Capítulo 16
autora: Yoko Hiyama
beta: Bela-Chan
Um soco caprichado no queixo e Harry foi arrancado brutalmente do mundo dos sonhos. Desnorteado, o vampiro acariciou o local atingido, mas logo teve que abandonar o ferimento, rolando pra fora da cama para evitar um segundo golpe, que acabou atingindo o colchão.
- Você enlouqueceu? - Harry finalmente perguntou quando viu Draco levantar-se da cama, claramente disposto a continuar seus ataques.
Parecendo não se importar sequer com sua própria nudez, o Ventrue se aproximou do outro e suas mãos agarraram a camisa de Harry com firmeza, abrindo-a com um puxão violento. Harry por um instante pareceu profundamente interessado naquela atitude, mas o sorriso que havia se formado em sua face quando viu os botões saltarem se transformou rapidamente quando a mão de Draco agarrou a fita azul que envolvia o seu pescoço.
- O que significa isso, seu desgraçado? - o loiro perguntou, sua face transtornada de ódio.
- Isso o quê! - Harry respondeu com a cara mais inocente do mundo.
Foi demais pra Draco, que o sacudiu violentamente pela camisa como se quisesse acordá-lo.
- Não se faça de idiota! Você sabe muito bem! - Draco gritou, descontrolado - Eu estou falando dessa merda dessa fita que você tem no pescoço!
- Ah... isso? - Harry finalmente pareceu perceber a que o Ventrue se referia - Você está zangado por causa disso?
- Você estava fingindo o tempo todo! Você sabia de tudo e não fez nada!
- Acredite, eu ia dizer. Mas você parecia tão entusiasmado que não tive coragem...
A mente de Draco deu rodopios de ódio ao ouvir aquela fala. Como sempre, Harry tinha conseguido reverter a situação a seu favor, humilhando-o de uma forma que ele simplesmente não conseguia suportar.
- Você fez de propósito! - Draco acusou, batendo as costas de Harry contra a parede.
- Francamente, Draco... Não vejo o menor sentido nessa conversa. - Harry respondeu, muito calmo, apesar do divertimento estampado na face - Bem, confesso que nunca pensei que você ainda fosse um adepto desses hábitos humanos, mas... bem, toda a experiência é válida.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHH! - Draco não conteve um grito de raiva antes de levantar Harry do chão e atirá-lo com toda a sua força em direção à porta do seu quarto. O corpo do Tzimisce se projetou no ar, destruindo a madeira sólida e indo parar na parede do corredor - SEU DESGRAÇADO! SUMA DAQUI!
- Arght... - Harry gemeu de dor, tateando o chão na tentativa de recuperar seus óculos, perdidos no meio do seu lançamento.
A primeira coisa que Harry pareceu se dar conta quando recolocou seus óculos foi que estava nu da cintura pra baixo; a segunda foi que se ele tivesse o atrevimento de voltar para o quarto para resgatar o resto de suas roupas, Draco com certeza entraria em frenesi e o mataria. Então ele retirou sua camisa, ou o que sobrara dela, envolveu sua cintura e andou até seu quarto rezando para que ninguém o apanhasse no meio do caminho. Foi só quando se viu seguro, na escuridão dos seus aposentos, que Harry se entregou às lembranças da noite anterior, bem como da fúria de Draco no dia seguinte, ao descobrir que os seus planos de humilhá-lo não tinham dado tão certo quanto ele acreditava.
Draco era mesmo um inocente se acreditava que aquele tipo de coisa lhe importaria, mesmo que ele estivesse realmente sob o efeito da Presença jogada por ele. Mas já que teve a sorte de Dumbledore ser um homem cuidadoso a ponto de pensar e prevenir todos os possíveis riscos, não achou má idéia fazer com que aquele Ventrue adorável provasse um pouco do seu próprio veneno.
Mas, claro, Harry não tinha feito tudo aquilo só pelo prazer de pregar uma peça em Draco. O que aquele loiro provavelmente nunca saberia era que não precisava de nenhum desses artifícios. Desde o momento em que Draco tinha aparecido na sua frente, enfiado naquele terno alinhado, irresistível e sedutor da cabeça aos pés, Harry já estava fisgado pela beleza daquele príncipe Ventrue.
Mas Harry não podia fazer nada se Draco tinha a mania de tornar tudo mais difícil pra ele mesmo e, por conseqüência, ainda mais interessante e divertido para o Tzimisce.
Sorridente, foi até o banheiro e tomou um banho longo e revigorante, ainda deixando-se levar pelas lembranças da noite anterior, sorrindo ao lembrar do rosto de Draco iluminado por um prazer sádico enquanto pensava que poderia dominá-lo tão facilmente.
Apesar da pose arrogante e pretensiosa, Draco não era mais do que uma criança ingênua perto dele, e Harry não sentia a menor culpa de usar toda aquela inocência a seu favor.
O Tzimisce fechou o chuveiro, enxugando-se rapidamente antes de encarar o espelho e ver que não havia mais vestígios do soco que havia sofrido há pouco. Uma pena. Enrolou-se na toalha e deixou o banheiro, bem humorado como há décadas não ficava.
Mas este estado de espírito logo se modificou quando os olhos de Harry pousaram na figura de um minúsculo morcego que voava assustado de um lado para o outro do quarto, desnorteado pela luz e exausto.
Dumbledore retirou os óculos e passou a mão pela testa antes de encarar um Harry Potter obviamente vestido às pressas e ansioso.
- O senhor tem certeza disso? - ele perguntou.
- Sim, senhor. Sirius está em perigo. Ele me mandou uma mensagem. - Harry garantiu, cobrando com o olhar uma atitude imediata.
O ancião tamborilou a madeira de sua escrivaninha com os dedos, colocando os pensamentos em ordem por alguns segundos, antes de finalmente parecer tomar uma decisão.
- Eu vou pedir aos clãs que me enviem vampiros qualificados e suficientemente capazes para resgatar Black.
- E quando eles estarão aqui? - Harry perguntou apreensivo, para logo depois emendar num tom um pouco mais suave, provavelmente julgando não estar sendo polido o suficiente - Não temos muito tempo...
- Não se preocupe com isso. - Dumbledore assegurou, a cabeça baixa sobre alguns papéis num sinal de que aquela reunião acabara.
Mas Harry estava longe de estar satisfeito:
- Podemos partir ainda essa noite?
Dumbledore voltou a encarar Harry, uma estranha chama brilhando em seus olhos:
- Perdão... "Podemos"? - perguntou, referindo-se ao fato de Potter se unir ao grupo de resgate.
Harry deu um olhar confuso para o Tremere, como se achasse a pergunta muito óbvia. Mas preferiu pensar bem antes de responder algo que o fizesse se arrepender.
- Bem... Se V. Majestade me conceder sua honorável permissão, evidentemente... - Ele finalmente respondeu, num aceno respeitoso de cabeça.
Uma ruga quase imperceptível se formou na testa do vampiro. Neófitos nunca deixariam de ser neófitos: tolos que pensavam que um discurso empolado era capaz de disfarçar suas verdadeiras intenções.
- Pois aviso desde já que o senhor não tem a minha permissão.
Harry conseguiu controlar sua indignação com dificuldade, antes de ensaiar uma pergunta. Mas antes mesmo que o fizesse, Dumbledore completou:
- Lamento dizer isso, mas o senhor ainda não tem qualificações para se juntar ao grupo.
- Não tenho qualificações... senhor? - Harry perguntou, a raiva fervendo o seu sangue vampírico.
- Exato. Em outras palavras, o senhor ainda não tem experiência suficiente. E quando falo em experiência, me refiro a sua idade, Sr. Potter.
- Idade? Mas... senhor... não pode fazer isso...
- Lamento, mas é a minha última palavra. O senhor está terminantemente proibido de deixar o castelo. - Dumbledore sentenciou e então seus olhos voltaram a se ocupar dos documentos a sua espera na escrivaninha.
Harry teve vontade de transformar a cara daquele vampiro em massa de pastel, mas tudo que fez foi uma reverência impaciente antes de dar as costas e deixar o salão, retribuindo com um olhar terrível quando o carniçal que abriu a porta pra ele lhe desejou uma boa noite.
- Mas isso é um absurdo! - Ron levantou-se e bateu na mesa com tanta força que os objetos em cima dela pularam, atraindo alguns olhares na direção do grupo.
- Ron, sente-se! - Hermione pediu ao perceber que Harry ficara surpreso demais com a reação do outro pra pedir o mesmo - E fale baixo.
- Ah... está bem. - Ele respondeu num tom estupidamente mais calmo do que o que havia acabado de usar.
- Ron tem toda razão. - Harry falou, tentando ignorar a sensação de que concordar com o que um Malkavian diz não costuma ser algo muito sábio - É um absurdo Dumbledore não permitir que eu acompanhe os demais!
- Pois eu não vejo nada de absurdo nisso. - Hermione retrucou, muito séria, mas antes que pudesse continuar, o Malkavian a interrompeu bruscamente.
- Como você tem coragem de dizer uma coisa dessas! Isso é ab... - Ron já ia levantar a voz novamente, mas se interrompeu quando viu os olhos da Caitiff faiscando na sua direção - Bem... talvez não seja tão absurdo assim...
- Como eu dizia... francamente, Harry. Você realmente acha que Dumbledore mandaria gente incompetente resgatar Sirius? Eles não precisam que você perca a cabeça naquela toca de lupinos à toa.
- E desde quando Dumbledore tem que se preocupar com a minha segurança, pode me dizer?
- Não fale de sua Majestade nesse tom, Harry. E acho que você não entendeu direito... Ele não está preocupado com a sua segurança. Só quer que você não atrapalhe.
Harry esticou o corpo.
- Ora! Fique você sabendo que não é qualquer vampiro da Camarilla que é páreo pra mim.
- Não estamos falando de vampiros da Camarilla, estamos? Estamos falando de lobisomens. Espere que se lembre que nem Sirius pôde contra eles.
- Bah! - Harry respondeu, mal humorado - Você não quer mesmo que eu fique parado enquanto Sirius corre o sério risco de virar jantar de lobo, quer? Eu tenho que fazer alguma coisa!
- Eu também quero brincar com os lobinhos! - Ron levantou a mão, empolgado.
- Cala a boca, Ron! - Hermione ordenou antes de olhar novamente pra Harry - Você não vai mesmo mudar de idéia, vai?
- Não mesmo. - Harry deu um sorriso.
- Oba! Vamos brincar com os lobinhos! - Ron novamente festejou, mas assim que os olhos de Hermione se viraram pra ele, o ruivo se encolheu na cadeira.
- Não podemos ir com você, Harry... - Hermione ponderou - Se nós três desaparecermos juntos, vamos chamar muito a atenção. Ainda mais quando os outros perceberem que Ron não está fazendo da vida de todos um inferno com suas maluquices. Mas podemos te ajudar a sair do castelo sem que ninguém perceba.
- Ah... que sem graça... - Ron lamentou ao perceber que não teria lobinhos pra brincar.
- Vocês fariam isso? - Harry perguntou.
- Por que não? - Hermione deu de ombros, não querendo dar muita importância ao caso.
- Certo. Obrigado. Mas temos um problema...
- Qual problema?
- Tem um certo Ventrue sedento de vingança que com certeza não vai facilitar as coisas pra mim se suspeitar do que estou querendo fazer.
- Você se refere ao Draco Malfoy? - Hermione perguntou, as sobrancelhas franzidas.
- Ele mesmo.
E como Hermione não se preocupou em fazer maiores comentários, Ron imediatamente ser ajeitou na cadeira e arriscou uma pergunta:
- E o que você fez? Colou chiclete no cabelo dele?
- Por aí... - Harry respondeu, evasivo.
- Hum... Isso realmente é um problema. - Hermione ponderou, irônica - Mas deixe Malfoy conosco. Assim que os enviados dos clãs chegarem, temos que estar com um bom plano pronto.
Não precisaram esperar muito. Poucas horas depois da conversa de Harry e o primeiro enviado já estava chegando ao castelo, atendendo ao chamado do Príncipe.
Um vampiro aparentando não mais do que seus vinte anos entrou, entregando seu chapéu e casaco para o mordomo. Não havia quem negasse que a figura de cabelos castanhos claros e olhos profundamente azuis que caminhou confiante pelo longo corredor não fosse bonita. Mas havia mais do que beleza naqueles olhos. Harry podia adivinhar só em vê-lo que tratava-se de alguém realmente forte porque, apesar de parecer despreocupado, o vampiro não abaixava a guarda nem por um segundo. Harry procurou, mas não encontrou qualquer brecha por onde pudesse atacar. Nenhum movimento era feito inutilmente.
- Ele é Cedric Diggory. - Hermione cochichou no seu ouvido assim que o outro começou a subir as escadas que levavam ao escritório do príncipe - Considerado um dos Ancillae (1) mais poderosos entre os Tremere atualmente.
- Ele é do mesmo clã de Dumbledore? - Harry perguntou, curioso.
- Sim, ele é pertence ao clã de Sua Majestade. - Hermione enfatizou a palavra "majestade", na intenção de mostrar a Harry como ele deveria chamar o Príncipe.
Minutos depois e a campainha tocava novamente, anunciando a chegada de mais um enviado. Assim que o mordomo abriu a porta, um delicioso perfume de rosas se espalhou pelo local, antes que uma moça loira de beleza estonteante desse seus primeiros passos, adentrando o saguão para só então dar as costas a um mordomo estranhamente enlevado, para que este lhe retirasse o casaco.
- E ela, quem é? - Harry perguntou, mas como não obteve uma resposta imediata, olhou para o lado e viu seus dois amigos totalmente suspirantes, como se estivessem diante da criatura mais maravilhosa do planeta.
A vampira passou por eles num desfile cheio de graça que arrancou aplausos entusiasmados de Ron. Hermione não disse nada, apenas mordia os lábios com força numa inútil tentativa de resistir ao charme da outra. Aquela vampira certamente jogava pesado e devia ser no mínimo bastante confiante para ter a audácia de já entrar no castelo do Príncipe usando Presença.
- O nome dela é Fleur Delacoir. - Ron finalmente pareceu recuperar o dom da fala depois que ela desapareceu pelas escadas - Toreador (2). Maravilhosa, não é?
Hermione permaneceu calada. Não tinha forças para resistir, mas tinha conhecimento pra saber que o motivo do próprio deslumbramento não tinha nenhuma relação com a beleza natural da moça.
Pela segunda vez em menos de 48 horas, Harry agradeceu aos céus pela sorte de ter uma certa fita de seda azul bem amarrada em torno de seu pescoço.
O terceiro e último a integrar o grupo de resgate demorou mais alguns minutos pra chegar, mas quando o fez logo conseguiu que notassem sua presença. O mordomo abriu a porta, dando passagem para um vampiro corpulento, de peitoral largo, e alto a ponto de ser um pouco curvado. Ele deu alguns passos desajeitados pelo corredor, olhando para os lados como se reconhecesse um território de guerra antes de fuzilar o mordomo com o olhar quando ele fez menção de retirar seu casaco. E então, sem nem perder tempo com cumprimentos, seguiu pelo corredor com passadas firmes e a cara fechada.
- Este é Victor Krum (3). Um dos melhores do clã Brujah. Um pouco rude, contu.. - Hermione se calou quando viu um olhar terrível na sua direção.
Ao que parecia, Krum era bom demais para manter-se desatento ao que era dito a seu redor (4). Harry notou bem o motivo dele não ter cedido seu casaco. Por debaixo do grosso sobretudo, o vampiro com certeza segurava uma pistola, pelo modo como sua mão direita se escondia por debaixo do tecido.
Quando Krum finalmente desapareceu de suas vistas, Harry imediatamente aguçou seus sentidos, procurando prestar atenção não mais nos comentários dos seus amigos, mas na conversa que começava a se desenrolar dentro do gabinete de Dumbledore.
Ouviu uma troca de cumprimentos entre os vampiros. Nada muito demorado. E logo Dumbledore explicava a situação e como deveriam proceder. Nenhum deles pareceu se importar quando o Príncipe falou que teriam que invadir um covil de lobisomens e, se tudo desse errado, até mesmo enfrentá-los. Menos mal, Harry pensou, pelo menos ao que parecia aqueles três eram realmente corajosos.
A certa altura, ouviu a voz rouca daquele que imaginou ser Krum dizer: "Não se preocupe, Majestade. Um pouco disso aqui e esses lobinhos viram cães de estimação".
"Tenham cautela e sejam o mais rápidos e eficientes que puderem". - Harry ouviu a voz de Dumbledore aconselhar - "Quero que partam essa noite mesmo".
Uma sacudida violenta e Harry fez com que seus sentidos voltassem para onde estava. Ron o sacudia com tanta força que sua cabeça balançava de um lado para o outro.
- Harry, você está bem? Você está bem? Você está bem!
- Pare com isso, senão quem não vai ficar bem em breve será você. - Hermione avisou ao observar o ar impaciente de Harry se avolumar cada vez que o Malkavian balançava seu corpo pra frente ou pra trás. - Venham, precisamos tirar o Harry daqui antes que alguém perceba.
Ron parou de sacudir Harry e os três passaram a dar cumprimento ao plano traçado há alguns minutos.
Quando o mensageiro finalmente alcançou Greyback trazendo ordens diretas para destruir Sirius, o lupino pensou que no estado em que o deixara na noite anterior, aquela não seria uma tarefa das mais difíceis. Sirius estava acabado, disso ele estava mais do que certo. Tomara o cuidado de ser o mais cruel possível com aquele vampiro arrogante, que pela segunda vez viera meter o nariz no seu território e pelo que parecia, com os mesmos objetivos.
Uma coisa que ele nunca iria entender era como aqueles dois tinham conseguido se reencontrar depois de todos aqueles anos. Se bem que, apesar de estarem novamente juntos, nenhum deles parecia lembrar do passado e isso era um sinal de que as informações que havia recebido não eram falsas.
Mas de qualquer forma, naquela noite aquela história ganharia o seu ponto final. Lupin não mais viveria para trair os seus se entregando para aquele vampiro. Greyback rosnou vitorioso com aquele pensamento. Enfim poderia enfiar suas presas no último descendente do antigo chefe. Aquele que ele matara com seus próprios dentes no passado. Era até irônico saber que em breve seu filho teria o mesmo destino. Mas antes, ele daria a ele uma boa lição.
O licantropo desceu até a gruta onde Sirius e Remus estavam aprisionados. No caminho, fez um sinal brusco para os dois lobisomens que guardavam a entrada do local o acompanhassem, no que foi prontamente obedecido.
Remus fechou os olhos, incomodado com a luz da tocha que um dos lupinos carregava, com a intenção de iluminar pelo menos um pouco o local. Seu coração contraiu-se dolorosamente em seu peito ao adivinhar o que Greyback estaria fazendo ali pela terceira noite consecutiva. Provavelmente viera reiniciar as horríveis sessões de torturas sofridas por Black.
Sirius por sua vez, pareceu nem ter se dado conta de que Greyback estava ali. Ainda dormitava, apesar de algumas horas terem se passado após o pôr-do-sol, mas o lobo resolveu o problema logo, acordando-o com um doloroso chute que o fez gemer.
- Não... Eu não vim fazer o que vocês estão pensando. - Greyback logo disse, parecendo prever os pensamentos de Lupin e então, voltando-se - Leve-os.
Os dois lobisomens se adiantam, desprendendo as correntes das paredes com alguma dificuldade.
- O que vai fazer, Fenrir? - Remus perguntou, sobressaltado.
- Nada além de ser piedoso, Remus.
- Você não sabe ser piedoso!
Greyback respondeu a afirmação da maneira que costumava reagir a tudo e qualquer coisa que o ofendia. Virou o tronco e bateu em Remus com toda a força, abrindo em seu rosto um ferimento feito por suas garras. O corpo do lupino se desequilibrou com o impacto, mas Fenrir tratou de cuidar disso, batendo do outro lado de sua face. Quando Remus levantou o rosto, Fenrir pôde ver um brilho em seus olhos muito semelhante àquele que tinha observado nos olhos de seu pai, instantes antes dele cravar suas presas em sua garganta definitivamente. Perceber aquilo o irritou tanto que Greyback imediatamente preparou-se pra bater ainda mais.
Foi o grunhido alto de Sirius, seguido por sua tentativa inútil de se libertar das mãos que o aprisionavam, que distraiu sua atenção de Remus, fazendo Greyback olhar na direção do vampiro com um ar de desdém.
- Vejo que ainda te deixei com forças para reagir... - ele observou, cínico - Mas aconselho que não gaste suas energias agora, ou então não vai conseguir ficar acordado até o nascer do sol...
Remus arregalou os olhos ao ouvir aquela insinuação.
- Não... - sua voz saiu fraca.
- Oh, sim. E ao contrário do que você pensa, eu sou tão piedoso que vou deixar vocês ficarem juntos até o último minuto. Que tal?
O desespero que Remus sentiu ao ouvir aquelas palavras foi tão imenso que ele perdeu a capacidade de falar. Apenas olhou para um Sirius muito fraco e machucado, subjugado pelas mãos nada suaves de um lobisomem. Ambos foram puxados pra fora da gruta, acorrentados juntos pelos pulsos. Como Sirius mal conseguia caminhar, um dos lobisomens o segurou pelo braço machucado, levantando-o do chão como se ele fosse um boneco, arrancando no processo um gemido que Remus não soube dizer se era de raiva ou de dor.
Remus por sua vez sentia seu rosto arder horrivelmente graças às feridas provocadas pelas garras de Fenrir, mas apesar disso, seu estado era infinitamente melhor do que o de Sirius. Ele olhou em volta quando o grupo ganhou a escuridão da noite, numa busca desesperada por uma maneira de fugir, e foi exatamente nesse momento que seus olhos se encontraram com os de Tonks. Ele encarou a amiga de infância por poucos segundos num misto de saudade e desespero, mas ela desviou o olhar, hesitante, não querendo ver o momento em que ele era empurrado com Sirius pra dentro de um enorme poço abandonado.
Os dois corpos caíram juntos e alcançaram o fundo seco embolados e ainda mais machucados. Ambos deram um gemido de dor e Remus olhou pra cima bem a tempo de ver o poço ser lacrado com um tampão feito de grades de ferro muito fortes. Nada capaz de deter o Sol quando este despontasse, o lupino logo analisou.
Quando tudo tornou-se silêncio, Sirius abriu os olhos e olhou confuso para cima, finalmente parecendo perceber por completo onde estava. O que viu o desesperou de tal forma que ele deu um grito que mais parecia um ganido, imediatamente tentando escalar as paredes de pedra, mas sem conseguir muito sucesso com seus pulsos quebrados e músculos rasgados. Sem contar o fato de que o peso de Remus, com quem ainda estava acorrentado, o impedia de prosseguir. Caiu de novo, ainda mais desesperado e machucado, mas antes que pudesse fazer uma segunda tentativa Remus o abraçou por trás, impedindo-o de avançar.
- Sirius! Pare, por favor... é inútil... há lobisomens lá em cima.
Sirius se debateu por alguns segundos, até que finalmente pareceu se acalmar, suas pernas cedendo ao cansaço e à dor. Remus apoiou as costas na parede e deixou-se deslizar até o chão, com Sirius em seus braços, compreensivo mas um pouco surpreso com a aparência indefesa que aquele vampiro fazia ao olhar desesperadamente pra cima.
- De novo não... De novo não... De novo não...- Sua voz fraca murmurou várias vezes, fazendo o coração de Remus doer a cada repetição.
- Shiii... calma... Eu estou aqui... nós vamos conseguir escapar...
Mas Sirius não se acalmava, apenas repetia aquelas palavras como um mantra. Seu rosto ainda longe de estar completamente curado dos terríveis ferimentos impostos por Greyback na noite anterior contorcido de sofrimento por estar preso naquele lugar. Ao ver que simples palavras não eram suficientes para tranqüilizá-lo, Remus então encostou o pulso nos lábios de Sirius suavemente, gemendo quando ele o aceitou, mordendo-o com fome.
O lupino fez com que o outro se aconchegasse em seu corpo ainda mais, fechando os olhos pelo prazer de sentir Sirius chupando-o languidamente enquanto suas costas pareciam relaxar sobre o peito de Lupin. Remus o deixou sugar a vontade, até o momento que começou a sentir os primeiros sinais de tontura. Controlando seu próprio desejo de deixá-lo continuar até o fim, lambeu a bochecha do vampiro algumas vezes, tentando lembrá-lo de que precisava parar sem ter que afastar o pulso de sua boca.
Hesitante, Sirius sugou mais alguns goles antes de finalmente lamber a ferida, fechando-a. Remus acariciou os cabelos do moreno, abraçando-o com cuidado para não machucá-lo ainda mais. Os olhos de Sirius se encontraram com os de Remus, agradecidos, mas pesados de sono. O lupino apenas beijou o topo de sua cabeça, deixando-o dormir enquanto pensava numa forma de escapar daquele lugar.
Hermione e Ron acompanharam Harry por uma das inúmeras passagens secretas do castelo e, não descobrindo carniçais guardando a saída, os três trocaram um olhar cúmplice antes que Harry seguisse adiante, deixando seus companheiros pra trás para alcançar a liberdade. Pulou o muro com facilidade e correu o mais rápido que pôde, na tentativa de atingir uma distância prudente do castelo, antes de finalmente diminuir o ritmo, olhando em volta em busca de um lugar de onde pudesse esperar pela passagem dos demais vampiros. Mas assim que deu os primeiros passos em direção a uma árvore mais grossa, Harry sentiu um cheiro muito conhecido por trás de si e parou.
- Draco... - ele tentou falar depois de alguns segundos de completo silêncio.
- Cale a boca. - a voz de Draco chegou a seus ouvidos extremamente fria - Você volta comigo pro castelo. Agora.
Continua...
(1) Ancillae - Isso já foi explicado anteriormente, mas só lembrando, os Ancillae têm entre 100 a 200 anos e são os vampiros adolescentes.
(2) Toreador - Um clã de artistas e amantes da beleza. Seus membros têm como fraqueza o fato de ficarem paralisados de tanto deslumbramento frente a algo muito belo. Dizem por aí que quando morrem, viram purpurina. (brincadeira!)
(3) Brujah - Um clã originalmente formado por revolucionários extremamente politizados, mas que hoje em dia parece infestado por vampiros gratuitamente violentos e tolamente irritáveis. Sabe aquele mane cheio de músculos que faz vale-tudo e quer dar porrada em todo mundo? É o estereotipo desse clã. Claro que nem todos são assim. Graças a Deus. Alguns Brujah ainda possuem vínculos profundos com suas raízes revolucionárias. O defeito dos Brujah é justamente ter uma facilidade muito maior pra se irritar e perder o controle do que o que se costuma verificar com os demais clãs.
(4) Auspícios - Disciplina vampírica muito útil que dá sentidos aguçados ao vampiro. Utilizando esse poder, ele pode por exemplo ouvir conversas a distância como se estivessem falando bem ao lado dele. Enquanto o vampiro fica atento a conversas distantes de si, o bom observador percebe que ele fica distante e que não se dá conta do que acontece perto dele. Se outra pessoa o chamar a realidade, interrompendo sua concentração, o vampiro não consegue continuar usando auspícios.
n/a - Pois então... era uma vez uma autora que resolveu responder às reviews de sua fic... Mas quando ela estava começando, o interfone de sua casa tocou e ela foi atender. Eram amigos seus muito queridos que a convidaram pra jantar com eles. Bem, ela tentou dizer que tinha mais de 30 reviews acumuladas pra responder, mas eles não são do tipo que aceitam não como resposta...
Moral da história: respostas de reviews atrasadas de novo! Perdão! TT
