando a testa pálida da professora com a mão pequena, para verificar se estava quente. "Tá tão distante...".
"Apenas pensando em besteiras, meu amor", deu um tapinha camarada nas costas do menino. "Agora volte para perto de seus colegas e ajude-os com suas ilustrações".
A criança não pareceu estar satisfeita com a resposta de sua professora, mas mesmo assim, a obedeceu.
"Limão... morango... uva... nunca onigiri".
Tohru Honda balançou a cabeça com quase violência, apagando os pensamentos tristes. Como tentava lembrar-se, sempre, o passado havia de ficar para trás.
Todo o passado.
"Crianças!", a jovem chamou a atenção dos alunos com um bater suave de palmas. "Já está na hora de irem para casa. Recolham seus materiais".
A maioria dos alunos não gostava de ir embora da creche "Onigiri", onde sempre havia diversão e aprendizado. Tohru orgulhava-se de ter erguido aquele lugar sozinha, de ter construído-o com seu próprio dinheiro. Esse era o refúgio para várias mentes infantis que nem sempre conseguiam se expressar. Crianças isoladas, como um dia ela também fora.
Acompanhou as crianças até lá fora, no jardim, esperando pacientemente até que a última fosse levada para casa por seus pais. Em seguida, entrou para dentro da creche e deu um sorriso cansando ao ver todos os brinquedos espalhados no chão. Com a paciência que sempre lhe fora atribuída, agachou-se e começou a recolhê-los.
No entanto, foi interrompida pelo telefone. Correu para atendê-lo.
"Hai!".
"Tohru?".
A voz suave e baixa fez sorrir. "Hana-chan!".
"Estou te incomodando?".
"Nunca!", empolgada, quase começou a dar pulos de felicidade. Era muito raro que uma de suas amigas do colegial fizesse contato. "Fazia tanto tempo que eu não falava com você, amiga! Já voltou de viagem?".
"Hai. Meu namorado insistiu que viéssemos mais cedo, já que ele tem alguns trabalhos na faculdade".
"Entendo", era tão entranho que Hana estivesse namorando. E ainda mais um rapaz tão vivo como era o companheiro dela. Personalidades completamente opostas, mas talvez fosse por isso que se atraíssem tanto. "Espero que venha me visitar".
"O pensava em fazer amanhã".
"Ótimo, então...", o som da campainha soou e Tohru pediu licença a amiga. Provavelmente era o pai de uma criança, alegando que ela esquecera algo.
E então... O onigiri jamais sabe o que realmente o espera...
Abriu a porta com um sorriso gentil, mas ao vê-lo, ele desapareceu no mesmo instante.
"Não... não pode ser".
Kyo-kun...
Sempre se sentira pequena com relação ao gato da família Souma. Parecere-lha, também, sempre alto e exercia fascinação. Não somente pelos cabelos alaranjados que caíam sobre sua testa, rebeldes. Nem pelo rosto angular, marcado por orbes intensamente chamativos. E sim por sua presença, pela maneira estranha de despertar uma espécie de timidez aguda numa jovem acostumada com tudo e com todos.
"Tohru".
A mão masculina tocou sua face com carinho. Os dedos calejados, certamente por treinamentos com espada, subiram e desceram por sua bochecha corada, enquanto os pés dele chegavam perto dos seus. Ele foi abrindo aquele sorriso. O mesmo sorriso que a desarmava por completo. O mesmo sorriso que a fizera se afastar da casa dos Souma num juramento definitivo.
"Iie", murmurou, assustada, emocionada, ruborizada, sem mais nenhuma palavra para definir os sentimentos que cruzavam seu peito. Você não podia voltar.
"Venha comigo".
"Ir... com você?".
"Hai", a mesma mão que antes acariciava seu rosto apossou-se da dela, num leve puxar, mas que expressava toda a determinação de Kyo. "Você vai voltar comigo para nossa casa".
Casa é onde o coração vive, Tohru.
Mas e se o coração não vivesse em um lugar fixo, mudando sempre, afastando-se sempre?
Com delicadeza mórbida, soltou-se do jovem. A franja castanha, a mesma que usava desde pequena, cobriu seus olhos e as inevitáveis lágrimas. Não de tristeza, o tipo de sentimento que eliminara de si há muitos anos. E sim de raiva.
"Você não tem o direito, Kyo".
A voz saiu tão gelada que a própria Tohru assustou-se, até mais do que Kyo. "Você nos abandonou, não tem o direito de pedir nada. Nunca mais!".
E empurrando-o, a jovem saiu correndo, pouco se importando com o quão infantil soasse sua atitude. Ainda escutou os fracos chamados dele, enquanto se distanciava. Mas permanecia surda diante daquela situação, fugindo para o único recanto onde podia ser escutada sem ser contestada.
As portas do cemitério ainda estavam abertas. Tohru aproximou-se do túmulo bem conservado e ajoelhou-se diante dele, firmando suas mãos junto à lápide, arfando.
"Okaa-san... ele voltou".
Como respostas, os crisântemos amarelos balançaram a melodia do vento.
"Eu sei... não é estranho? Durante 6 anos, eu vim a este mesmo lugar, pedindo-lhe que o trouxesse para mim. E quando finalmente desisto, okaa-san atende meu pedido", suspirou. "Não sei se devo agradecer".
A primeira lágrima de muitas acompanhou novamente a voz ofegante. Não de melancolia, sim de pura sofreguidão e confusão. "Posso ter sido covarde, okaa-san. Mas os Souma não mereciam que eu os fizesse sofrer", um aperto no coração incitou ainda mais o choro. "Quando... quando me lembrei da história de Hatori-san, eu... eu tive muito medo. Não queria que Souma-kun passasse pelo mesmo tipo de dor. E mesmo quando Shigure-san se casou, eu não conseguia ver felicidade. Será que... que me tornei uma pessoa assim tão... má? Se eu me tornei, okaa-san me perdoa?".
A sensação de uma carícia em seus cabelos fez com que Tohru tivesse a consciência de tudo o que dizia e de tudo o que sua mãe pensava a respeito disso. Que essa era sua primeira atitude egoísta, e ainda tomada em frente aos restos da mulher mais admirável do mundo.
"Okaa-san me disse para sempre acreditar em vez de desconfiar, mas... eu acreditei em Kyo", uma leve fagulha de rancor podia ser notada em sua voz. "Mas ele me abandonou. Eu acreditei em tanta coisa. E me decepcionei".
Eu estou certa. Não preciso confiar em todos. Não preciso confiar em ninguém. Não depois do que ele me fez.
A garota Tohru, aquela com 17 anos, que tudo aceitava com um sorriso, partira para bem longe. Uma mulher diferente tomava seu lugar. As mudanças não agradavam a todos, mas o sofrimento ás vezes nos faz transformarmo-nos em coisas que jamais pensamos que chegaríamos a ser.
"Você pode pedir o que você quiser, Kyo", o pronome carinhoso "-kun", antes usado para denominar quem mais amava no mundo, era substituído por uma onda parcial de crueza. "Eu jamais voltarei para a casa dos Souma. Eu os faria sofrer. Eles me fariam sofrer também".
O tipo de sentimento que não estava disposta a suportar.
Continua...
Konbawa, minna-san!
Que felicidade por saber que vocês estão gostando! Peço humildemente desculpas, mas tenho muitos outros fics e atualizá-los é uma verdadeira missão impossível! (Sem o Tom Cruise, infelizmente... XD).
Esse capítulo foi meio paradinho, mas o próximo será cheio de surpresas... Aguardem!
Respondendo aos reviews!
Larme Delamor: Eu nunca havia pensando sobre Kyo X Yuki, na realidade... mas não é uma possibilidade descartável, afinal, de tanto ódio... Mas mesmo assim, eu vou te decepcionar e dizer que é Kyo X Tohru, meu casal favorito. Espero que não pare de ler por causa disso... Quanto a sua pergunta, eu já assisti o anime sim e atualmente compro o mangá. Ambos tem muitas diferenças e eu estou seguindo a linha do anime, entende? Obrigada pelos elogios!
Kisu!
Pandora-Amamiya: Se a minha fic for um incentivo, eu vou ficar muito contente! Tá faltando mesmo fics de Furuba, que é um anime sem igual, certo? Muito obrigada pelos elogios e espero que tenha gostado, viu?
Annye: Obrigada pelos elogios, viu, fofa? Desculpe a demora! Kisu!
YumeSangai: (Jenny correndo do olhar assassinho), calminha, Yume, eu demorei mas prometo não fazer isso mais! XD Obrigada pelos elogios! Kisu!
Foi isso, minna! Vou tentar postar o próximo capítulo semana que vem, tá?
Bai Bai!
