SEM BARREIRAS

Nos Braços do Amor

Por: Rosana

Capítulo 16

- Sai do banheiro. Sai. Saaaiiiiiiii! – Touya gritava batendo na porta.

- Não enche. – Syaoran resmungava do outro lado. – Por que você não ficou no seu apartamento? Não percebeu que a casa está cheia hoje?

- Sai logo. – Touya continuava gritando.

- Quer parar de gritar? – Sakura colocou a cabeça para fora do quarto sussurrando em voz perigosamente irada.

- Syaoran se apossou do banheiro.

- Vai no do papai.

- Papai está lá. – Touya resmungou.

- No de baixo. - ela falou, sua paciência quase chegando a limites.

- Ryu está lá. - ele disse e continuou a bater na porta.

Sakura não pensou duas vezes, usou uma de suas cartas no irmão.

Touya parou no ato de bater na porta e apertou as duas mãos na garganta, olhando horrorizado para a irmã. Ela tirara sua voz. Fez gestos enlouquecidos para que ela desfizesse o feitiço, mas deu de cara com o sorriso sinistro de Sakura que bateu a porta na sua cara.

- Deus, Touya parece regredir a cada dia que passa. – ela disse consigo mesma.

A porta do banheiro se abriu e Syaoran saiu enrolado em uma toalha, com os cabelos molhados pingando água, deu risada quando percebeu o que Sakura havia aprontado.

- Nossa, que silêncio anormal. – ainda tirou sarro da cara do cunhado. Entrou no quarto de Sakura ainda rindo. – Você é uma garota muito má. – falou abraçando-a pela cintura.

- Eu sei. – ela concordou desfazendo o feitiço.

- ... e nunca mais falo com você Sakura. – Touya aparentemente completou a frase silenciosa em voz alta. Entrou no banheiro batendo a porta.

Sakura e Syaoran caíram na risada.

- Acredita que já faz oito meses? – ela perguntou olhando-se no espelho.

- Sim. Acredita que te amo mais que há oito meses atrás? - ele retrucou virando-a para si, beijou-a com carinho. As mãos deslizando levemente pelo corpo sinuoso. Sakura soltou lentamente a toalha que Syaoran enrolara em volta da cintura.

- Uma pena não termos tempo. – ela falou com a cabeça jogada para trás, um tanto quanto ofegante.

- Não temos mesmo? – ele perguntou ao ouvido dela, aumentado a intimidade das carícias.

- Não... sei... acho que... não... talvez... – Sakura ao menos sabia o que dizia. Já estava em outro mundo.

Os dois já seguiam em direção à cama, quando uma batida na porta interrompeu-os.

- Andem logo. Não façam o que estou pensando que vocês querem fazer, senão eu entro aí e acabo com essa festa. – Touya rosnou do outro lado da porta.

Sakura e Syaoran olharam-se espantados, um de cada lado, já que deram um pulo de susto quando Touya bateu na porta, e caíram na risada.

- Merecemos o Touya? – Sakura perguntou.

- De jeito nenhum. – ficou olhando o sorriso luminoso da mulher da sua vida. Teriam todo o tempo do mundo. – Vá se trocar querida. Teremos a nossa festinha à noite. – ele sussurrou encostando a boca na dela. Deu-lhe um suave beijo, indo em seguida para o armário pegar suas roupas.

Sakura seguiu Syaoran com os olhos. Ele tinha um corpo espetacular, os músculos nos lugares certos, nem demais nem de menos. Tinha tanta sorte.

- Espero você lá em baixo. – ele disse, já pronto, a ela, que acenou concordando.

- Ela já está pronta? – ouviu o pai perguntar a Syaoran no corredor.

- Está sim. – Syaoran respondeu, as vozes dos dois se perdendo ao descerem as escadas.

Pegou o vestido azul celeste que estava em cima da cama e colocando-o, parou em frente ao espelho. Seu corpo voltara ao normal, já podia ver as curvas dos quadris e cintura. Nada mal. Seu olhar se perdeu, não se vendo mais, relembrou o dia do nascimento do bebê. Muitos fatos sendo contados a ela mais tarde, pois não presenciara todos os detalhes.

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- Já estamos chegando. – Ryu disse fitando Sakura que suava frio dentro do carro.

- Ryu disse que estamos chegando. – ela falou ao celular.

- Estou esperando você, meu anjo. Fique calma. Tudo ficará bem.

- Eu sei. – ela respondeu baixinho.

Nesse momento Ryu encostou o carro em frente ao hospital. Syaoran foi o primeiro a chegar. Abriu a porta do passageiro pegando Sakura no colo, olhou agradecido a Ryu que lhe sorriu meio trêmulo.

Enfermeiros chegaram com uma maca, levando Sakura rapidamente para a sala de cirurgia.

- Syaoran. Você pode esperar um momento enquanto examino Sakura? – pediu a Doutora Michiko Oyama.

- Há algum problema? – ele perguntou assustado.

- Não posso lhe dizer nada sem antes examiná-la. Você sabe que ela não completou os nove meses. – a médica respondeu tranqüila. – Fique aqui. Logo chamo você.

Syaoran ficou olhando enquanto a médica se afastava. Nada poderia dar errado. Nada. Rezou fervorosamente.

Ryu ao seu lado não disse absolutamente nenhuma palavra.

- Você está bem? – Syaoran perguntou ao garoto que acenou afirmativamente, mas ainda tinha uma expressão meio assustada. – Vai ficar tudo bem. – Syaoran disse ao garoto passando o braço pelos ombros dele.

- Não vamos perdê-la não é? – Ryu perguntou baixinho.

- De jeito nenhum. – Syaoran disse com certeza. Virou o garoto para ele. – Escuta aqui Ryu, nessa família não pode haver dúvidas. Somente pensamentos positivos. OK?

O garoto encarou Syaoran concordando, mas tinha os olhos marejados e o corpo trêmulo.

- Vem cá garoto. – Syaoran abraçou-o. – Sakura é forte. Muito mais forte do que aparenta. Ela já não escapou de tantas armadilhas que a vida lhe pregou? Talvez com um pouco de sorte, mas muito mais de coragem. É uma mulher de fibra a sua mãe.

Ryu sorriu ao ouvir isso, agora de fato ela era sua mãe mesmo, de verdade. Ia contar a Syaoran, mas percebeu que não era o momento. Esperaria sua irmãzinha nascer. Estava certo que seria uma irmã, já que Sakura não tinha dúvidas.

- O que aconteceu? – a pergunta horrorizada veio da porta da sala de espera.

Touya acabara de chegar e olhava assustado para Ryu e Syaoran abraçados.

- Ah meu Deus! – exclamou sentando-se, ou melhor desabando em uma das cadeiras.

- Touya! – Syaoran e Ryu viraram-se para ele.

- O que aconteceu? Por que o Ryu está chorando? Por que você está com essa cara? – perguntou fitando Syaoran.

- Não aconteceu nada. – Syaoran disse aproximando-se. – Sakura está com a médica. O bebê ainda não nasceu.

- Querem me matar do coração. É isso que vocês querem. – ele sussurrou quase aliviado. – Contem-me tudo. – pediu, ao mesmo tempo em que Katrine entrava na sala, sendo seguida por Tomoyo e Eriol, que falava no celular.

Enquanto Ryu e Syaoran contavam aos outros, o que havia acontecido até o momento de chegarem ao hospital, a Doutora Oyama examinava Sakura, e sua expressão não era nada animadora.

- Sakura, o bebê não está encaixado para um parto normal. – a doutora disse olhando-a nos olhos. – Em seu último ultra-som eu havia percebido a má posição da criança, mas esperava que ele se encaixasse até os nove meses.

- E isso quer dizer o quê? – Sakura perguntou tentando manter-se calma, pois as dores eram terríveis.

- Que será necessário uma cesariana.

- Cesariana. Certo. – Sakura concordou. – Mais algum problema?

- Você ainda não completou os nove meses, talvez o bebê tenha que ficar em uma incubadora ao nascer. Ele é muito pequeno.

Sakura engoliu em seco, fechou os olhos pedindo forças.

- Isso não quer dizer que ela não nascerá com saúde não é?

Michiko sorriu para a jovem mulher a sua frente que tinha certeza de que nasceria uma menina.

- Não querida, não quer dizer. Mas as chances da sua filha nascer mais fragilizada são maiores.

Sakura ia falar, quando uma dor atroz varreu seu corpo. Agarrou o lençol da cama, segurando-se para não gritar. Suspirou aliviada quando a dor passou.

- Faça. – disse. – Faça o que tiver de fazer para salvar o bebê. Está bem? – pediu olhando a médica.

- Eu farei. Peço a Syaoran para entrar? – a médica perguntou.

- Você acha uma boa? Ele pode ficar mais nervoso do que eu. – Sakura conseguiu brincar.

- Eu acredito que ninguém conseguirá segurá-lo lá fora. – a médica respondeu sorrindo.

- É. Eu também. Ainda mais que estou doida para a ver a cara de idiota dele quando ver a nossa filha. – ela falou quase dando risada.

A médica olhou espantada para a grávida a sua frente que era capaz de fazer gracinhas em meio às dores e preocupações. Essa mulher era um caso raro de força e determinação.

Balançando a cabeça em descrédito, a Doutora Michiko seguiu para a sala de espera, e deparou-se com a confusão armada. A Syaoran e Ryu juntaram-se mais algumas pessoas. O irmão de Sakura e uma moça, mais um casal, um senhor com mais idade, uma senhora e cinco jovens mulheres todas falando ao mesmo tempo.

- Mas como vocês souberam? E como chegaram aqui tão rápido? – Syaoran perguntava à mãe, espantado.

- Sua mãe soube ontem mesmo que a sua filha ia nascer. – MeyLing dizia.

- Filho. – Syaoran e Touya, que estava do outro lado da sala conversando com pai, responderam ao mesmo tempo.

- Eu resolvi vir mais cedo, não me pergunte os motivos. – Fujitaka disse, espantado por ter chegado em casa, a encontrando vazia. Quando os celulares dos filhos deram sinal de ocupado, uma intuição lhe disse que sua preciosa filha poderia estar tendo o bebê. Não pensara muito para seguir direto para o hospital.

As irmãs de Syaoran rodeavam um espantado Ryu, que não sabia o que fazer ou dizer ao ouvir os pedidos para que as chamassem de tia. O garoto foi o primeiro a perceber a médica na sala, desvencilhou-se das 'tias' na mesma hora.

- E a Sakura? – sua pergunta calando a todos no mesmo instante.

- Obrigada Ryu. – a médica disse ao garoto colocando a mão sobre seu ombro. – Syaoran, você pode me acompanhar?

- Por quê? – Touya perguntou chegando à médica primeiro.

- Calma pessoal. Tudo vai correr bem. Sakura já está sendo cuidada. Ela quer apenas a presença do pai de sua filha ao seu lado.

- Filho. – os dois disseram ao mesmo tempo de novo, atraindo vários pares de olhos, uns exasperados pela teimosia, outros irônicos pelo que viria.

A médica deu um sorriso involuntário.

- Vamos? – perguntou a Syaoran.

Touya segurou o braço do cunhado.

- Diz que estamos aqui.

- Eu digo.

- E que estamos torcendo por ela.

- Está bem.

- Telefona a hora que nascer.

- Touya! – as mulheres que estavam na sala gritaram indignadas.

Syaoran deu risada e seguiu pelo corredor, não percebeu Ryu atrás dele, até o garoto segurá-lo pela barra da camisa. Olhou para trás.

O menino encarou Syaoran nos olhos, não precisou dizer nada.

- Eu digo a ela.

Ryu sorriu de modo encorajador para Syaoran.

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Quando Syaoran entrou na sala de partos, paramentado com as roupas anti-sépticas, Sakura já estava em cima da mesa de operações, deu-se conta no mesmo instante, que seu filho não nasceria de parto normal. Chegou próximo à mulher pegando a sua mão. Ela olhou-o sorrindo.

- Você acha que agüenta ver um pouco de sangue? – ela perguntou.

- Eu agüento qualquer coisa por você.

- Ótimo. Uma pena Tomoyo não poder filmar. – ela se lamentou. – Queria tanto ter a sua expressão de espanto gravada, quando se deparar com a nossa filha.

Syaoran quase deu risada. Sua Sakura estava tranqüila, isso era bom. Ele também teria que manter a calma, só não sabia como.

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Sakura sorriu, ainda se admirando em frente ao espelho, pensando em Syaoran e nas horas que passaram no hospital, horas de sofrimento para si mesma e para sua família. Melhor deixar as lembranças para depois, hoje era um dia importante em sua vida. Mais um sorriso aflorou seus lábios.

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Touya em seu antigo quarto, que hoje era de Ryu, parado em frente ao espelho ajeitava a gravata. Quantas coisas não passaram desde o reaparecimento de Syaoran. Sorriu ao se lembrar do cunhado e melhor amigo. Devia muitas coisas a ele, mas a mais importante era que devia a felicidade de sua preciosa Sakura ao chinês. Apesar de ser culpa dele a agonia que passara no dia do nascimento do bebê. Outro dia daqueles e ele não viveria. Relembrou de cenho franzido.

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Na sala de espera Touya andava de um lado para o outro. Sua irmãzinha estava sofrendo, ele sabia, sentia isso. Queria que seus novos poderes pudessem aliviá-la da dor, da angústia, do sofrimento, mas sabia não ser possível.

- Tudo vai compensar, quando ela tiver a filha nos braços. – seu pai disse ao seu lado.

- Filho pai. É o Touya Sobrinho que vai nascer.

Fujitaka deu um breve sorriso.

- Era para ser tudo mais fácil. – Touya disse com o olhar perdido. – Sakura já sofreu muito, pelo menos agora tem que dar tudo certo.

- Vai dar meu filho. Você tem dúvidas?

- Syaoran disse que nessa família não pode haver dúvidas, somente pensamentos positivos. – Ryu disse encostado na parede de braços cruzados.

Touya encarou o garoto, os dois se olhando nos olhos. Ryu firme e crente de que tudo daria certo. Touya abriu um sorriso e aproximou-se do sobrinho.

- Até que enfim o chinês disse algo de bom. Vai dar tudo certo sim.

Os dois sorrindo confiantes um para o outro. Touya ergueu os olhos encontrando o seu anjo de doces olhos castanhos o encarando. Trocaram um olhar repleto de sentimentos. Tudo já estava dando certo.

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Syaoran desceu as escadas com seu quase sogro, para encontrar Ryu andando de um lado para o outro. O garoto parecia nervoso.

- Você está bem? – perguntou sério, mas com um brilho de divertimento nos olhos.

- Estou. – Ryu respondeu continuando a caminhar. – Eu nunca fiz isso. Vai dar tudo certo não é? – perguntou encarando Syaoran.

- Claro que vai, garoto.

- E se eu deixar cair? – a pergunta foi feita em tom assustado, enquanto ele olhava para o bebê, que vovô Fuji pegara no cesto que estava sobre o sofá.

Syaoran quase deu risada, mas segurou-se pois tivera o mesmo pensamento ao segurar pela primeira vez o bebê frágil nos braços.

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- Aqui está papai. – a médica colocou nos braços de Syaoran o pequeno embrulho que chorava sem parar.

Syaoran ficou pasmo, emocionado, maravilhado e assustado, tudo ao mesmo tempo. Com o pequeno ser em seus braços, encarou Sakura sorrindo.

- Obrigado. – ele disse a ela, os olhos brilhando suspeitos.

- Não, obrigada a você. – ela retrucou, fitando duas das pessoas que mais amava no mundo.

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- Ali. – Syaoran apontava a pequena incubadora onde estava o bebê.

- Ele é tão pequenino. – Touya sussurrou emocionado. – Mas aposto que daqui a uns meses o garotão vai estar enorme.

Syaoran quase caiu na risada, mas soube se controlar, prometera a Sakura.

- Ele vai ficar muito tempo na incubadora? – Kat perguntou também olhando o bebê e percebendo o que o seu grande chefe, diretor da CSN, não o percebera. Um sorriso involuntário se abriu. Trocou um olhar de entendimento com Ryu, que estava ao seu lado.

- A pediatra está esperançosa, disse que o bebê é mais forte do que esperava. Tem grandes chances de amanhã mesmo ir para o quarto com Sakura. – Syaoran respondeu quando uma fungadela o fez virar-se para Touya. – Você está chorando? – perguntou espantado, esquecendo-se de que fizera o mesmo ao segurar o bebê.

- Claro que não. – Touya respondeu virando o rosto.

- Tudo bem tio Touya, não há porque ter vergonha de chorar. – Ryu disse dando uns tapinhas, no ombro do tio.

Fujitaka sorriu olhando para a interação de seu filho com o novo neto.

- Vamos vê-la. – Touya falou de repente, virando-se para os outros, agora estava animado para tirar sarro na irmã, depois de ver o garotão.

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- Viu só Sakura? Você estava o tempo todo enganada. Eu sabia que seria o Touya Sobrinho que nasceria. E então minha irmã? Pode dizer agora que eu estava com a razão. – vangloriava-se Touya.

Sakura recostada à cama, ergueu a sobrancelha esquerda fitando Syaoran que negou com a cabeça, ela sorriu peralta.

- Você é um panaca mesmo. Não percebeu as roupas que o bebê vestia Touya?

- Roupas? O que tem as roupas do meu sobrinho? – ele a olhou sem entender.

- São cor-de-rosa.

A expressão de Touya foi impagável, abriu a boca e arregalou os olhos. Encarou os outros, que se continham para não rir alto, e fez o inimaginável, saiu correndo.

- Está vendo papai? Foi assim minha gravidez inteira. O Touya fazendo o impensável. Não sei como a minha filha não nasceu antes.

- Ele está animado filha.

- Ele está é pirado. Depois eu conto para o senhor as maluquices que ele andou aprontando.

Nesse momento Kat deu risada não conseguindo se conter mais.

- Que foi? – Syaoran e Sakura perguntaram a ela.

- Lembrem-me de contar o que ele aprontou no aeroporto.

- Ah nem precisa. – Sakura disse abanando a mão de leve.

Kat olhou surpresa para a amiga.

- Na verdade... – Sakura começou meio sem jeito, agora já tinha dado bola fora. – Bom...

- Sakura! – Syaoran exclamou.

- Ah pessoal qual é. Eu mandei a Tomoyo para o aeroporto filmar tudo. É isso. Pronto. – disse cruzando os braços.

- Você está falando sério? – Kat perguntou espantada.

- Cadê a Tomoyo?

- Estou aqui. – a prima disse entrando nesse momento com Eriol no quarto.

- Você filmou? – Sakura perguntou animada, nem parecia ter passado por uma cesariana, horas antes.

- Cada lance.

- Eu não acredito. – Kat dizia baixinho olhando a amiga.

Sakura fingiu que não ouviu. Olhava Eriol que falava ao celular com seu meio sorriso de sempre. O amigo encarou-a, o sorriso abrindo mais e estendeu o celular para ela.

- Eu quero falar com ela, ela precisa saber porque não estou ao seu lado nesse momento importante. Clow, ponha já a Sakura no telefone. – uma voz estridente gritava do outro lado.

- Oi Kero. – disse Sakura.

- Sakura! – ele parou de gritar surpreso.

- Você sabia não é meu amigo?

Silêncio do outro lado.

- Ei bolinha de pêlo? Perdeu a voz? – ela brincou.

- Sinto muito não estar aí. – ele falou finalmente. – Eu queria, mas tem uma coisa importante que ... – ele parou de falar meio constrangido.

Sakura quase caiu na risada.

- Sei, uma coisa mais importante. O que seria? Um campeonato de vídeo game via Internet?

- Eu disse para aquele ex-mago não contar nada para você. Eu queria ir, mesmo. Mas eu tinha que defender meu título. Afinal, você sabe Sakura, eu sou tri-campeão invicto nos últimos três anos do Clube FIG. – Kero estufou o peito do outro lado do mundo, Sakura até podia ver a pequena figura.

- Fanático Intrometido por Games? – ela arriscou.

- Federado Internet Games. - ele gritou possesso do outro lado.

- Nossa que nome pomposo Kero. – ela falou segurando a risada.

- Você deu um nome prá ela? – ele perguntou mudando de assunto, já que ficava meio constrangido de não estar com a Mestra numa hora tão importante para ela.

- Ainda não, mas tenho um comunicado importante para fazer ao pessoal. Você gostaria de ouvir? – ela perguntou a ele.

- Ficaria honrado. – ele respondeu com sotaque meio britânico aos ouvidos de Sakura.

Ela estendeu o celular a Eriol que o segurou para que o pequeno ser do outro lado ouvisse suas palavras.

Encarou Ryu que retribuiu seu olhar. Os dois, depois desse dia, tinham entrelaçado ainda mais os laços que os uniam.

- Vem cá Ryu. – ela chamou o garoto que se aproximou devagar.

A porta abriu-se de novo trazendo Yelan e filhas, juntamente com Mey Lin.

- Eriol, me faz um favor? – Sakura pediu. – Traga o Touya. Ele deve estar em transe vendo a sobrinha.

- Claro Sakura. Na verdade acho que ele não quer aparecer para não ouvir as chacotas. – ele disse sagaz, dando o telefone à Tomoyo que começou a bater papo com Kero comentando como a filha de Sakura era linda.

- Com certeza. – ela concordou. Cuidaria do irmão depois. – Tenho uma coisa para dizer a todos. Vamos esperar o Touya. E Kat. Você também fica. – a jovem ia se retirar ao ver a família reunida, mas foi impedida por Sakura.

Touya e Eriol entraram no quarto que já estava abarrotado de gente.

- Ela é linda não é? – Sakura não conseguiu se conter.

- Sim. Eu disse que seria uma menina. – ele falou para espanto de todos, que caíram na risada.

Sakura balançou a cabeça em descrença, seu irmão era um caso perdido mesmo. Ela olhou todos reunidos no quarto, faltava apenas sua filha, mas logo, logo, a teria em seus braços.

- Quero agradecer por todos vocês estarem aqui. Ainda não sei como a senhora Yelan e papai souberam, mas depois vocês me contam. Hoje foi um dia totalmente atípico não? – ela perguntou encarando o irmão e Katrine abraçados, recebendo um sorriso dos dois. – Além do nascimento da nossa filha. – falou segurando a mão de Syaoran. – Eu recebi outro presente. – completou encarando Ryu. – Tem uma pasta em minha bolsa, Syaoran. Quer pegá-la para mim, e ler seu conteúdo?

Syaoran pegou a pasta já sabendo do que se tratava, não poderia ser outra coisa senão a adoção de Ryu.

- Você conseguiu. – ele disse sorrindo.

Ela acenou para ele sorrindo.

- Pessoal, quero apresentar a vocês meu filho Ryu.

O garoto sorriu orgulhoso ao ouvir sua mãe de alma e coração chamá-lo de filho.

- Nada me deixa mais feliz do que receber em minha vida, meus filhos no mesmo dia.

Ryu abraçou Sakura, delicadamente.

- Eu te amo. E obrigada pelo que você fez hoje. Foi um verdadeiro herói. – ela sussurrou ao ouvido do garoto, que nesse momento não poderia dizer nada.

- Eu sabia que nessa história toda eu ainda iria ganhar um sobrinho. – Touya disse com a voz cheia de orgulho.

As risadas foram tantas que uma enfermeira teve que colocar todos para fora do quarto.

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Sakura desceu as escadas do sobrado, ao encontro de sua família.

Olhou o pai que sorria orgulhoso. Fitou Touya, a troca de olhar dizendo muito mais do que palavras, nada separaria os dois irmãos, jamais. Encarou Syaoran ao lado de Ryu, eles estavam simplesmente lindos, os dois homens da sua vida.

E sua pequena florzinha, toda vestida de branco, faceira nos braços de Syaoran, ria deliciada para Ryu, que brincava com ela.

- Vamos, pessoal?

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"Baptismus est sacramentum regenerationis per aquam in verbo". - disse o velho Padre derramando água com as mãos em concha na testa de Ryu que inclinado, apoiado por Touya, recebia o batismo, ao lado Kath segurava uma das mãos do garoto como madrinha. - Ryu Kinomoto Li, eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. – Sakura olhou espantada para Syaoran. Não sabia do acréscimo ao sobrenome do filho.

Syaoran deu um sorrisinho maroto, mas não olhou para Sakura.

Touya já abraçava Ryu ao final da cerimônia. O padre ficou de lado, sorrindo ante a família numerosa e barulhenta. Vovô Fujitaka tentou colocar ordem na comoção entregando a neta nos braços de Ryu, que olhou a irmãzinha com carinho. Ergueu os olhos fitando a mãe que lhe sorria. Assim como lhe sorrira na surpresa que lhe fizera. Foram tantas.

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No hospital um dia após o nascimento da filha, Sakura já a segurava nos braços, nesse momento apenas ela, a pequena, Syaoran e Ryu estavam no quarto.

- Ela é tão pequenina. – Ryu disse olhando meio de longe o bebê.

- É sim. Você já foi desse tamanho também. – Sakura disse, mas ao não receber nenhuma resposta, ergueu os olhos para o filho vendo-o de cabeça baixa. – O que foi?

- Nada.

- Fala garoto, não sabe que meu nono sentido é aguçado?

- Eles não chegaram no nono sentido Sakura. – Ryu respondeu meio dando risada.

- Dá um tempinho para o Kurumada. Eles chegam.

Syaoran deu risada da troca de palavras dos dois. Somente Sakura para transformar um papo sério em papo de animês.

- Você acha... – começou Ryu.

- Acho...

- Que minha mãe verdadeira me segurou assim, como você segura o bebê?

Sakura sentiu um aperto no coração. Trocou um olhar com Syaoran que rapidamente pegou o bebê.

- Vem cá pirralho. – ela o chamou.

Ryu aproximou-se da cama da mãe sentando-se. Sakura segurou as mãos dele puxando-o para um abraço apertado, apesar da dor que sentiu. Um incômodo minúsculo perto do amor que sentia pelo filho de seu coração. Em um primeiro momento ele ficou surpreso, mas relaxou nos braços de Sakura.

- Agora você tem uma lembrança da sua mãe te segurando assim como você me viu segurando a sua irmã. – ela falou baixinho para ele. – E quando você precisar de outras memórias é só me pedir. Está bem?

Ryu sentiu um nó na garganta, somente Sakura tinha esse dom de fazê-lo chegar ao ponto das lágrimas, mas não choraria. Resvalou o olhar para Syaoran e o viu olhando estranhamente para cima, quase deu risada agora.

- Tenho uma surpresa para vocês dois. – Sakura falou em tom animado para desanuviar o ambiente.

- Então fala. – Syaoran disse, com voz meio rouca, e recebeu um olhar perscrutador de Sakura, mas ele fez que não percebeu.

- Bom, eu sempre soube que teria uma filha, vocês sabem disso.

Recebeu um aceno de concordância de Ryu e um resmungo de Syaoran.

- Eu tinha pensando um nome, mas nunca cheguei a dizê-lo, nem chamei o bebê por ele. E já que nós agora somos uma família. – ao dizer isso ela semi-cerrou os olhos para Syaoran, que desviou a vista para a filha. – Bom, o fato é que não somos uma família tradicional, mas somos uma família...

- Fala logo Sakura. – Syaoran disse impaciente, mais para que ela parasse de lançar indiretas sobre famílias.

Sakura bufou exasperada. Droga!

- Tá... Ryu, depois de tudo que você fez, que você acha de escolher um nome para a sua irmã?

O garoto olhou espantado para ela, não esperava isso de jeito nenhum. Lançou um olhar a Syaoran que devolveu o olhar com um sorriso de aprovação.

- Eu? Mas e se eu escolher um nome que vocês não gostem?

- Tenho plena confiança em você. – Syaoran disse.

- Eu não teria pedido se não confiasse em você também.

Olhou os pais, meio assustado e fitou a irmãzinha. Ela era tão pequenina, delicada como uma flor... Flor! A filha da Flor. Um sorriso lindo aflorou em seus lábios.

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- Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Hanako Kinomoto Li. – o padre proferiu as palavras enquanto Ryu segurava a irmã nos braços e Emma a pequena mão da priminha. A garotinha estava se sentindo por demais importante ao ser madrinha, juntamente com seu grande herói que ela fitava com adoração.

- A filha da flor. – sussurrou baixinho Ryu para a irmã dando-lhe um beijo na testa, a garotinha ergueu a mão tocando o rosto dele numa leve carícia.

Sakura e Syaoran abraçados olhavam para os dois filhos. Sakura ergueu o olhar para Syaoran, esperando talvez que hoje fosse o grande dia, afinal ele disse que tinha uma surpresa. Syaoran percebeu o olhar da mulher amada, sorriu internamente. Sakura mataria-o antes do final, mas valeria a pena.

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Touya levantou-se olhando a família, sua e do cunhado, além dos primos, em alegre comemoração ao batizado dos seus sobrinhos. Bateu um garfo num copo pedindo a atenção.

Todos os olhares convergiram para ele.

- Bom, vocês sabem que não sou muito de discursar... – foi interrompido por um engasgo, olhou de lado vendo Sakura com um guardanapo na boca tentando esconder o riso. – Minha irmã parece concordar comigo. – disse ao que ela balançou a cabeça em sinal de aquiescência. – Voltando ao que eu estava dizendo... Hoje foi um dia importante, não somente na vida de Ryu e da pequena Hana, como na de minha irmã, Syaoran e porque não dizer, na minha também. Depois de alguns contratempos tumultuados, que todos vocês têm conhecimento. – quando disse isso olhou para Syaoran relembrando o sumiço e aparecimento do cunhado. – Enfim, as coisas parecem entrar num ritmo calmo e tranqüilo, e espero que continuem assim.

- Amém. – Sakura disse baixinho levantando sua taça de água.

- Pelo percurso perdemos alguns amigos. – Touya continuou recebendo um leve aperto na mão de Kath que estava ao seu lado. Sorriu para ela. – Mas também ganhamos novos amigos...

- Que na verdade são mais que amigos. – foi interrompido de novo por Sakura.

- Você quer fazer o discurso? – ele perguntou contrariado.

- Não, você está indo muito bem. Continua.

Fujitaka sorriu da troca de palavras dos filhos. Sempre soubera da ligação dos dois, mais que irmãos de sangue, eram irmãos de alma.

Touya, o protetor de Sakura, sempre vira nela alguém para proteger e guardar, e fizera isso muito bem. Mas a sua pequena flor crescera independente, apesar de cercada de todos os cuidados.

Olhou para a filha vendo uma mulher madura, e com um brilho nos olhos como nunca imaginou que veria de novo. Ao seu lado o culpado. Syaoran! Sempre gostara desse garoto, desde pequeno. Assim que o vira junto da filha pela primeira vez, um sexto sentido avisou-o de que os dois seriam mais que amigos. A mesma impressão tivera Touya, o que valeu algumas cenas de posse, dignas de se ver. A vida dera vários tombos em seus filhos, mas um cuidara do outro com dedicação e amor acima de suas expectativas. Fujitaka enxugou os olhos disfarçadamente.

- Você teria orgulho deles querida. - disse baixinho.

- ... E depois de ban... – um chute por baixo da mesa o fez calar. – Ah sim, bom, hum... – Touya perdera totalmente o rumo do que ia dizer, quase falara dos bandidos e vilões esquecendo que a família não sabia muito bem o que eles faziam.

- E depois de bancar o tolo por diversas vezes, Touya finalmente disse a Kat que a ama. – Sakura concluiu a narrativa do irmão, causando risadas ao redor da mesa. – Você enrola muito Touya.

- E você sempre querendo completar as minhas frases.

- Se eu não fizer isso íamos ficar aqui a tarde toda.

- Você acredita que eles pensam mesmo que não sabemos de seu trabalho secreto? – Yelan sussurrou ao ouvido de Fujitaka.

- Eles são inteligentes o bastante, mas em alguns aspectos, ainda são muito inocentes. – Fuji respondeu com um sorriso ameno.

- Syaoran, você não disse que tinha uma surpresa? – Touya perguntou.

Todos os olhares convergiram para o chinês que deu um sorriso maroto.

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Syaoran embalava a pequena Hana no colo enquanto cantava baixinho para ela dormir, mas não estava dando muito certo, visto que a filha estava de olhos arregalados e balbuciando em sua língua de bebê. Talvez as emoções do dia do batizado tivessem sido muitas para ela. Pensou sorrindo.

- O que foi Hana? Não está gostando do repertório de hoje? – perguntou à filha que sorriu batendo as mãozinhas.

Sakura na porta de seu antigo quarto, fitava pai e filha, apreciando aquele momento família. Família! Pensou, o sorriso sumindo de repente. Quando seriam uma família de papel passado?

- Está franzindo a testa, porquê? – Syaoran perguntou fitando Sakura. – Vai ficar velha antes do tempo. – brincou.

- Provavelmente. – ela concordou imaginando mesmo que estaria velha até que ele a pedisse em casamento. – Syaoran... – ia começar a falar quando Ryu entrou no quarto interrompendo-a.

- Ei pai, quer ajuda para fazer a Hana dormir? – ele perguntou causando espanto, tanto em Syaoran como em Sakura, que esta até esqueceu o que ia dizer. – O que foi? – Ryu olhou-os surpreso ao não receber resposta.

- Você chamou o Syaoran de pai. – Sakura disse já que Syaoran parecia ter perdido a voz.

- Foi?

Syaoran e Sakura acenaram que sim.

- A primeira vez. – Syaoran disse baixinho.

- Você não vai chorar não é? – Sakura brincou para quebrar o clima.

- Cala a boca. – ele respondeu constrangido.

Ele e Sakura tinham conversado sobre isso. Ryu aceitara chamar Sakura de mãe muito rápido, às vezes ele ainda a chamava pelo nome, mas era cada vez mais raro. Fato interessante era não ter feito o mesmo com Syaoran. Combinaram não forçar as coisas, deixá-las acontecer naturalmente, e pelo visto funcionara.

- Não foi de propósito. – Ryu disse cortando a linha de pensamento de Syaoran. – Não ter chamado você de pai antes. – explicou. – E agora veio naturalmente, eu nem havia percebido.

- Isso é ótimo. Sinal de que você me vê realmente como seu pai e não uma imposição.

Ryu sorriu para ele concordando.

- Ótimo, rapazes. Agora tentem fazer a Hana dormir sim? Já passou da hora dela. E a sua também rapazinho. – falou olhando para Ryu.

- Sim senhora.

Syaoran e Ryu sorriram um para o outro. Depois de especularem sobre o que cantariam, no que já estava se tornando uma rotina, decidiram por, A Lenda do grupo Roupa Nova. Syaoran colocou Hana no berço e suavemente começou a cantar. Ryu entrou na segunda estrofe. Logo os dois cantavam juntos. Sakura se segurava para não dar risadas, pois era cômico, os dois cantando, e fazendo gestos, em vez da filha dormir ela ria deliciada das mímicas exageradas. Balançando a cabeça dirigiu-se ao seu quarto. O quarto que dividia com Syaoran, já que ele mudara definitivamente para sua casa, pensou de cenho franzido. No quarto de Hanako, os dois cantores, abraçados balançavam de um lado para o outro, terminaram a música, quase sussurrando-a. Hana bocejou fechando os olhos lentamente. Ryu aproximou-se dando um beijinho na testa da irmã, Syaoran a cobriu e saíram de fininho. - Você acha que ela vai querer ouvir música todas as noites? – Ryu perguntou a Syaoran. - Com certeza. Temos que aumentar nosso repertório. – Syaoran disse encaminhando para o quarto que dividia com Sakura. – Tomara que ela não comece a curtir rap. – ainda disse a Ryu que entrou em seu quarto, dando risada da cara de sofredor do pai.

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Sakura andava em seu quarto de um lado para outro. Uma pulseira. A surpresa no final do almoço do batizado das crianças havia sido uma pulseira. Tá, era linda, com uma flor de cerejeira, inclusive a mesma flor que havia no anel que Syaoran lhe dera há tantos anos atrás, e um lobo de pingentes. Mas uma pulseira. Pensou irritada jogando os braços para cima.

- Eu queria é um anel. – resmungou. - Idiota! É isso que eu sou, uma idiota, por ainda esperar um pedido de casamento. – Sakura andava e falava em voz alta ao mesmo tempo. – Tá bom. Eu sei que a culpa é minha, por ter enrolado tanto no início, mas já paguei não é? – perguntou a si mesma olhando no espelho. – O que ele está esperando? A não ser que tenha desistido. Ah meu Deus, ele desistiu. A vida tá boa do jeito que está. Ele está comendo da maçã de graça mesmo... ahhhhh! – Sakura exasperou-se passando as mãos nos cabelos, irritada. – Mas o que estou dizendo? Que maçã? Estou ficando maluca, isso sim. E a culpa é dele.

Syaoran do lado de fora do quarto, quase deixou cair por terra seus planos. Ao ouvir Sakura já ia entrar no quarto, se colocar de joelhos e pedi-la em casamento, mas antes que pudesse abrir a porta, a mulher da sua vida a abriu os dois dando um encontrão. Syaoran segurou-a pelos braços para que não caísse.

- Ei, aonde vai com tanta pressa?

- Syaoran... Cuida das crianças. Eu vou sair. – disse já seguindo para as escadas.

- Sair? A essa hora? – ele perguntou seguindo-a.

- É. Preciso de uma pausa. Ficar sozinha. Pensar em algumas coisas. – ela falava sem parar de andar.

- Não pode pensar aqui em casa? – ele perguntou indo atrás.

- Não. – ela respondeu sem se virar já passando pela porta. – Peguei as chaves de seu carro. – falou balançando-as acima da cabeça.

- Sakura! – ele a chamou. – Preciso me preocupar?

- Talvez. - foi a resposta seca antes de bater a porta do carro com toda força.

O pequeno carro esporte saiu a toda velocidade, deixando à porta do sobrado um Syaoran, para espanto, sorridente. Pegou o celular discando rapidamente.

- Alô!

- Pode vir tomar conta das crianças? – Syaoran pediu sem ao menos se identificar.

- É hoje? – Touya perguntou ficando alerta.

- Espero que sim. – Syaoran disse desligando. Tinha que chegar primeiro que Sakura ao lugar que ela fora. Tinha certeza de onde era.

- Vamos Kat. Tomar conta de nossos sobrinhos. – Touya disse já puxando-a pela mão do sofá, onde os dois namoravam há poucos segundos atrás.

- O que Syaoran está aprontando? – ela perguntou curiosa.

- Segredo. – ele disse altivo.

- Você não sabe. – ela falou depois de olhá-lo por alguns segundos.

- Não tenho a mínima idéia. – ele confessou, suspirando alto. – Mas não vou ficar de fora.

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Sakura entrou no elevador e foi diretamente ao topo da Torre de Tóquio. Dirigira por algumas horas e acabara parando ali, sempre voltava, parecia que um imã a atraía para a Torre. Apesar dos vários acontecimentos que ali ocorreram, o lugar lhe trazia uma estranha paz, e era paz que ela precisava naquele exato momento. Paz para pensar em tudo o que estava acontecendo. Ou melhor, no que não estava acontecendo.

Syaoran dizia que a amava, mas estava demorando séculos para pedi-la em casamento de novo. Oito meses. Sua filha já completaria um ano e nada de pedido de casamento.

Seu coração disparava quando o via se aproximar, uma estranha falta de ar ocorria quando ele sorria, ele tinha um sorriso tão lindo. Reações essas que talvez nunca passassem. Já não tinha mais medos, sabia o que queria. Queria Syaoran em sua vida de papel passado, não apenas ficando juntos. Amava aquele homem. E tinha certeza de que seu amor era correspondido.

- Então porque a demora? – gritou para a noite.

Parou próxima ao vidro olhando a noite de Tóquio. As luzes da cidade dessa altura eram lindas. Encostou a testa no vidro frio. Teria coragem de tomar uma atitude? Pois se não fizesse nada, ficaria solteira pelo resto da vida. Com um amante. Deu um murro no vidro.

- Idiota. – esbravejou agora se referindo a Syaoran.

- Sakura?

Ela se virou de repente, assustada. Não tinha ouvido-o se aproximar.

- O que você está fazendo aqui? – perguntou surpresa. – E as crianças?

- Touya está com elas.

Por que ele a seguira? Não dissera que queria ficar sozinha? Pensou irritada.

- O que você quer, Syaoran? – ela perguntou, não muito simpática.

- Sakura. Eu sinto muito se você não gostou da surpresa.

- Eu gostei. – ela falou seca. E não completou o pensamento dizendo que esperava outra coisa. Nem precisou.

Syaoran aproximou-se.

- Sabe, depois da minha volta, quando estávamos na primeira missão juntos, eu percebi como você mudou. Você disse que nós não nos conhecíamos mais, e eu percebi que você estava com a razão. A melhor coisa que você fez foi ter recusado meu pedido de casamento.

Ela o olhou surpresa com aquilo. O que fizera? Perdera a chance de se casar com Syaoran. Sakura abaixou a cabeça totalmente desolada. A irritação de segundos atrás indo embora.

- Acredito que no decorrer dos meses em que você estava esperando a Hanako, nós convivemos de uma maneira como nunca antes não é?

Sakura acenou que sim com a cabeça ainda abaixada. Syaoran apenas sorriu.

- Eu aprendi a conhecer uma mulher, forte, determinada, corajosa e independente. Vi uma Sakura carinhosa e que sabe dizer as palavras exatas nas horas certas. Vi a mãe dos meus filhos amando-os sem distinção.

Sakura ergueu a cabeça surpresa pelas palavras de Syaoran.

- Eu... – ela ia começar.

- Não. – Syaoran falou colocando dois dedos sobre os lábios dela. – É minha vez de falar. – acariciou levemente o lábio inferior dela, deslizando a mão para o pescoço puxando-a para perto dele. – A Sakura que aprendi a conhecer nesses últimos meses é muito mais do que eu esperei ter em minha vida. É a mulher perfeita. Gentil e doce, ao mesmo tempo em que se irrita, e é até mesmo cruel, quando necessário. Provocante e inocente. Orgulhosa de si e de suas atitudes. Teimosa, mas generosa. Você é uma mulher de muitas facetas, e eu amo isso em você.

Sakura tinha os olhos brilhando suspeitos. O sangue corria rápido nas veias, e o coração batia enlouquecido.

- Eu te amo Sakura. Muito. Mais do que eu poderia imaginar ser possível. Tenho certeza de meus sentimentos. E pela sua felicidade, estou pronto a tudo sacrificar.

Syaoran beijou-a docemente nos lábios, e afastou-se dela seguindo para as janelas. Sakura apenas observou. Surpresa, viu-o pegando sua espada e um de seus ofurôs, e pulou para trás de susto quando ele quebrou uma das janelas com um raio.

- Syaoran! – Sakura chamou assustada. – O que pensa que está fazendo?

Ele olhou-a sorrindo.

- Eu não suportarei uma vida sem você. – ele falou começando a caminhar pela estrutura metálica da Torre. Quando chegou na beira virou-se a olhando nos olhos. - Quer se casar comigo?

E para espanto de Sakura, jogou-se para trás do alto da Torre de Tóquio.

Incapaz de falar, incapaz de mover-se, Sakura perdeu a noção do tempo, enquanto tentava lutar contra o terror que a mantinha ali como uma estátua. Pareciam ter se passado horas, mas foram apenas uma questão de segundos. Com um grito ela pulou atrás de Syaoran.

- Alada. – mais do que rápido, em uma descida vertical rumo ao chão, ela foi atrás dele.

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Os ocupantes de um carro, parados próximos à Torre de Tóquio, observaram a queda de Syaoran, seguida do vôo veloz de Sakura.

- Você viu florzinha? – disse Touya para a sobrinha. - Aquele maluco que pulou primeiro, é o seu papai. E a doida que o seguiu, não pense você que é um anjo, é a sua mamãe.

- Touya, isso é jeito de falar dos próprios pais para a Hanako. – reclamou Katrine sentada no banco de passageiros.

- Oras Kat, a pequenina tem que saber com o que ela vai lidar a partir de agora.

A garotinha ria deliciada nos braços do tio apontando para os pais enquanto batia com uma das mãos no rosto de Touya.

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Faltavam milímetros do chão, quando Sakura segurou Syaoran pela mão, e, incrível, ele a olhava e sorria. Quando pousou suavemente, Sakura fervia de raiva.

- O que deu nessa sua cabeça oca para se jogar lá de cima? - ela gritou, e controlou-se para não dar um soco nele.

- Eu sabia que você não me deixaria morrer.

- E se eu não tivesse trazido as cartas? – ela continuou gritando.

- Eu não tinha pensando nisso. – ele falou sem a menor preocupação com a idéia.

- Seu estúpido. – falou dando-lhe um soco no ombro.

- Consegui te provar uma coisa. – Syaoran disse, um pouco arrogante demais para o gosto dela.

- O quê? – perguntou quase sufocando de tão assustada que ficara.

- Que eu morreria por você, e morreria feliz.

Sakura encarou Syaoran de boca aberta, espantada demais para dizer algo.

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- Vocês acham que ela agora casa? – veio a pergunta meio preocupada do banco de trás do carro.

- Se ela não casar eu não devolvo a Hanako. A lindinha vai ficar com o titio. – Touya falou abraçando a sobrinha.

A pequenina deu risada, e virou-se para trás estendendo os braços para Ryu.

- Acho que ela prefere o irmão. – brincou Kat.

Ryu pegou a irmãzinha no colo, que o enlaçou pelo pescoço, dando um aperto o mais forte que seus bracinhos conseguiam, e encostando a cabeça no ombro do irmão ficou brincando com os cabelos dele.

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- Sakura! – Syaoran exclamou quando ela não disse nada.

Então para completo espanto dele, ela se jogou em seus braços os dois caindo no chão, Sakura por cima.

- Parece que eu ouvi você me pedir em casamento, antes de dar uma de dragão sem asas. – ela falou a boca quase encostando a dele.

- E eu pedi.

- Sei. É pra valer?

- Com certeza.

- Ótimo. Porque dessa vez você não me escapa Syaoran Li.

- Eu não quero escapar. – Syaoran abraçou-a apertado. – Consegui derrubar todas as barreiras Sakura?

- Todas. – ela respondeu enfim dando-lhe um beijo, um que selava o pedido por tanto tempo esperado.

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- Pode deixar Hana. – Ryu falou para a irmã ao ver o beijo apaixonado dos pais. – Quando papai e mamãe começarem a namorar, eu e você sairemos para dar um passeio.

- Não sei se gosto dessa idéia de vê-los namorando. – Touya falou encarando a irmã e o chinês, mas diferente de suas palavras, sua expressão era de alegria, e um sorriso luminoso estampava-se em seus lábios.

Katrine segurou-o pelo rosto dando-lhe um breve beijo.

- Por que isso? – ele perguntou rindo.

- Sakura me inspirou. – Kat respondeu faceira.

- Pelo jeito essa coisa de romance pega. – Ryu resmungou no banco traseiro.

Hanako soltou uma risada gostosa como se concordando com o irmão.

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Syaoran pegou Sakura no colo, os dois olhando-se nos olhos.

- Canta para mim. – ela pediu a ele.

Syaoran sorriu para a amada. Reservara uma canção especial para esse dia. A Força do Amor do seu grupo favorito, Roupa Nova. Sempre quis cantar para ela essa música que falava da superação de todas as barreiras em nome do amor. Os dois eram a prova viva de que o amor, realmente superava todas as barreiras.

FIM

"O Batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra."

N.A.: Oi gente...

Confesso que fiquei enrolando para postar esse capítulo, está pronto a alguns dias, mas eu lia de novo, mudava uma palavra aqui, acrescentava outra ali, e assim fui indo... Mas enfim... Depois de 3 anos e 9 meses chega ao fim a trilogia Sem Barreiras... Caramba, não imaginei que fosse tanto tempo assim, sei que a terceira história foi a mais lenta em atualizações, mas agora está completa... eu sinceramente não sei dizer a sensação depois de conviver com tanto tempo com Sakura e sua turma, mas vamos comentar o último capítulo...

Espero que vocês não tenham se perdido com tantas idas e voltas, me digam se ficou confuso, OK? Eu que não sou partidária dos flashbacks usei e abusei deles nesse capítulo...

A parte do nascimento do bebê, por favor, se errei algo me digam ou relevem, eu não entendo nada de nascimentos e muito menos de bebês, andei pesquisando mas o que achei não foi de muita ajuda.

O Batizado, fiz católico. Sabem, descobri que os japoneses não têm tradição no cristianismo, apesar de gostarem das palavras da Igreja Católica. Então resolvi batizar as crianças na minha fé, se tiver algo errado, também me perdoem, pois faz séculos que não vou a um batizado. A frase em latim, acredito que não se usa, mas achei-a bonita para dar início à cerimônia.

Agora a minha cena preferida, tem uma história toda dela... Essa queda do Syaoran da Torre eu escrevi há anos atrás, para a Fic Egoísta em conjunto com a Pritty, alguns de vocês sabem de quem eu estou falando. Na época eu escrevi duas cenas, essa e uma outra que a Pritty acabou escolhendo, pois achou a queda muito intensa para a história... eheh... Eu como não jogo nada fora, guardei, esperando o dia em que pudesse inserí-la em algum lugar. Quando comecei a escrever Sem Barreiras, já tinha decidido que essa queda entraria no final da terceira história, com algumas alterações, claro, mas na íntegra é a mesma cena. E incrível pessoal, os sentimentos descritos na cena estavam iguaizinhos ao que eu queria fazer. Achei essa coincidência fascinante... ehehehe... Espero que vocês também tenham gostado.

O nome da filha de SeS, eu tinha decidido por um bem no começo da história, mas como nem eu nem minhas pesquisadoras encontramos seu significado eu tive que mudar, e para isso contei com uma ajudinha do Ryu. Acho que tem tudo a ver.

Snif... já estou com saudades. Vocês nem sabem como foi delicioso escrever Sem Barreiras. Eu não esperava tanto, mas devo confessar que estou muito satisfeita com meu trabalho, e também aliviada de vê-lo concluído. A saudade fica, mas haverá outras histórias.

Agradeço de coração a todos os reviews e e-mails, vocês foram muito importantes para essa história, nem têm idéia de quanto. Eu queria agradecer a cada um de vocês em separado, mas saibam que todos, sem exceção, ajudaram um pouquinho a cada capítulo, fosse com comentários, idéias ou elogios. Como eu disse para a Lele, ler um review dava vontade de ir correndo pegar o capítulo. Muito Obrigada!

Agradeço à Patty, infelizmente ela não pode me acompanhar até o final, mas a ajuda dela foi muito importante em todos os momentos.

Agradeço à Marjarie, que continuou me ajudando, lendo dando risada, comentando, me ouvindo, me agüentando...eheh...valeu mana, você me deu muita força nessa última etapa da história. Além de que foi com ela que nos conhecemos, como você bem me lembrou.

Agradeço à Sammy que revisou alguns capítulos para mim, e me deu alguns toques sobre o Ryu. Obrigada filhota.

Agradeço à Carol que andou lendo alguns capítulos e me ajudando só de comentar.

Agradeço à Stella por me ajudar com os últimos capítulos lendo e opinando.

Kath, muito obrigada por me emprestar a sua vida para dar vida à de Katrine. Eu amei escrever sobre ela baseada em você. Obrigada.

Valeu Pritty por ter feito parte da minha vida. Minha mentora.

Lele, Tamires, valeu por vocês comentarem sobre as fics na comunidade de CCS no Orkut, agradeço por mim e pela Kath. Sei que ela diria o mesmo se soubesse. E Lele, muito obrigada pela propaganda que você fez na sua fic, eu não sabia disso, mas agradeço de coração.

Se mais alguém teve a iniciativa da propaganda... Obrigada!

Esqueci alguém? Se esqueci, me lembrem, OK? E conversem comigo, pessoal. Não quer deixar review? Não precisa, manda e-mail, eu gosto de recebê-los também, eu sei ser chata às vezes, mas prometo que no primeiro mail que eu responder vou ser super simpática, então sem medo ou timidez, escrevam..eheheh

A próxima história será Amor Inocente, fic adolescente de CCS que há tempos estava querendo escrever, já tenho alguns capítulos prontos, mas vou escrever mais um pouco. Tá muito fofa, espero que vocês curtam.

Se quiserem continuar lendo algo meu, tenho Destinos Entrelaçados no ar, uma fic de Harry Potter.

Até breve pessoal, fiquem com Deus e obrigada por me acompanharem, por todos esse anos com Sem Barreiras, vocês são demais.

Abraços bem apertados em cada um de vocês.