SEM BARREIRAS

Nos Braços do Amor

Por: Rosana

Capítulo 15

Touya ficou um bom tempo olhando para o nada. A mulher da sua vida saíra pela porta e ele não tivera a menor chance de dizer algo. Ele fizera o certo. Talvez longe dele, Katrine tivesse uma chance de ser uma agente melhor.

Então porque ele não se sentia melhor? Apoiando os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos, Touya sentia-se o último dos homens na face da terra.

Fizera o certo mesmo?

Deixara a mulher da sua vida sair pela porta, e não abrira a boca, tudo bem que ela não deixara a mínima brecha, e também diria o quê? Seus motivos, para sua frieza, no momento pareciam muito idiotas.

Jogou-se para trás na poltrona fitando o teto de sua sala. O coração apertado, a garganta travada em um nó. Levantou-se. Precisava sair.

Saiu da sala como um tiro, e acabou dando um encontrão em Syaoran.

- Ei onde é o incêndio?

- Não interessa. – Touya respondeu já entrando no elevador.

Syaoran rapidamente o seguiu.

- Aonde você vai? – perguntou, recebendo apenas um olhar mortal do outro. - Vi a Katrine saindo da sua sala. – Syaoran continuou sem se dar conta do perigo. – Você está indo atrás dela? Ainda bem, a Sakura já estava impaciente, com a sua falta de atitude...

- Não estou indo atrás dela. – Touya o interrompeu.

- Não? Por que não? Achei que você tivesse entendido como ela está sofrendo. Você é um idiota mesmo.

- Cala a boca. Você não é muito melhor que eu.

- Eu não fui, você quer dizer. Pensei que você tivesse aprendido com meus erros.

- Não quero ouvir mais nada Syaoran. – Touya disse enquanto saía do elevador na garagem da agência, subiu na nova moto, uma Dragstar prata 650CC, que havia substituído sua Double X, que ficara irrecuperável.

Syaoran apenas ficou observando-o sair em disparada. Soltou um profundo suspiro e entrou em seu carro seguindo o cunhado.

- Mas que droga, vou ter que virar babá desse agente secreto apaixonado. – resmungou.

CCSCCSCCS

Syaoran estacionou o Jikoo ao lado do lugar em que Touya deixara a moto. Em frente a um bar.

- Mas o que ele está fazendo aqui?

Entrou no lugar que estava na penumbra, mas precisou de apenas alguns segundos para identificar Touya sentado ao balcão já virando seu segundo copo de saquê. Sentou-se ao lado dele e pediu o mesmo ao barman.

- Você acha que isso aí vai resolver? – Syaoran perguntou a Touya, mas não obteve resposta, apenas uma olhada de esguelha e uma entornada no copo. Touya pediu mais um. – Talvez você esteja pensando se tomou a decisão certa. Arrependido?

Touya continuava em silêncio apenas fitando seu copo.

- Eu não sei você, mas eu preferiria tê-la debaixo das minhas vistas. – Syaoran continuou a falar. – Veja a Sakura. Mesmo ela estando sempre ao meu lado vive se metendo em confusões, mas ao menos eu estou por perto. Já no caso da Katrine... – Syaoran não completou.

Touya apertou o copo na mão, os olhos estreitando de raiva.

- Acredito que você saiba o que estava fazendo. Claro que sabe. Deixar a Katrine ir, foi mesmo a melhor decisão. E daí se ela se meter em confusão? Com certeza ela vai achar algum outro agente que vai se encantar com o jeitinho de menina dela, aqueles cabelos encaracolados, os meigos olhos castanhos...

Syaoran não conseguiu terminar, foi agarrado pelo colarinho por um Touya furioso.

- O que você está tentando fazer? – ele rosnou.

- Eu? Nada, apenas estou apoiando você em sua decisão. – Syaoran disse, já com vontade de rir.

- Não me apóie. – Touya disse soltando-o, pegando o copo bebeu mais um trago, pedindo outro ao homem atrás do balcão que os fitava de olhos arregalados.

- Eu fiz o certo. – Touya disse já um tanto enrolado.

- Claro.

- Ela ficará melhor sem mim.

- Com certeza. – Syaoran concordou de novo.

- Eu a fiz sofrer. Ela quase morreu. Por minha culpa.

- Tem toda a razão. – Syaoran disse mesmo não concordando com ele.

- Não vai acontecer de novo. – Touya disse de cabeça baixa.

- Você é um covarde. – Syaoran repetiu o que já havia dito antes, não agüentando mais toda aquela auto-piedade. Não era muito o estilo de Touya.

- Eu não preciso ouvir isso de novo. – Touya rosnou pedindo mais um saquê para os dois.

- Mas eu estou certo.

- Você está aqui para quê afinal? Se for para falar besteiras pode ir embora.

- E você está aqui por quê? Bebendo para esquecer talvez, mas devo lhe avisar, a bebida não causa amnésia. Ou então porque se arrependeu. – Syaoran foi certeiro.

Touya ficou novamente em silêncio, sabe-se lá o que passando por sua mente. Conseguiu beber mais duas doses antes de levantar-se meio cambaleante da banqueta seguindo para o palco que havia no bar.

- Eu não acredito que ele vai cantar. - Syaoran disse a si mesmo surpreso.

A música escolhida foi Coração Pirata, do grupo Roupa Nova. Na parte, 'estou sempre com a razão', Touya lançou um olhar altivo na direção de Syaoran, que apenas balançou a cabeça, mal acreditando no que estava vendo e ouvindo.

Assim que a música acabou Touya olhou para Syaoran como em desafio. E desafio era uma coisa que Syaoran não recusava, mesmo tendo que pagar o maior King Kong. Seguiu em direção ao palco, deu uma vasculhada na seleção de músicas e optou por uma do americano Bon Jovi, It's My Life. Em algumas partes Syaoran até alterou a letra, como em vez de 'é a minha vida', substituiu por 'é a sua vida', e no lugar de 'Tommy e Gina' alterou para 'Tomoyo e Eriol', lançando olhares ao outro enquanto cantava, mais do que convencidos de que ele estava com a razão, e não Touya.

Quando Syaoran acabou de cantar a sua versão de It's my life, que virou It's your life, Touya arrancou o microfone da mão dele e rapidamente procurou outra música, com um sorrisinho meio de lado, meio de bêbado, começou a cantar com sua voz poderosa, I want it all, do Queen.

Syaoran sorria ironicamente olhando Touya no palco, que tentava se convencer de que fizera a escolha certa, ao mesmo tempo que ouvia o cunhado, procurava outra música para tentar fazer com que o amigo abrisse os olhos para as besteiras que andava aprontando nos últimos meses, quando o celular tocou.

- Oi amor. – começou a falar sabendo que era Sakura.

- Onde você está?

- Haaa... hum... – falar o quê? Que estava cuidando do cunhado bêbado dando uma de bobo num palco de karaokê? E que ele estava fazendo o mesmo? Dando de ombros estendeu a mão com o telefone para Sakura ouvir o irmão cantando a plenos pulmões. Ficou alguns minutos, segurando o telefone nessa posição, quando percebeu que Sakura estava gritando.

- ... o que ele pensa que está fazendo? E você Syaoran? Tira ele de lá senão eu não deixo você conhecer a sua filha.

- Filho.

- Não interessa. – ela gritou mais alto ainda se possível. – Traga-o para casa.

- Ah Sakura ele está quase arrependido. Deixe-o sofrer um pouquinho só pra variar.

- Agora Syaoran. – ela berrou, fazendo com que ele afastasse o telefone do ouvido.

- Está bem. Está bem. Estraga prazeres. – falou emburrado desligando o telefone.

Seguiu para o palco onde Touya começava uma nova canção, dessa vez Louca Paixão, mais uma do Roupa Nova, uma mudança no repertório, indicando que ele já não estava tão seguro de ter feito a coisa certa. Quando a música estava no final, Syaoran pegou o braço de Touya tentando tirá-lo do palco.

- Não Syaoran. – Touya falou meio enrolado, pois não parara de beber enquanto cantava. – Eu quero cantar mais uma.

- Tem mais gente que quer cantar. – Syaoran disse apontando para um grupo de pessoas sentados à uma mesa fitando-os nada satisfeitos.

- Acho que eu fiz a maior besteira da minha vida. – Touya disse cabisbaixo.

- Eu concordo plenamente. – Syaoran disse meio que arrastando Touya que parecia ter perdido o movimento das pernas.

- Estou apaixonado. – Touya disse para as pessoas que estavam à mesa próxima. – Foi uma declaração de amor.

- Para ninguém né? Porque a Kat não está aqui. - Syaoran resmungou.

- Eu fui um idiota. Eu só fiz besteira. Ela foi embora. – Touya agora se jogou nos ombros de Syaoran. – Foi embora e me deixou. Me chamou de covarde, você sabia?

- Não.

- Você também me chamou de covarde. Duas vezes. Acho que eu sou mesmo um covarde.

- Touya, ainda dá tempo de você ir atrás dela... – Syaoran começou a dizer.

- A Kat me abandonou. – Touya o interrompeu. – Foi embora, disse que vai ser agente de campo nos EUA. Bhá! – ironizou. - EUA, o que eles entendem de ser agentes? Um bando de panacas. Não é?

- É...

- Aposto que ela vai continuar atrás de uma mesa... eu não queria, você sabe, que ela fosse agente de campo, mas eu daria algumas missões pra ela. Daria sim. – ele falou como se Syaoran tivesse duvidado. – Eu daria. Coisinhas fáceis, como eu fazia com a Sakura. Você lembra Syaoran? Ela ficou P. da cara quando descobriu. Ah você não tinha aparecido ainda. Naquela época você era Lin, aquele bandido.

- Touya, cala a boca. Vamos para casa.

- Está bem. – Touya concordou. - Você é meu cunhado preferido.

- Como é que é? – Syaoran perguntou surpreso. – Ah pára com isso, sou seu único cunhado.

- Ainda não, ainda não... você também sofreu, você me entende né? – e abraçou Syaoran. Os dois quase foram ao chão.

- Vamos, vou te levar para casa. – Syaoran não sabia se dava risada ou se irritava pelo papel vergonhoso que Touya estava fazendo.

Touya subiu na moto tentando colocar a chave no contato, mas falhou miseravelmente. Syaoran ao perceber a dificuldade, retirou as chaves das mãos dele.

- Por que você fez isso? Acho que você não é mais meu cunhado favorito. – Touya enrolou ao falar.

- Você não vai pilotar nessas condições. Entra no carro que eu te levo.

- Eu estou ótimo. Dê-me as chaves. – estendeu a mão esperando.

Syaoran não pensou duas vezes, jogou-as num bueiro e saiu em direção ao carro.

- Entra logo no carro.

Touya inspirou algumas vezes, mas fez o que o outro pediu. Bastou sentar e reclinar-se no banco, para que caísse num profundo sono.

- É um baka mesmo. - Syaoran disse baixinho colocando o cinto de segurança em Touya e seguindo direto para casa.

Tirar Touya do carro já não foi uma tarefa das mais fáceis, ele não ajudava nem um pouco. Sakura parada à porta não conseguiu evitar um leve sorriso, pois o irmão cantava a plenos pulmões Volta para mim, o repertório do grupo Roupa Nova, parecia ser o preferido dele, influência de Syaoran. Pelo visto algo dera certo nessa noite de bebedeira. Só esperava que quando o álcool evaporasse, ele ainda pensasse em fazer o que era certo.

- Syaoran, porque você o deixou beber tanto assim? – Sakura perguntou ao ajudá-lo com o irmão.

- Foi bom. – Syaoran disse apenas.

- Oi maninha. – Touya falou enrolado. – Oi Touyazinho sobrinho. – continuou passando a mão pela barriga de Sakura.

- Hnf. – Syaoran bufou.

Sakura quase riu, mas na verdade estava assustada com a situação de Touya.

- Não se preocupe Sakura, bebedeira não mata ninguém. – Syaoran disse, percebendo o olhar preocupado dela. – Faça um café bem forte, e deixe uma jarra de água separada.

Colocando Touya sobre um dos ombros, Syaoran seguiu em direção ao banheiro, de roupa e tudo, enfiou-o embaixo da água gelada.

- AHHHHHHHHHHHH!

O grito de Touya foi alto o suficiente para acordar Ryu que apareceu alguns minutos depois na cozinha.

- O que está havendo? – o garoto perguntou, esfregando os olhos vermelhos de sono.

- Sinto muito Ryu. O Touya está com um probleminha.

- Acho que eu ouvi alguém cantando. – o garoto disse jogando-se em uma cadeira e deitando a cabeça nos braços cruzados em cima da mesa.

- Ouviu mesmo. Era o Touya.

- Ele deu o fora mesmo na Kat?

Sakura acenou que sim, colocando uma garrafa de água sobre a mesa.

- Ela é legal. Os dois têm tudo a ver. – o menino soltou um bocejo. – Ela é toda delicada. Par perfeito para o jeito durão do Tio Touya. – e com isso caiu no sono.

- Viu só? Até uma criança como o Ryu sabe o que você insiste em ir contra. – Syaoran disse ao lado de Touya, os dois parados à porta.

Touya, agora vestido com um dos roupões do pai, de cabelos molhados e bagunçados, sentou-se pesadamente em uma cadeira, os olhos parecendo conter toda infelicidade do mundo. Sakura encheu um copo com água e deu-lhe, o que ele aceitou placidamente.

Syaoran ergueu Ryu, ainda meio dormindo meio acordado e levou-o em direção às escadas. O garoto sonolento seguiu-o pacificamente.

- O que você vai fazer? – Sakura perguntou ao irmão, agora lhe passando uma caneca de café.

Touya não respondeu, tomou a bebida fazendo careta ao sentir seu amargor. Levantou-se ficando de costas para a irmã.

- Posso dormir aqui? – ele perguntou baixinho.

Sakura ficou alguns segundos fitando o irmão, aproximou-se o abraçando, meio desajeitada, por causa da barriga.

- Sempre que quiser Touya.

Os dois ficaram alguns segundos assim.

- Acha também que eu sou um covarde? – ele perguntou.

Sakura soltou um profundo suspiro, virou o irmão para encará-la.

- Acho que você precisou de coragem para fazer o que acredita ser o certo. Mas você pensou mesmo em tudo? – ela perguntou. - Deixou a mulher da sua vida escapar por entre seus dedos, mesmo sabendo que ela vai se colocar na linha de frente quando estiver longe de você. Sabe disso não é? A Kat vai se dedicar a sua carreira de uma forma muito parecida com a minha. Só que ela não vai ter o irmão ao seu lado para lhe proteger. Ela está sozinha Touya. Mas uma coisa eu lhe digo, não vá atrás dela, por algum sentimento de culpa, vá porque a ama, porque não consegue viver sem ela, e não por querer protegê-la de algo que está acima de você.

Touya olhou a irmã durante alguns segundos.

- Como você ficou tão sábia assim? – ele perguntou espantado.

Sakura sorriu para o irmão, e não disse nada.

- Eu amo a Katrine. – ele falou enfim.

- Não é para mim que você precisa dizer isso. – ela respondeu sorrindo.

- Eu vou lá. – decidiu-se seguindo em direção à porta, mas foi seguro pela irmã.

- Você vai dormir. Amanhã você faz isso.

- Sakura... – ele quis insistir.

- Vai por mim Touya, se você chegar na casa dela com essa cara, vai ter a porta nesse seu lindo nariz.

Touya soltou um profundo suspiro, sabia que a irmã estava certa. Amanhã ele falaria com Katrine e ajeitaria as coisas. Só esperava que tudo desse certo.

CCSCCSCCS

Sakura estacionou o carro em frente ao orfanato. Ela e Ryu ficaram em silêncio o caminho inteiro. A mulher olhou seu jovem acompanhante que fitava a casa com expressão triste.

- Você sabe que por mim, não teria nunca mais que voltar a esse lugar, não?

Ryu não disse nada apenas acenando que sim.

- Se você quiser eu posso seqüestrá-lo. – brincou, o que resultou um leve sorriso da parte do garoto. - Aposto que se o Syaoran não fosse tão tapado, isso tudo já teria sido resolvido. – Sakura falou com a mão erguida em punho socando o volante.

Dessa vez Ryu riu abertamente.

- Do que você está rindo? Estou falando sério. – ela disse indignada.

- Vocês dois são incríveis. Primeiro ele cansou a voz pedindo a você que se cassassem e você o ignorou legal...

- Eu não ignorei. – Sakura falou tentando fazer-se soar convincente.

- Aí quando você está pronta para dizer que se casa, ele de repente pára de pedi-la em casamento.

Sakura fitou Ryu suspeita.

- Você sabe de algo que eu não estou sabendo?

- Eu não. – ele disse muito rápido.

- Vai falando garoto.

- Eu não sei de nada, juro.

Sakura ainda olhou-o, desconfiada.

- Mas eu desconfio. – Ryu completou.

- Desconfia é? Do quê?

Ryu virou-se de frente para Sakura no banco do carro, pareciam dois conspiradores.

- Acho que ele está fazendo-a pagar por suas recusas.

- Eu já tinha pensando nisso. – Sakura falou de olhos semi-serrados, parecia pronta a esganar Syaoran.

- Você não percebeu como ele foge das suas indiretas?

- Mas claro, se até você percebeu, é óbvio que ele também. Eu tinha certeza que ele não era tão tapado assim. O que será que ele está armando?

Os dois ficaram se encarando imaginando qual seria a estratégia de Syaoran.

- Talvez ele queira que você tenha o bebê primeiro. – Ryu chutou.

- É uma hipótese. – Sakura comentou com o dedo nos lábios, numa atitude pensativa.

Sakura e Ryu estavam tão concentrados em seu papo que não perceberam a aproximação de uma garota que parou ao lado da janela de Ryu.

- Srta. Kinomoto!

Dentro do carro Sakura e Ryu deram um pulo de susto.

- Credo Mya. Precisava chegar sorrateira? – Ryu resmungou.

- Deus, quase tive meu bebê. – Sakura comentou com a mão na barriga e a outra no coração.

- Desculpa. – a menina disse dando risada. – O Sr. Ekaze que conversar com a senhorita.

- Quer é? – Sakura se animou. – Quem sabe não são boas notícias? – e abriu rapidamente a porta do carro, mas para sair foi um pouco mais difícil. – Ryu, quer me dar uma ajudinha aqui por favor?

Ryu deu risada e foi correndo ajudar.

- Você parece mesmo que engoliu uma melancia.

- Ó o respeito garoto.

- A senhora já deve estar para ganhar, não senhorita Kinomoto? – Mya perguntou enquanto os acompanhava.

- Logo, logo. – ela respondeu sorrindo.

Sakura entrou na sala do diretor depois de se despedir das crianças com um abraço mais apertado em Ryu.

Jougi Ekaze, um senhor baixinho, parecendo um gnomo de jardim, com idade aproximada aos cinqüenta anos, cumprimentou Sakura, indicando uma cadeira para ela se sentar.

- Senhorita Kinomoto, pedi para Mya chamá-la porque preciso muito conversar com a senhorita, sobre seu pedido de custódia quanto ao Ryu.

Sakura ficou atenta às palavras do diretor.

- A senhorita sabe que por ser solteira, e ainda mais por estar esperando um bebê, seria muito difícil o estado conceder-lhe a guarda de um menino de quatorze anos...

Ela ao menos o deixou terminar de falar.

- O que eles querem senhor Ekaze? O senhor sabe tanto quanto eu, que Ryu não será mais adotado por ninguém. Estou querendo tirar-lhes a responsabilidade de uma criança, e pode ter certeza de que darei a ele tudo de que ele necessita, e não estou falando apenas de bens materiais, se bem que nada irá faltar, seja em: alimentação, educação, roupas. – ela enumerou. - Também falo de apoio, carinho materno, conforto, amor. Está bem. – ela continuou erguendo as mãos para impedir que o diretor dissesse algo. – Eu sei, estou grávida, às portas da maternidade, não tenho marido, ainda não. Porque assim que eu tiver o bebê, as coisas entre mim e Syaoran irão se resolver. – nesse ponto Sakura já estava de pé, andando de um lado para o outro, e ao menos percebeu o sorrisinho do diretor.

- Eu sou a mãe perfeita para o Ryu, eu o amo como se ele tivesse nascido de mim. Está certo que eu não tenho idade para ser a mãe biológica dele, mas isso não importa. O que importa é que ele é meu, e o seu estado, o seu orfanato ou seja lá quem for não tirará esse menino de mim, estou sendo clara Senhor Ekaze? Nem que eu precise tirar o Ryu a força daqui eu o farei, não duvide...

- A guarda provisória é sua srta. Kinomoto. – o diretor falou, mas não foi ouvido, visto que Sakura ainda estava animada em sua defesa própria.

- ...do que eu estou dizendo, o senhor não conhece Sakura Kinomoto. – ao dizer isso ela ergueu o dedo para o alto. - Eu posso ser boazinha, ter carinha de anjo mas o senhor...

- É sua. A guarda é sua srta Kinomoto. – o diretor falou um pouco mais alto.

- ... não me viu... – de repente ela parou. – O quê?

- Eu disse que a guarda é sua.

Sakura sentou-se pesadamente na cadeira, de olhos arregalados e pasma.

- O senhor disse que a guarda é minha?

O diretor apenas acenou que sim.

- Ryu é meu. Meu mesmo? – ainda perguntou querendo mais uma confirmação.

Sakura começou a rir e a chorar ao mesmo tempo.

- O senhor me deixou falar um monte de coisa...

- Gostei do seu discurso, se nada antes tivesse me convencido, isso teria colocado por terra as minhas dúvidas. – Ekaze disse com um sorriso bondoso.

- Ah senhor Ekaze não sabe como estou me sentindo. Preciso falar com o Ryu. – ela disse levando-se rápido, o mais rápido que a barriga permitira.

- Mas antes a senhorita precisa assinar esses documentos.

- O que o senhor quiser. – ela voltou a sentar.

- Preciso lhe dizer que é a guarda provisória. – o diretor falou enquanto Sakura lia e assinava todos os papéis. - Você tem alguns meses de convivência com o Ryu, e uma assistente irá acompanhar os progressos dele e os seus.

Sakura acenava que sim concordando com tudo. Ao final dos trâmites burocráticos, o diretor estendeu a mão, lhe dando os parabéns.

- Agora vá, vá informar ao seu filho que ele pode ir para casa.

Sakura saiu veloz da sala do diretor, deixando-o com um sorriso.

Dias atrás recebera a visita interessante de um jovem chinês, que viera interceder pela senhorita Kinomoto, o jovem explanara os motivos de não ter se casado com a mulher que acabara de sair da sala, e em defesa a ela, dissera que não era motivo para que ela não adotasse Ryu, pois era uma excelente mulher, dona de uma personalidade vibrante e cativante e que Ryu só teria a ganhar se convivesse com ela. Afirmara que os dois iriam se casar, era uma questão de tempo apenas. E que mesmo ele garantido tudo aquilo, sabia que apenas com essas explicações Sakura não teria a guarda da criança, então convencera o diretor que apenas ele teria o poder de fazer uma boa apresentação quanto ao pedido de guarda provisória.

Ekaze não era tolo, Ryu que antes era uma criança fechada, irritadiça, e até mesmo agressiva, somente melhorara sob a supervisão de Sakura, e dissera ao homem a sua frente que ele já fizera a recomendação ao estado quanto a Sakura ter a guarda do menino mesmo não sendo casada. Só estava esperando o relatório da assistente social que fazia entrevistas com conhecidos da senhorita Kinomoto.

As coisas estavam se encaminhando satisfatoriamente, esperava que conseguisse pais tão bons quanto esse casal para suas outras crianças. Era muito difícil pré-adolescentes, serem adotados, infelizmente os bebês recém nascidos tinham preferência.

CCSCCSCCS

Sakura quase corria para encontrar Ryu. Estava em êxtase, não essa palavra era comum demais, para descrever seus sentimentos em relação ao filho. Filho! Ryu era seu filho.

- Viu bebê? – falou acariciando a barriga. – Você terá um grande irmão.

Saiu para o pátio olhando de todos os lados não encontrando o garoto. Ryu era fácil de se notar, alto para a idade, ele se destacava em meio aos outros adolescentes. Além do que era um garoto muito bonito, sempre o achara parecido com Syaoran na adolescência.

Viu Mya cuidando de algumas garotinhas menores e aproximou-se dela.

- Mya meu anjo, você viu o Ryu?

- Ah senhorita Kinomoto, achei que já tivesse ido embora. – a garota falou meio sem jeito, desviando os olhos.

- O que houve? Você parece estranha. Aconteceu alguma coisa? – Sakura questionou. – E Ryu?

- Bom, é que... – a menina não sabia muito bem o que dizer.

Sakura sentiu um leve puxão em seu vestido, olhou para baixo vendo uma garotinha de uns cinco anos de idade.

- Oi anjinho, o que foi?

A menininha apontou na direção do pequeno regato que corria por trás da casa.

- Ryu está lá?

A pequena acenou que sim.

Sakura apressou-se naquela direção, Mya ia chamá-la mas não saberia bem o que dizer, melhor deixar os dois se entenderem.

Ryu sempre se isolava quando voltava para casa, Mya não sabia se as idas à casa de Sakura eram benéficas ou não, a tristeza dele ao voltar para o orfanato era contagiante.

Antes ele era revoltado com a condição de órfão, brigava com os novos internos, tentara fugir várias vezes, então houvera o seqüestro e a morte de Keiko, Ryu ficara amigo de Sakura, e mudara drasticamente. É, talvez tivesse sido bom ele conviver com a senhorita Kinomoto, pensou consigo Mya.

Ficara triste e com dúvidas quando descobrira porque ele se isolava cada vez que voltava da casa de Sakura. Uma vez o seguira e o encontrara chorando à beira do regato. Ficara com o coração partido de ver o amigo naquele estado, nunca vira Ryu tão sentido em toda sua curta convivência. Tentara consolá-lo da melhor maneira, mas sabia que ele se isolava para curtir a tristeza de não morar com a sua mãe de coração. Esperava que Sakura pudesse fazê-lo se sentir melhor.

Sakura viu o garoto de longe, ia gritar, mas algo na postura dele a segurou.

Ryu estava sentado à beira do riacho jogando pedrinhas na água, os ombros curvados para frente davam a entender que algo não ia bem.

Quando se aproximou mais, ele levantou o rosto e Sakura sentiu o coração dar uma falhada. Seu garotinho estava chorando. Ryu ergueu-se ficando de costas, limpando o rosto rapidamente.

- O que foi Sakura? Pensei que você tivesse ido embora. – foi falando tentando disfarçar.

- Eu é que pergunto o que foi. Por que você está chorando Ryu?

- Eu não estou chorando. – ele disse ainda sem se virar.

- Sei. Olha para mim.

- Não quero.

- Não seja teimoso garoto. Olha para mim. – Sakura tentou parecer firme mas estava preocupada.

- Vá embora Sakura. – ele disse de maneira agressiva.

- Ir embora, e deixar meu filho chorando?

- Eu não sou seu filho. – ele gritou virando-se para ela. – Por mais que eu queira, por mais que eu fantasie, eu não sou seu filho.

- Só porque você não nasceu de mim, não quer dizer que você não seja meu Ryu. – Sakura disse de forma tranqüila.

- Não é por isso. Eu não sou bom o bastante para ser seu filho, Sakura.

- Do que você está falando?

- Eles não querem que você me adote, porque eu sou problemático. Fiz muitas coisas erradas, e agora estou pagando o preço tendo que viver longe de você. – ele falou como se estivesse carregando o peso do mundo nas costas, sentou-se na grama pesadamente.

Sakura soltou um profundo suspiro, e sabe-se lá como, conseguiu sentar ao lado dele.

- Talvez eu não fosse boa o bastante para ser a sua mãe. Já pensou nisso?

Ele a encarou como se ela tivesse dito uma grande heresia. Sakura sorriu e passou o braço pelos ombros de Ryu trazendo-o para perto de si.

- Por que você não me contou o que andava pensando Ryu?

- Não queria preocupá-la.

- Ah sim, e quase me matou do coração encontrá-lo aqui com esse ar de tristeza em seu rosto. Realmente eu não fiquei nem um pouco preocupada. – ela falou em tom de brincadeira. - Olha aqui, nós dois somos mãe e filho de alma, de coração, o nosso laço é tão ou mais forte do que se você tivesse nascido de mim, porque nós nos escolhemos. Entende isso Ryu? Não é um pedaço de papel que vai ser o responsável pela nossa relação. Será nós dois, que faremos isso dar certo, porque nós dois queremos. Na verdade, nós três. Syaoran diria a mesma coisa se estivesse aqui nesse momento.

Ryu sentiu os olhos cheios de lágrimas de novo, o que mais queria nessa vida era morar com Sakura, Syaoran e o bebê, sua irmãzinha que estava para nascer. Ele que nunca fora muito de falar com Deus, desde que conhecera Sakura rezava todas as noites para seu sonho se tornar realidade.

Antes de Sakura, não sabia o que era o carinho materno, nunca fora abraçado, como ela fazia nesse momento. Nunca sentira a segurança que ela lhe dava quando ia dizer boa noite para ele.

- Eu amo você... – ele disse baixinho. - ...mãe.

- Ah Ryu. Eu também amo você. E tenho o maior orgulho de ser a sua mãe. – ela falou limpando as lágrimas que escorreram por seu rosto. – Tenho um presente para você. – disse estendo os papéis que trazia na mão.

Ryu pegou o envelope sem se desgrudar de Sakura, abriu-o e começou a ler, de repente sentou-se ereto arregalou os olhos para Sakura, olhou os papéis e olhou para Sakura de novo.

- A sua reação foi bem parecida com a minha. - Sakura brincou.

Ryu se levantou andando de um lado para outro, parecia não acreditar no que estava lendo.

- Você está me deixando tonta. –Sakura resmungou impaciente.

- Eu não acredito. – ele disse de repente. – Não pode ser verdade. É verdade? – ele perguntou olhando-a.

- É bem meu filho mesmo. Gosta das coisas confirmadas. Quando o senhor Ekaze...

- Sakura! – Ryu interrompeu impaciente.

- Mãe. Pode ser mamãe também. Do jeito que você preferir. – foi a resposta.

Ryu abriu um sorriso maravilhoso, os olhos brilhavam, irradiando uma felicidade contagiante, de repente jogou-se em cima de Sakura tomando cuidado com a barriga, abraçou-a pelo pescoço, ela enlaçou o filho engolindo várias vezes, não conseguiria falar mesmo.

- Você poderia ter dito antes. – ele reclamou.

- Quando vi seu rosto triste, tive perda de memória momentânea. – ela falou dando risada.

- E agora? – ele perguntou. – O que vai acontecer?

- Agora você vai arrumar as suas roupas e voltar para casa comigo.

- E depois?

- Bom, por enquanto nós dois estamos em observação. Uma assistente social vai acompanhar a nossa convivência. Por causa do bebê eles querem ter certeza de que vou saber cuidar bem de você. Além de que há a escola, e sua rotina diária. Terá que se esforçar.

- Pode contar comigo. – ele concordou animado.

- Ótimo. Vamos fazer um excelente trabalho de equipe, agora só falta o Syaoran. – Sakura disse esfregando as duas mãos, como se estivesse pronta para começar uma batalha. – Ajude-me a levantar e vamos arrumar suas coisas.

Ryu levantou-se rápido e estendeu as mãos para Sakura.

- Ah meu deus! – ela exclamou ainda sentada no chão.

- Que houve? Esqueceu alguma coisa?

Sakura olhou entre espantada e temerosa para Ryu.

- A bolsa rompeu.

Ryu olhou dos lados não vendo bolsa nenhuma.

- Você não trouxe bolsa Sakura. – falou confuso.

- A bolsa d'água Ryu. O bebê vai nascer.

- O quê? Agora? O que eu faço? Chamo alguém? Você está bem? – ele metralhou várias perguntas

- Acho que temos algum tempinho ainda. Vamos para o hospital. – ela falou tentando aparentar calma, mas sabia que não era a hora, pois ainda não entrara no nono mês.

Ryu ajudou-a a levantar-se e apoiando-a no seu braço os dois foram caminhando em direção ao carro, Sakura mordeu o lábio quando sentiu uma contração. Como pudera não dar atenção para o incômodo de antes?

- Pegue o celular e liga para o Syaoran. – ela disse, mas o telefone tocou antes que o garoto pudesse fazer a ligação.

- Ela está bem? - foi a pergunta de supetão de Syaoran.

- Está. – foi a resposta espantada de Ryu. Ainda se surpreendia com a ligação de Sakura e Syaoran.

- Tenta manter a calma Ryu.

- Está bem.

- Vocês estão no orfanato ainda? – Syaoran perguntou, recebendo confirmação. – Deixe-me falar com Sakura e vá procurar o diretor Ekaze. - Syaoran pressentira o exato momento em que Sakura sentira a primeira dor. Já no carro seguia em direção ao hospital, visto que estava do outro lado da cidade e não daria para buscá-la no orfanato.

Ryu estendeu o telefone para Sakura enquanto a ajudava a entrar no carro, disse que iria encontrar o diretor e saiu correndo.

- Oi amor. Fica tranqüila, está bem? Vai dar tudo certo.

- Syaoran, a gestação não está completa. – Sakura meio que sussurrou assustada.

- Eu sei, já estou entrando em contato com a sua médica, e o hospital já está providenciando tudo.

- Estou assustada. – Sakura falou baixinho. – Eu fiz tantas besteiras. – disse começando a chorar.

- Sakura. Não. Não faça isso. Não chora, se você começar, não vai parar, precisa manter a calma, ficar tranqüila, pensa em coisas boas, amor. No bebê. No nome que você vai dar a ele. – Syaoran quase bateu num carro na frente quando ela começou com a crise de choro.

- É ela Syaoran. E o nome já está escolhido. Afinal nós combinamos que se fosse garoto você daria o nome, se fosse menina, eu escolheria, e como será uma menina, eu já decidi faz tempo.

Syaoran sorriu do outro lado. Sakura nem percebera que parara de chorar, era muito fácil distrair a atenção dela, era só falar do sexo do bebê.

Ryu chegou afobado.

- Espera um pouco Syaoran.

- O diretor saiu. Foi no banco. – Ryu falou arfante.

- Syaoran, o senhor Ekaze não está. – Sakura disse.

- Fica tranqüila. Passa para o Ryu.

Sakura olhou para o filho e lhe deu um sorriso tentando passar coragem para ele.

- Ryu. Você vai ter que levar Sakura ao hospital.

O garoto apenas arregalou os olhos acenando que sim.

- Ryu, você está me ouvindo?

- Sim. Ouvi.

- Você sabe o que fazer, garoto, não fique assustado. Lembre-se das nossas aulas de direção e dirija com calma, que vai ficar tudo bem.

Ryu acenou de novo que sim, e passou o telefone para Sakura, pegou as chaves e sentou no banco do motorista. Respirou fundo e colocou a chave na ignição, saindo devagar em direção à rua.

- Sakura, confia no Ryu para trazê-la em segurança, ele está dirigindo muito bem.

- Eu confio no meu filho. – ela respondeu calma.

- Nosso filho. – ele a corrigiu.

Sakura ia contar a ele, quando sentiu uma dor forte, apertou o telefone na mão, soltando um leve gemido. Ryu olhou-a de rabo de olho assustado.

- Sakura! Sakura!

- Estou bem. – falou com a respiração forte.

- Isso, boa garota. Você está indo muito bem.

Sakura sorriu, amava aquele homem, tanto e por tantos motivos que não saberia nem enumerá-los.

- Eu amo você. – disse baixinho.

- Também amo você, querida. Agüenta firme. Vai dar tudo certo. – falou tentando passar coragem através do fone, ao mesmo tempo em que acelerava o carro.

- Essa frase é minha Syaoran.

Ele sorriu do outro lado da linha, pensando em como a mulher da sua vida tinha lhe ensinado tanto. Rezou para que tudo desse certo. E tinha certeza que daria.

CCSCCSCCS

Ele magoara Katrine, não, ele ferira-a profundamente. Ela o amava e ele a ignorara. Era um idiota, estúpido, cretino e todos os nomes possíveis e imagináveis, além de nada elogiáveis passaram por sua cabeça, enquanto sua moto cortava veloz, as ruas da cidade.

Já havia passado na casa de Katrine e uma vizinha lhe informara que ela deixara a casa no dia anterior, depois de algumas rápidas ligações, ele descobrira o hotel onde Katrine pernoitara, chegara lá apenas para descobrir que havia perdido-a por questão de minutos, enquanto pilotava ia olhando em todos os táxis pelos quais passava, mas pelo jeito esse não era seu dia de sorte, pensou acelerando cada vez mais.

Touya estacionou a moto em frente ao aeroporto em lugar proibido, foi seguido por um segurança e rapidamente mostrou sua carteira de Agente da CSN, o que lhe acarretou alguns pedidos de desculpas que ele mal ouviu, perguntou de onde saía o vôo para os estados Unidos, o guarda olhou-o por uns segundos e em seguida apontou para o céu, onde um avião levantava vôo.

- Acho que é aquele senhor.

- Não pode ser. – gritou Touya já disparando aeroporto adentro.

Correu como um louco passando por pessoas que gritavam obscenidades quando eram empurradas. Furou fila no balcão da companhia aérea e ouviu mais uns xingamentos, olhou para as pessoas com sua expressão mais fechada o que acarretou alguns passos para trás em receio.

- O vôo para os Estados Unidos. – perguntou para o funcionário ao balcão.

- Sinto muito senhor, vai ter que entrar na fila. – disse o arrogante atendente empinando o nariz.

Infelizmente para o pobre rapaz, Touya não estava num de seus melhores humores, agarrou o jovem pela gravata puxando-o até quase encostarem os narizes.

- O vôo para os Estados Unidos, de onde sai. Agora!

- Já...já... es...tá...sa...saindo... Sin..sinto...mu..mu...muito.

- DE ONDE? – agora Touya já perdera totalmente a paciência.

O rapaz tremendo apenas apontou com o dedo a direção do portão de embarque. O homem alto e moreno saiu em disparada, enquanto o assustado atendente passava a mão pelo pescoço imaginando que escapara de uma boa, não queria estar na pele seja lá de quem fosse que ele estivesse procurando.

Touya chegou correndo no balcão de embarque.

- Preciso embarcar nesse vôo para os EUA. – disse para a moça, enquanto mostrava a identificação de agente.

- Sinto muito senhor, o avião, já está decolando. – a funcionária disse mal olhando Touya.

O guarda na frente do aeroporto se enganara, Touya pensou com raiva.

- Você não está entendendo. É muito importante. – insistiu com a moça.

- Sempre é. – ela disse, como se atitudes como a dele, fossem comuns.

Touya encarou-a por alguns segundos, uma idéia maluca passando por sua cabeça, mas refletiu que seria muita irresponsabilidade.

- Tem alguma maneira de me comunicar com um passageiro que está no avião? – perguntou, enfim tendo uma idéia luminosa.

- Somente em caso de vida ou morte senhor.

- Olha bem para mim. – a moça o encarou. – A sua vida corre risco se não me colocar em contato com aquele avião. – falou de maneira tão fria, que a moça arrepiou-se inteira.

- Vou fazer o possível senhor. – ela disse pegando o telefone. Falou por alguns segundos. - Acompanhe-me.

A funcionária da empresa aérea levou-o em direção ao controle de tráfego aéreo, apresentando-o ao supervisor da segurança do aeroporto, que por uma incrível coincidência era um ex-policial com que já trabalhara. Touya explicou rapidamente que uma de suas agentes estava naquele avião, e que era impossível que ele decolasse levando-a.

O homem fitou Touya por alguns segundos de maneira suspeita.

- Isso está mais me parecendo um caso de amor, Sr. Kinomoto. – o homem disse com um sorrisinho.

Essas coisas não aconteciam todos os dias, um homem da importância de Touya Kinomoto, desesperado atrás de uma de suas agentes, era bom demais para dar as costas. Mexeu em alguns controles falando rapidamente, e estendeu um fone a Touya.

- O senhor pode falar, infelizmente não pudemos colocá-lo em uma conversa particular, terá que falar para todo o avião.

Touya arregalou os olhos, surpreso, mas agora que começara, iria até o fim.

- Bom dia a todos, sinto muito por atrasar a viagem de vocês, mas será rápido. – sem mais delonga, foi direto ao ponto. - Katrine, espero que você esteja me ouvindo. Desça desse avião agora. – quase gritou ao fone, nada sutil, mas perdoável visto que ele parecia realmente transtornado.

As pessoas no controle do tráfego aéreo, ainda trabalhavam, mas um dos ouvidos estava colado na conversa de Touya, não puderam deixar de sorrir diante da falta de tato do homem moreno.

- Melhor o senhor ser mais delicado. – a moça que acompanhara Touya sussurrou para ele.

- Ah, sim. Bom, quero dizer... - tentou Touya. – Isso é difícil. Não costumo pedir desculpas, você sabe. – soltou um profundo suspiro. – Eu sinto muito. Você estava certa, eu fui um covarde, estava com medo de perder você e acabei afastando-a. Eu errei, como em tantas outras vezes na minha vida. Fui egoísta também, fugi de você mas queria-a debaixo de minhas vistas, não pensei em como seria difícil para você. Quanto ao tempo que você esteve no hospital, eu a visitei todos os dias Kat, todo santo dia, eu parava na porta do seu quarto, mas me faltava a coragem de entrar para olhar em seus olhos. Eu não parei de pensar em você um só segundo nesses quase quatro meses. Eu dormia pensando em você, sonhava com você e acordava com você em minha cabeça. Quantas vezes, não peguei o telefone para ligar? Quantas vezes, não dirigi até a sua casa para não ter a coragem de entrar. Eu me culpei sim, por você quase morrer, ainda me culpo, mas pensar em não tê-la perto de mim, está me matando. Me perdoa, por fazê-la sofrer. Eu a quero em minha vida. Por favor me perdoa. – Touya terminou seu discurso.

Quando levantou a cabeça, vários pares de olhos estavam grudados nele, a moça que o acompanhara encarava-o com expressão suave.

- Só isso? – ela perguntou. – Não faltou você dizer algo? – questionou sugestiva.

- Ah, claro.

Touya se aprumou e de repente começou a cantar, se dera certo para Syaoran daria para ele também. Cristina, uma música do grupo Roupa Nova era perfeita, somente fizera uma pequena adaptação, mudando o nome para Katrine.

A moça a princípio ficou surpresa, mas aplaudiu em silêncio a iniciativa daquele homem tão corajoso.

O que Touya não havia percebido durante todo o seu discurso, era que uma pessoa entrara na sala de controle, e ouvira desde o início tudo que ele dissera, o sorriso terno e os olhos brilhando, diziam a quem a olhasse o quanto estava emocionada com o que ele fizera.

Ao término da música a sala ficou em completo silêncio, Touya ficou parado esperando algum comunicado do avião, mas não havia nada. Aparentemente seus esforços não comoveram Katrine. Estendeu o fone para o homem da segurança recebendo um olhar de simpatia.

Touya virou-se para sair da sala, dando de cara com a mulher por quem acabara de fazer o papel mais ridículo da sua vida. O espanto era tanto, que ele não se mexeu.

Katrine sorriu, aquele sorriso meigo que ele tanto adorava e aproximou-se lentamente dele, passou os braços pela cintura de Touya e chegando pertinho do ouvido dele sussurrou:

- Por que você demorou tanto?

Touya começou a sorrir devagar, até soltar uma risada de triunfo, ergueu Katrine em seus braços, aproximando o rosto dela do seu.

- Eu te amo. – disse simplesmente.

- Eu sei. – foi a resposta confiante.

- Mulher, você não sabe o que sofri pensando que havia perdido você.

- Foi bem feito.

- Garota má.

Kat sorriu mais ainda. De repente ela olhou pelo ombro de Touya, dando de cara com todos os funcionários olhando-os com sorrisos bestas de aprovação, sentiu as faces ficando vermelhas. Deu um sorrisinho, meio sem graça. Touya acompanhou o olhar dela, percebendo o motivo do constrangimento, colocou-a no chão e estendeu a mão ao chefe da segurança.

- Obrigado.

- Não por isso senhor Kinomoto, foi divertido. – o homem disse recebendo a concordância de quem estava próximo. – Além do que, essa vai ser ótima para contar na próxima reunião dos veteranos da polícia.

Todos deram risada.

- É justo. – Touya disse despedindo-se dos funcionários. – Obrigado. – falou parando em frente à moça que o ajudara.

- Bom, na verdade você não me deixou muita escolha. – ela falou sorrindo.

- Desculpa ter ameaçado você. – ele pediu sem graça.

- Está desculpado, só espero que um cara me ame tanto a ponto de fazer uma declaração com a sua.

- Boa sorte. – ele disse a ela.

Katrine e Touya enfim saíram da sala.

- Como você foi parar na sala de controle? – Touya parou de repente de andar, somente nesse momento percebendo tal fato.

Kat deu um sorrisinho sugestivo.

- Sakura.

- Sakura? O que a Sakura tem haver com tudo isso.

- Ela me ligou e disse simplesmente, 'não embarque'. Não adiantou muito eu perguntar os motivos. Ela só acrescentou o seguinte, 'se quer ser tão covarde como você acusou o Touya, então embarque', e desligou. Depois dessa não me restou muita alternativa. Quanto a aparecer na sala de controle, eu acompanhei você desde que entrou no aeroporto. – ela completou com um sorrisinho. – Acho que estou em excelente forma para espionar, se o grande diretor da CSN não percebeu nada.

Touya caiu na risada, realmente não percebera ninguém na espreita. Olhou-a por alguns segundos mal acreditando que ela estava ali mesmo, ia lhe dar um beijo quando o celular começou a tocar.

- É bom ser importante, muito importante. – rosnou pegando o telefone.

À medida que Touya ouvia a pessoa do outro lado da linha seu cenho ia franzindo.

- Já estou indo. – falou somente.

- O que foi?

- Sakura entrou em trabalho de parto. – respondeu em tom de preocupação.

- Mas Touya, ela não entrou no nono mês.

- Eu sei.

Continua...

N.A.: Olá! Estão muito iradas com a demora?...eheheh...quero agradecer os mails e reviews com cobrança...foram divertidos de ler...eheheheh

Bom, seguinte, eu não estava contente com o rumo que o capítulo estava seguindo, se eu não fico contente, eu simplesmente paro de escrever, além do que escrevi dois inícios (nunca façam isso) e eu fico na maior dúvida quanto ao que manter, agradeço à Marjarie e a Stella por me ajudarem nessa fase. Valeu meninas. Carol, obrigada por ter lido, ter gostado, por ter ajudado, enfim. Mar, suas reações como sempre hilárias de discussão com meus personagens estava ótimo, valeu.

Pessoal, eu sei que muitos de vocês não me conhecem, não sabem nada da minha vida, só que eu escrevo fanfics, mas essa não é a minha atividade principal, eu tenho uma vida particular, que de vez em quando fica corrida.

Tenho um marido para dar atenção e ele é prioridade, sempre. Eu amo escrever as minhas histórias, eu me divirto, tenho prazer em fazer isso, adoro quando vocês ficam ansiosas querendo ler o próximo capítulo, mas às vezes as coisas não são como queremos que seja, não é mesmo?

Falando no capítulo 15, não sei se ele ficou exatamente do jeito que eu queria, esse começo, como já disse foi um caso sério, o final foi mais ou menos como idealizei, e a parte da Sakura com Ryu, também tinha imaginado algo nesse sentido, espero que vocês tenham gostado, e por favor, sejam honestas nas opiniões...eheheh

Alguém perguntou se Syaoran aparece cantando de novo, apareceu...eheheh...agora cantando para a Sakura, não imaginei nenhuma cena, mas tudo é possível..eheheh...

Agora vem a parte triste, não poder agradecer em separado a cada um de vocês me corta o coração, eu respondi alguns mails que deixaram endereços... então, deixem seus endereços de mail, OK? Assim posso falar com cada um de vocês.

Eu agradeço a cada review mandado, a cada um que leu e não teve vontade de deixar review, agradeço aos cobradores..ehehe...aos encorajamentos, a força que muitos de vocês me deram, mesmo sem saber. O capítulo 15 saiu com a ajuda de cada um de vocês. Muito Obrigada!

As letras das músicas, estarão no Blogg da Família Kinomoto, quem estiver a fim de ler é só dar uma passadinha por lá, quem não souber o endereço é só me perguntar, eu já coloquei várias vezes nos finais dos capítulos, mas vou parar com isso, nunca se sabe com o FF.

Não sei se já comentei, mas estou postando uma fic de Harry Potter, aqui no FF e no site Floreios e Borrões, então se alguém se interessar, leiam. Harry e personagem nova, nada de H/H ou H/G, para quem for fã dos casais.

Um super abraço em todos