Capítulo Vinte e Quatro: Doce Sangue
Draco olhou para o homem á sua frente. Voldemort estava de costas para a sala. Olhava pela janela e nem parecia ter se apercebido que Draco se materializara na sala.
-Por momentos pensei que não viesses!- Voldemort sibilou.
-Desculpe?- Draco não podia admitir que falava serpentês.
-Tu percebeste o que disse Draco, mas se não queres falar a língua de Slytherin tudo bem.- o senhor das trevas disse voltando-se para Draco- eu sei Draco! Sei mais sobre ti do que julgas, sei mais sobre ti só pelo que vi dentro de ti do que tantos que vasculham o teu passado.
Draco ficou calado. Estudou o seu anterior mestre cuidadosamente. Estaria ele dizendo a verdade ou apenas tentando que Draco baixasse a guarda e revelasse o que Voldemort queria saber. Aquele homem, se era que o podia chamar disso, era muito bom nesse tipo de jogos, mas Draco nunca tinha caido. Agora, no entanto, sentia dificuldade em perceber se era um jogo. A Empatia que antes sentia com Voldemort parecia se ter quebrado.
-Vejo que as tuas feridas estão curadas. Pelo menos a rapariga Weasley foi útil para alguma coisa...- Voldemort disse, dando um sorriso escarninho ao notar uma sombra de surpresa no olhar do jovem homem ali, apesar de a expressão dele se manter séria.- Oh sim Draco! Eu sei que não mataste Virginia Weasley á frente do Potter, sempre soube e o que fiz não foi um castigo, foi um teste!
-Porque me chamou até aqui?- Draco disse começando a ficar impaciente. Já não se importava com o que Voldemort sabia, já não estava ás ordens dele nem tinha medo daquele ser repugnante que um dia havia admirado.
-Quero um pouco do teu tempo! Podes concedê-lo ao teu mestre Draco?- Voldemort esperou que Draco dissesse que ele já não era seu mestre mas Draco simplesmente olhou para Voldemort com impaciencia e desprezo.
"Sim meu rapaz, enraivece-te e deixa Slytherin reviver."
-Considero isso um sim! Senta-te!
-Fico muito bem em pé.
-Como queiras!- Voldemort sentou-se no seu grande cadeirão verde e olhou para o homem de cabelos louros. Antes de começar o jogo, tinha no entanto que confirmar se já tinha o prémio em sua posse.
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Ginny estava sentada num canto da masmorra. Estava tão fraca. Malfoy parecia tê-la esquecido ali. Não tinha mandado comida desde há muito tempo, nem água. Ginny tentara se levantar mas estava demasiado fraca. Ela acabara de fechar os olhos quando sentiu movimento dentro da masmorra. Abriu os olhos novamente esperando ver Draco mas deparou-se com uma enorme serpente erguida á sua frente. Era tão grande que chegava na perfeição á janela da masmorra. Ginny olhou para a serpente surpresa segundos antes de desmaiar devido á falta de água e nutrientes.
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Voldemort sorriu e olhou para Draco. O homem louro olhava para Voldemort com uma expressão aborrecida. Voldemort estava preparando algo, Draco conseguia senti-lo, só não sabia o quê.
-Então essa vingança contra o Potter como está?- Draco não respondeu- Ele anda muito interesado em ti, anda vasculhando tudo o que pode sobre ti.
-Eu sei!- Draco disse num tom cortante.
-Então também deves saber que ele descobriu o enigma: "Nunquam permissum glacies appropinquare incendia... Nunquam permissum lacerta pugnare Leo".
Algo dentro de Draco acordou. Como um dragão que estava meio adormecido á algum tempo e agora acordava. Aquela frase trazia-lhe algo á memória mas era algo que ele tinha a certeza que não tinha vivido. Imagens de um mulher de cabelos longos e lisos de um vermelho flamejante lutando contra ele, depois a dor que ele sentiu, um sufoco esquisito, como se por mais que quisesse não conseguisse respirar, uma sensação de fraqueza e depois tudo acabou. Eram só imagens que passaram pela cabeça como um filme muggle antigo e em más condições.
-Nunca deixes o gelo aproximar-se do fogo. Nunca deixes um lagarto enfrentar um leão! Uma frase que Slytherin murmurou ás portas da sua morte.
-Porquê tanto interesse nesta história?
-Curiosidade, nada mais!- Mas Draco conhecia-o melhor que isso. Voldemort não era curioso. Voldemort só queria saber de coisas que lhe eram úteis e nada mais. Draco não tinha a certeza no que aquilo poderia ser útil ao Lord Negro mas tinha a certeza que o Mestre dos Devoradores da Morte planeava usá-lo para alguma coisa.
-E a rapariga Draco? Mataste-a?- Voldemort sabia perfeitamente que não. Para dizer a verdade até sabia que naquele momento a rapariga acabára de entrar naquele mesmo castelo onde ele e Draco se encontravam.
-Não!- Draco disse, desviando o olhar de Voldemort. Draco sentia que Voldemort estava tentando entrar na sua mente mas ele não o ia consentir. Podia estar mais fraco mas ainda tinha força suficiente para manter quem ele quisesse longe de aceder aos seus pensamentos.
-Tens pena dela?
-Não! Só não a mato porque preciso dela para a minha vingança contra o Potter!
-Tu não a matas porque apegaste-te a ela!
-Estás enganado!
-Estou? Veremos. Nagini!- Voldemort sibilou a ultima palavra. Uma serpente enorme entrou na sala, trazendo alguém enrolado no seu grande corpo. Draco nem reparou quem era, não importava. Aquela conversa estava o deixando sem paciência. Voldemort sorriu para Draco, e foi aí que Draco viu uma mancha de cabelos ruivos e longos contrastando com o verde do réptil. Nagini libertou Ginny e esta caiu imóvel no chão. Estaria morta?
-Não está morta Draco, está só adormecida. Ennervate!
Ginny abriu os olhos e ficou petrificada de medo. Nem se mexeu quando a serpente passou ao lado dela ameaçadoramente.
-Se acreditas mesmo no que dizer, então não te importarás de torturá-la á minha frente Draco!
Draco olhou para Voldemort. Que jogo era aquele que aquela criatura diabólica estava jogando?
-Sabes que para lançar uma Maldição Imperdoável, precisas querer infligir dor na pessoa para quem a lanças! Será que és capaz de o fazer Draco?
O rapaz olhou para Ginny. Ele não tinha sido capaz de matá-la, será que seria capaz de a torturar? Já o fizera antes e não lhe tinha custado, até gostava de ver as pessoas sofrerem, mas algo tinha mudado. Só que ele não podia falhar, não podia revelar a Voldemort a sua fraqueza, mesmo que o Senhor das Trevas já desconfiasse. Draco respirou fundo e ergueu a mão.
-Crucio!
Os gritos de Ginny encheram a sala. Durante vários minutos ela foi torturada e observada por Draco. Ele respirara de alivio quando a vira gritar de dor. No entanto sentia uma picadinha estranha no peito, algo que ele nunca tinha sentido antes. Seria aquilo culpa ou remorso? NÂO, os Malfoys não sentiam culpa nem remorso.
Voldemort por sua vez observava atentamente Draco. Via nos olhos cinzentos uma ponta de remorso quase invisível, no entanto estava lá e ele acabara de declarar a senteça de Draco.
-Chega!- Voldemort disse dentro da mente de Draco, onde havia entrado segundos antes.
Draco deixou a mão cair. Os gritos pararam e Ginny cuspiu sangue pela boca. Tinha o rosto coberto de lágrimas e sangue. Respirava com dificuldade e os seus olhos estavam negros de fraqueza. Continuou deitada no chão, tentado recuperar o folego.
-Eu já volto!- disse Voldemort sorrindo maquiavélicamente. Este deslocou-se até a porta e Nagini seguiu, deixando Draco e Ginny a sós.
-Eu perdoo-te!- ela disse num suspiro.
-Não pedi que me perdoasses! Não sinto culpa pelo que fiz!- ele disse amaldiçoando-se a si mesmo por nem ele acreditar no que dizia. Odiava-a por conseguir entrar dentro dele e vê-lo tão claramente. Odiava-a por fazê-lo fraco e odiava-a porque já nem a conseguia odiar.
-Mas sei que não o querias fazer.
-Estás enganada Weasley. Era-me indiferente. És só mais uma as minhas muitas vitimas.- ele disse virando-se para a janela. Viu o reflexo de Ginny na janela. A rapariga tentava se levantar com muita dificuldade.
-Então porque não me mataste na masmorra?
Draco não respondeu. Desviou o olhar do reflexo da ruiva e fixou o olhar no céu escuro.
-Porque não me matas agora?- Draco ficou calado. Ginny murmurou alto o suficiente para ele ouvir- Porque não consegues!
-Eu mato-te quando quiser!
-Então fá-lo agora! Eu já estou mesmo mais morta do que viva! Mata-me Draco! Acaba com a minha agonia, faz com que esta dor termine de uma vez.- Ginny murmurou com dificuldade.
Draco voltou-se para ela, com uma expressão de raiva e andou até ela. Agarrou-a pelos braços e levantou-a. Tinha a cara a poucos centimetros da dela e olhava-a com ódio. Ginny fechou os olhos. Estava tão cansada. Ela já nem se importava se Draco a matasse. A verdade é que ela queria mesmo morrer. Estava cansada de viver. Ela queria era que ele terminasse um processo que já tinha começado. Ela já tinha começado a morrer há muito tempo, só faltava mesmo os pulmões dela deixarem de respirar e o coração de bater para que ela estivesse mesmo morta porque dentro dela já nada existia.
Draco olhou para Ginny. Estava com ódio sim, mas ódio por se sentir vulnerável e fraco. Draco odiava pessoas assim e agora era assim. E ela, que sempre fora frágil e vulnerável ele não conseguia odiar. Ela fechou os olhos.
-Mata-me por favor! Deixa que este seja o meu último suspiro!- ela sussurou. Era um pedido, não um desafio como antes. Ela já não queria viver mesmo e tinha sido ele que a tinha transformado numa alma negra como a dele. Pela primeira vez olhou para ela, não como um objecto de guerra que o acabara magoando mas sim como uma pessoa como ele, alguém que agora era mesmo quase como ele, só que ela não tinha a alma de mais ninguém para a fortalecer quando a outra estava fraca. Ele sentiu-se tentado a conceder-lhe o que ela pedia mas algo dentro dele falou mais forte e o que ele fez, nenhum dos dois esperava.
Ginny sentiu uns lábios quentes sobre os dela. Não era exactamente um beijo, era um roçar suave de lábios que a aqueceu por dentro. Ele afastou-se por momentos e olhou para a pálida e magra face da rapariga.
"Que estou eu fazendo? Estou me rendendo a um desejo idiota. Afasta-te dela antes que ela te mate!" uma voz disse dentro da cabeça dele mas ele não a escutou e desta vez cobriu os lábio dela com força, sentindo ao mesmo tempo o gosto a sangue e uma doçura que ele nunca experimentara.. Já nem Slytherin dentro dele tinha força para o demover, até parecia que o próprio Slytherin se rendera aos doces lábios da rapariga.
N/A: Acho que este momento era esperado há muito tempo.lol. Espero que tenham gostado. Quinta feira entro finalmente de férias por isso a actualização será mais rápida. Beijos e obrigado pelas reviews w não se esqueçam de deixar mais ;)
