SEM BARREIRAS III - NOS BRAÇOS DO AMOR

CAPÍTULO 9

Touya dirigia concentrado em direção ao orfanato que Ryu vivia, tinha prometido à irmã ficar de olho no garoto, mas não estava ali por obrigação, havia se afeiçoado mesmo ao seu quase sobrinho, pensou sorrindo.

Ainda estava furioso por Syaoran ter tirado Sakura de Atenas e não ter avisado para onde a levara, conseguira somente que ele lhe prometesse manter contato diário.

Os acontecimentos em Atenas já tinham sido há dois dias, e o projeto de guerreiro manteve sua palavra ligando para dizer que tudo estava correndo bem. Ele não queria dar o braço a torcer, mas o infeliz estava certo em manter segredo quanto à localização deles, depois de todas as precauções que tomara na viagem da irmã à Grécia, a informação acabara vazando, o que lhe deixava ainda mais preocupado por saber que o perigo estava dentro da própria CSN.

Parou a moto em frente ao orfanato, tirou o capacete e passou a mão nos cabelos fazendo-os ficarem revoltos, já ia adentrando o portão quando viu um carro conversível antigo, vermelho, parando próximo ao meio fio, antes mesmo de ver a motorista, sabia que era ela.

- Touya! – ela falou. – Você não me avisou que vinha até aqui.

- Eu decidi de última hora. Você me seguiu? – ele perguntou nada feliz.

- Segui. Esqueceu que sou sua retaguarda? – ela retrucou sem se deixar abalar pelo aparente mau humor. – Foi bom você ter vindo ver o Ryu, Sakura pediu para que se eu tivesse um tempinho dar um alô para ele não sentir que foi abandonado. Você sabe como ela é, tem um jeito todo especial de convencer a gente, mas eu gostei do garoto, ele tem algo que nos faz aproximar. – Katrine falava sem tomar fôlego, o que acontecia sempre quando estava próxima àquele homem, ainda mais quando ela dava de cara com ele ao melhor estilo bad boy, todo de preto, jaqueta de couro, cabelos bagunçados. Esse homem era a sua perdição.

Touya sorriu já esquecido do mau humor, e do pequeno entrevero que tiveram dias atrás, gostou de ouvir o que ela dizia.

- Também vim ver o garoto. Vamos entrar juntos? – Droga! De fato não era aquilo exatamente que ele queria dizer, mas realmente ele nunca dizia o que deveria quando estava próximo àquela mulher.

Os dois estavam no caminho cascalhado em direção à porta quando ouviram um grito.

- Não! Me soltem.

Katrine e Touya saíram em disparada ao ouvirem a voz de Ryu, quando chegaram à frente do estabelecimento viram o garoto sendo jogado dentro de um carro que saía em disparada. Touya saiu correndo atrás, arma na mão disparando tentando acertar no pneu, mas o carro já ia longe.

- Veja se alguém precisa de ajuda. – gritou para Katrine enquanto seguia correndo em direção à moto, sem ao menos colocar o capacete, deu partida e seguiu o carro que ziguezagueava pelo trânsito de Tóquio.

Sakura iria pirar se soubesse que ele tinha deixado o garoto ser seqüestrado, ele mesmo não se perdoaria se algo acontecesse ao menino.

Touya cortava o trânsito intenso de final de tarde sem perder o carro escuro de vista, não conseguia ver os ocupantes, já que os vidros eram escuros, mas cada vez chegava mais perto.

O carro passou num cruzamento no sinal fechado com Touya na cola, mas um outro carro em sentido contrário veio com tudo em cima dele buzinando, acelerou mais ainda, a moto empinando, desviando-se por um triz, e conseguiu colar-se ao veículo em fuga, este deu uma guinada para a esquerda quase tocando na moto, Touya conseguiu recuar em tempo dando uma desacelerada, não poderia deixar que o motorista tocasse o carro nele, seria uma queda e tanto, dada a velocidade em que estava, mas eles não escapariam, isso não.

Os bandidos embrenharam-se por ruas estreitas virando ora para esquerda ora para direita, tentando despistar o motociclista, mas Touya não os perdia de vista. Numa das viradas deram de frente com um caminhão dando ré, o motorista do veículo acelerou e passou pela estreita abertura, mas Touya não teve a mesma sorte, frear era impossível, não daria tempo, mas agindo rapidamente, ele desacelerou e jogando a moto para a esquerda deitou-a, deslizando por baixo do caminhão, a perna da calça do lado esquerdo ficou em frangalhos, a dor no joelho em contato com o chão foi ignorada, pensaria nisso depois, assim que passou pelo caminhão voltou a moto na posição correta e continuou a perseguição, agora era uma questão de honra, estraçalharia os idiotas que se atreveram a mexer com gente da sua família, Ryu ainda não era exatamente da família, mas era uma questão de tempo.

Aproximou-se de novo do carro, e controlando a moto apenas com umas das mãos pegou a arma com a outra, fez mira, ou melhor, apontou e atirou, duvidava que alguém conseguiria fazer mira com a mão esquerda sendo destro, em cima de uma moto em movimento tentando acertar um alvo também em movimento, em todo caso, ele descarregou o pente, algum teria que acertar. Na mosca, ou melhor no pneu. O carro desgovernou por uns metros até parar em baixo de um pontilhão. Touya brecou, a moto derrapando e caindo para um lado e ele rolando para o outro atrás de um dos pilares que sustentavam a ponte, foi em cima da hora, porque os tiros começaram a vir um seguido do outro, ele re-carregou a arma, ia atirar, mas pensou melhor, vai que colocaram Ryu como escudo! Não deu outra, numa rápida olhada ele viu o garoto à frente de um dos bandidos.

- Largue a arma, se o garotinho aqui for importante para você.

Droga! A primeira lição que eles aprendiam na agência era nunca, nunca se separar de sua arma. Mas será que os burocratas engravatados já tinham estado numa situação dessas? Ele já ia sair do esconderijo quando sentiu que alguém se aproximava, deu um meio sorriso e jogou a arma em direção aos bandidos.

- Estou saindo. – falou surgindo de trás do pilar e dando um passo à frente, com as mãos para cima. – Você está bem Ryu? – perguntou ao garoto recebendo um aceno afirmativo, mas Touya viu a face vermelha e um filete de sangue descendo pela testa.

Touya teve vontade de matar os vilões com as mãos nuas, mas esperaria, a ajuda estava perto. Olhou para Ryu, tentando passar através dos olhos o que ele deveria fazer, mas não sabia se ele tinha entendido. Touya percebeu pelo seu lado direito a aproximação dela, confiaria sua vida e a de Ryu nas mãos dessa agente inexperiente. Mas tinha certeza que ela se sairia bem, sem querer, começara a confiar nela, mas deixaria para pensar nisso depois.

Um dos bandidos apontou a arma para Touya na clara intenção de puxar o gatilho, nisso várias coisas aconteceram ao mesmo tempo, dois tiros foram disparados, Touya se abaixou quase ao mesmo tempo em que ouviu os sons, o homem que apontava a arma para ele caiu, não sem antes ter disparado um dos tiros, Ryu deu um pisão no pé do cara que o segurava, que surpreso ao ver o comparsa ser alvejado, afrouxou o braço, o garoto não perdeu tempo, saiu correndo, enquanto Touya pulava na direção do bandido derrubando-o com um soco certeiro.

Katrine saiu correndo de trás de um dos pilares, em direção a Ryu, ele estava sentado no asfalto de olhos arregalados na direção de Touya.

- Ryu, você está bem? Ryu? – ela o chacoalhou para que ele a olhasse.

- Sim. Obrigado... Touya... – ele sussurrou olhando ainda na direção do agente.

Katrine virou-se e viu o chefe estendido no chão, sangue a sua volta.

- Oh meu Deus. Touya! – gritou Katrine correndo para ele.

- Eu estou bem. – ele resmungou ainda deitado. – E o Ryu?

- Está bem, só um pouco assustado.

Touya ergueu-se, e Katrine tentou ajudá-lo.

- Eu consigo. – ele disse afastando-a de si, mas mal terminou de falar quase foi ao chão, Katrine passou o ombro por baixo do braço dele.

- É, estou vendo que você consegue mesmo. – e levou-o em direção ao garoto que continuava sentado no chão.

Touya desabou ao lado dele, que olhou as roupas rasgadas e a perna que não parava de sangrar. Ryu, parecendo somente assim acordar de um transe, piscou os olhos castanhos várias vezes, e em seguida tirou a camiseta que vestia e colocou no ferimento do homem que salvara sua vida.

- Obrigado! – falou o menino.

- Ei, agradece a Katrine, se não fosse por ela eu não teria conseguido. – Touya disse desmanchando os cabelos escuros do garoto.

- Não tem que me agradecer, se eu tivesse atirado antes dele disparar, você não teria sido ferido.

- Puro azar, você entrou no tempo certo.

- Que nada, eu deveria ter atirado antes, avaliei muito devagar minhas opções.

- Se você tivesse atirado antes eu não teria passado a informação ao Ryu que você estava por perto.

- Aliás, como você sabia que eu estava perto?

- Eu senti. – foi a resposta simples.

- Sentiu?

- Coisa estranha, mas eu sabia que você estava chegando. Acho que definitivamente, eu preciso bater um papinho com o Eriol. – ele falou para si mesmo.

- Eriol? O que ele tem haver com isso? – ao mesmo tempo em que perguntou, Katrine colocou a mão na testa de Touya, achando que ele estava entrando em choque.

- Sabe, vocês dois estão agindo como a Sakura e o Syaoran. – falou Ryu de repente.

- Como é? – perguntaram ao mesmo tempo Katrine e Touya.

- É, sabe, como um casal.

Katrine e Touya entreolharam-se sem esconder o constrangimento, e ela ficou levemente ruborizada enquanto ele mantinha a expressão séria.

A polícia chegou dali a alguns instantes e os agentes da CSN já estavam colocando um dos seqüestradores no carro, o que estava vivo, porque o que Katrine acertara, iria direto para o necrotério.

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Syaoran entrou na suíte com o cenho franzido, como ele esconderia de Sakura o que acontecera? E quando ela descobrisse? Iria fritar seu fígado e dar para os tubarões, nem daria tempo de dizer que a idéia de esconder os acontecimentos recentes em Tóquio tinha sido do Touya.

Droga! Esse cara adorava colocá-lo em fria, mas no fundo ele sabia que Touya estava com a razão, porque assim que Sakura soubesse que tentaram seqüestrar Ryu ela iria querer voltar para casa. Engraçado, nem passara pela cabeça de Syaoran que ele e Sakura fizeram a mesma coisa com relação a esconder de Touya, os fatos acontecidos em Atenas.

Sakura havia sonhado na noite anterior que Ryu estava em perigo, e que o irmão sentia dor, enquanto ele não entrasse em contato com Touya ela não descansaria, ele fizera isso apenas para descobrir que ela estava com a razão, além de Ryu ter corrido perigo, Touya fora ferido.

- E então? – Sakura apareceu na sua frente tão de repente que ele deu um pulo de susto.

- E então o quê? – ele tentou ganhar tempo.

Ela semicerrou os olhos e ergueu a sobrancelha esquerda numa característica toda sua.

- Syaoran, vai falando, não enrola.

- Estão todos bem. – ele disse apenas.

- Como assim, estão todos bem? Detalhes Syaoran, detalhes. – ela falou impaciente.

Ele suspirou e jogou-se numa das poltronas da suíte, olhando para a mulher a sua frente, com as mãos na cintura numa clara demonstração de irritação para saber os mínimos detalhes da ligação.

- Eu falei com a Katrine....

- Katrine? Por que a Katrine? E o Touya? Onde ele estava? Ó meu Deus, ele estava no hospital, não é? Impossibilitado de conversar. – ela começou a andar pelo pequeno aposento. – Eu sabia que havia algo errado, eu senti, meu irmão deve estar na UTI....

- Sakura, vai parando por aí. Eu sinceramente não sei como é que você consegue fazer essas especulações, provavelmente deve ser algum tipo de efeito da gravidez, vai saber?

- O que você quer dizer com isso? – ela perguntou parando de andar.

- O Touya não está no hospital. – pelo menos não na UTI, Syaoran pensou, engolindo em seco pela mentira. – Ele apenas não estava na agência. – isso não era mentira. – Eu preferi falar com a Katrine pela linha segura da agência, do que ligar no celular dele, já que você confia nela.

- Confio, confio sim. Que mais?

- Ela disse que foi no orfanato, você havia pedido não é mesmo? – ele continuou depois que ela acenou afirmativamente. – Ryu está em perfeitas condições, só que.... – ela nem lhe deu tempo de continuar.

- Só que o quê? Por Deus Syaoran, não vai falando pela metade, desembucha. – ela gritou pegando-o pela lapela da jaqueta.

Syaoran ia começar a rir do desespero dela, mas esse não era o momento. Pegando-a pelos pulsos, puxou-a para seu colo e tampou a boca que ele adorava com uma das mãos, segurou-a firmemente pela cintura, não seria mais interrompido.

- Só que, agora ele não está mais no orfanato, como Eriol e Tomoyo passaram por Tóquio antes de voltar para a Inglaterra, Touya achou melhor que eles levassem o Ryu. O garoto está viajando com os Hiragiizawa. Touya não está ferido. – que Deus o perdoasse pela mentira. – E Ryu está se divertindo. Será que você está mais tranqüila agora? – ele perguntou, ainda mantendo-a presa em seu colo e com a mão em sua boca.

Sakura acenou que sim, a expressão desanuviando, mas Syaoran podia perceber ainda em seus olhos uma sombra de preocupação. Tirou a mão de sua boca e perguntou:

- O que foi Sakura? Você ainda tem dúvidas?

- Não...é que... o sonho foi tão real, e você sabe que eles não falham, se não aconteceu, será que irá acontecer ainda? – ela perguntou preocupada.

- Você disse que deu para perceber que no sonho o lugar era em Tóquio, se o Ryu não está mais lá, acredito que nada irá acontecer com ele. – ele tentou ser objetivo.

- É, você está certo. – ela concordou, levantando-se, andou até a metade do quarto e virou-se, olhando-o fixamente.

- O que foi?

- Você não está me enganando não é mesmo Syaoran?

Ele engoliu em seco e tentou não desviar os olhos do rosto dela.

- Não. – respondeu enfim.

- Ótimo. Porque se eu descobrir que você e o Touya ainda mentem para mim, eu juro que vocês terão um castigo digno de nota. – com essas palavras lançou-lhe um olhar tão intenso que Syaoran suou frio. – Vou me trocar e nós iremos à piscina, OK? – ela falou, em tom bem diferente do usado antes, enquanto caminhava alegremente, em direção ao banheiro.

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Ele estava mentindo. Ora essa, a quem ele achava que enganaria com aquela interpretação medíocre? Syaoran sempre fora um péssimo ator. Ela sabia que algo estava errado, sabia também que ele não omitira tudo o que acontecera, acreditava que Ryu estava em segurança com Tomoyo, mas alguma coisa tinha acontecido para Touya resolver tirar o menino do país. E onde estava o irmão? Será que estava muito ferido? Esperava que não.

Ah que vontade de pegar esses dois e bater a cabeça um no outro até eles se conscientizarem de que ela não era uma idiota, que precisava ser poupada de todos os fatos da vida. Pelos céus estava grávida, não tinha nenhum problema no cérebro, o que eles achavam que iria acontecer? Será que pensavam que com o choque ela perderia o bebê? Eles ainda não tinham noção das coisas que já haviam acontecido? A menina era forte, assim como o pai. Ela sorriu a esse pensamento. Por que não como a mãe? Era um fato, Sakura se achava hoje uma mulher forte e determinada, mas sabia que ainda teria seus momentos de fraqueza e incertezas, mas Syaoran.... Ah, Syaoran sempre seria a parte forte da relação deles, e sua filha já dera provas de que mesmo ainda no corpo da mãe nada a faria perder a chance de conhecer esse mundo, maluco sim, mas maravilhoso também.

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- Incompetentes. – a mulher resmungou olhando para seus homens. – Não conseguem nem pegar um simples garoto.

- Senhora....

Ela ergueu a mão num gesto para que o homem silenciasse.

- Eu só gostaria de saber quem contratou o idiota que atirou no Kinomoto. – ela comentou com um sorriso.

Kaiyo percebeu o que estava por vir.

Um dos homens deu um passo a frente imaginando que seria elogiado.

A mulher aproximou-se dele, passando a mão lentamente pelo seu peito, e colocou-se por trás, o braço subindo para o pescoço, apertando levemente.

- A sua sorte é que ele não morreu. – e com essas palavras torceu seu pescoço quebrando-o. – Porque se tivesse morrido, todos vocês estariam agora fazendo companhia a esse cretino. – ela deixou o homem escorregar lentamente para o chão.

Deu uns passos pela sala encarando com expressão fria os dois homens restantes.

- Eu quero Kinomoto vivo, já que vocês perderam a pista da irmã dele. Incompetentes. Incompetentes. – ela gritou batendo o pé no chão com raiva.

Nisso a porta se abriu de repente.

- Nós a encontramos.

A mulher deu um sorriso maligno.

- Matem-na, e quem estiver com ela, já me deu muito trabalho essa infeliz. E Kaiyo... - chamou antes que ele se retirasse. - ... é sua última chance.

O homem fez um aceno afirmativo, ele mesmo iria atrás da garota, e dessa vez o trabalho sairia perfeito.

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- Quer parar com isso? – ralhou Touya com Katrine. – Eu não estou inválido.

- Deixa de ser infantil, você precisa sair do hospital na cadeira de rodas.

- Eu vou sair andando, muito obrigado. – ele falou já seguindo em direção a porta, quando está foi barrada por uma enfermeira com a expressão mais do que fechada.

- Na cadeira Sr. Kinomoto. – ela falou. – E sem reclamações. – completou antes que ele pudesse dizer algo.

Touya encheu os pulmões de ar, e soltou de uma vez, antes de começar a resmungar baixinho e se encaminhar mancando em direção à cadeira.

Katrine fez força para não rir da expressão dele.

- Se eu vir um sorriso no seu rosto, está demitida. – ele falou com cara de poucos amigos.

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Syaoran levara Sakura em um cruzeiro pelo Mar do Mediterrâneo, num roteiro com duração de sete dias, e previsto para retornarem à Atenas, mas ele pretendia desembarcar em uma das ilhas, arrumar um barco seguindo para Veneza e de lá a caminho de Tóquio, só esperava que seu estratagema funcionasse, acreditava que conseguiria manter Sakura presa no navio por alguns dias.

- Sabe, se não fosse por eu não parar de pensar no que está acontecendo em Tóquio, eu até poderia aproveitar isso aqui. – Sakura disse deitada em uma espreguiçadeira à beira da piscina.

- Sakura, logo nós iremos para casa, o Touya vai encontrar o responsável por essa perseguição.

- Você confia nele? – ela perguntou espantada.

- Oras bolas, não é porque eu não concordo com ele às vezes, que eu não acredite que ele seja um bom profissional.

- Você o chamou de agente de meia pataca. – ela o lembrou.

- Foi na hora da raiva.

- Sei.

- Nós já estamos nas Ilhas Jônicas, quer descer na próxima parada? – ele perguntou, mudando de assunto.

Sakura sorriu da manobra esperta, resolveu deixar o assunto Touya de lado.

- Que tal nós ficarmos por aqui mesmo e fazermos uma festinha particular? – ela convidou olhando-o com um sorriso matreiro.

- O que você tem em mente? – ele perguntou insinuante.

- Segredo, meu amor, mas aposto que você irá adorar. Dê-me uma hora, e depois vá até nossa suíte. – ela falou levantando-se.

- Vai ficar bem sozinha?

- Claro Syaoran, aliás quem esperaria que Sakura Kinomoto e Syaoran Li virariam Rose DeWitt e Jack Dawson, navegando em um cruzeiro pela Grécia? Falando nisso, você não foi nada original não é? – ela o provocou.

- Foi o melhor que encontrei de momento. – ele tentou se desculpar, mas viu que a mulher estava provocando-o. – Eu gostei, achei romântico. – falou meio emburrado por ela estar tirando sarro nele.

- Romântico? Syaoran, o Jack morreu. Mas tenha certeza de que se o navio afundar também ficarei com você.

- E eu prometo que se você fizer isso quando eu disser para embarcar, eu te dou uns tapas. – e ameaçou fazer isso mesmo enquanto ela se desviava, rindo, indo em direção à cabine.

- Você tem uma hora Jack. – ela ainda disse por cima do ombro.

Ele sorriu, adorava quando Sakura se mostrava mais leve, solta. Aquela era a mulher da sua vida, definitivamente ela tinha que se casar com ele. Mas depois que eles pegassem o lunático torturador.

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Sakura saiu do banheiro, com uma nuvem de perfume de sais de banho seguindo-a, vestia somente um negligé, dessa vez vermelho, a cor da paixão, ele era totalmente transparente, fazia parte da sua coleção de roupas para matar Syaoran do coração. Achara que o usaria depois do bebê nascer, mas queria surpreender Syaoran nessa noite, resolvera usá-lo já que sua barriga ainda era uma leve forma saliente. Talvez a partir do quinto mês ela se tornasse mais aparente, Sakura pensou acariciando de leve a barriga.

Olhou-se no espelho aprovando o que via. Syaoran não estava acostumado a vê-la com esse tipo de roupa, normalmente vestia pijamas, somente a parte de cima ou camisetas folgadas, hoje ela queria que seu amado ficasse embasbacado. Quem sabe ele não a pediria de novo em casamento? Teria uma surpresa quando ela dissesse sim. Era estranho, porque há muito tempo ele não repetia mais as palavras 'Quer casar comigo'. Mas hoje isso mudaria, ela tinha certeza.

Olhou no relógio e viu que já estava em cima da hora. Passou o quarto em revista para ver se estava tudo nos lugares certos, champanhe para ele, a cesta de frutas, as velas aromáticas, faltava algo? Ah sim, as luzes. Apagou-as, deixando apenas um dos abajures aceso, e reclinou-se em um divã, testando algumas poses sensuais, ficou esperando-o.

Alguns momentos depois Sakura resvalou o olhar para o relógio, ele já estava atrasado quinze minutos, será que esquecera? Não. Talvez tenha ficado detido por algum passageiro. Devia ser isso mesmo. Esperaria mais alguns momentos.

Levantou-se indo até o som que havia na suíte e colocou uma música suave. Sentou-se de novo, mas não deu cinco minutos e levantou-se impaciente. Algo estava errado. Ela sentia isso.

Retirou a lingerie, e colocou uma calça jeans, camiseta e tênis, ia seguindo para a porta quando voltou para pegar suas cartas, precaução nunca era demais. E também não queria levar bronca.

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Syaoran seguia para a suíte já imaginando o que sua Sakura estaria aprontando, quando sentiu um arrepio na nuca, alguém o observava, seu sexto sentido era preciso. Mudou a direção de seus passos seguindo para o deque superior, recostou-se à amurada com os olhos postos no mar, mas os sentidos fixos a sua volta, não demorou muito, um vulto surgiu rápido na noite, o braço descendo com força em direção à nuca de Syaoran que se abaixou passando a perna no sujeito derrubando-o. Levantou-se pronto para a batalha, e viu que estava cercado, cinco oponentes, mais o que derrubara, armados com punhais que brilhavam à luz do luar, e ele deixara sua esfera na suíte. Sakura iria adorar saber disso. Não teve mais um segundo de espera, todos atacaram ao mesmo tempo.

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Sakura saiu para o corredor encontrando-o escuro, estranhou o fato, ficando na hora em estado de alerta. Ouviu uma respiração próxima, e sorriu internamente, apostaria seu báculo como alguém estava por ali com visor infravermelho, não pensou muito para agir.

- Luz! – gritou.

O corredor foi inundado pela carta Luz, que brilhava intensamente, cegando o homem parado a poucos passos, ele gritou tirando o visor, e Sakura bastou aplicar um golpe de karatê na nuca dele, que desabou no chão desacordado.

- Mandaram apenas um? Que afronta. – ela reclamou já correndo para se juntar a Syaoran.

Chegou ao convés superior, e o que viu a fez suar frio, Syaoran de mãos nuas lutava contra quatro homens. Estava ferido em alguns lugares do corpo, mas nesse momento ele tomava o punhal de um dos atacantes golpeando-o tão forte no rosto, com o cabo da arma, que ele desabou, fazendo companhia a outros dois que já estavam no chão.

Usando corrida aproximou-se rapidamente de um dos atacantes por trás, chutou-o na dobra do joelho, que com a surpresa do ataque foi com tudo ao chão, ela pegou-o por trás, apertando seu pescoço com a ajuda da carta Força, em segundos ele ficou sem fôlego, desmaiando.

Syaoran vira a aproximação de Sakura, e enquanto lutava com os dois homens restantes, rezava pedindo proteção aos Deuses para sua amada. Um dos atacantes conseguiu acertá-lo no peito, ferindo um pouco mais profundamente do que os outros machucados, ele sentiu o ardor, mas não entregaria os pontos, ainda não.

O homem vendo que seu ataque surtira efeito tentou novamente com mais afinco, foi o seu erro, Syaoran segurou a mão em que ele tinha a faca, torcendo o pulso até que ele gritou de dor soltando a arma. Enquanto ele mantinha-se atento a este atacante um outro se aproximava por trás.

- Vento! – Sakura gritou, e o homem surpreso sentiu-se ser levantado no ar e saiu voando, batendo com força na grade da amurada, perdendo os sentidos em seguida.

Sakura comemorava intimamente a sua jogada quando se viu presa por um braço de ferro, e uma arma foi apontada para sua cabeça. Um homem que não havia se mostrado ainda surgiu de repente na luta. Kaiyo. O braço direito da perversa vilã.

- Comemorando? – ele sussurrou ao ouvido dela.

- Quem é você? – ela perguntou tentando libertar-se.

- Não importa saber quem eu sou, e sim o que vou fazer com você.

Nesse momento Syaoran percebeu que Sakura fora pega, segurou o último dos atacantes pelo pescoço prendendo seus braços para trás com apenas uma das mãos.

- Solte-o se quiser mantê-la viva. – Kaiyo gritou.

- Solte-a se você quiser ficar vivo. – foi a réplica do guerreiro, apertando tanto o pescoço do homem preso, que ele resfolegava.

Ambos se encararam, Kaiyo trazia nos lábios um sorriso sinistro, e Syaoran tinha o olhar frio, Sakura acreditou estar vendo novamente Lin na sua frente.

Syaoran sentia estar perdendo o controle sobre seus sentidos, se não soltasse o homem preso em seus braços ele o mataria, acabou cedendo deixando o homem escorregar para o chão desacordado. Sakura soltou o ar num suspiro de alívio. Agora ela tinha que se livrar do seu captor.

Mas para seu espanto, ele desviou a arma de sua cabeça apontando-a para Syaoran.

- Acredito que será mais fácil me livrar dela depois que você não estiver mais em meu caminho. Ambos são poderosos, admito, mas deixam seus sentimentos falarem mais alto.

Sakura esticou de leve os dedos concentrando-se em suas cartas, quando uma veio parar em suas mãos, olhou para Syaoran, que fez em aceno de cabeça negando.

O homem que a mantinha cativa deu uma risada debochada.

- Vocês acreditam que ainda têm salvação? Podem trocar olhares e sinais, mas hoje, daqui vocês não saem vivos.

E com isso apertou o dedo no gatilho, Sakura forçou o braço dele para escapar, gritando:

- Espelho!

Syaoran viu-se com Espelho em sua mão, no instante em que a bala rebatia nele e voltava em direção a Sakura.

- Não! – ele gritou.

O que aconteceu a seguir quase fez seu coração parar de bater, a bala passou resvalando por Sakura que conseguira afrouxar o aperto de Kaiyo saindo da trajetória do projétil, que acabou acertando o ombro do bandido.

- Como... – ele sussurrou espantado, caindo ao chão.

Sakura ajoelhou-se esgotada pelo que fizera e pela precisão milimétrica do que poderia ter acontecido.

- Você está bem? – Syaoran abaixou-se ao lado dela.

- Sim. E você?

- Eu? Eu? – ele estava começando a ficar irado. - Perdi dez anos da minha vida nessa loucura que você acabou de fazer. Você não tem pena mesmo do meu coração, não é?

- Ah, Syaoran, fiquei tão preocupada quando vi a arma sendo apontada na sua direção. – ela falou abraçando-o pelo pescoço.

- Você ficou preocupada? Deus! Fazemos uma dupla e tanto não é mesmo? – não adiantava ficar bravo com aquela mulher, acreditava que ela nunca mudaria.

Syaoran desvencilhou-se dela e aproximou-se do corpo caído de Kaiyo, que os olhava espantado ainda sem acreditar no que tinha acontecido. Syaoran pegou-o pelo pescoço levantando-o do chão.

- Quem o mandou? – perguntou.

Kaiyo recuperou o sangue frio rapidamente.

- Você não espera mesmo que eu lhe diga, não é?

Syaoran não fez outra pergunta, apertou fortemente o ferimento do bandido fazendo-o gritar de dor.

- Syaoran. – sussurrou Sakura aflita, mas sabendo que a manobra era necessária.

- Quem o mandou?

Kaiyo ofegava de dor. Aquele chinês maldito não tinha alma, lembrou-se de ter lido a ficha do assassino Lin, mas acreditava que ele tinha deixado aquela vida de lado, o homem já havia matado muitos, e pelo jeito ele poderia matar mais um.

- Acho que ele não vai dizer. – Sakura falou.

- Não vou mesmo, você pode fazer o que quiser comigo, que de mim não arrancará nada.

Syaoran ergueu a mão para mais uma seção de dor, quando Sakura tocou-o no braço.

- Deixa comigo.

- Sakura...

- Vamos Syaoran, confia em mim.

Kaiyo olhou para ambos e deu risada.

- O que essa menininha pode fazer comigo? – falou irônico. – Colocar episódios do Barney para eu assistir?

Sakura usando a Carta Força pegou Kaiyo pela gola da camisa e ergueu-o acima do chão, só isso bastou para que o infeliz parasse de sorrir. Ela levou-o em direção à amurada do navio e pendurou-o para fora. Kaiyo olhou para baixo, o mar revolto passando sob o casco do navio, somente a queda bastaria para matá-lo, engoliu em seco e olhou para aquela mulher delicada que conseguia segurá-lo com apenas uma das mãos, ela mantinha a expressão séria, mas ele podia ver no fundo do seu olhar a vontade que ela sentia de soltá-lo.

- Quem o mandou aqui? – ela perguntou num tom falsamente doce.

- Eu não posso dizer.

- Pode sim.

- Você não teria coragem de me largar. – ele falou tentando soar corajoso.

- Ah não? – e dizendo isso Sakura soltou-o.

Kaiyo apenas teve tempo de arregalar ainda mais os olhos, quase saltando-os para fora das órbitas.

- Ops. Escorregou. – ela disse inocente.

O grito dele soou nos ouvidos dos dois.

- Você é uma menina muito má. – Syaoran disse olhando para baixo

- Eu sei. – ela respondeu, ao mesmo tempo em que invocava Alada e partia em busca do homem.

- Às vezes eu acho que ela sente prazer em fazer isso. – resmungou Syaoran.

Sakura logo apareceu com o bandido, molhado até os ossos e mais espantado do que nunca. Ela jogou-o no chão sem a menor compaixão e pousou suavemente.

- O que você é? – ele perguntou.

- Isso não interessa. Qual é seu nome?

- Kaiyo. – ele disse quase sem fôlego e tremendo de frio.

- Quem mandou você?

- Eu não posso dizer. Ela vai me matar.

- Ela? – Syaoran disse

Sakura nem fez conta.

- Escuta aqui filhote de bandido, eu vou matar você se não começar a responder as minhas perguntas.

Kaiyo engoliu em seco, ele começava a acreditar que aquela mulher tinha parte com o demônio e seria um páreo duro para The Devil. Com certeza ele não sairia mesmo vivo dali, se não começasse a abrir o bico.

- O que eu ganho se falar?

- Acho que você ainda não entendeu. – falou Syaoran. – Você fica vivo.

Kaiyo pensou que de um jeito ou de outro ele estava mesmo perdido, melhor vivo na cadeia, do que morto.

- Valerie. Valerie Devine.

- Quem é ela?

- A mandante de tudo que vem acontecendo, o seqüestro dos agentes, os ataques que você sofreu, a tentativa de pegarem aquele garoto no orfanato.

Sayoran nem olhou na direção de Sakura.

- Quem é The Devill? – Sakura perguntou, lembrando-se nesse momento da informação que Taiju lhe passara.

- Essa é a alcunha que ela usa.

- O que ela quer? – perguntou Sakura

- Vingança.

- Contra quem?

- Kinomoto.

- Eu?

- Não.

- Touya. – falaram Sakura e Syaoran juntos.

- Por quê? – Sakura perguntou.

- Isso vocês terão que perguntar a ela.

Sakura e Syaoran se entreolharam e viram que dali não viria mais nada, os seguranças do navio chegaram nesse momento e eles se viram às voltas com perguntas.

Sakura tentou entrar em contato com Touya, mas o celular dele estava desligado. Eles tinham que ir para o continente, e voltar para o Japão. Quem quer que fosse Valerie Devine, não estava atrás das cartas, estava atrás do Diretor da CSN. Touya Kinomoto.

Continua...

Sem notas da primeira postagem, porque capítulo foi tirado do FF.

Obrigada a Thata por avisar.

Beijos

Rosana