John Richard
- Vamos acordar, pessoal!
- Ahn?
- M-mamãe?
- O café da manhã está pronto, vou esperar por vocês.
Os dois se entreolharam. Ela havia voltado ao normal? Tucker levantou-se e trocou de roupa. Brian, sentado na borda da cama, estremeceu, olhando o amigo da forma como ele veio ao mundo. Logo em seguida os dois foram para a cozinha.
- Sente aqui, meu filho. Chame seu colega para sentar também! – disse a Sra. Yuuko, radiante.
- Sra. Yuuko, você sabe quem sou eu? – perguntou Brian, incrédulo.
- Claro que sim! Você é o colega do John!
Tucker empalideceu, abaixou a cabeça e começou a comer lentamente a deliciosa salada de frutas feita para o John. Para ele, ela jamais fora tão gostosa. Brian preocupou-se, e se levantou.
- Obrigado, Sra., mas tenho que ir. T., falo com você lá no jardim. – e Brian saiu.
- O que ele quis dizer com T., querido?
- É meu apelido na escola, mãe... É que o meu estojo tem um grande T no meio, é a abreviação da marca que fabrica.
- Ah, sim...
Assim que Tucker terminou o café da manhã, ele foi até o jardim. Brian estava sentado na grama, o cabelo refulgindo à luz do Sol que se punha. Tucker se sentia bem olhando o novo amigo. Tão bem que já confiava nele mais do que em qualquer um, mais do que nas palavras de Carl...
- John era meu irmão. – disse ele. Brian virou-se.
- E por quê não é mais?
- Porque ele morreu...
- Ah, desculpa. Isso era óbvio... M-mas... como?
- Eu não me lembro. Mas minha mãe me contou. Quando ele tinha cinco anos, e eu três, aqui havia uma estação de trem cruzando o centro da cidade, hoje já desativada. Nós estávamos indo ao mercado, e John foi correndo na frente. O trem passou por cima, sem dar o sinal que deveria. Nós recebemos indenização, claro, por isso temos uma casa tão grande. Mas a minha mãe já sabia que aquilo inevitavelmente ia acontecer. A alma de John era proibida, algo assim. Quanto mais adiasse sua morte, pior seria o pecado que ela pagaria... Ela chorou muito antes de isso acontecer, e ainda mais, depois. Hoje eu confirmei minhas suspeitas. Ela gostava muito mais dele. Nunca a vi tão sorridente e fazendo um café da manhã tão gostoso. Mas isso tudo foi para o John...
- Por isso você ficou tão triste... E por isso que... por isso que ela achou que eu era seu colega. O John teria a mesma idade que eu tenho hoje! Mas me explique mais sobre esse papo de alma!
- A família por parte de mãe tem poder de previsão e análise das almas. Pode parecer estranho para você, mas sim, é possível, e existe, não só com nossa família. Uma nova alma é pura e vai tomando "partido" à medida das vidas que vive. Se a alma é corrompida pelo mal, ela se torna maléfica. Caso contrário, obviamente, benéfica. Almas proibidas já foram tão corrompidas que a vida lhes é negada, e elas passam por uma recuperação. Quando elas vêm à Terra, geralmente morrem no parto. Minha mãe fez com que John vivesse até os cinco anos. Ele sofreu de falta de oxigenação no cérebro no parto, mas ela o salvou, e ele teve, logo depois, anemia e hemofilia, mas ela fez de tudo para salvá-lo. Mas no acidente, não teve como salvá-lo, já estava se tornando completamente inevitável. Por ter adiado tanto a morte de uma alma proibida, minha mãe teve que pagar. A Soul Society permitiu que ela se lembrasse de mim pelo dobro dos anos que John viveu, a partir de quando o acidente aconteceu. Ontem foi o fim dos dez anos que minha mãe saberia quem é Tucker Richard. A partir de hoje eu passo, para ela, a ser John Richard, seu único filho, tal Tucker nunca existiu. Nossa, te contei bem mais, não é? E tem mais uma coisa... Antes que você pergunte, eu não tenho nenhum poder espiritual graças ao meu pai. As almas de meu pai e minha mãe não eram compatíveis, mas ela amava tanto o meu pai, que por amor casou-se com ele mesmo assim... Foi mais um pecado que ela teve que pagar, me tirar a tradição pertencente à família há anos... Ainda bem que eu não sou o último ramo... E você percebe como minha mãe sempre batalha pelo que quer, mesmo tendo que encarar tantas conseqüências.
- Onde está seu pai agora?
- Ele está no Chile há quatro anos, quando minha mãe contou-lhe que tinha poderes. Ele havia dito para mim que era por negócios, e o bobo Tucker de nove anos de idade acreditou... Ele já deve até mesmo ter até uma segunda família lá... Não manda nem ao menos cartas.
- Tucker... – Brian olhava-o profundamente, provocando os sentimentos de Tucker.
- P-pode... dizer...
- Ficará tudo bem se eu foi embora agora?
- S-sim... Mas venha mais tarde... para que... para que a gente converse mais!
- Claro! Então... Até mais. – disse Brian, abraçando calorosamente Tucker. Levantou-se e seguiu pela mesma rua em que andara tristemente no dia anterior. Mas agora se sentia muito bem. E sabia bem o que isso significava. Precisava ficar alerta.
- Pai, cheguei! – gritou ele.
- Oi, filho! Você já tomou o café da manhã?
- Ainda não...
- Então venha!
Brian tomou o café da manhã com seu pai, contando-lhe a história. E contando que também já estava gostando do amigo. De forma especial...
O seu pai era alguém realmente especial. Ele deixava Brian fazer o que quisesse, mas sempre estava pronto para ajudar caso houvesse algum problema. Era um grande amigo, além de um grande pai.
- Sabe... Quando eu tinha uns dezessete anos, pouco antes de conhecer sua mãe, eu tive um namorado. Eu gostava muito dele e ele de mim, mas seus pais descobriram nosso romance e mudaram-se para outro lugar. Eu nunca vou querer que isso aconteça com você, Brian. Antes que você se compreenda, eu já te compreendo e te ajudarei no que for possível.
- Mas pai, não é só isso! E eu tenho que me castigar por esse sentimento... – disse Brian, com os olhos brilhando.
- Eu entendo... Tudo bem, filho, não vou te impedir. Leon, meu próprio filho, tão cruel...
- É... Então... até mais tarde, pai.
Brian subiu até seu quarto, sentou-se no assoalho gelado e pegou um maço de cigarro. Tirou um cigarro de lá, e acendeu-o. Deu uma única tragada e assoprou toda a fumaça. Pegou o cigarro e colocou-o no cinzeiro do criado. Tirou a camisa, pegou o cigarro novamente e pressionou-o contra suas costas, até que se apagasse.
Encostado à porta, derrotado por não conseguir fazer seu filho feliz, o pai de Brian ouviu os altos gemidos de dor de seu filho... Seu mais valioso presente.
Já eram sete horas. Brian lia um livro sobre uma princesa de um castelo alienígena que era apaixonada por um terráqueo que havia chegado em seu planeta numa máquina estranha. Pura modernização de um clichê... Preferia estar com Tucker.
O celular tocou. Aquele celular raramente tocava... Brian pegou-o e olhou no visor. Era Tucker. Sorriu e atendeu:
- Alô?
- Me... ajude... – gemia uma voz do outro lado.
- Tucker? Tucker, me diga algo! – mas era tarde, o sinal de ocupado já ressoava pelos orifícios do aparelho. Brian correu o máximo que pode. "O que aconteceu? Será que a mãe dele atacou-o novamente?"
Quando Brian chegou, notou que a porta estava aberta, e um vulto corria para longe da casa. Entrou e foi até o quarto de Tucker. Um rastro de sangue ia até embaixo da cama. Brian tirou o garoto desacordado de lá, o mais rápido que pôde.
- Tucker, acorde! – mas os olhos estavam fechados. Um enorme caco de vidro estava enterrado na barriga de Tucker. Sua testa e sua boca sangravam. Brian fez respiração boca-a-boca e os olhos de Tucker abriram-se lentamente.
- Você... me beijou? – sussurrou Tucker.
- Ah, graças a Deus! Não fale nada, Tuck, acalme-se.
Brian carregou Tucker até o hospital e internaram-no, mas não corria nenhum risco muito grave. E ele dormiu no sofá do calmo quarto 101, preocupado demais para deixar o amigo sozinho.
N/A: é tão bonitinho ver duas pessoas tão amigas né? x)
Ahhh, o John era bonzinho sim, como criança, a alma não interfere muito na personalidade passageira, eu acho xD
Geeente me mandem reviews .. E continuem lendo o/
