Capítulo 1  No Caldeirão Furado

Era uma noite chuvosa. O vento fustigava a janela do quarto e fazia a instável estrutura do Caldeirão Furado balançar ameaçadoramente. Mas Tiago Potter não se assustava com isso. Não temia a chuva, ou o que ela poderia causar.

Só tinha em mente que esta seria sua última noite em Londres, antes de embarcar para Hogwarts, rumo ao sétimo ano. Então, levantou-se e, mesmo com aquela chuva feroz, abriu uma fresta da janela e deixou as gotas de chuva baterem contra seu rosto.

Lembrou-se, então, da sua primeira partida de Quadribol. Chovia com a mesma ferocidade e, apesar do alto ruído produzido pela chuva, Tiago se lembrava perfeitamente daquela voz doce que, na época, não significava nada para ele: "Tiago, Tiago, o pomo, lá embaixo, seu mané!". Certo... as palavras não foram algo que possa ser chamado de doce mas, para Tiago, qualquer coisa vinda ou feita por Lílian era boa e valia a pena.

Tiago foi retirado desse raro estado de "transe" com o ruído de passos no corredor. Virou-se para porta e, no mesmo instante, seu colega de quarto, Sirius, entrou no cômodo:

- 'Noite, Pontas! – saudou Sirius.

- Olá Almofadinhas.

Sirius observou Tiago por um tempo. Então, deu uma risadinha e comentou:

- Já vi tudo Pontas...pensando na monitora de novo?

- Ela é mais que uma monitora Sirius - disse Tiago, veemente.

- Ora, ora...eu preciso do meu Pontas de volta! – disse rindo – Não sei se você reparou, mas temos coisas a fazer... – e acenou significativamente para a janela.

Tiago virou-se e olhou pela janela, deparando-se com a Lua. Cheia. Como não a tinha visto antes??

Virou-se para Sirius, com os olhos brilhando e um sorriso estampado no rosto, e perguntou marotamente:

- Que tal um passeio ao luar?

Sirius respondeu com o mesmo sorriso e então, como se fossem um único bruxo, transformaram-se em animais e saíram para rua, sorrateiramente.

Duas horas depois, Tiago e Sirius retornavam ao Caldeirão Furado, ensopados, conversando:

- O nosso Aluado não estava muito bem hoje, não acha Pontas? – comentou Sirius.

- Claro, não é todo dia que Aluado tem que se transformar em Lobisomem dentro de um banheiro, ao invés da casa dos gritos, não é? – riu-se.

- Ora Pontas, não consegui pensar em outro lugar! – retrucou Sirius, meio bravo.

- Então começo a me preocupar com você! Até Rabicho teria uma idéia melhor! – disse, gargalhando.

- Então por que você não...

Ouviram uma movimentação atrás deles e uma voz esganiçada falar, baixinho:

- Falam de mim?

Tiago e Sirius viraram-se de um pulo, com as varinhas em punho. Quando reconheceram quem havia falado com eles, baixaram as varinhas:

- Ah,- disse Sirius, meio desconcertado, reembolsando a varinha – ainda acordado, Pedro?

- Por que vocês estão molhados? – perguntou Pedro, curioso.

- Nós fomos dar um passeio ao luar, se é que me entende – disse Tiago, dando uma piscadela.

Rabicho os olhou desconfiado:

- Sem mim?

- É que... – começou Tiago, virando-se para Sirius desesperado.

- ...pensávamos que você já estava dormindo – concluiu Sirius depressa.

- Agora, se não se importa Rabicho, eu e o Almofadinhas aqui vamos dormir. Sabe como é, dia "cheio" amanhã...

- Ah, certo, certo, acho que eu também vou dormir, hum, um pouco. – e sorriu, meio desconcertado.

Tiago e Sirius deram as costas para o amigo e entraram no quarto, já despindo suas vestes e trocando-as por pijamas secos e confortáveis:

- Não acha que Rabicho, às vezes, nos esconde coisas? – perguntou Tiago, tentando se desvencilhar de um casaco que insistia em ficar grudado no corpo.

- Rabicho? Escondendo coisas? De nós? – respondeu Sirius, rindo.- Só se for algum "amor secreto".

Os dois desataram a rir e, ainda neste estado rumaram cada um para sua cama e escorregaram para baixo dos lençóis.

Passado um tempo de silêncio, Tiago perguntou:

- Como será que farão para levar Remo no Expresso amanhã, do jeito que ele está?

Tiago ouviu o colega se movimentar no outro lado do quarto e resmungar, impaciente:

- Dumbledore dará um jeito. Agora, Pontas, durma. Por que, a não ser que tenha esquecido, o Ranhoso merece uma azaração poderosa, e eu não pretendo errá-la por causa de fraqueza.

- Concordo com você! – apoiou Tiago, meio bravo.- Ora essa! Chamar Lílian de San... ahn, você-sabe-o-quê só por que ela esbarrou nele na plataforma e o fez deixar cair o seu precioso kit de química. Ah, se nós não estivéssemos em solo trouxa, juro que eu teria o feito mostrar suas imundas cuecas novamente.

- Bem, - disse Sirius, com um leve sorriso – eu não tinha pensado em um motivo para azarar Snape, mas agora que você me lembrou desse "incidente", nada mais justo que defender uma garota, principalmente Evans...

- Ok, Sirius, vamos dormir! – interrompeu Tiago, corando levemente.

Com uma risada, Sirius virou-se de costas para Tiago e adormeceu logo. Mas Tiago ainda ficou de olhos abertos, voltados para o teto. E foi assim que, com a figura de Lílian Evans clara em sua mente, Tiago adormeceu.

Capítulo 2  Bombas de Bosta

Sirius, Tiago e Pedro acordaram cedo naquela manhã. Queriam garantir seus lugares no Expresso de Hogwarts.

Rumaram para a estação de King's Cross e, em questão de minutos, já haviam atravessado a parede que levava à plataforma 9 e ¾, e se sentado na cabine de sempre, a última. Lá poderiam fazer o que quisessem, sem incomodar o maquinista.

Como de costume, soltaram algumas bombas de bosta pelo corredor, antes de, finalmente, se trancarem na cabine, como sempre faziam. A partir daí, os Marotos só a abriam ao ver o Carrinho de Doces.

Tiago e Sirius passaram um tempo discutindo novas táticas de Quadribol, enquanto Pedro devorava uma caixinha de Feijõezinhos de Todos os Sabores. De repente, a porta da cabine se escancarou. E, para espanto de Tiago, era Lílian quem estava parada ali, os olhando furiosa:

- Potter, - começou secamente – suponho que você tenha deixado algumas bombas de bosta caírem pelo trem, digamos que, acidentalmente. – acrescentando um tom sarcástico.

- Bem Evans, suponho que sim... – disse Tiago, marotamente – Mas isso é fácil de ser resolvido. Só depende de você... – acrescentou sorrindo.

Uma expressão confusa tomou conta de Lílian.

- É simples: basta você aceitar sair comigo que eu juro que serei capaz de limpar toda essa sujeira. – disse ele, com uma piscadela. – Não importa se será com magia ou não – acrescentou sorrindo.

Lílian inchou de raiva e berrou:

- Potter, você é desprezível!!

E fechou a porta da cabine com ferocidade.

- É, Pontas... – suspirou Sirius – Ela continua a mesma. Seria melhor você mudar sua tática de aproximação...

- Caro Almofadinhas: cheguei a cogitar isso. Mas pense só: quantas garotas já não suspiraram por mim, pelo o que eu sou. Então pensei: "Por que não a Evans?".

Sirius soltou uma gargalhada gostosa e repentina, fazendo Pedro se engasgar com um pedaço de Sapo de Chocolate.

Neste instante, o Expresso de Hogwarts parou. Eles haviam chegado.

Assim que desembarcaram do trem, viram Snape caminhando, solitário, rumo as carruagens.

Com um olhar significativo e um sorriso satisfeito para Sirius, Tiago saiu correndo em direção a Snape e, em segundos, postara-se em frente ao odioso colega. Com um tom sarcástico, Tiago o saudou:

- Boa noite, meu amigo ranhoso...

Tiago ficou sorrindo para Snape, que permaneceu calado.

- Eu disse "boa noite". – repetiu Tiago.

- Saia do meu caminho Potter. – murmurou Snape.

Tiago o olhou com desprezo e, com um breve aceno da varinha, fez com que Snape se curvasse como se tivessem lhe acertado um soco na boca do estômago.

- Ora, Seboso, acho que seus pais não lhe deram educação, apesar de serem "tão respeitados" por terem sangue-puro...

Snape levantou o rosto para Tiago e soltou uma gargalhada longa e fria:

- Potter... me diga que não é isso... você está me azarando para defender aquela sangue-ruim desprezível?

Tiago ficou roxo de raiva. Acenou a varinha contra Snape novamente. Mas desta vez, o bruxo foi empurrado para trás e deu duas cambalhotas no ar antes de cair no chão. Avançou para Snape, a varinha apontada para o peito do bruxo:

- Nunca mais ouse falar de Lílian Evans com essa sua boca imunda na minha frente. – disse ameaçadoramente.

Com um giro rápido, Snape se levantou. Já estava pronto para correr, de costas para Tiago, quando alguém o deteu:

- Tsc, tsc, tsc,tsc... aonde pensa que vai, ranhoso?

Tiago sorriu para Sirius. Levantou sua varinha, Sirius o copiou e as apontaram para Snape.

A alguns metros dali, já dentro de uma carruagem, Lílian virou-se para o lado do clarão. Identificou dois raios azuis apontando para um corpo que flutuava a uns 15 metros do chão. Mesmo não tendo como provar murmurou:

- Isso é coisa do Potter...

Capítulo 3  Pus de Bubotúbera

O café da manhã de Tiago não foi nada agradável. Além de receber sua detenção, como Sirius, por ter azarado Snape, recebeu o novo horário do ano letivo:

- Herbologia? Com a Sonserina? ISSO já é uma detenção! – exclamou Tiago, incrédulo.

- Nada melhor que isso para começar o ano... – comentou Sirius, sarcasticamente.

Ouviram um muxoxo de impaciência e se espantaram ao ver que ele fora produzido por ninguém menos que Lílian.

- O que foi? – perguntou Tiago, rindo.

Mas não obteve resposta. Lílian apertou o passo e saiu direto para os jardins, em direção às estufas.

Tiago levantou-se rapidamente, o que fez Pedro se assustar, derrubando seu suco de abóbora em Sirius. Estava quase na porta que levava aos jardins quando ouviu Sirius o chamar:

- Aonde vai, Pontas? – berrou, limpando o suco de suas vestes.

Tiago virou-se para ele e respondeu, antes de continuar correndo:

- Perguntar se Evans já tem uma dupla para a aula de herbologia. – respondeu, dando uma piscadela e desalinhando ainda mais os cabelos.

Ao chegar às estufas, arfando, Tiago cumprimentou Lílian alegremente:

- 'Dia Lílian!

- 'Dia. – respondeu ela.

- Evans, me diga: você já tem dupla para a aula?

- Tenho.

- Hm... – disse Tiago, meio desconcertado. – E quem é?

- Kelpie. – respondeu ela, prontamente.

- A mesma Kelpie que está na ala hospitalar? – perguntou sorrindo.

- Exatamente. Ela está com uma forte gripe e não pode assistir às aulas. Mas não ache que só por causa disso eu me sentarei com você. – acrescentou rapidamente.

- Sabe, eu não tinha pensado nisso, mas agora que você falou parece uma idéia brilhante! – disse, fingindo inocência. – A minha dupla, Remo, também não veio. Acho que teremos que nos sentar juntos. Até por que, não sei se você percebeu, todos, inclusive a professora, estão olhando para nós, esperando que a gente se sente para a aula poder começar...

Lílian virou-se para turma e, quando viu todos os olhares voltados para ela e Tiago, corou intensamente. Lentamente, sentaram-se em seus lugares e, com muitos olhares ainda voltados para eles, a professora começou a aula.

Foi uma aula desagradável. Os alunos tiveram que espremer pus de bubotúbera, como haviam feito há três anos atrás, em seu quarto ano. E Tiago, como nunca fora habilidoso na matéria, espirrou pus nas vestes de Lílian.

- Tiago, é sério, eu posso fazer isso sozinha. – insistia ela, tentando evitar um Tiago que insistia em ajudá-la a limpar suas vestes.

Tiago congelou.

- Lílian! Lílian Evans! Você me chamou de Tiago?! Eu ouvi direito?! – perguntou ele, espantado.

- Ahn, desculpe... Potter. – disse ela, corando.

- Tudo bem Lílian, eu realmente não me importo. Só não entendo a mudança repentina...

Lílian sorriu para Tiago. Mas de repente, como se tivesse se dado conta do que fizera, amarrou a cara novamente.

Tiago riu. E Lílian o olhou de um jeito de quem pergunta "o que foi?":

- Você é engraçada, sabia? – disse ele, sonhador, enxaguando as mãos.

- E você, senhor Potter, é um irresponsável!

Tiago se sobressaltou. Virou para trás e se espantou ao deparar-se com a professora, que tinha uma cara de poucos amigos:

- O que foi que eu fiz? – perguntou, realmente curioso.

- O que você não fez, melhor dizendo. – disse, com um ar de satisfação. – Onde estão os galões que pedi que enchessem? Sei que você é lerdo, mas acho que não a esse ponto...

Tiago fitou a professora com ódio. Aquela mulher implicava com ele desde que entrara em Hogwarts. Só por que em sua primeira aula Tiago derrubara o vaso da sua planta favorita em cima de um sonserino, Malfoy, integrante da sua mais querida casa.

- Com licença, professora. – Lílian interviu. – Potter espirrou pus em minhas vestes, então tive que vir lavá-las. E para evitar que eu me machucasse, Potter quis me acompanhar.

A professora olhou desconfiada para Potter, depois para Lílian, e de novo para Tiago:

- Senhor Potter... acho que, de agora adiante, será melhor você começar a assistir minhas aulas junto da Srta. Evans. Afinal de contas... – disse ela maliciosamente - não é sempre que sujeitinhos como você encontram defensores. Principalmente, defensoras...

- Com sua licença professora, mas estamos atrasados. – disse Lílian, puxando as costas das vestes de um Tiago enfurecido.

Quando estavam a uma boa distância das estufas, longe do campo de audição da professora, Tiago virou-se para Lílian:

- Por que você não me deixou partir pra cima dela?

- Tiago não seja tolo! Você não precisa de mais detenções. E com certeza a quantidade de pontos que ela tiraria de você seria desastrosa, tendo em vista o ódio que ela tem de você...

- Então você percebe que ela me odeia? – disse ele sorrindo. – E você evitou que eu partisse pra cima dela para me defender? – e segurou a mão dela.

- Fiz isso pela Grifinória.- disse ela, desvencilhando-se. - Você sabe que, como diretora da Sonserina, ela poderia lhe deixar em detenção no dia e na hora da partida contra a Casa dela.

- Pff... como se ela soubesse alguma coisa sobre isso. – retrucou Tiago, mexendo nos cabelos. Lílian soltou um muxoxo.

- O que foi? – perguntou Tiago, rindo.

- Por que você sempre faz isso (e fez uma imitação terrível de Tiago mexendo nos cabelos)?

Tiago começou a rir mais ainda! Caiu de joelhos no chão, e logo estava rolando pelo gramado.

- O que foi? – perguntou Lílian, meio brava.

- A sua imitação foi hilária, me desculpe.- disse levantando-se pesadamente, ainda sorrindo. – Mas por que você quer saber o por que de eu fazer isso? – perguntou marotamente.

- E por que você quer saber o meu por que?

- Interprete como quiser. – disse Tiago, dando uma piscadela.

Lílian corou intensamente e berrou:

- Tiago, será que é impossível ter uma conversa decente com você??

E saiu pisando firme.

Tiago saiu caminhando em direção a Pedro e Sirius, com um sorriso no rosto. Não conseguira acabar com os gritos de Evans, mas pelo menos agora ela substituíra o "Potter" por "Tiago". Ele poderia estar ficando louco, mas tinha a sensação de que, agora, depois de três anos sem obter sucesso, finalmente conseguira amolecer o coração da monitora, mesmo que o sentimento que fora despertado nela fosse um que nem a própria Lílian podia entender...