Feliz aniversário Lili. :)

Brigadão pela Betagem, Paula Lirio :)

O Túmulo Branco

O verão sempre deixa Hogwarts mais bonita. O castelo de mais de mil anos ainda me transmite a sensação de familiaridade e segurança que senti pela primeira vez aos onze anos.

Mesmo o passar das décadas, com todas as perdas e ganhos de uma vida, não impede que eu ainda me sinta em casa nessa escola.

Caminho lentamente até a tumba branca que há quase oitenta anos eu vi surgir nesse gramado.

Logo depois de derrotar Voldemort eu vim pela primeira vez. Por algum tempo eu voltei todos os anos, depois deixei de ser tão constante, vindo apenas de vez em quando. A vida me envolveu totalmente.

Com o tempo, à medida que meus filhos iam se tornando pais e que eu já não corria tanto, eu voltei a visitá-la com mais freqüência. Faz alguns anos que eu tenho vindo aqui no verão. Não no aniversário da morte dele, ou qualquer outra data que os outros digam importante. Eu venho no primeiro dia depois que os alunos se vão de férias, quando somente alguns professores permanecem em Hogwarts.

O neto de Neville é o atual diretor da escola. Ele fica de longe apenas me olhando. Para ele eu sou só um velho bruxo que um dia foi herói. Mas há muitos heróis em sua família, e ele me trata com o respeito que se deve a um bruxo que viu e viveu muitas coisas, nem mais, nem menos. É um alivio não ser mais o centro das atenções.

Toco a pedra fria e rememoro os olhos intensos, o nariz torto e o brilho prateado da barba dele. O Velho que ainda vive em nossas mentes.

Fragmentos de recordações vêm e vão. Agora que estou ficando velho é tão fácil me perder em reminiscências. Minha memória brinca comigo, apresentando os fatos fora de ordem, me trazendo uma compreensão diferente de coisas antigas à luz de coisas mais recentes.

Lembro-me de sua mão elegante enegrecida pelo efeito colateral da destruição da horcrux. Olho para minha própria mão. Tão velha quanto a dele foi um dia, não tão elegante, no entanto.

Lembro-me das mãos de Severus, elegantes e entrelaçadas às de Remus, sustentando-o na hora da morte, ajudando o companheiro a morrer em paz, longe de guerras, envolvido pelo amor que compartilharam por anos, depois de se perdoarem e de se encontrarem. Mãos tão velhas como as minhas são hoje.

Lembro as mãos delicadas de Ginny afastando meus pesadelos depois da guerra. As mãos grandes de Ron acariciando os cabelos revoltos de Mione, a principio castanhos, e hoje tão brancos quanto os meus.

Sempre que venho aqui eu relembro meus mortos. Deixo suas vozes e histórias passarem por minha alma. Tantos se foram. Hoje suas memórias são consolo. Mesmo as de quem nunca foi um amigo.

Gosto de pensar que o Velho, em algum lugar do universo, gostou de ver as escolhas que Draco fez a partir daquela noite, e comemorou quando Stan Shunpike foi solto. Olho o túmulo e me pergunto o quanto disso o ele previu, e o quanto apenas desejou.

Penso nas inúmeras gerações de bruxos que cresceram vendo esse marco nos jardins da escola, e na sorte que eu tive de ter o Velho na minha vida.

Sei que o neto de Neville me espera para um chá e algumas horas de discussão sobre os problemas da escola, afinal membros do Conselho não podem ser totalmente inúteis, mas não me apresso.

Relembro as lições de perdão que ele tão generosamente nos deu. Os muitos aos quais ele deu nova chance: Severus, Remus, Draco, Sirius, meu pai, eu...

Sorrio ao lembrar as palavras que disse em meu primeiro ano aqui, e no meu coração ouço a canção da fênix mais uma vez.

Roço a mão mais uma vez na pedra branca e me afasto:

- Até breve, Professor.