Capítulo Vinte: O início do fim

Draco tentou exercer força sobre o pescoço pálido de Ginny mas era como se a força dele o tivesse abandonado. Quando Ginny abriu os olhos surpreendida, Draco fez a única coisa que a sua mente lhe disse para fazer.

Ginny abriu os olhos e viu os mesmos olhos que acabava de ver na sua mente. Não sabia se estava surpreendida por estar ainda viva ou por ter percebido que vira os olhos de Draco na sua memória tão claramente como os via agora. Uma sombra que ela já conhecia mas não sabia o que significava assombrava-lhe novamente o olhar. Ginny preparou-se para uma tortura mas não para o que ele fez.

Ginny ficou imóvel. Ela não sabia o que fizesse. Não estava nada á espera daquela reacção de Draco. Podia esperar tudo menos aquilo. Ela fechou os olhos e sentiu-o agarrar com mais força. Nunca ninguém a tinha abraçado com tanta força. Mas não uma força bruta, era uma força desesperada, como se ele se estivesse afogando e ela fosse a única coisa que o mantinha á superfície. Ginny rodeou-o com os seus próprios braços.

Draco abraçou Ginny. Não sabia porquê, mas precisava daquilo. Desde os seis anos que ninguém o abraçava. Lembrava-se tão bem do ultimo abraço de Narcissa. Na verdade, naquele momento, conseguia se lembrar de todas as vezes que Narcissa o abraçara, de como ele se sentia tão bem no colo dela. Ginny não era Narcissa e aquele abraço tinha um sabor diferente mas confortante na mesma. Quando sentiu os braços de Ginny em torno do seu tronco sentiu todas as suas forças o abandonarem, todas as muralhas caíram por terra e mais nada importava. Nem o passado, nem o futuro, nem Voldemort, nem o Ministério, nem o Potter. Ficaram assim durante vários minutos.. Draco tinha a cabeça apoiada no ombro dela, ela tinha o queixo pousado no dele, estavam ambos de olhos fechados. Ele simplesmente tentando afastar da cabeça toda a escuridão e dor. Ela tentando entender aquele abraço, tentando perceber porque Draco o fizera e tentando perceber porque lhe era tão agradável ter aquele homem a abraçá-la.

Draco começou a afastar-se e olhou-a nos olhos e ela viu que o brilho tinha desaparecido completamente, só aquela sombra cada vez mais escura estava ali. Estavam ainda muito próximos. Uma proximidade tão distante. Ele jamais conseguiria entrar no mundo dela e ela jamais entraria no mundo deles mas naquele momento o unico mundo era aquela masmorra com a chuva caindo do lado de fora, as ondas batendo contra as rochas e duas pessoas que sempre se odiaram e provavelmente ainda se odiavam abraçadas, olhando uma para a outra sem dizer nada. Ginny conseguia sentir o corpo de Draco molhado e frio contra o seu semi-nu e quente. Draco sentia a respiração dela acariciar-lhe o pescoço. Se alguém os visse naquele momento diria que eram um casal, mas naquela cena não havia romantismo. Draco nem sabia o que havia ali. Ele ainda tinha uma mão no pescoço de Ginny com alguns dedos entrelaçados no cabelo dela, a outra estava na cintura da ruiva. Ela pousava as mãos na mão de Draco.

Draco aproximou-se dela. Por breves momentos Ginny pensou que ele a ia beijar mas os lábios do louro dirigiram-se ao ouvido dela.

-Tu destruiste-me!- ele sussurou. E depois afastou-se dela sem a olhar. Foi para o outro lado da masmorra e colocou as mãos na parede e baixou a cabeça. Estava de costas para ela. Ginny cada vez percebia menos.- Diz-me como para eu poder voltar a reconstruir todas as muralhas que tinha!

-Não sei... nem sabia que... eu não percebo!- ela nem sabia o que dissesse. Mas começara a perceber. Aquela sombra era solidão, dor. Aquela sombra tinha feito o coração dele em gelo. O gelo amenizava a dor mas quando o gelo derretia era tão fácil ver a solidão nos olhos daquele homem.

-Eu odeio-te Weasley e no entanto já não te consigo odiar! Minha cabeça está confusa. Tu destruiste tudo o que já dava como certo, tu entraste em mim e não sei como. Uma vez tentei distanciar-me de tudo, fugir... Pensei que ao afastar-me conseguiria libertar-me da dor mas aqui percebi que o problema estava em mim. Por isso toda a minha vida vivi longe dos outros, sempre representei muito bem o meu papel de Malfoy, sempre fui o intocável e maquiavélico Draco Malfoy. Consegui substituir a dor pelo odio. No entanto as feridas estam sempre aqui e as memórias passam-me pela cabeça a todo o momento só que eu conseguia usá-las para me fortalecer, para transformar a fraqueza da dor em força do ódio. Construi uma fortaleza de ferro durante anos e bastou uns meses perto de ti e tudo caiu. O que é que tens Weasley, que encantamento tens que conseguiste entrar em mim e tornares-te numa nódoa no meu coração, uma nódoa que não sai!

-Eu...- ela queria dizer algo, queria pedir desculpa, mas que culpa tinha ela? E afinal que tinha feito ela?

Draco virou-se para ela mas nao a olhou.

-Sempre senti que dentro de mim existiam duas pessoas! Como se duas almas lutassem para ganhar o lugar no meu corpo e no entanto uma não consegue viver sem a outra! Uma dessas partes odeia-te Weasley, a outra sente algo que não sei explicar. Sabes o que é odiares-te mais do que tudo o resto? Sabes o que é viveres em sofrimento e nem saberes ao certo de onde vem essa dor! Imaginas o que é passar a vida só? Sabes o que é viver com a culpa de teres morto uma pessoa com apenas seis anos? Teres uma dor tão grande que parece que ela te sufoca? Tu passaste uns meros dias assim e quase morreste, imagina o que é viveres mais de vinte anos assim! Eu tentei de tantas maneiras fugir do que há dentro de mim, tentei a dor física mas nem posso chamar aquilo dor. Encontrei uma maneira de esquecer minha dor por momentos fazendo os outros sofrerem. Mas já não chegava. A cada dia a escuridão aumentava mais então descobri que o frio serve de calmante. Por isso transformei-me em gelo e tu chegas e derretes tudo, desfazes minhas defesas e volto ao que era: um ser doente e confuso. A escuridão dentro de mim é tanta que já não vejo meus sentimentos com clareza... Como Weasley?

Finalmente Draco olhou-a nos olhos. Ginny estava sem palavras. Lembrava-se muito bem do que tinha sentido mas não conseguia imaginar ter que viver sempre assim. Talvez Draco não fosse a pessoa diabólica que ela sempre julgara que ele era, simplesmente talvez o tivessem obrigado a ser e talvez lá dentro dele ainda estivesse uma parte que pudesse ser salva.

-E achas que quebrar esse gelo dentro de ti é mau?

-Talvez... já não sei nada Weasley! Não sei o que fizeste mas algo em mim está enfraquecendo e nao sei se quero que isso aconteça. Se ficar muito fraca não sei o que acontecerá, sempre foi a parte mais forte em mim. Ás vezes sinto que sem ela não sobrevivo...- Draco olhou para a janela- Já estive aqui muito antes de te trazer, tinha seis anos e tinha acabado de matar alguém sem saber como, nem o quis fazê-lo... era amante do meu pai por isso como castigo ele deixou-me aqui durante vários dias, se calhar meses, nem sei... foi nesse dia que começou minha decadência. Passei a ficae dias e edias só, me construindo, me modelando como queria para que mais ninguém me pudesse atingir, aprendi a controlar aquela parte desconhecida em mim ou então foi ela que passou a me controlar, nem disso tenho a certeza. Não sei quem sou Weasley. Antes sentia que era um morto com obrigação de viver...

O olhar dele estava perdido. Ginny nao sabia se ele se perdera na paisagem tempestuosa ou dentro dele. Falava já como se ela não estivesse ali e ao mesmo tempo como se há muito lhe quisesse dizer aquilo.

-Até que me juntei aos Devoradores da Morte, encontrei uma razão para viver... encontrei uma causa e senti-me vivo pela primeira vez quando matei a minha primeira vítima...

De repente, como se algo nele tivesse acordado ele olhou-a. A sombra desaparecera e dera lugar a um novo brilho, assustador e poderoso.

-Não sei que fizeste Weasley, mas vou descobrir! Não serás tu que me vais fazedr fraquejar novamente e voltar a ser aquele ser medroso e cobarde que uma vez fui!- ele disse antes de se desmaterializar.

Ginny ficou olhando para o local onde ele tinha estado momentos antes. Estava perplexa. Aquela conversa tinha sido tão estranha. Ela sentou-se no chão. Que seria dela? Draco parecia querer matá-la ás vezes e outras vezes mostrava ser tão... afável.

-Será que consegui domar um dragão? Será que o encantei? Que fizeste Ginny?- ela disse, pensando alto.

Draco materializou-se em frente á casa de Snape. O céu estava nublado mas não estava chovendo. Olhou pela janela e viu Snape sentado bebendo chá. Potter já não ali estava. Dirigiu-se á portas e abriu-a. Snape não desviou o olhar da chávena de chá apesar de Draco ter entrado com brusquidão em sua casa e sem sequer pedir permissão. Snape sabia que naquele momento, dentro de Draco, havia uma guerra e que ele estava mais instável do que nunca. Um pequeno passo em falso e Draco era capaz de o matar sem pensar duas vezes e Snape não poderia fazer nada.

-Diz-me o que tenho! JÁ!- Draco gritou.

-Com certeza!- disse Snape calmamente, levantando-se. Desde que Potter tinha saido que ele se preparara para aquele momento. Tinha ganho coragem para dizer a Draco toda a verdade só esperava não se arrepender.

N/a: este capítulo não saiu bem como queria mas tenho andado um pco cansada. Desculpem e por favor não se esqueçam de deixar Review.