Um Estranho no Paraíso
5. Acordo
Gina acordou na manhã seguinte faminta. Não havia jantado na noite anterior. Chegou do "passeio" e foi diretamente para seu quarto. Trancafiou-se lá. Estava aborrecida, e nem mesmo a fome ou o calor insuportável fariam com que ela olhasse para aquele loiro repugnante. Como ele tivera a ousadia de dizer tais coisas a ela? A situação era absurda e agora ela estava prisioneira no próprio quarto.
Ouvira-o andar pela varanda, fuçar na cozinha, ligar e desligar o DVD milhares de vezes, chegara até a pensar que talvez ele pudesse bater em sua porta e pedir desculpas. Ilusão a dela, ele jamais faria isso. Aquele estúpido.
E a bendita chuva varou noite a dentro, impedindo-a de abrir as janelas para espantar o calor.
O problema é que as tempestades nunca haviam exercido aquele poder sobre ela. O culpado de tudo era Malfoy. Aquilo não iria dar certo. Convivência entre eles seria algo impossível. Não sabia nem porque havia tentado. Um dos dois teria que ir embora. Nunca poderiam ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.
(N/A: Hum que Gininha safadinha..querendo ocupar o espaço com aquele meu loiro gostosão)
Decidiu que já era hora de sair dali. Apurou os ouvidos à qualquer sinal dele, não ouviu nada, então saiu do quarto. Ele não estava ali. Graças à Deus. Comeu algumas bolachas e um iogurte como desjejum.
Foi até a varanda com uma xícara de café nas mãos e sentou-se apreciando o mar, de repente um cheiro de loção pós-barba de hortelã se projetou no ar, ela nem mesmo precisou virar-se para saber que ele estava ali.
- Quando você terminar seu café, faça as malas, prepararemos a lancha e iremos começar a nossa expedição pelas ilhas.
Gina quis protestar, mas não teve tempo. Draco foi até a cozinha e quando voltou, trazia também uma xícara de café.
- Não irei a parte alguma com... – começou ela.
- Não seja tola, Langens – ele a interrompeu como se já previsse essa reação.
- Não estou sendo tola. Até que estou sendo bastante razoável comparada a você. Aliás, estou sendo tão razoável que nem o mandei embora ontem à noite como deveria ter feito. Esperei que amanhecesse. Portanto, adeus.
Esperou uma reação. Ele permaneceu impassível.
- Você ouviu o que eu disse? – repetiu ela.
- Sim, mas não irei embora. Seria bem melhor se você parasse de brigar e começássemos a conversar sobre o que devemos fazer.
- Quantas vezes terei que repetir?
- Na verdade, quantas vezes eu terei que repetir? Você é minha guia pelo tempo que eu estiver aqui e ponto. – disse ele irritado.
- Para que eu não perca meu emprego definitivamente?
- Eu não me rebaixaria a tanto.
- Quer dizer que não faria nada para me prejudicar?
- Não seria necessário. Coloque meus planos em xeque que outra pessoa faria isso por mim.
- A lambisgóia morena?
Ele riu com cinismo.
- Parece que sim. Mas não era a Ingrid que eu tinha em mente. Mas, Alfred talvez não ficasse muito feliz em ter uma ordem que lhe foi dada pessoalmente desobedecida por seus chiliques.
- Assumirei o risco.
- Não faça isso. Eu o conheço bem e ele não ficaria nada feliz.
- Você não o conhece tão bem como eu, e ele não faria nada para me prejudicar.
- Nossa, você está bem certa sobre isso, não é mesmo? Alguma garantia pessoal? – questionou provocante.
Ela corou. O que ele estaria querendo afirmar com aquela frase?
- Não. Apenas sou uma boa funcionária e Alfred sabe considerar meus atributos.
- Você parece tão senhora de si quando se trata de Alfred.
- O que está insinuando?
- Estou afirmando que você parece ter muitos poderes sobre ele.
- Não tantos quanto você.
Ele apenas sorriu. Aquele tipo de sorriso que se tem vontade de matar quem tem o poder de dá-los. Malfoy estava certo. Alfred não gostaria que ela descumprisse algo que ele mesmo propôs. E já que estava na chuva a única chance de ter sua vida a salvo seria se molhar. Seria por pouco tempo. E sua mãe sempre dizia "O que não é para a vida toda atura-se."
- Você é um cretino Malfoy. Quando disse que era um menino mimado eu não estava errada.
- Sinceramente, não vejo razão para se sentir tão sacrificada. Que mal há em visitar as ilhas comigo por uns dias? Existe algo errado com piqueniques na praia e brincadeiras com golfinhos?
- Não, mas e seus insultos?
- Acho que está fazendo tempestade em um copo d'água. Só lhe dei um beijo.
Um beijo significava uma afronta para ela, embora não significasse nada para ele.
- Tenho certeza que Ingrid morreria por um beijo seu.
- Estamos falando dela ou de você?
Ela e sua maldita boca. Aquele homem estava dificultando sua vida. Ou seria ela própria quem estava dificultando tudo?
- Ingrid é um problema pra você? – ele estava zombando dela.
- Claro que não. Não liguei para o beijo, e com certeza ela ligaria muito só fiz uma comparação. A única coisa que não admito aqui é ser acusada de planos de sedução.
Ele não se desculpou nem dessa vez.
- Não tive motivos para partilhar meu segredo com você, muito menos minha paixão pelos golfinhos. Apenas o julguei capaz de apreciar experiências através das quais o mundo chega a parecer melhor. Me enganei. Foi só isso que aconteceu. Garanto. Se encarou aqueles momentos de outra forma, então o problema é seu. Tenho minha consciência limpa.
Ela apanhou as xícaras e foi para cozinha. Estava tremendo de tanta raiva.
- Não sei por que a ofendi tanto. Mas creio que você espera um pedido de desculpas. Sinto muito mas não posso dá-lo a você pois não acho que tenha feito nada errado. Você é a pessoa mais volátil que conheço. Em um momento está prestes a me agarrar e em outro momento me enxota. Não sei quanto a você, mas eu, sou bastante maduro para entender que você sente algum tipo de desejo reprimido por mim.
- Sinto muito, mas você terá que se acostumar.
- Na canoa você não me rejeitou. E agora rejeita. Você não acha que sou bom o suficiente?
- Não é questão de achá-lo bom o suficiente ou não. Eu apenas não estou disponível.
- Então você tem namorado?
- Não te interessa.
- Nossa que mulher mais arredia. Talvez esse tenha sido meu erro, te questionar demais. Muitas mulheres gostam de ser tomadas a força.
Gina não podia acreditar.
- Sua linha de raciocínio está além da minha imaginação. Quais as chances de sucesso? Uma em mil?
- Não cheguei na casa dos mil. Ainda. – ele deu um sorriso safado.
- Mas está chegando perto, sem dúvida.
- E quanto a você? Estou chegando perto ou trata-se de mais um de seus joguinhos de sedução?
O jeito com que ele falou foi tão acusador.
- Já lhe disse que você não tem a menor chance.
- O que seria possível para derreter esse seu gelo e por a tona esse fogo que tenho certeza que você tem?
- Não é preciso nada. Já disse que não estou disponível.
- Sabe, essas mulheres de hoje em dia são umas interesseiras. Depois dizem que nós homens somos os "safados". Eu por exemplo nunca me apaixonei. E se um dia descobrisse que estava prestes a acontecer sumiria de perto dessa feiticeira. Depois de uma péssima experiência que um amigo teve.
- E posso saber qual foi?
- Ele foi abandonado na véspera do casamento. E o pior a noiva o deixou por um milionário. E olha que ele não é dos mais pobre que conheço. E ela era uma pobretona, morta de fome. Dá para acreditar? Uma viagaristazinha.
Por pouco Gina não pôs tudo a perder. Se calou a tempo. Poderia ser só impressão, mas achara que aquela história tinha muito a ver com ela mesma.
- Então, o que decidimos?- ele questionou.
Malfoy parecia tão adverso a relacionamentos quanto ela. Em outras circunstâncias poderiam até ser considerados feitos um para o outro.
- Se fizermos esta viagem em caráter impessoal, talvez possa até dar certo. – Ela sugeriu.
- Mas você teme não resistir? – Ele instigou.
- Não. Temo que você não consiga. – Ela frisou bem.
Ele ficou calado. Detestava esperar por uma reposta, e parece que ele havia descoberto mais uma de suas fraquezas.
- Até que você se enquadraria no que chamo de atraente, mas jamais tentaria uma relação com você, Virginia.
- Você está se contradizendo. Acabou de dizer que não é lá muito chegado em relações. A menos, é claro, que esteja insinuando outras coisas.
- Ok Srta. Langens – fez questão de frisar bem o sobrenome – eu me rendo. A única coisa que quero é desenvolver meu potencial empregador.
- Chegamos a um acordo então. Viagem absolutamente voltada a negócios. Então passemos aos planos e condições.
- Condições?
- Claro. Limites.
- Como manter minhas mãos longe de você?
- Exatamente e muitos outros. Por exemplo: se realmente precisa que eu lhe mostre as ilhas, vai ter que cooperar comigo e nos atentarmos a conversar somente sobre a exploração e potencial econômico do local.
- Mas isso é demais. Passaremos cada minuto do dia e da noite juntos.
- O que você está querendo dizer com isso?
- Algumas ilhas, como já andei pesquisando, são desabitadas. Teremos que acampar durante as noites. E seria muito prático armar apenas uma barraca.
A coexistência nos próximos dias ainda não havia passado pela cabeça de Gina. Se fosse honesta consigo mesma, reconheceria que ainda não havia pensado seriamente na viagem. E ela sabia que haviam ilhas desabitadas. E infelizmente ele estava sendo sensato.
- Acho que você tem razão. – Ela concordou muito a contragosto.
- E se, por acaso, acabarmos fazendo algo como cair em tentação? – ele provocou mordendo os lábios avermelhados.
Ela riu para afastar o calor que a sugestão havia lhe proporcionado.
- Até terminar de armarmos nosso kit sobrevivência Sr. Draco "Casanova" Malfoy, a paixão será a última coisa que irá pensar.
- E você? – Ele instigou.
- Paixão não existe para mim.
Draco a fitou por um minuto e depois falou como se nunca tivessem tocado sobre aqueles assuntos.
- Mapas! Precisamos de mapas. – E saiu para terminar de arrumas suas coisas.
Gina abriu lentamente a geladeira e decidiu preparar um suco. Gostaria de não ter ficado tão perturbada com aquela conversa. Ele havia instaurado uma certa inquietação dentro dela. Pela primeira vez, em anos, via-se cogitando se permaneceria celibatária pelo resto da vida.
Partiram após o almoço com a lancha repleta de suprimentos e equipamentos. Malfoy pretendia filmar todos os lugares que lhe parecessem promissores. Estudara o mapa com antecedência e marcara alguns pontos iniciais. A maioria se provaria um desapontamento para ele, mas não quis desanimá-lo.
A primeira parada foi numa ilha que era um verdadeiro paraíso. Pequena demais para a instalação de um resort, mas a pouca distância de uma maior com infra-estrutura suficiente para dispor de um resort completo.
- Acamparemos aqui esta noite e continuaremos pela manhã – Malfoy sugestionou.
Começaram a puxar a lancha, a fim de economizar combustível, foi preciso esforço e tempo até chegarem à praia. Não foi preciso falar. Assim que terminaram, Draco e Gina trocaram um olhar e seguiram até a sombra de umas palmeiras, onde se deixaram cair exaustos.
- Ouça o silêncio. – Draco murmurou.
- Se prestar atenção poderá distinguir uma dúzia de sons.
- Por exemplo?
- Estou ouvindo um grilo e as ondas morrendo na praia.
- E os outros dez? – Subitamente, um som estranho os alcançou. – O que foi isso?
- Esse foi o terceiro. Agora só faltam nove. – Gina respondeu com um sorriso e mostrou um coco que havia caído. – Se você ainda tiver forças para ir até a lancha e buscar um facão, poderemos matar nossa sede.
Não foi preciso outra palavra de incentivo. Gina apanhou o coco e ficou brincando com ele, recostada contra o tronco da palmeira, enquanto esperava-o.
Ele voltou com o facão, e ela entregou o coco com um sorriso malicioso.
- Sabe?
- Claro que sim. Mas se eu cortar meu dedo, é capaz de dar pontos?
- Se for preciso darei um jeito.
- Nesse caso não vou me arriscar.
Ela pensava que ele iria lhe devolver o coco, mas não, com uma pancada certeira ele estava lhe servindo uma água doce e leitosa.
- Foi sua primeira vez? – ela questionou.
- Está se referindo ao coco? – ele sorriu safado.
- Claro. – censurou-o.
- Sim, foi. Minha educação privilegiada e meu estilo de vida não me prepararam para a arte de abrir cocos. Por falar nisso, esse será nosso jantar?
Ela se levantou.
- Eu pesco e você acende a fogueira. Sabe acender uma ou sua educação privilegiada e seu estilo de vida não o prepararam para isso?
Ele olhou-a com desprezo e virou as costas. Começou a apanhar o material. Ele era forte, tinha ombros largos e pernas musculosas. Sem entender o motivo ela sentiu uma leve falta de ar.
- Parabéns. – ela elogiou mais tarde. Do recanto escolhido para tentar fisgar os peixes, pudera ver os movimentos dele. Não esperava que o resultado fosse tão bom.
- Não é exatamente o Hilton, mas dá para o gasto.
Malfoy havia tirado a camiseta, e seu corpo brilhava com a transpiração.
(N/A: aposto que vocês nunca imaginaram o Draco brilhando de transpirar..mas minha mente perva..imagina sim..várias vezes por sinal!)
O abrigo era um monte de folhas entrelaçadas. Com a frente para o mar. Para um homem como Malfoy o abrigo havia saído melhor do que esperava.
- Acha que resistirá a chuva? – Gina perguntou.
- Vai chover?
- Espero que não. – Ela riu.
- Em todo caso, poderemos correr para a lancha. E você, deu sorte com os peixes?
Ela tirou uma fileira de peixes que escondera atrás das costa.
- Uau! Teremos um banquete. Alguma chance de eu tomar um banho antes de ascender a fogueira?
- Não me diga que temos uma suíte?
- Um banho de mar, eu quis dizer.
Ela sorriu, enquanto ele pegava uma toalha e saia para o mar. Gina começou a juntar gravetos. A cada instante olhava para o abrigo. Não era muito espaçoso, eles teriam que dormir ali, juntos.
Os dois sozinhos numa ilha deserta,sob céu estrelado. Ela estremeceu apesar do calor. Iria pegar um saco de dormir na lancha.
Enquanto terminava de empilhar a lenha, ela decidiu não tentar mudar os planos. Deixara bem explicito, desde o início, nada de contato físico. Ele aceitara, e estavam se dando bem até agora, não iria tentar estragar a paz.
Por quê, então, seu coração batia acelerado ao vê-lo voltar como um Deus Grego da praia?
Assaram os peixes, e como sobremesa assaram algumas bananas. Para beber, vinho, a única concessão de civilização permitida.
Malfoy estava sentado com os braços ao redor dos joelhos, e Gina se achava recostada contra uma palmeira, os olhos fechando de sono.
- Estive tão preocupado em ganhar mais dinheiro nos últimos anos que havia me esquecido dos prazeres da vida. Mas você os encontrou.
- Está se referindo ao vinho? – ela murmurou.
Ele moveu a cabeça afirmativamente e prosseguiu.
- Você se adaptou, encontrou um novo sentido para sua vida. Tentei imaginar Ingrid em seu lugar milhares de vezes hoje, e não consegui.
- Bem, ela sempre foi muito mimada, não saberia lidar com as coisas que a vida impõe. Talvez a culpa de ser assim nem seja dela.
- E você? Está feliz com as coisas que a vida te impuseram?
Ela estava muito cansada, e o vinho surtira um efeito. Não conseguia ter certeza. Era feliz?
Ele não forçou resposta. Ficou olhando para ela como se já soubesse o que queria. Ela não pode sustentar o olhar por muito tempo. Sabia que não era feliz.
- Você parece exausta. Vá descansar. Vou andar pela praia.
Ela o acompanhou com os olhos até não enxergá-lo mais. Experimentou uma onda de solidão. Rezou para que isso mudasse pela manhã e ela se sentisse diferente. Mas a forma que essa diferença poderia assumir, não queria saber.
Continua?
N/A: Oi pessoal! Desculpem a demora desse cap! É que a vida anda meio conturbada!
Obrigada a toas as reviews anteriores! Vocês são muito gentis comigo!
Não esqueçam de aderir ao FAF! (fazendo uma autora feliz)..e deixe sua marquinha comentando o cap!
Mtos bjos!
Cah
N/B: Oi leitores xuxus! Espero que vocês façam uma reverência a este capítulo, nada mais justo. Afinal, teve barraco, frases com triplo sentidos, e uma genialidade a parte da autora. E vejam só, ainda não fui demitida do meu cargo de beta. Hei! Não olhem com essa cara de tédio! Até que eu tento ser simpática, e se EXIJO reviews é porque faz bem a saúde. O "go" não morde. E se morder por alguma anormalidade da natureza, eu pago o médico, ok! Bjinhoos, Rafinha (a que faz notas imensas para desespero da Cah).
