Capítulo Desassete: Revelações
As pegadas acabavam ali, por isso se não encontrasse nada teria sido tudo em vão. Antes de entrar, Harry respirou fundo. O seu coração batia mais depressa do que nunca. Olhou para os dois lados e entrou no quarto.
Uma das cadeiras estava caida e ao lado dela estava uma pena velha. Harry aproximou-se da mesa e sentiu o seu pé pisar algo que estava no chão. Olhou para o que era e viu um Diário. Retirou o pé rapidamente de cima. Já tinha tido uma má experiência com diários e Malfoys. Olhou para o caderno no chão tentando se decidir se o apanhava ou não. A curiosidade foi superior á prudência e ele apanhou-o da maneira como estava. Estava aberto numa página de há vinte anos atrás.
Não sei o que faça. Disseram-me que ele não sobrevive mas eu ainda tenho esperança. Deve haver algo que eu possa fazer. Não posso perder a única coisa de valor que tenho na vida. Se ele morre, a melhor parte de mim também. Se Draco morre fico sem razão para viver. Nunca pensei que uma criança me pudesse dar tanta força como ele me dá. Mas se...
Simplesmente não sei que faço!
Era de Narcissa Malfoy. Harry virou a página e continuou a ler.
Draco está cada vez mais doente. Está tão magro e pálido. Estou com medo. Lucius mal pára em casa. Parece estar preocupado mas nunca mais foi ver Draco. Severus tem me ajudado muito mas nem as melhores poções têm conseguido fazer Draco melhorar. Estou ficando desesperada e só vejo uma maneira de o salvar no entanto não sei o que é pior se a doença se a cura. É arriscado mas preciso domeu filho. Snape não concorda com o que penso fazer mas não vejo outra solução. Talvez vá dar a Draco uma vida que ele não merece mas que fazer quando nem vida ele terá se não o fizer.
Harry ficou olhando para o diário. Perguntou-se que será que Narcissa teria feito com Draco e lembrou-se das palavras de Snape: "não foi só ele que contribuiu para o que ele é agora".
Harry continuou lendo na página seguinte.
Já o fiz. Snape estava comigo, não concorda com o que fiz mas, ao contrário de Lucius, Snape apoiou-me. Foi ele que preparou a poção e foi ele que me ajudou a usar o Horcruxe. É verdade ofereci o corpo do meu filho como casa para outra alma. Sei que algures dentro dele ainda exisitrá o verdadeiro Draco e foi isso que me convenceu. Há muitas décadas que aminha família guarda um colar que mais ninguém sabe que existe. Este colar pertenceu a Salazar Slytherin, é o primeiro Horcruxe que apareceu nu mundo. Não é um Horcruxe muito forte, era apenas uma experiência mas tem a força suficiente para manter o meu filho vivo. Sei que condenei Draco a uma vida de crueldade e escuridão, Draco nunca será o que quis que ele fosse, Draco será cruel como a alma que lhe impus mas pelo menos posso vê-lo correr novamente pela casa, sorrindo. Lucius não saberá o que fiz, desconfiará que fiz alguma coisa mas não perguntará, ele não se interessa pela familia e já não me importo, encontrei uma razão para viver e mais nada importa. Não tenho a certeza de como ficará Draco agora nem do poder que terá ou se conseguirá sobreviver por muito tempo mas não podia fazer mais nada. Snape prometeu-me que não diria a ninguém e eu conto com ele para me ajudar a controlar Draco. Só espero ter feito a coisa certa. Draco nunca saberá o que fiz. Como admitir ao próprio filho que ele não é quem deveria ser?
Espero nunca me arrepender desta noite.
Harry ficou olhando para aquela página. Não conseguia acreditar no que acabava de ler. Dentro de Draco Malfoy estava parte da alma do pior feiticeiro que alguma vez existiu na Terra. As plavras de snape vieram novamente á sua memória: "a escuridão e a cueldade já estavam dentro dele." Draco Malfoy tinha parte de Slytherin dentro dele e não sabia. A vida dele, os acontecimentos, as pessoas só tinham ajudado a que aquela parte dele viesse ao de cima.
Mas não parou ali e continuou lendo. Encontrara o que queria e agora podia descobrir mais sobre a vida de Draco e como descobri-lo. As páginas seguintes não tinham nada de relevante apenas descrições da recuperação de Draco. Mas mais no meio do diário, quando Draco tinha sete anos, Harry encontrou uma nova passagem.
Ainda consigo ouvir os gritos dele. Para onde terá Lucius o levado? É tudo culpa minha. Draco está pagando pelo que eu fiz.
Draco está algures sendo torturado pelo pai por um erro que não foi ele que cometeu e eu nada posso fazer. Vi o pavor nos olhos do meu filho e vi a raiva nos olhos de Lucius. Doi-me tanto ver Draco sofrer, queria estar eu no lugar dele mas não posso. Daria tudo para que meu filho não sofresse, mas não me arrependo do que fiz. Prefiro poder ver o sorriso dele algumas vezes do que nem sequer o ver.
O poder de Draco está se revelando. Matou uma mulher, a amante de Lucius. Já sabia que ele tinha uma amante, sempre a teve, não casamos por amor mas por conveniência. Draco estava brincando na floresta, costuma ir para lá brincar, não gosto que ele vá mas vem sempre alegre de lá por isso deixo-o. Mas esta noite foi diferente. Draco estava apavorado e coberto de sangue. Quando o vi percebi que algo acontecera, que ele não tinha conseguido controlar o poder que tinha. Julguei que tinha morto um animal ou uma criatura mágica mas quando vi Lucius materializar-se no quarto e Draco me agarrar com força percebi que tinha sido mais grave. Lucius acusou Draco de matar uma mulher. Quando olhei para os olhos do meu marido vi quem Draco havia morto: Magdalena. Naquele momento sim, fiquei petrificada de medo, não sabia o que Lucius faria, ainda tentei impedi-lo mas ele afastou-me e levou Draco para longe.
Onde estará o meu filho? Que será dele? Eu quero meu bebé junto de mim. Não sei que faço se lhe acontece alguma coisa.
Harry estava cada vez mais surpreendido. A vida de Draco não tinha sido a que ele imaginara. Sempre pensou que Draco tivesse uma vida fácil e mimada mas agora via que não.
Lucius voltou sem o Draco. Tentei falar com ele mas a única coisa que consegui foi uma tortura. Mas se for preciso aguentou outra e mais quantas forem necessárias até descobrir onde está o meu filho. Mais nada me importa, só Draco. Já contactei Severus e espero que ele me possa ajudar.
Severus falou com Lucius mas só descobriu que Draco está fechado algures numa masmorra na costa escocesa. Está sozinho mas pelo menos está vivo.
Draco está de volta. Está fraco, desnutrido e com febre. Mas agora está comigo e não parece ter nada grave.
-Harry!- A voz de Ron veio da porta. Harry assustou-se e fechou o diário.- Que é isso?
-Não é nada! Só um livro de...- Harry olhou em volta-... de chá!
-Não encontrei nada e tu?
-Também não! Que tal se fossemos ver as masmorras melhor?
-Vamos!
Harry deixou o diário sobre a mesa e saiu acompanhado por Ron. Não sabia o que o tinha feito esconder aquilo do seu amigo, mas sentia que sabia um segredo que devia guardar e relembrou o que Snape lhe tinha dito: "há segredos sobre Draco que só eu sei!". Desceram até as masmorras escuras. Na cabeça de Harry ainda ecoavam as palavras de Narcissa: Como admitir ao próprio filho que ele não é quem deveria ser?
Longe dali, Draco olhava para uma casa um pouco antiga e sombria. Já estivera ali muitas vezes quando era mais pequeno, mas fazia muitos anos que não lá punha os pés. Respirou fundo antes de bater na porta. Não fazia a mínima ideia o que lhe tinha dado na cabeça para ir ter com Snape.
