Laços de Ouro

Capitulo 4: Retaliação – Um Novo Começo.

I – Sagrado Cavaleiro.

Itália / Sicília / Sete anos depois...

Miguel sentia um grande incomodo, fazia anos que misteriosamente Giovanni lhe permitirá voltar a freqüentar as reuniões de família. Dificilmente ele ouvira algum familiar tocar no nome de Helena e Guilhermo. Depois do que Juliane falara naquela reunião a sete anos atrás, as coisas pareciam ter se acalmado, até agora.

Era estranho, mas parecia que na sua presença todos faziam um esforço sobre-humano para não tocar no assunto. Embora tivesse certeza de que todos queriam matá-lo por aquilo.

A cada dia, sentia-se cada vez mais vigiado. Era como se a cada passo que desse, tivesse um par de orbes intensos a lhe observar. E a expectativa de algo acontecer lhe atormentava cada vez mais.

Via em cada olhar, tios, tias, primos e até alguns que um dia considerara como irmãos, fitavam-lhe com ódio toda vez que se encontravam. Ódio do qual ele intimamente sabia merecer, se não algo pior.

Quanto a Guilherme, sabia apenas que ele estava morto, como, não fazia idéia, mas Giovanni mesmo lhe falara no dia da reunião. Ele não mentiria, ou mentiria?

Agora estava sentando no escritório de Giovanni em sua mansão nas Sicília. A pouco mais de um ano, o patriarca da família, fixara residência na Sicília e lhe chamara agora para uma reunião, por isso estava ali, agora.

Uma densa nevoa começou a entrar por baixo da porta...

Miguel observou aquilo assustado, viu a porta abrir-se. Sentiu que o sangue parara de correr por suas veias e que seu coração estava a ponto de sair pela boca.

Porte imponente, cabelos rebeldes e curtos. Orbes tão azuis e tão frios que gelariam o inferno e fariam o céu pegar fogo.

-Boa noite; a voz soou afiada e cortante como o fio de uma navalha.

Conhecia aquela pessoa, aquele porte, o jeito de andar. Até mesmo o olhar que não admitia a contrariedade e hesitação. Mas era para ele estar morto.

-Gui-lher-mo, impossível; Miguel falou com a voz tremula, levantando-se rapidamente para esconder-se como um covarde atrás da cadeira executiva que estava sentando.

-Pensei que ficaria feliz em me ver; o homem comentou, com um sorriso sádico nos lábios.

-Era para você estar morto. Eu lhe matei; ele afirmou, perdendo completamente a razão.

-Tsc! Tsc! Tsc! –Guilherme falou, balançando a cabeça em negação; -O que foi, caro primo Miguel, os fantasmas do passado resolveram sair do inferno para te assombrar? –ele perguntou, com os orbes cintilando de forma perigosa.

-Gui-lher-me; ele falou tremulo, ficando incrivelmente pálido. Pensava que ele também morrera. Mas aonde ele poderia estar todos esses anos?

Giovanni. Maldição. Ele praguejou intimamente. Sabia que Giovanni iria falar com Guilhermo ainda aquela noite, por isso adiantou-se e chegou antes dele, mas não pensou que Giovanni fosse tirar o garoto do país, ou sabe-se lá para onde o havia levado durante todos aqueles anos.

-Oras. Vejo que finalmente me reconheceu; Guilherme falou, aproximando-se, perigosamente.

-Que bom que esta vivo, Giovanni mentiu para todos nós, dizendo que estava morto; ele falou, sorrindo nervosamente.

-CALE A BOCA; Guilherme gritou, jogando a cadeira que Miguel estivera de encontro a parede, fazendo-o a se estilhaçar. –Não ouse falar do meu avô assim; ele vociferou.

A nevoa começou a subir e preencher o cômodo...

-Seu bastardo, pensou que fosse ficar impune depois do que fez? –Guilherme perguntou, com um sorriso perverso moldando-lhe nos lábios bem desenhados.

-Eu não queria que acontecesse aquilo com Helena, eu juro; Miguel falou, caindo de joelhos no chão.

-Levante-se verme, não me faça erguê-lo senão sua morte será mais rápida do que desejo;

-Perdoe-me, por favor; ele pediu desesperado.

-Não, o perdão é somente os deuses que dão, porém duvido que você vá chegar a encontrar algum por ai, pois eu mesmo vou te mandar para o inverno e pode crer, de lá você não vai sair;

Miguel implorava inutilmente, Guilherme não iria ceder. Esperara todos aqueles anos por isso, não iria simplesmente lhe perdoar com tamanha facilidade por destruir de forma tão sórdida sua vida e seus pais.

-SEIKICHIKE MEIKAI REN; ele falou, elevando seu cosmo.

De repente a nevoa intensificou-se, como se houvesse impregnado em todas as paredes do. Logo eles se viram em meio a um lugar deprimente, onde pessoas caminhavam de cabeças baixas e ligadas umas as outras, com correntes e grilhões.

Miguel tentou correr, porém o cavaleiro pegou-o pela gola da camisa e foi arrastando-o até um penhasco.

-Esta vendo essa luz? –ele perguntou, puxando-o pelos cabelos e arrastando-o até a borda.

Guilherme apontou-lhe o céu. Onde parecia que somente uma constelação brilhava de forma intensa.

–O aglomerado de estrelas protetoras da constelação de Câncer. Presépio. É chamada de Seikishiki pelos chineses. Seikishiki é a aura de luz que emana dos cadáveres e que logo sairá do seu; ele falou, segurando-o pelo pescoço. Se o soltasse ele cairia rapidamente dentro do abismo de Yomotsu. A passagem para o reino dos mortos.

-Minha constelação é a luz da morte, a luz que sai do meu dedo vai perfurar seu coração e alma e o conduzira para o reino dos mortos. Tome o golpe supremo do cavaleiro de Câncer. SEIKISHIKI MEIKAI-HÁ;

Uma luz dourada explodiu de seu dedo. Logo o corpo inerte caiu já sem vida e sem alma pelo poço fundo e provavelmente sem fim.

Guilherme tinha o olhar frio e superior, como se tivesse mais consideração com o mais nojento dos vermes do que com Miguel. E se pensando bem, era isso mesmo.

Aos poucos as nevoas o envolveram, uma luz dourada o abraçou, quando se viu novamente no escritório do avô. Olhou para sua esquerda, notando o corpo sem vida de Miguel ali.

Devido a seu golpe, ele e a alma da outra pessoa iam para o outro mundo. embora sua vitima tivesse tido a sensação de estar completamente na encosta, sem sentir o desprendimento. Agora só o corpo sem vida ficou ali, pois a alma não mais existia.

Os vidros da janela se estilhaçaram, quando uma luz dourada o atravessou.

Em cima da mesa um grande caranguejo dourado se formou.

-A armadura; ele murmurou, espantado. Só a vira uma vez e isso fora há muito tempo atrás quando o avô ainda a usava.

-Agora ela é sua; a voz de Giovanni soou atrás de si.

-Mestre; Guilherme falou, abrandando o olhar momentaneamente.

-Não meu filho, agora você é somente meu neto, pois a você agora, esta armadura de ouro pertence. Ela o escolheu como novo guardião e meu legitimo herdeiro. Agora você esta apto a tomar suas próprias decisões e caminhar com seus próprios passos, mas acima de tudo, como cavaleiro seu dever é proteger Atena; ele completou.

-...; Guilherme apenas assentiu.

–"Agora eu cumpri minha promessa. Guilhermo e Helena, meus filhos queridos, descansem em paz"; Giovanni pensou, dando as costas para a sala e saindo em seguida. Deixando o neto ainda ali.

Guilherme aproximou-se da armadura e logo ela desmontou-se indo envolver-lhe o corpo. O cavaleiro sentiu-se vibrar pela energia que ali estava contida. Sentia-se forte. Poderoso. Intocável.

Lembrou-se de tudo o que aconteceu ao longo dos últimos anos. Sentiu o sangue ferver. Pensando que Miguel ainda pagara pouco pelo que fizera, mas faltava um. Marco.

Lançou um olhar de esguelha para o corpo inerte. As unhas de suas mãos se alongaram como garras ou como as pinças afiadas do carangueijo. Com um único golpe a cabeça separou-se do corpo.

-A partir de agora serei Mascara da Morte, cavaleiro de Câncer e aquele que se colocar no meu caminho, será eliminado. Não sou mais aquele fraco que os viu morrer e não pode fazer nada. O mais forte dita o que é justo. Agora eu vou escrever meu destino... Com as minhas próprias mãos; ele completou, pegando a cabeça pelos cabelos e saindo dali com passos firmes e decididos.

Ainda tinha algumas coisas para resolver com o outro primo, que certamente ficaria louco por saber que estava de volta; ele pensou, com um sorriso sádico nos lábios.

IV – Conversas.

Uma nota mais grave escapou das teclas de marfim. Suspirou cansado, abaixando a tampa de proteção sobre o teclado. Em silencio levantou-se do banco, caminhando até a janela.

Yuuri fitava-o apreensiva, ele parecia mais tenso do que quando começara. Não negava que tudo aquilo lhe surpreendera. Fora muito difícil lembrar-se de coisas tão tristes das dores e provações que passara ao longo dos anos; ela pensou.

Agora entendia com perfeição o que o fizera ter aquele conceito sobre justiça e poder. Não o recriminava, qualquer um na mesma situação faria o mesmo se não pior.

Depois de tudo, ainda fazer-se passar por traidor e voltar ao santuário como um espectro para matar Athena, embora as intenções fossem completamente opostas. Deveria ter machucado, uma ferida que talvez levasse anos a fechar-se, se não mais.

-Se não quiser mais ficar comigo, eu entenderei. Não se preocupe; ele falou, afastando parcialmente as cortinas da janela. O sol já estava se ponto.

Respirou fundo, não a faria ficar a seu lado depois de saber de tudo. Embora a palavra 'mentira' ecoasse de forma tenebrosa em sua mente. Era mentira, não conseguiria aceitar perdê-la com facilidade, mas não tinha escolha agora.

Somente os deuses sabiam o quanto a amava, mas tinha que entender que certas cosias não podiam mudar e o passado infelizmente estava entre elas.

Yuuri arregalou os olhos. Quando pedira para ele falar sobre o passado, não pensou que ele fosse reagir assim, querendo afastar-se.

Era estranho, mas agora sentia-se aliviado, embora a incerteza sobre as escolhas da jovem, daqui por diante ainda lhe assustassem.

Surpreendeu-se quando Yuuri, enlaçou-o pela cintura, repousando a cabeça em suas costas.

-Não fale besteiras; Yuuri o repreendeu, com uma voz chorosa. –Eu não queria te deixar mal, por ter de se lembrar disso; ela completou.

-Yuuri; Guilherme falou surpreso. Pensou que ela se afastaria, porém estava errado.

Intimamente deu graças aos céus por isso. Nunca sentiu-se tão bem por estar errado em algo como agora.

-Não quero te perder; ela sussurrou em tom de confidencia. –Disse que estaria a seu lado, e nada vai mudar isso;

-Nem eu a você; ele respondeu, desvencilhando-se de seu abraço, para ficar de frente para ela.

-Promete? –Yuuri falou, abraçando-o com os orbes verdes marejados.

-O que? –o cavaleiro perguntou, secando-lhe as lagrimas que teimavam em marcar-lhe a face, com ternos beijos.

-Que vamos ficar juntos, não importa o que aconteça? –ela perguntou, com os orbes serrados.

A resposta que tivera fora um ardente beijo, que ele lhe dera. Deixando-a lânguida entre seus braços. Yuuri enlaçou-o pelo pescoço, não se agüentando em pé. Sentiu-o estreitar os braços em torno de sua cintura, como se tivesse medo de que ao abrir os olhos, ela não mais estivesse ali.

Separaram-se ofegantes e o cavaleiro lhe abraçou, descansando a cabeça na curva de seu pescoço.

-Prometo; ele respondeu, com a voz enrouquecida.

Ambos fecharam os olhos, dando um suspiro relaxado. Nada que acontecesse a seguir poderia separá-los, esta noite dormiriam tranqüilos, pois esta incerteza fora obliterada de suas vidas. Dando-lhes a certeza de que essa parte do passado não era forte para separá-los e que a chance que receberam ao voltar, estava sendo aproveitada... Muito bem aproveitada.

-o-o-o-o-

Giovanni observou o casal a distancia, encostado no batente da porta. Um meio sorriso formou-se em seus lábios. Saiu cauteloso, para não ser notado. Conversaria com o neto outra hora, agora certamente ele teria outras coisas mais importantes para fazer.

Mas ficava feliz que ele estivesse bem. Sentiu uma brisa quente, envolver-lhe o corpo, enquanto descia as escadas. Parou, franzindo o cenho. Balançou a cabeça para os lados, não deveria ser nada; ele pensou.

Virou-se uma ultima vez para a porta do escritório, quando arregalou os olhos, surpreso. Um largo sorriso abriu-se em seus lábios, ao vê-los novamente ali, acenando-lhe como sempre faziam, quando o esperavam chegar.

-"Agora sim, adeus meus filhos. Descansem em paz"; ele pensou, acenando de leve, antes de tomar seu caminho em direção a porta. Pegando novamente o sobretudo e saindo da mansão.

Lá fora uma bela limusine preta o esperava, a noite era fria, porém ainda eram os primeiros dias de inverno. Mas intimamente sentia-se aliviado por ver que finalmente as coisas seriam diferentes.

V – Epílogo.

Abriu os olhos fitando o teto, a seu lado, ouviu um leve suspiro. Lançou um olhar demorado a cascata de fios prateados que estavam espalhados de forma displicente sobre o travesseiro, virou-se, podendo observá-la melhor.

Sentia-se diferente, da mesma forma como acontecera no dia em que a encontrara na praia e estranhamente desmaiara. Nunca soubera o porque disso, mas agora simplesmente não importava.

Deixou os dedos correrem com suavidade pelas costas nuas afastando alguns fios, vendo-a remexer-se. Um meio sorriso formou-se em seus lábios. Se alguém, algum dia lhe dissesse que estariam juntos assim, como agora. Certamente o chamaria de louco.

-"O destino é engraçado"; ele pensou, vendo-a manter-se enrolada sobre o lençol de cetim azulado e virar-se, ficando de frente para si.

-Já acordou; Yuuri falou, com a voz sonolenta. Sem conseguir ver através das pesadas cortinas do quarto, se lá fora já era dia ou não.

-...; Guilherme assentiu, tocando-lhe a face carinhosamente. –Apenas pensando;

-No que? –ela perguntou curiosa, vendo-o deitar-se de bruços, enquanto a puxava para seus braços.

-Como as Deusas do Destino gostam de brincar com a gente; ele respondeu, sorrindo.

-Uhn? –ela murmurou confusa.

-Lembra como era no começo? –ele perguntou, fitando-a com um olhar divertido.

Viu-a piscar e logo voltar-se para si, sorrindo.

-Lembro que adorava te chamar de sirizinho; ela respondeu, roçando-lhe os lábios e roubando-lhe um beijo em seguida.

-Uhn! Você lembra é? –ele perguntou com um sorriso maroto, também lembrando-se das confusões em que ela se metera por causa disso, ou melhor, algumas situações um tanto constrangedoras a ambos, não que isso fosse algo ruim... É claro. –Mas me refiro a outras coisas também; Guilherme continuou, ficando sério.

-Que coisas?

-O treinamento, o período de revolta do santuário. Aquela parceria com o alter-ego do Saga. A batalha de Abel e depois Hades; ele falou, dando um suspiro.

-Algumas coisas às vezes simplesmente precisam acontecer; Yuuri falou, descansando a cabeça sobre o ombro dele.

-...; Guilherme assentiu. –Por isso digo que o destino é um pouco engraçado, nos coloca em situações que às vezes não podemos evitar, ou simplesmente deixamos acontecer;

-O importante é que sempre podemos continuar; ela falou, tocando-lhe a face distraidamente. –Estamos nisso juntos; Yuuri completou.

-Amo você; ele sussurrou-lhe ao pé do ouvido. Numa doce confidencia.

Yuuri voltou-se para ele, mas nada disse, sentindo-o tocar-lhe os lábios de forma sôfrega. Enquanto o mesmo enlaçava-lhe pela cintura, fazendo-a deitar-se de costas para a cama.

-Eu também; ela respondeu, afastando-se momentaneamente.

Sentia a respiração ofegante e o coração disparar, da mesma forma que era capaz de sentir isso vindo dele. Enlaçou-lhe pelo pescoço, fitando-lhe intensamente, antes de aproximarem-se novamente, para um beijo intenso e avassalador.

Não importava quanto tempo passasse ou quais seriam os caminhos a serem percorridos por eles agora. Tais laços criados por sentimentos dos quais nem mesmo os deuses podem interferir, são de ouro.

Um laço precioso, que não se arrebenta ou se corta. E isso é só o que importa...

#Fim#

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Domo pessoal

A fic chegou ao fim... Mas não to triste com isso. Guilherme e Yuuri ainda vão aparecer em outras historias, de maneira alguma vou deixá-los de lado. Sinceramente espero que tenham gostado dessa historia, procurei passar da melhor forma que encontrei, os motivos pelos quais, Guilherme tornou-se Mascara da Morte de Câncer.

De onde surgiram aquele sorriso sádico e ar debochado. O que o levou a ter aquele conceito de justiça deturpada e o desejo de ser o mais forte. Bem, acho que agora vocês descobriram.

Antes de ir, deixo meus mais sinceros agradecimentos a todos que acompanham essa fic, em especial, aos que comentaram no capitulo passado. Pessoal muito obrigada por todo o apoio e até a próxima fic. Não percam. Aishi e Kamus em Caminhos Incertos. Porque todo relacionamento tem um começo, e como disse antes. Esse casal não é perfeito e essa fic, bem... Vem provar que eles são tão mortais quanto nós, fadados a passarem por duvidas e incertezas em meio a um relacionamento.

Até a próxima pessoal

Kisus

Já ne...

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Inicio: 05/05/06

Termino: 07/05/06

Ultima revisão: 14/05/06