Palavras

Brigar com alguém querido é sempre ruim, não há exceção. E por incrível que pareça, eles brigaram. A dupla inseparável se separou. Ninguém acreditava, muito menos um deles.

- Eu não te entendo. Seu idiota! Panaca, pare de ser tão otário! – gritou um.

- Eu não queria fazer isso, mas é que eu... – dizia o outro.

- Você o quê, Brian?

Brian, o mais alto, o que possuia aqueles olhos incrivelmente escuros, estremeceu. Murmurou algo inaudível, cabisbaixo, e virou-se.

- É por isso que eu tenho que ir embora.

- Ahn? O que você disse?

- Tchau, Tucker. – e o garoto se foi, com seus cabelos negros balançando ao vento daquela noite escura. Os olhos verdes do outro garoto fixavam o nada. Tinha ficado surpreso, sem reação.

Tucker, depois de alguns minutos, se dirigiu ao seu quarto, com dificuldade, como se pesos pendessem em suas pernas e braços. Mas, na mesinha da sala, Tucker notou uma carta esverdeada com um perfume agradável. O menino pegou-a rapidamente e leu a sua face.

"Amanhã, por volta das 15:00, você receberá uma ligação no seu celular. Não atenda. Vire "

"Espere seu celular parar de tocar, então leia a carta. Não se preocupe, Tuck, e não me procure. Eu quero o seu bem. Adeus, para sempre."

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Tucker, e não foi retida. Tucker segurou a carta com firmeza e seguiu para seu quarto. Já era tarde, tentou dormir, inutilmente. Como bem pensou, dormir seria impossível. Seu melhor amigo estava indo embora. A pessoa em quem mais confiava desaparecera, e ele não podia fazer nada.

Passou a noite olhando a carta, temendo cada contorno de palavra que via com o brilho da Lua. Brincou com o seu carrinho, o único de que gostava desde criança. Chorou, sentado no chão. "Por que ele se foi? E por que a falta dele me faz chorar, me preocupar tanto assim? Ele já era um irmão para mim, eu acho...", pensou, antes de, sem perceber, adormecer, ali mesmo.

Mal notara, acordou. Mas como conseguiu dormir? Por que estava na cama, se havia adormecido no chão e se ela nem estava arrumada? Sua mãe estava internada no hospício, seu pai havia viajado para o Chile e ele era filho único. Quem seria?

Tucker esfregou os olhos e sentou-se na beira da cama. Olhou para a cabeceira, e a carta estava lá, sob o abajur, e acima, um papel colado. Tucker pegou-o rapidamente e começou a ler.

"Tuck,

Desculpe-me se te preocupei. Eu estou bem, mas não vou voltar. Eu sabia que você me ouviria se eu te pedisse para não ler. Obrigado por confiar em mim. Mas não espere pelo celular, pode ler a carta. Eu viajei hoje de madrugada. Espero que você me entenda.

Adeus.

PS: passei aqui antes de ir e te peguei dormindo no chão. Nunca mais faça isso! Sentirei saudades.

Brian Jackson"

Tucker deixou passar mais uma lágrima e então pegou a carta. Receioso, abriu o envelope.

"Tucker,

Espero que me compreenda depois de ler essa carta. Também choro muito quando lembro de você. Mas eu não quero que você se machuque. Primeiro quero te dizer algo que não tive coragem de dizer olhando-o por todo esse tempo.

Eu te amo.

Não tem nada a ver com amor de irmão. Tem a ver com o fato de eu admirar seu olhar terno e puro. Tem a ver com dormir na sua casa para ver seu rosto enquanto você dorme. Tem a ver, Tuck, com te querer feliz.

Eu sinceramente não sei se sou correspondido, se sou, ou se você nem se dá conta que condiz com meu sentimento. Só queria que você soubesse que ele existe, aqui no meu coração.

E, Tucker, só fui embora porque temia que você morresse. Aposto que você se lembra do Leon. Ele é meu irmão mais velho. Quando teve a primeira namorada, eu ainda tinha sete anos. Brincávamos de baralho e ela foi buscar biscoitos. Mas pisou em falso na escada e caiu de forma violenta. Eu fiquei paralisado, sem coragem de ajudá-la, sem coragem de ver se ainda estava viva, se estava bem. Meu irmão chegou e a viu no chão, estatelada. Ele gritou, e então olhou para cima. Eu estava com meus olhos em direção ao nada, ainda chocado. Então ele subiu em minha direção. E disse, com uma voz que eu não conhecia, que não fui nem capaz de responder: – Todas as pessoas que você se apaixonar serão mortas por mim. – Naquele momento, ele decidiu que jogaria toda a sua vida fora em troca do meu sofrimento.

Minha mãe ouviu tudo, viu tudo da cozinha. Ela já era muito estressada por causa do trabalho, e então, algum tempo depois, saiu de casa. Aquela havia sido a gota d'água...

Não levei realmente a sério, mesmo apesar daquela voz tão ameaçadora. Me esqueci daquilo, depois de um tempo. Tive, aos onze anos, a minha primeira namorada. Primeiro beijo, primeiro encontro, primeira paixão. Primeiro trauma. Saiu no jornal, em um dia comum, que o corpo de uma menina havia sido encontrado numa vala. Já entendeu quem era?

Claro, contei tudo ao meu pai, e nos mudamos, mas Leon nos encontrou. E assim foi, sucessivamente. Até que meu pai desistiu, na sua cidade. Eu evitava me aproximar demais das pessoas. Até que te conheci, na noite do incêndio, no último dia que sua mãe ainda tinha sanidade.

Condenei-me, torturei-me, primeiro por gostar de um menino, e depois por simplesmente gostar de alguém. E aqui estou, me mudando novamente, desta vez sozinho, sem meu pai. Leon já desconfiava, Tucker. Eu tinha que te proteger.

Fique bem, você estará sempre no meu coração.

Do seu Brian,

Ou não..."

N/A: Sim, sim, tinha que ter um NA XD

Nossa, cara... Que início... Foi a parte mais gostosa de se escrever... E a carta também, tão fofa :3

Eu percebi, lendo por aí, que não é tão legal expor o romance tão no início assim... Acho que até concordo... Mas tenho certeza de que a magia dessa história não foi perdida com esse início... Acompanhem:P