Capítulo Nove: Consciências

Draco Malfoy agarrou-a com força no ombro com uma mão ensanguentada. Tinha a cara cheia de feridas. Estava sem camisa, revelando o seu torso também coberto de cortes e sangue. Os seus olhos estavam arregalados, respirava com muita dificuldade e parecia estar a fazer um esforço sobre humano para se manter em pé. Antes que Ginny pudesse falar, o homem louro ficou inconsciente e caiu no chão, completamente indefeso e ferido.

O primeiro impulso de Ginny foi acudir o homem que acabara de cair na sua frente. No entanto, uma voz dentro de si parou-a.

"Virginia Weasley, que pensas que vais fazer? Esse foi o homem que quase te matou de dor, que torturou o Harry e matou Pansy Parkinson! Nem penses ajudá-lo!". Mas outra voz dentro dela, uma voz que ela julgava esquecida, contradisse: "Mas tu és uma curandeira, teu dever sempre foi ajudar aqueles que precisavam e o homem á tua frente precisa desesperadamente. Tu fizeste um voto Virginia, tu juraste ajudar aqueles cuja saude e a vida estava em risco se pudesses!".

"Mas não julgo que estivessem incluindo Devoradores da Morte!" a outra voz argumentou.

"Mas é um ser humano que precisa de ajuda ou morrerá aqui!"

"Que morra então, e quanto ao facto de ser humano não sei não, ele não tem coração, não me parece que possamos considerá-lo humano!"

"De qualquer das maneiras ele precisa de ajuda, acabara morrendo se não fizeres nada!"

"Deves fazer sim algo Ruiva, deves procurar nas calças dele a varinha e fugir daqui! Esta é provavelmente tua única chance!". Esta voz pareceu ser a mais razoável a Ginny. Sem dar oportunidade para a outra vozinha dentro dela contradizer, Ginny debruçou-se sobre Malfoy e procurou a varinha nos bolsos das calças. Não encontrou nada, tentou virá-lo mas era muito pesado. Ginny fez um esforço quase sobre humano mas não conseguiu. Estava fraca e Malfoy era um homem que além de alto era muito bem constituido. A sua estatura musculosa fazia-o muito difícil de movimentar. Ginny sentou-se ao lado dele desiludida. Suspirou e deitou-se ao lado. Única coisa que lhe restava fazer era ajudá-lo. Agora que a surpresa já tinha passado ela não queria de maneira nenhuma ajudar aquele traste mas não tinha outra hípotese. Levantou-se novamente e tentou recordar o que tinha aprendido há já muito tempo. Primeiro identificar o tipo de feridas, segundo tentar reconhecer o feitiço/poção/maldição aplicado, terceiro...e agora qual era o terceiro? Ginny abanou a cabeça, não importava, ainda tinha dois passos, talvez, entretanto se lembrasse.

Olhou para Malfoy, tinha feridas externas profundas, Ginny não sabia se tinha internas, o mais provável era que sim mas quanto a isso ela estava de mãos atadas. Ela reconheceu o feitiço Sectumsempra e parecia que também tinham usado Cruciatus. Agora teria que tentar ajudá-lo sem magia, teria que estancar o sangue por um método muggle. Não ia ser fácil, Ginny aprendera as técnicas muggle mas no seu serviço nunca tinha precisado. Agora não se lembrava bem. Precisava de um bocado de tecido, roupa já mal ela tinha e ele só usava umas calças. Entre tirar a sua roupa e ver um homem despido ela não pensou duas vezes. Rasgou as calças de Malfoy e ficou alivida por perceber que ele usava roupa interior. Conseguiu acesso finalmente à parte de trás das calças dele mas não havia varinha. Rasgou as calças pretas ás tiras e foi estancando as feridas maiores.

Quando finalmente as feridas mais graves estavam tapadas, Ginny tratou de tentar perceber se haviam feridas internas. Tocou-lhe no abdomen nu. Ia fazer pressão quando uma mão forte agarrou-a.

-O que pensas que estás fazendo?-Draco tinha acordado e apesar de ainda estar fraco a sua voz estava tão forte como sempre e ele não parecia querer largar o pulso de Ginny.

-Estou á procura de lesões internas!

-Porquê?

-Porque apareceste á minha frente coberto de sangue e com cara de quem já está a meio caminho da cova!- ela disse como se ele tivesse feito a pergunta mais estúpida do mundo.

-Eu quero saber porque me ajudas Weasley!

-Porque tu és a única pessoa que me pode tirar daqui.-ela disse com seriedade, fixando os olhos dele. Ele conseguiu ver todo o ódio que ela sentia e a repugnância por ter que ajudar um homem que lhe tinha feito tanto mal.

-Boa resposta Weasley! Julguei que estavas com pena de mim! Mas de qualquer maneira não preciso da tua ajuda. Eu estou bem, agora tira essas mãos nojentas de cima de mim!- ele disse com arrogância. Ela fez como ele disse. Conhecia muito bem aquele tipo de pessoas. Podiam estar quase morrendo, mas o orgulho não os deixava pedir ajuda. Tinha cuidado muitos soldados assim.

Draco sentou-se e ficou lá alguns minutos. Depois forçou-se a levantar. Ginny contou até três á espera de ver Draco cair no chão. Surpreendeu-se por ele se manter em pé e bem firme. Talvez Draco fosse mais forte do que ela pensava. "Ou talvez não seja humano!" uma voz que ela já conhecia disse dentro da sua cabeça. Mas a voz calou-se de repente quando Draco tentou caminhar e uma outra vez caiu. Desta vez Ginny ainda conseguiu amortecer a queda com os braços. Conseguiu pô-lo de uma maneira que pudesse cuidar das feridas que ele tinha nas costas. Por cada ferida que ela cuidava, perguntava-se porque raio estava ela ajudando o homem que a tinha torturado, tinha torturado o homem que amava e morto uma rapariga que apesar de tudo o que tinha feito em Hogwarts, era agora inocente, e todas as vezes respodia: ele é a única pessoa que te pode tirar daqui!