Aviso: Este capítulo contém insinuações de temas fortes. E aqui reafirmo a segunda parte do aviso do cap. anterior...

-;-;-;-;-;-

Jurava que seu coração parara de bater. Medo, desespero... Surpresa, susto. Humilhação, vergonha. De tão estupefacto que estava, não conseguia nem se movimentar, agir rapidamente para tentar se livrar logo daquela situação. Entretanto, seus olhos cinzas apenas encaravam arregalados os três à sua frente. Que bost...

"Ora, ora... O que temos aqui se não Draco Malfoy?" – a voz grossa soava carregada de escárnio.

Então pareceu finalmente sair de seu transe, levantando-se sofregamente – pois despendera muito energia no seu "ato" anterior – porém o fazendo o mais ágil que conseguiu. Atrapalhadamente, subiu suas calças com velocidade e força, não conseguindo pensar naquele momento sobre a débil posição sua diante deles. Seus dedos trêmulos de nervosismo mal fechavam sua calça negra e, antes mesmo que o conseguisse, a voz fez-se presente mais uma vez, obrigando-o a erguer sua cabeça baixada para arrumar sua calça em sua direção:

"Que patético!" – murmurou com desprezo, recobrando o tom arrogante – "Sabe, não esperava por essa, ver Draco Malfoy clamando por... Por Harry Potter, ora essa!" – sorriu de canto de boca – "Enquanto faz... Uhn, coisas inapropriadas para o local, não?" – zombeteiro, o olhar certeiro, foi se aproximando do menino, que se encostava cada vez mais no tronco de "sua" árvore, as bochechas consideravelmente rubras pela vergonha a que era submetido.

Draco não podia acreditar naquilo! Fôra pego no meio do mato com as calças arriadas, se "aliviando" enquanto chamava por Harry. Não poderia ser mais vergonhoso... O que fazer agora para disfarçar? Se ao menos estivesse com sua varinha, lançaria um tenebroso feitiço para se desfazer logo daqueles inoportunos. Contudo, esta fôra deixada em seu quarto, suposto que ía-se para o baile do Dia das Bruxas que até já deveria ter começado, não precisando, assim, usá-la. Tinha de pensar em algo urgentemente.

"Então quer dizer que o príncipe da Sonserina nutre sentimentos pelo Garoto-de-Ouro da Grinfinória? É, interessante."

Não... Não podia permitir que soubessem. Ninguém deveria saber de seu segredo!

"Nã... Não diga bobagens!" – virou-se para a esquerda, erguendo um braço à frente do rosto – "Claro que não sinto algo pelo testa rachada!"

"Ah, é? Então o que foi isso que acabamos de assistir?" – ergueu uma sobrancelha, incrédulo e desafiador.

Por alguns instantes sentiu as pernas bambearem, o que faria? "Pense, Draco, pense. Você sempre foi bom em obter respostas rápidas. Já sei." Resolveu usar seu tão famoso cinismo:

"Bem, se vocês estavam me espionando, o problema é de vocês. Mas tudo bem, eu sei que sou sexy mesmo e vocês não devem ter resistido ao meu charme."

"É... Tem razão, foi isso mesmo." – sorriu o segundo deles, a expressão marota.

O que? Draco arregalou os olhos, eles estavam falando sério? A princípio jogara a isca somente para provocá-los e, quem sabe, despistá-los do assunto inicial, porém, ao contrário do que esperava, o que dissera não foi mais que se não uma verdade constatada! Não, não podia acreditar em mais essa agora! Sua face estava assustada, os cabelos ainda caíam desgrenhados e o suor escorria em menor quantidade por sua testa, ao passo que as orbes cinzas pregavam-se nos seus executores.

"Parece que se assustou, Draco querido." – sibilou o primeiro, ferino – "Oh, não precisa ficar assim, nós não vamos te maltratar... muito." – sorriu por fim, triunfal e maldoso.

Se antes estava parado, agora o coração de Draco saltou tão forte em seu peito que chegou a doer. Acelerado, batidas frenéticas, nervosas. Era deveras humilhante o que lhe acontecera, mas se eles resolvessem espalhar para toda a escola... Sentiu-se rubro, se isso acontecesse, nunca mais teria coragem de aparecer em público novamente. Porém, a consciência de que ele era Draco Malfoy foi voltando à sua mente espantada e, desse modo, pôde se tranqüilizar e pensar com mais calma. Quem, quem em estado são, teria a ousadia de desafiá-lo? Não, não a ele, o herdeiro dos Malfoy. Portanto, não cairia nos joguetes daqueles três; mesmo que tentassem chantageá-lo, não haveria de surtir efeito, pois tanto ele quanto seu pai eram temidos e respeitados – num misto totalmente conflitante – e ninguém teria capacidade e coragem de desafiá-los.

"Está vermelhinho. Não é tão fofo assim?" – perguntou o terceiro, se achegando perto do menino – "Olhem só que graça!" – elevou sua mão para tocar a face do garoto loiro, mas este deu-lhe um safanão na mão atrevida.

"Afastem-se de mim, seus porcos! Não vou perder meu tempo com vocês." – dizendo isso, virou-se de costas para o trio, tentando ir embora.

Então, o terceiro, que mantinha um sorriso jocoso no rosto, segurou seu pulso e o puxou em sua direção, obrigando-o a ficar de frente para si. Os cinzas brilhavam raivosos, a cara contraída numa expressão de fúria contida. Mas o outro não se deixou abalar com isso, não agora que tinha uma chance grande que talvez nunca mais tivesse de tê-lo em suas mãos... Literalmente.

"Não acha que é um pouco apressadinho demais, não?"

"Soltem-me já, ou senão..."

"Ou se não o que?" – veio o segundo, divertido – "Não pode fazer nada, Draco. Ainda mais desarmado."

O loiro mordeu o lábio inferior, irritado.

"Garanto que se continuarem a me importunar, terão o desprazer de conhecer o poder de minha varinha, quando eu a tomá-la de volta." – ameaçou, rangendo os dentes.

"E enquanto não a tem? Que vai fazer até lá, hein?" – sussurrou o primeiro bem próximo de seu ouvido.

Sentindo asco, o jovem sonserino grunhiu:

"Seus ratos imundos! Não creio que sejam loucos de mexerem comigo, sabem quem eu sou. Sabem de que sou capaz. De que meu pai irá fazer-lhes se... Se não me largarem imediatamente!" – bradou.

"Ahh... De novo o papai, não é? Parece que você sempre corre pra ele... Mas tudo bem, mesmo que isso aconteça... Imagina se, por um acaso, ele não sabe de sua "aventura na floresta", ou melhor, de seu desejo por Potter?"

Os olhos acinzentados petrificaram-se, arregalados. Uma tênue linha de pavor percorrendo-os. O... O que eles queriam dizer com aquilo? Não, não! Não poderia deixar que seu pai soubesse. Caso isso acontecesse... Oh, não, seria desastroso! Não queria nem pensar nas conseqüências!

"Do... Do que vocês estão falando?" – sondou, estreitando o olhar.

O primeiro olhou para os outros e riu asquerosamente, seguido por seus cúmplices. Ao terminar, lançou-lhe um olhar malicioso:

"E você ainda tem alguma dúvida...? Já não está bem óbvio?"

Estreitando ainda mais os olhos, que emitiam pura fúria, resolveu fazer-se de estressado, optando por sair dali antes que algo verdadeiramente sério acontecesse e, assim, não dando-lhes tempo de fazer/falar qualquer coisa que tivessem em mente.

"Não, não é nada óbvio." – dizendo com rispidez, virou-se e apressou-se para longe.

Porém, mal deu cinco passos largos que dois pares de mãos agarram seus braços. Lá estava o terceiro de novo, só que desta vez ligeiramente irritado.

"Quer fazer o favor? Não pense que vai se livrar assim tão fácil!"

"Solte-me já!" – e, mexendo-se bruscamente, soltou-se dele – "Não me amolem, não tenho tempo a perder com escórias feito vocês."

Boa, agora assim estava agindo como normalmente.

"Olha aqui, moleque!" – o segundo o tomou pelo braço, bradando – "Já cansei de você! Por todo lugar que vai é assim, você se acha, não? Pois bem, agora vamos dar motivos para não ser mais tão orgulhoso assim."

"Ahahaha! Nervosinho como sempre, Nathan." – o primeiro riu, se aproximando.

Draco sentiu este também segurar seu braço, o esquerdo, não gostando nem um pouco daquilo. Primeiro porque aqueles toques o estavam enojando e, segundo... Porque estava assustado, muito assustado.

"Conheço vocês, são Nathan Almong, Yerd Le Tröy e Aman Rimbard, do último ano da Sonserina. Se não pararem com isso agora, estarão todos ferrados." – ameaçou, entredentes.

"Tsc, é, você está certo, somos nós mesmo." – Aman, o primeiro, sorriu safado, deslizando uma mão pelo pescoço de Malfoy – "Entretanto... O que você poderia fazer agora? Afinal, estamos praticamente isolados de todos aqui na mata e você está sem a sua varinha..."

Podia-se dizer que as orbes do menino loiro faiscavam diante da subjugação, de puro ódio.

"Tentem qualquer coisa e serão expulsos da escola. Isso, claro, seria só o princípio... Sabe, não creio que algo assim sairia tão barato..." – desejou que o largassem, que o deixassem em paz, mas ainda mantinha o tom arrogante e superior, pois pensava que esta seria o suficiente para convencê-los de que apenas teriam problemas, caso tentassem algo – "E tratem de tirar essas mãos asquerosas de mim!" – rangeu.

"Hun, é, podia até me amedrontar com essa hipótese, mas... Que fariam se soubessem de toda a verdade, hein?" – riu o terceiro, Yerd, malicioso no final – "Quero dizer, será que seu pai ainda o defenderia se soubesse sobre... Sobre seus sentimentos por Potter?"

Torceu a cara em desgosto.

"Ora, não seja idiota! Meu pai jamais acreditaria em vocês!"

"É... Pode ser. Mas se de repente ele resolve colocar-lhe sobre algum feitiço, não sei... Quem sabe algo para ver-lhe as memórias... Rá, seria bem interessante se ele visse o que nós vimos, ou quem sabe até mais... Vai se saber quantas vezes você fez isso ou algo 'pior'!" – tornou Aman.

Paralisado, Draco congelou-se ao pensar em tal hipótese. Se isso se concretizasse, poderia considerar como sendo o seu fim! Em todos os sentidos, muito provavelmente. Seus olhos estavam arregalados, talvez não existisse comparação que fizesse jus ao pavor que neles era expresso. Não... Não... Não... repetia-se mentalmente, mesmo que não soubesse bem ao que se referia negando tão veementemente – apenas sua mente desesperada, frustrada e surpresa fazia com este fosse seu único pensamento.

"Heh, então, parece que acertamos em cheio o Príncipe. E agora, o que fará?" – Aman tornou, deslizando um dedo por sua face macia e agora descorada pelo medo.

"Nã... Nã... Não!" – gritou, soltando-se bruscamente.

Porém, Nathan o puxou para si de forma violenta, fazendo com que Draco se chocasse contra seu peito. Segurou-o pelo pulso com força, de forma a marcar a pele alva do garoto loiro em tons de vermelho. Já estava sem paciência, Draco parecia dar voltas e mais voltas e ele queria alívio já!

"Calado!" – disse, agressivo, quase roçando seu rosto com o dele – "Você acha que tem como fugir de nós? Acho que você já percebeu que não, então, para que tentar?"

Escutava tudo com um desespero crescente que chegava a doer-lhe no estômago. Não podia raciocinar direito ainda, mas sabia no fundo de si que não teria escapatória – embora tentasse negar com todas as forças tão nefasto pensamento. Quando falou, sua boca rosada estava trêmula e as palavras saíram baixas – o máximo de volume que foi capaz de produzir – hesitantes.

"O... O que vocês querem de mim?"

O rosto de Aman iluminou-se, luxúria e desejo estampando seu largo sorriso e o brilho em seu olhar:

"Você." – sua voz grossa encheu a floresta.

As orbes acinzentadas arregalaram-se mais ainda – se é que isso fosse possível – sentindo o coração disparar com tamanha velocidade que eliminou suas forças, caindo sentado no chão.

-;-;-

Seus passos lentos moviam-se para o salão de festas, enquanto uma bufada de irritação escapava de sua boca avermelhada. As mãos espalmaram-se nas grandes portas de madeira detalhada, empurrando-as para frente. Sua presença não foi a mais notada enquanto adentrava o recinto, exceto por Rony e Hermione que avistaram sua abatida figura desvencilhando-se das mesas e pessoas em seu caminho.

"Harry!" – disse Hermione, quando enfim este chegou à mesa deles – "Finalmente! O baile já começou."

"Pensamos que você estava com problemas, por ter demorado." – Rony continuou, a face desanuviando-se da leve preocupação que o percorrera até agora há pouco.

"Eu sei... Hmpf, perdão!" – falou de forma abatida e cansada, jogando-se na cadeira ao lado da amiga.

"Que foi, Harry? Está tudo bem?" – perguntou a bruxinha, notando o brilho triste nas orbes verdes do menino.

"Hã, não foi nada, Mione. Só estou um pouco cansado." – inventou, não querendo preocupá-la e muito menos ter de contar o que lhe havia ocorrido.

"Tem certeza?"

"Claro." – tentou sorrir, amarelo.

Ela ainda o fitou por mais um tempo, sabia que algo o abalava, mas se Harry preferia manter segredo, o respeitaria. Por fim, desviou os olhos dele, girando-os para alguns casais que rodopiavam no centro do salão. Imediatamente sua expressão tornou-se meiga e sonhadora; queria estar ali também, dançando uma melodia lenta coladinha ao seu par. Talvez conseguisse realizar essa vontade naquela noite, só precisava que Rony tomasse coragem e... E a convidasse para bailar – embora desejasse muito mais do que apenas isso do garoto ruivo, pelo qual estava realmente apaixonada. Então um rubor cobriu-lhe as bochechas e, sem que pudesse se conter, mirou Rony diretamente. Ao perceber-se olhado daquele jeito, o ruivinho engoliu em seco, totalmente sem jeito, o que fez olhar rapidamente para o primeiro lugar que encontrou: ou seja, a toalha branca de mesa, traçando círculos imaginários sobre esta. Por que Hermione tinha de olhá-lo daquela forma? Assim perdia toda a coragem que vinha reunindo para pedir-lhe uma dança. Notando o que fazia, a menina também abaixou a visão, constrangida.

Alheio às atitudes dos amigos, Harry estava perdido em pensamentos, estava a ponto de apoiar um cotovelo sobre a mesa e deitar a cabeça lá. Mas não o fazia, pois sabia que, além de ser falta de educação, estaria dando motivo aos outros dois para interrogá-lo com perguntas como "o que houve?", "você está bem?"; e isso era o que menos queria no momento. Na verdade, o que queria era enfiar-se na sua cama e não sair de lá por um bom tempo. Para começar, tinha recebido aquela maldita carta que o fizera ficar plantado ao lado do relógio à toa, posto que quem quer que a tivesse escrito não compareceu ao encontro. Mas o pior e mais doloroso definitivamente foi ter se iludido com Draco. Ao vê-lo ali, não conseguiu evitar uma esperança de que seu admirador apaixonado fosse ele e, no entanto, isto só o fizera sofrer em dobro, pois tinha, mais uma vez, constatado que jamais poderia tê-lo para si. Estava realmente arrasado e a dor era tão latente e angustiante! O evento que acontecera o abalara e muito, pois nunca tinha sentido seus sentimentos partidos tão doloridos quanto agora. Era... Insuportável! Difícil de agüentar, tão difícil aquela dor que o dilacerava.

Desanimado, soltou uma bufada que passou desapercebida pelos dois envergonhados ao seu lado. Sua noite estava tornando-se sufocante, como se mãos fortes o apertassem pela garganta e ele já não pudesse mais respirar em paz, muito menos sorrir. A música instrumental que tomava conta do salão aturdia-lhe os sentidos, aumentando sua dor interna, ao passo que as danças sincronizadas, os rodopios dos dançantes, lhe causavam uma tontura que o asfixiava. Sentia-se como se ele fosse um estômago enjoado que fica revirando e revirando, tentando de todas as formas resistir às náuseas torturantes e, assim, impedir-se de vomitar. Mas o pior era que aquele baile estava longe de terminar, prolongando seu dia infernal.

-;-;-

Arregalou os olhos, sem conseguir se mexer. Aquelas mãos imundas avançavam em sua direção, tocando-lhe a gola da camisa, enfiando-se por debaixo dela, enquanto um sorriso lascivo adornava os lábios de Aman. Tentou mover-se, escapar de seus toques, mas já sabia que não conseguia, não com aqueles outros dois a segurar-lhe pelo quadril. Desesperado, sentiu-se ser desnudo de forma rápida e violenta, embora suas roupas permanecessem intactas, posto que não foram rasgadas pelo seu agressor.

Sua boca abriu-se num "o" perfeito, porém mudo. O coração batia tão forte em seu peito que lhe causava dores fortes. Aqueles porcos imundos o tocavam sem pudores, "descobrindo" como era aquele corpo branco do menino. Em sua cabeça, só conseguia pensar em escapar, em sumir e, mesmo tendo confirmado que não o conseguiria, seria impossível impedir-lhe de almejar tal feito. Precisava se iludir com a falsa possibilidade de fuga.

No mesmo instante, Nathan partiu para beijar-lhe o pescoço pela lateral direita, a qual ainda estava livre dos outros dois. Sem pensar sequer uma vez, Draco tascou-lhe os dentes na bochecha, chegando a arrancar uma mínima quantidade de sangue. Ao sentir o ardido seguido de um fluído quente tomando-lhe parte do rosto, Nathan levou as mãos ao local ferido, entendendo o que acontecera, uma vez que, de primeira, atordoara-se com a dor física súbita e nem tentara imaginar a razão da tal. Mas agora que a sabia, ergueu os olhos, irritado, para o menino, que tinha um fio de sangue escorrendo pelo canto de sua boca. Estes, estavam tão ferozes que, só de observá-los, Draco já podia sentir seu medo dobrar.

Irado com a ousadia do outro, Nathan pulou sobre ele, agarrando seu pescoço. O loiro não sabia o que fazer e fez a única coisa que pôde, gritar.

"Ahh! Socor..."

Todavia, o grito de ajuda morreu antes de terminar-se, pois a pressão em sua garganta foi alta o suficiente para fazê-lo perder a voz. As mãos grandes do mais velho lhe feriam a carne, dificultando-lhe a respiração e até mesmo o simples ato de engolir sua saliva. Já estava começando a sentir-se afogado, a face ficando arroxeada e os olhos quase lacrimejando quando Aman pôs as mãos sobre os pulsos do colega, tirando-os do pescoço de Malfoy. Nathan ainda possuía a expressão assassina, mas isto não foi o suficiente para impedir Draco de, num pulo, reunindo todas as suas energias – movido pelo puro instinto de sobrevivência – pôr-se em pé e tentar correr para longe. Mas mais uma vez foi impedido. Yerd o segurou pela canela, puxando-o para baixo; enquanto isso acontecia, Draco tornou a gritar, vendo aí sua única salvação.

Com um baque surdo, caiu no chão, machucando todos os ossos da parte frontal de seu corpo e trocando impensadamente seu grito por um audível "ouch" de dor. Aman, largando o amigo, apressou-se a ele e, sendo ajudado por Yerd, que o segurava contra si – usando de toda sua força, na verdade, pois Draco se debatia como um louco tentando escapar de sua camisa de força ou um animal enjaulado cansado de sua clausura – tapou a boca do garoto, apertando sua nuca para manter sua cabeça loira parada.

"Que pensas que está fazendo?" – elevou sua voz pela primeira vez, exasperado – "Não vê que, se gritar ou tentar fugir, todos saberão de seu amor por Potter? Nós não vamos te deixar escapar, não adiante tentar; aliás, seria menos doloroso para você se nem o tentasse!"

Piscou seguidas vezes, a cara meio abobalhada. Então era isso? Teria de agüentar calado? Finalmente conseguia compreender tudo o que acontecia e a angustiante realidade que o cercava. Agora que a verdade lhe fôra jogada na cara sem rodeios e suavidades, agora que tomava real noção das circunstâncias, nunca pareceu-lhe, em toda sua vida, ter se ferido tanto, ter sentido tanto pavor. Com os olhos arregalados, começou a tremer, um suor frio escorrendo pela sua testa, pela face a qual tinha-lhe fugido toda a cor.

O mundo à sua volta era rodeado por vozes e imagens que, sinceramente, sua mente desesperada não codificava por inteiro. Podia ouvir tudo, ver e sentir tudo, mas, fechado em um mundinho imaginário onde mal algum o alcançaria, tudo não lhe passava de acontecimentos e sentimentos distorcidos, imagens perdidas no espaço e tempo malucos que piedosamente o impediam de percebê-los. Como se o mundo à sua volta continuasse girando e ele permanecesse parado, apenas notando suas voltas sem, nem ao menos, sentir-se girar junto.

Com pressa, foi jogado no chão, um par de pernas enroscando-se à sua cintura enquanto seu dono sentava-se em seu fino quadril.

-;-;-

Os rompantes violentos da melodia pesada embalavam os casais que apressavam seus movimentos, ao compasso das notas musicais. A bela música clássica, regada majestosamente de imponência e vigor, preenchia todos os cantos daquele salão, onde, pelo menos uma vez durante o ano, os alunos da escola podiam ser livres o suficiente para se divertirem.

Porém, o som envolvia Harry mais e mais, levando-o para um mundo de caos e precipícios, os quais surgiam calmamente abaixo de seus pés. Toda a estranha dor que sentira naquele dia entediante torturando-o como nunca agora, era como se as imagens e sons só piorassem seu estado depressivo. Por que tudo tinha de ser assim? Por que tivera de se apaixonar e, o mais trágico, por que estava fadado a não poder vivenciar esse amor?

Afundou a cara nas mãos, poderia fazer isso livremente agora que Ron e Hermione tinham ido dançar, juntar-se àquela massa de corpos que se agitavam, felizes. Como queria poder estar se divertindo também, como os amigos! Mas, não, por culpa daquela carta, estava ele ali, mal-humorado e melancólico, sozinho numa mesa vazia! Ah, como odiava ter recebido aquela carta que deixou seu dia infeliz!

-;-;-

Os olhos cinzas arregalaram-se subitamente mais uma vez, contudo, nenhum barulho era emitido por sua boca rosada e seca. Permaneceram arregalados por alguns minutos mais, sentia a dor dentro de si aumentar. O corpo maior sobre o seu o friccionava contra o chão da floresta, esfolando progressivamente sua pele macia, ao passo que, qual deles fosse que o possuía, já começava a sentir prazer, soltando fracos gemidos. Arregaladas as orbes, um brilho de puro medo e desespero era expresso, sendo a única marca visível de que ainda estava consciente, posto que a expressão do resto de seu rosto estava congelada, normal. Como se estivesse preso dentro de seu próprio consciente e seus olhos fossem a pequena janela de sua cela, permitindo que pudesse ser visto todo o desespero, a loucura e o pavor que se passavam dentro de si.

-;-;-

Os olhos cor de mel brilharam de emoção e um enorme sorriso fez-se presente no rosto da pequena menina da Lufa-Lufa, após ter aceitado dançar com ela. "Qual é o problema, afinal?", perguntou-se Harry em pensamentos. Pois, estava solitário, deprimido e não sabia mais o que fazer para aquela noite acabar logo, em vez de ficar se arrastando interminavelmente, como estava até agora aos seus olhos. Talvez, se tentasse se distrair um pouco, quem sabe, bem lá no fundinho, não conseguisse se esquecer da sua atual tristeza, da irritação, um poquinho que fosse?

-;-;-

Um urro alto, forte, de prazer. Agora os olhos cinzentos, embaçados, permaneciam constantemente arregalados.

-;-;-

Em pouco tempo já estavam a rodopiar pelo salão, como outro par qualquer. A diferença era que, mesmo tentando manter um sorriso de contentamento no rosto, ele ainda continuava com o coração dolorido. Para a esquerda, uma volta, direita. Seguindo o compasso, uma seqüência de músicas clássicas duras e enérgicas obrigavam a todos moverem-se como se estivessem pisando em cobras e precisassem se mover rapidamente para evitar serem picados. O som alto, que dificultava as conversas alheias, sufocava, alienava, espremia-se por todos os cantos, em todos os ouvidos.

-;-;-

Seu corpo, desprovido de movimentos por conta próprio, era forçado a pular para cima, voltando a cair no chão e, novamente, saltitar para cima. As orbes acinzentadas apenas acompanhando, assustadas, esbugalhadas. O outro corpo forçando-se contra o seu, a escuridão da noite varrendo cada pedacinho daquela floresta, cobrindo seus olhos cinzas assustados com seu manto sombrio e desprovido de proteção ou qualquer alívio para uma alma sofrida.

-;-;-

Esquerda, esquerda, para frente, para trás, direita, direita. Outra volta, mais um rodopio, para lá e para cá novamente e de novo e de novo. Rápido, com força! Gire, gire, gire! Com força, mas sem perder a graciosidade! Para a direita.

"Como isso dói! Como dói... Como estou ruim!", para frente, "Não quero mais, não quero! Como dói..." esquerda, rodopie; "Por que tem de ser assim? Por que?", para trás, "Por que...?"

-;-;-

Caindo sobre a terra onde estivera por tanto tempo, seu corpo permanecia imóvel.

"Já sabe o que acontece se nos dedurar!" – a voz, um tanto quanto afastada, foi ouvida e, logo após, passos quebrando o silêncio noturno, ao pisarem sobre folhas secas, causando suaves estalidos.

As orbes cinzas fixavam-se num ponto qualquer em uma árvore à sua frente, muito embora seus pensamentos estivessem muito longe dali. Então, com o fim de sua última lamúria, as orbes fecharam-se quietamente e, acomodando-se, a leva de cansaço o consumiu, embalando seu sono que ía, inconscientemente, para longe dali, para um lugar distante e bom.

-;-;-

Enquanto isso, a música continuava a embalar os pares no salão, ainda que muitos tivessem deixado a pista para desfrutarem do refinado jantar que começara a ser servido. E Harry comia, calado, o semblante de quem não está com corpo e mente no mesmo local. "Só sei que dói tanto..."

-;-;-

Do lado de fora, a luz branca da Lua iluminava palidamente aquele grande salão, banhando gentilmente a face do menino de olhos verdes tão perdidos. E, numa floresta não tão distante assim do lugar, um outro menino repousava sobre o mato, sonolento e com uma respiração agora calma e tranqüila, posto que, de tão cansado, não sobrava-lhe tempo para ter pesadelos.

-;-;-;-;-;-

FIM!

-;-;-;-;-;-

(1) Sei que muita gente tinha seus palpites sobre quem eram esses três, mas, não, eles não eram personagens reais do livro. Ou seja, inventei mais essa... (Nossa, a fic foi toda inventada! O-o) Mas, antes eu iria fazer outra coisa, como disse no cap. passado e, ao ver que não daria certo, tentei emendar de outro jeito. Pois é, eu precisava de personagens que não se importariam em fazer maldades e, a princípio, duvidei muito que aqueles lá do grupinho do Malfoy tivessem coragem para tal, então, como me lembrava de ter lido ou visto em algum lugar que os sonserinos eram meio calhordas e essas coisas, acabei inventando três sonserinos para realizarem a coisa! n-n Mas acho que eles foram muito odiados, não?

(2) Caso alguém não tenha entendido --', este capítulo alterna cenas do Draco com do Harry, sempre nessa ordem. Draco foi estuprado enquanto Harry dançava no salão, sendo que, a parte em que diz: "Esquerda, esquerda, para frente, para trás, direita, direita (...) Como isso dói! Como dói... Como estou ruim!" é uma cena do Harry. E, ainda mais, para os desavisados, o Draco não morreu, só tá nanano, afinal, neh, depois do que ele passou ele devia tar super cansado/o/ Então, não, ele não morreu.

(3) Sei que falei muito sobre "olhos", principalmente sobre os cinzas de Malfoy. Mas isso era necessário pois eles davam maior noção de o quê personagem sentia, e ainda mais para o que se passava com Draco, já que ele estava tão chocado e alienado que os olhos eram o único elo que o ligavam à realidade. Entenderam? Õ-o

(4) Eu imaginei fisicamente o Draco, na hora em que ele era estuprado, mais ou menos igual a um fanart que eu peguei na net super fofinho que tá ele e o Harry conversando (e que eu chamei carinhosamente de "discutindo a relação"). Caso alguém queira para saber como é que é, é só me falar que eu mando.

Novamente demorei para atualizar, mas desta vez foi por razões de forças maiores u-u. Sério, tive alguns probleminhas e, bem, demorei-me. Mas cá está o último cap./o/ Espero não ter decepcionado ninguém. Queria agradecer os reviews que chegaram sem o e-mail de quem os mandou, para eu poder respondê-los pessoalmente. Então, obrigada a vocês! n-n E obrigada também a todo mundo que leu e que comentou a fic, me incentivando e ajudando! Thanks!

Eu já ía agradecer em especial a minha querida amiguxa FenixFawkes, por ela ter me mimado tanto em relação a essa fic e ter me dado mais segurança para escrevê-la. Mas, depois de ter lido seu agradecimento na sua nova fic (a propósito, leiam a nova fanfic dela "Always", que é HxD e é super! "boas amigas fazem merchan n-n"), eu fiquei completamente sem palavras! n-n Entaum, acho que agora será um super-ultra-agradecimento-especial pra você! Hehe, brigada mesmo, uma das coisas que me impulsionou a escrever já este capítulo, em vez de esperar a poeira baixar (me referindo aos meus problemas), foi saber que você o leria! Obrigada!

Ah, só para comentar, acho que já descobri meu estilo de fics HxD preferido! São: angsts e, de preferência, sem finais felizes!XD Já até tenho outra história nesse estilo só que com final feliz na cabeça, só falta criar vontade de escrevê-la...

Please, comentário são bem-vindos! n-n

Até uma próxima!

(este cap. começou a ser escrito em: não sei precisar o dia, mas foi ali pela metade de janeiro)

(após ser interrompido, terminou de ser digitado em:)

27/02/06

See ya!