Capítulo III

-x-x-x-x-x-

Rápido feito um raio, Aioros subiu todas as casas até chegar à sua própria, não estava muito para conversas. Entrando pelo seu quarto, o cavaleiro jogou-se na cama, fitando o teto. Mas que diabos era aquilo que estava sentindo, um gosto amargo de decepção e descontentamento? Bobagem, não podia ser nada disso, afinal, há quantos dias conhecia Claire? Apenas dois, não era tempo suficiente para sentir algo pela garçonete, muito menos para querer esganar o homem que ela cumprimentou durante o almoço.

"Estou ficando louco", concluiu. Primeiro, a dançarina da boate, agora uma jovem garçonete. O que estava acontecendo com ele, afinal?

-Pela sua cara, o almoço no restaurante não foi lá essas coisas...

-Não te ensinaram a bater antes de entrar na casa dos outros, Shura? – questionou Aioros para o amigo, parado junto à porta do quarto. O espanhol apenas riu e se sentou em uma poltrona, um sorriso debochado no rosto.

-Como se eu precisasse disso para entrar na sua casa.

-Não me enche... Espera um pouco, como sabe que fui almoçar fora hoje?

-As notícias correm, principalmente neste Santuário... Tão rápido que parecem até que se "teletransportam", sabe.

-Kiki! O danado espalhou para os quatro cantos, né?

-Também... Mas digamos que eu já tinha deduzido onde você poderia estar.

Aioros arqueou uma sobrancelha, levantando a cabeça e encarando Shura. O amigo riu e saiu da poltrona para se deitar na cama também, as mãos apoiadas atrás da cabeça.

-Não é óbvio? Só pela cara que você fez quando causou o acidente com a bandeja no casamento e depois seu jeito enquanto conversava com a moça...

-Você viu?

-Ora, eu e a torcida do Flamengo, como diria o Aldebaran... E vi também quando ela entregou te entregou a cortesia do restaurante. Aliás, sacanagem o que você fez hoje!

-O que foi que eu fiz? – perguntou Aioros, quase dando um salto da cama.

-Convidou o Mu para almoçar com você! Puta sacanagem, se fosse eu o convidado, cê não voltava de lá com essa cara de cachorro abandonado, eu tinha agitado a mina para você.

-Não viaja, Shura! Eu apenas aceitei uma cortesia para almoçar... E se quer saber, a Claire é comprometida.

-Ah, esse é o nome dela? E como sabe que é comprometida?

-Porque eu vi o marido e o filho dela lá no restaurante. Acho que deram uma passada para falar com ela antes de o menino ir para a escola.

-Marido e filho? Tem certeza?

-Bem... Cem por cento não, mas é óbvio que eram!

Aioros suspirou, voltou a fitar o teto. Shura ficou uns minutos em silêncio, depois desatou a rir feito um doido.

-Que foi?

-Nada, só estava pensando... Se não dá pé com a Claire, pode muito bem dar certo com a dançarina...

-Ah, cala a boca, seu idiota! – o sagitariano alcançou um travesseiro e acertou-o na cara de Shura – Anda, vai embora antes que diga mais besteiras!

-Vai me dizer que não se sentiu atraído pela dançarina? Só o jeito que você ficou lá no palco, todo vermelho...

-Vá embora agora!

-Mas nem um sonhozinho assim, meio eró...

-Agora, Shura!

Antes que uma chuva de trovões atômicos o atingissem, Shura saiu correndo da casa do cavaleiro. Aioros voltou para sua cama, mas lembrou-se de algo que ainda estava guardado em seu armário.

Pegando a camisa, ele decidiu pedir ao serviçal de sua casa que a lavasse logo, mas desistiu quando o perfume de baunilha subiu-lhe pelas narinas. Mas que diabos, aquele cheiro era de enlouquecer qualquer um!

"Love has gone and made me blind"

-x-x-x-x-x-

Fim da tarde, mas o sol ainda banhava com seus últimos raios a cidade de Atenas. Caminhando a passos largos, meio esbaforida por conta de seu atraso, uma jovem fez a curva em uma rua de pedras e entrou na boate que funcionava por ali.

-Está atrasada, Linet. – disse-lhe o barman ao vê-la entrar pelo salão.

-Eu sei, Arthur... Tive um problema lá no centro, não deu para vir antes.

-Certo... Ah, antes que eu me esqueça, tenho um recado para você.

-Recado? De quem?

-Willhem... Ele mandou avisar que vai vir hoje assistir seu show. E pode ir se preparando, Linet.

-Para o quê?

-Ele soube da sua dança com um dos convidados da "Noite dos Mascarados" e não gostou muito... Tá doido da vida, querendo saber quem é o fulano.

-Droga... Mas pode deixar que eu me entendo com ele. Bom, eu vou me trocar... Até mais tarde, Arthur.

Suspirando, Linet entrou por um corredor ao lado do bar e foi para seu camarim, onde largou sua bolsa sobre o balcão. Encarando o rosto cansado no espelho, a jovem prendeu os cabelos em um coque e iniciou sua preparação para mais uma noite de trabalho.

-x-x-x-x-x-

Em sua casa, Aioros caçava o que fazer, inutilmente. Era a primeira noite sem o cavaleiro de Gêmeos no Santuário, ele e Petra tinham viajado em lua de mel para Budapeste. Isso significava que, por três semanas, o sagitariano estava sem seu melhor amigo e parceiro no jogo de tranca de todas as noites após o jantar!

Tentou assistir TV, mas nada lhe agradava. Música? Não estava com paciência para isso. Decidiu, então, dar uma de mala sem alça e desceu até Leão para conversar com o irmão e Marin e também ver o pequeno Alekssandro, o sobrinho de um ano.

Quando entrou na casa, pelos fundos, ele pôde ouvir claramente um tropel de gente correndo e fazendo escândalo.

-Nem pense em fugir do banho, Alekssandro Nicassius!

Curioso, Aioros espichou o pescoço na direção do corredor, bem na hora que o menino, sem roupa nenhuma, vinha por ali. Óbvio que não houve tempo de desviar, então...

-Nossa, direto na canela... – comentou Aioria, vendo o pequeno trombar com tudo no tio.

Alekssandro deu dois passinhos para trás e sorriu meio debochado ao encarar Aioros e vê-lo segurando a canela, esfregando a área atingida e muito dolorida.

-E você ainda ri, seu pestinha!

-Olha como fala do meu filho!

-Falei alguma mentira? Meu, esse garoto deve sofrer alguma influência negativa dos astros, não é possível...

-Ele é de gêmeos, esqueceu?

Alekssandro, indiferente à discussão dos dois cavaleiros, foi saindo de fininho pelos fundos. E só não conseguiu fugir porque Marin apareceu bem na hora e o pegou no colo, fazendo cócegas em sua barriga.

-Posso saber o que estava fazendo correndo por aí, sem roupa?

-Eu estava tentando dar um banho nele, ora!

Marin deu risadas, cumprimentando Aioros e entrou pelo banheiro com o menino, comentando que toda vez que Aioria se propunha a dar um banho no garoto, Alekssandro conseguia fugir. Parecia até que, nessas horas, ele adquiria a velocidade da luz!

-Esse menino só não é pior que o Ernest(1)...

-Hunf, duvido que alguém nesse mundo possa ser pior que o discípulo do Miro. Mas deixando essas coisas de lado, o que está fazendo aqui?

-Essa é boa, eu preciso de motivos para visitar a casa do meu irmão?

-Desde que Saga viajou, sim.

Aioros bufou, o irmão riu, Puxando o sagitariano pelo braço, Aioria o levou para a sala, onde poderiam conversar melhor.

-x-x-x-x-x-

Em um apartamento no centro de Atenas, um menino brincava com seus carrinhos, enquanto uma garota assistia TV.

-Tia Tâmara?

-O que foi, Duda?

-Eu quero chocolate.

-Nada disso, você sabe muito bem que sua mãe te proibiu de comer chocolate depois daquela intoxicação na Páscoa.

-Ah, mas a mamãe não está aqui para ver... Só um pedacinho, tia, vai...

O olhar de pidão era tão comovente que Tâmara não resistiu e foi até a cozinha. Bem nessa hora, o telefone tocou e o menino atendeu todo serelepe.

-Alô? Oi, tio Kojack! Tá tudo bem sim, pode falar para a mamãe... Não, eu não tô comendo chocolate, pode deixar... Ah, o que foi?... Ela vai demorar para voltar hoje? Tão bom, tio... Tchau...

Duda desligou o telefone e voltou-se para os carrinhos, com um jeito meio desenxabido. Tâmara, que voltava da cozinha e tinha ouvido a conversa, foi até ele e lhe entregou o chocolate.

-A mamãe vai demorar para voltar hoje?

-Vai... O tio Kojack disse que ela vai ter que sair depois do trabalho.

-x-x-x-x-x-

A boate estava cheia, mas Linet não servia nenhuma mesa. Naquela noite, era preciso exclusividade total a um dos clientes mais fiéis do lugar. E ele não queria saber de dividir a dançarina com outros homens, nem olhares.

Willhem estava de cara amarrada, cercado por dois de seus seguranças. O tempo todo não dirigiu uma única palavra a Linet, estava doido por conta da dança algumas noites atrás.

Resignada, a jovem engoliu em seco as reações do rapaz. Sabia que era perigoso contrariá-lo, então preferiu ficar quieta. Mais valia seu silêncio do que uma discussão sem sentido que poderia ser pior para ela.

-x-x-x-x-x-

Terceiro capítulo, a fic vai caminhando... Desculpem a demora em atualizar, é que estou cheia de coisas para fazer e só estou escrevendo quando realmente tenho algum tempo livre para me dedicar aos meus filhotes (os fics)... Mas não se preocupem, eu não vou deixar ninguém órfão!

(1) Ernest, discípulo de Miro de Escorpião? Se querem saber quem é o menino, leiam a fic "EDELWEISS" e descubram a resposta!