CHAPTER 9
Dante lia a carta silenciosamente. Depois de tirá-la das mãos de um Kid extremamente afobado os olhos amarelos do navegador perpassavam pelas palavras escritas no papel sem dizer palavra alguma, suas sobrancelhas levemente cerradas ao estudar com atenção o conteúdo daquela carta repetidamente, segurando a folha branca em suas mãos enluvadas. Apesar do escândalo anterior de Kid, Echo murmurava casualmente conforme olhava ao redor visivelmente planejando continuar suas compras como se nada tivesse acontecido antes do ruivo se aproximar dela agitando os braços de forma exasperada, chamando sua atenção na rua movimentada.
– Como raios você está tão tranquila sobre isso?! – Kid exclamava com a expressão irritada e tensa enquanto Echo mantinha-se displicente e aparentemente despreocupada.
– Eu já disse. É uma carta falsa... Já recebi várias antes. – Ela disse sorrindo com diversão em seus olhos. – Você nunca levou um trote não?
Bufando o ruivo ainda parecia não convencido, os olhos apertados de raiva. No entanto conforme Echo agitou seu rosto suspirando calmamente ela espiou na direção do irmão que mantinha-se no mesmo lugar que antes, segurando a carta com uma expressão enigmática em seu rosto; de uma forma estranha, Dante parecia mais quieto do que de costume, e isso fez com que a mulher de cabelos azuis piscasse sem entender.
– O que foi, Danny?
Murmurando pensativo Dante manteve os olhos na carta quando respondeu.
– Esta carta... Não parece ser falsa.
Enrijecendo-se, Kid rosnou imediatamente. – E o que isso quer dizer?! Você vai querer me dizer que tem mesmo um maluco em algum lugar do mundo que do nada está com um casamento arranjado com a Echo?!
– Dante, por favor... – Echo riu de leve virando seu corpo em direção ao navegador ainda sem se abalar. – Você não percebeu como essa idéia soa absurda? Não faz sentido nenhum! Nunca sequer ouvimos falar dessas pessoas, é 100% algum tipo de trote idiota. Esquece isso e vamos voltas às compras!
Ainda pensativo Dante ergueu seu rosto com um olhar distante, e foi ali que Echo começou a sentir-se insegura quanto à confiança que tinha sobre a veracidade da carta. O homem alto de cabelos escuros a segurava com as duas mãos e abaixou os olhos para as palavras escritas mais uma vez, ao mesmo tempo que uma brisa suave passava por seu rosto movendo as mechas escuras de sua franja. Mirando os olhos amarelos na direção da irmã, Dante murmurou lentamente.
– Eles sabem os nomes dos nossos pais. – O tom de voz do navegador era baixo e significativo, e ambos Kid e Echo piscaram devagar ao escutá-lo. Dante olhava constantemente para a escrita à mão que destacava os nomes 'Aria & Trevor Ghost', seu olhar melancólico. – ...Isso tem que significar alguma coisa. Devíamos investigar.
– Mas... Investigar o quê? – Echo agora soava confusa e muito menos despreocupada do que antes, já que confiava plenamente nas palavras de seu irmão, andando em sua direção. – Você quer que viajemos pra esse lugar que nos convidaram a ir?
– Isso é ridículo! E daí que eles acertaram os nomes, não deve significar nada! – O tom de voz de Kid era claramente defensivo ao que ele agitou o braço direito no ar. – Isso tudo me cheira como uma armadilha. Deve ser coisa do Governo Mundial ou da Marinha tentando atrair vocês pra uma emboscada! Seria muita estupidez acreditar nisso!
Por mais que Echo espiasse da direção do ruivo ao seu irmão estando mais inclinada a acreditar que fosse algum tipo de armadilha ou piada, ela notou como o olhar de Dante era sério e até mesmo conflitante. Echo podia ver que ele parecia muito querer tirar aquela história à fundo, extremamente ciente de que como o assunto se tratava dela e de seus pais, aquilo era muito importante para o irmão; não podia culpá-lo de querer descobrir mais sobre toda a situação. Com um suspiro pesado, a capitã agitou as mechas de sua franja azul fechando os olhos enquanto pensava, a outra mão em sua cintura.
– Bem... – Echo suspirou outra vez, abrindo os olhos cor-de-rosa para olhar em direção ao seu irmão pensativo. – Consigo imaginar que seja importante por causa dos nossos pais... Uff... Podemos ir pra esse lugar que nos convocaram. MAS, isso não significa que concordo com nada disso! – A capitã tirou a carta das mãos de Dante para colocá-la de volta no envelope, bufando. – Essa proposta é ridícula! Só vamos pra tirar tudo à limpo, ok?
– É claro, Echo – Dante assentiu parecendo aliviado que ela tinha decidido ir e por mais que ainda parece perdido em pensamentos, lançou um olhar significativo em direção à irmã. No entanto Kid estava imensamente insatisfeito.
– Tch...! – O ruivo cerrou os dentes com uma veia saltando de leve em sua têmpora incapaz de esconder seu ciúme por completo, pasmo em saber que os dois tinham tomado aquela decisão idiota.
– Onde fica o lugar? – Perguntou Echo ao guardar o envelope em sua bolsa.
– Há alguns dias daqui, ao leste. Fica fora da nossa rota, então perderemos alguns dias da viagem.
Suspirando a mulher de cabelos azuis se virou em direção à Kid, que mantinha os braços cruzados com força em frente ao seu corpo, os lábios franzidos. – Escuta, Kid... Se você e seus rapazes quiserem seguir viagem tudo bem, mas acho que nós vamos...-
– Vamos todos também. – Kid bufou resoluto sequer deixando ela terminar, os músculos de seus braços enrijecidos conforme ele se mantinha no lugar com firmeza. – Alguém tem que cuidar pra que vocês não caiam nessa armadilha estúpida sozinhos...
Piscando surpresa Echo não parecia esperar aquilo e riu calorosamente em seguida, dando alguns tapinhas no braço direito de Kid com diversão.
– Ok então, garotão... Obrigado. – Echo disse antes de piscar de forma travessa à ele, fazendo com que Kid franzisse ainda mais o cenho e seus lábios pintados de vermelho. – Vamos voltar e avisar todo mundo. Precisamos preparar as coisas pra essa viagem inesperada!
...
...
...
Havia se passado por volta de uma semana desde a chegada da curiosa carta direcionada à Echo sobre seu prometido casamento com alguém que ela nunca tinha ouvido falar. Parecia loucura que algo daquele tipo fosse possível e conforme os dias passavam a capitã se sentia cada vez mais confiante de que aquela história toda não passava de um trote e uma pegadinha sem graça; no entanto a expressão preocupada e séria de Dante sobre o assunto a preocupava, e Echo soltou um suspiro estando em seus aposentos conforme ajustava os braceletes em ambos seus braços, levando as mãos até seus brincos para prendê-los enquanto olhava para si mesma no espelho à sua frente. Casamento arranjado... Que piada.
Inconscientemente, Echo pensou em Kid. Lembrou de como ele parecera afobado com a carta e como seu comportamento tinha se tornado ainda mais tenso e rabugento desde que começaram a viagem para Jiro Island, o local da convocação. Sem perceber ela abriu um sorriso soltando um pequeno som divertido perdida em pensamentos de forma distraída até que ergueu seus olhos outra vez e piscou encarando seu reflexo no espelho e percebendo que seu rosto estava tingido de vermelho. Afobada Echo soltou um rápido "bah!" agitando os braços e o rosto envergonhada, xingando-se por parecer uma adolescente boba apaixonada antes de girar nos calcanhares e sair de seu quarto fechando a porta com força. Se não estivesse errada a qualquer momento chegariam na ilha de destino e então poderiam verificar do que se tratava a situação inteira... Echo não podia dizer que estava ansiosa por chegar lá mas também se sentia intrigada com a história. Talvez em breve tivesse as respostas.
Sem dúvidas não demorou muito até que a Iron Maiden atracasse na ilha afinal, tendo a Victoria Punk ao seu lado como de costume. Aquele lugar parecia amplo e um tanto... vazio? Mas estranhamente carregava um ar de realeza, o que era no mínimo curioso. O sol estava a pino no céu pontilhado de nuvens brancas e havia uma brisa suave no ar, que gentilmente movia a grama sobre os morros ao redor. Era possível ver pontos específicos na ilha que pareciam ter cidades estranhamente separadas umas das outras, mas pelo menos significava que havia algum tipo de civilização ali. Echo foi a primeira a descer de seu navio e foi acompanhada por Dante, que tinha memorizado as coordenadas do local de encontro. Sem a menor sombra de dúvida Kid também pomposamente se colocou a descer a rampa de seu navio a fim de seguir a dupla recusando o pedido de Killer de acompanhá-lo, por mais que o amigo tivesse insistido.
Por fim, apenas os três começaram a se mover sobre a trilha e caminharam debaixo da luz do dia deixando os navios na encosta aguardando seu retorno pacientemente. O navegador mantinha-se focado em seguir o caminho correto e Kid olhava ao redor de maneira desconfiada frequentemente como se esperasse um ataque ou uma emboscada a qualquer segundo; mas Echo por sua vez parecia cada vez mais confusa conforme cruzavam a ilha e iam descobrindo que os prédios que tinham visto à distância não eram cidades isoladas, mas sim casarões enormes e de aparência pomposa, cercados por terrenos amplos e jardins chiques com pilares e fontes de pedra. Erguendo uma sobrancelha e inclinando o rosto para um lado sem entender a mulher de cabelos azuis continuou andando até que o trio começou a se aproximar de mais uma das enormes casas que se estendia majestosamente sobre um terreno verde e límpido, um caminho de pedra levando até a entrada principal da mansão que parecia ser inteiramente feita de marfim.
Kid soltou um som de desgosto. Sentia-se cada vez mais tenso e continuava olhando ao redor receoso fechando os punhos com força prestes a esperar o pior; apesar dele não saber ao certo se a carta ser uma armadilha fosse o pior. Piscando os olhos laranja o ruivo moveu seu rosto novamente à frente quando um homem de nariz arrebitado apareceu de repente vindo da propriedade e passou por baixo do arco principal que levava o caminho para a entrada. Vestia um terno tão branco que fazia os olhos de Kid arderem, e tinha os cabelos castanhos lambidos para trás assim como uma gravata borboleta amarela chamativa. O curioso homem magro se aproximou do trio e parou à alguns metros deles, tendo os braços cruzados atrás de seu corpo de maneira esnobe o tempo inteiro desde que aparecera.
– Como posso ajudar? – Ele disse em um tom meloso com o queixo para cima e cada segundo que passava deixava Kid com mais vontade de vomitar.
– Uhm... – Echo ergueu uma sobrancelha momentaneamente espiando na direção de Dante ao seu lado antes de continuar. – Meu nome é Echo, e eu...-
– Oh! – O mordomo fez de repente parecendo surpreso, e moveu-se de leve. – Echo Ghost?
Dante piscou e a mulher de cabelos azuis ergueu uma sobrancelha outra vez. – ...Sim?
– Por favor espere aqui! – O homem de terno branco disse subitamente parecendo apressado e saiu não correndo, mas dando pequenos e acelerados passos em direção à mansão desaparecendo lá dentro.
Sem entender Echo olhou de Dante para Kid e os três piscaram lentamente incertos sobre o que estava acontecendo mas permaneceram no mesmo lugar por um tempo até que viram as grandes e exageradamente altas portas da mansão se abrirem outra vez, assistindo conforme três pessoas se aproximavam deles caminhando sobre a trilha de pedra em direção ao arco. O tempo inteiro a mente de Kid repetia "perigo, perigo" e o ruivo apenas franziu os lábios descontente e tenso, fechando os punhos com força e mantendo-se calado enquanto observava junto de Echo e Dante o mesmo mordomo de antes fazer seu caminho até eles, liderando um homem rechonchudo de bigode e cabelos grisalhos que vestia roupas ainda mais pomposas que o empregado e um outro homem mais jovem, de cabelos loiros e olhos castanhos. Este parecia sorrir abertamente assim que se aproximou dos visitantes e Echo não conseguiu não notar que o tempo inteiro ele a olhava como se fosse algum tipo de estátua ou enfeite brilhante.
– Echo Ghost chegou, meu senhor! – O mordomo de repente se curvou aos dois homens e gesticulou com seu braço em direção ao trio que ainda assistia com as sobrancelhas erguidas com a estranha recepção.
O homem de bigode riu-se parecendo muito alegre e juntou as mãos em frente ao corpo antes de estender os braços para os lados de forma calorosa e receptiva. – Sim, sim, finalmente! E você seria Dante Ghost, certo?
Ele gesticulou em direção ao navegador que, por educação, assentiu silenciosamente. Em seguida o homem virou-se para Kid e momentaneamente pareceu confuso, erguendo uma sobrancelha.
– E quem é este rapaz malvestido?
– ORA-! – Kid rosnou imediatamente mas Echo colocou a palma de sua mão direita sobre os lábios do ruivo forçando-o a se calar.
– Foi você quem mandou a carta? – Echo perguntou indo direto ao assunto enquanto ainda cobria a boca de um Kid irritado e colocava a outra mão em sua cintura displicentemente.
O homem de bigode piscou e então deu uma risada pomposa, arrumando sua gravata chique.
– É claro, é claro! Onde estão meus modos... Meu nome é Anton Masaru, e este é meu filho Yutaka – Ele gesticulou para o jovem ao seu lado que sorriu com os dentes brilhantes lançando um olhar cativante em direção à Echo, fazendo-a erguer uma sobrancelha. – Ficamos muito felizes em recebê-la aqui afinal, estivemos esperando por muito tempo! Vamos preparar tudo muito em breve, sintam-se à vontade para entrar e...-
– Hey hey! – Exclamou Echo interrompendo o homem de repente, tirando sua mão direita de sobre os lábios de Kid para gesticular com ambas as mãos de forma autoritária. – Pode tirar o cavalinho da chuva e ir mais devagar! Eu não vim pra jogar conversa fora e muito menos pra esse negócio de casamento. Eu quero mais é entender essa história toda, porque pra mim nada disso faz sentido...
Yutaka e seu pai se entreolharam parecendo confusos e o jovem deu um passo à frente para falar afinal. – Mas você veio para se casar comigo, não é?
Os músculos de Kid se enrijeceram ainda mais e ele rangia os dentes com força antes de Echo soltar um suspiro exasperado.
– Eu acabei de falar que não! Eu recebi a carta e vim aqui tirar a história a limpo. Quero explicações. Se vocês acham que eu vou simplesmente aparecer aqui e me jogar nos braços do engomadinho sem contexto, estão enganados... – Echo bufou displicentemente agitando uma mão enluvada no ar, movendo parte de sua franja.
– Bem, é claro... – Anton murmurou antes de limpar a garganta, juntando as mãos em frente ao corpo de maneira régia sendo observado pelo trio à sua frente. Dante parecia atento ao que ele fosse dizer e mantinha os olhos amarelos no homem de terno branco e bigode, aguardando antes dele começar a falar. – Eu imagino que esteja um pouco confusa... Não será um problema explicar afinal. Nós somos a família Masaru, uma das mais prestigiosas famílias aristocratas de toda a Grand Line. Conhecemos a sua família há muito tempo, antes mesmo de você nascer, senhorita Echo. Foi arranjado por nós e por seus pais, Trevor e Aria, que depois que você nascesse e chegasse aos 16 anos de idade, se casaria com Yutaka e entraria para a nossa família. Nós prometemos fortuna e segurança para o seu futuro e pacientemente aguardamos a hora certa de lhe mandar a carta de convocação; porém quando o dia chegou e repetidamente nenhuma resposta chegava, decidi investigar e descobri sobre o trágico acidente que atingiu sua cidade. – Dante escutava tudo espantado ligeiramente se recordando sobre pessoas que ele não conhecia dentro de sua casa quando criança, mas franziu o cenho automaticamente com um olhar perdido enquanto Echo tinha uma expressão descontente em seu rosto. – Meus profundos pêsames for seus pais... Nada disso estava nos planos, é claro, e foi algo certamente terrível. O acordo estava feito mas nenhum dos dois estava em lugar algum, então continuamos procurando durante todos esses anos, até que finalmente você está aqui!
Engolindo em seco Dante olhou na direção da irmã, sussurrando: – É por isso que a ave que trouxe a carta estava tão exausta. Devia passar o dia todo te procurando, mas nunca tinha a encontrado devido às nossas rotas e aos climas intensos da Grand Line.
– Por anos? Cruzes, aquele pássaro merece um aumento – Echo piscou parecendo estranhamente calma e inabalada com a explicação de Anton, que novamente pigarreou.
– Então, senhorita Echo... Agora que expliquei a história creio que você não tem mais nenhuma dúvida, sim?
– Hã... – A mulher de cabelos azuis inclinou a cabeça para um lado enquanto levemente coçava a bochecha com um indicador, piscando devagar. – Então... Você sabe que eu sou uma pirata, certo?
Anton piscou e assentiu com um sorriso. – Ah, sim! Mas isso pode ser facilmente resolvido! Tenho muita influência e contatos então posso conversar com alguém sobre anular sua recompensa...
– É O QUÊ?! – Echo repentinamente gritou fazendo ambos Dante e Kid pularem de leve no lugar, piscando cada um de um lado dela. A capitã tinha fechado os punhos e gritava afobada com os olhos cerrados. – FICOU MALUCO? ME DEU MUITO TRABALHO PRA MERECER A MINHA RECOMPENSA!
Começando a ficar um pouco contrariado com a insistência e rejeições de Echo, Anton gesticulou amplamente. – Isto é o que seus pais iriam querer, você sabe.
Echo cerrou os olhos com firmeza tendo os lábios franzidos, visivelmente descontente. Ao lado dela o irmão espiava na direção de Echo até Anton e respirou profundamente se preparando para intervir; tinha obtido as respostas sobre suas dúvidas apesar de não terem sido tão aprofundadas quanto ele esperava mas sabia que Echo era contra aquilo tudo. A vida de um pirata não era o que ele queria para ele mesmo e para a irmã à princípio, porém agora se via não querendo deixar aquilo para trás. Dante pensava silenciosamente em seus pais, imaginando que tinham tomado aquela decisão para o bem e para a segurança de Echo em seu futuro, mas as coisas eram muito diferentes agora. Conforme o navegador se preparava para falar ele piscou observando conforme Echo dava um passo para a frente com uma expressão determinada, e Kid a observava surpreendentemente ainda se mantendo calado.
– Eu não me lembro muito bem dos meus pais. Tudo que me lembro é de lutar para sobreviver sozinha com o Dante mas esses dias acabaram, eu posso me cuidar e tenho dinheiro mais do que suficiente para sobreviver. Sou mais do que capaz de me virar. – Echo falava com determinação e mantinha sua postura firme, uma brisa suave movendo seus cabelos. – Eu sei que meus pais iriam querer isso para mim, que eu ficasse em um lugar assim; mas também sei que eles eram pessoas boas e iriam querer que eu fosse feliz. Eu faço minhas próprias escolhas, eu faço meu próprio caminho e eu que decido SE eu quero me casar e com quem eu quero me casar. Fim da questão.
Anton piscava com a boca entreaberta como se não pudesse crer que estava mesmo ouvindo aquelas palavras. Alguém rejeitar tal proposta de prosperidade e riquezas sem fim era absurda...! Como seria possível existir alguém que desse às costas para um ticket para a vida boa e fácil, escolhendo viver a perigosa e incerta vida de um pirata? Transtornado o homem de bigode olhava de Echo para o filho sem saber o que dizer e em sua falta de palavras Yutaka adiantou-se para a frente caminhando para ficar a poucos passos de Echo. Era alguns centímetros mais alto do que ela e apesar da convicção na voz da capitã ele ainda sorria de forma esnobe e charmosa.
– Tudo bem. – Ele começou pomposamente e Echo ergueu uma sobrancelha sem alterar sua expressão no que olhava na direção dele silenciosamente. – Podemos esquecer o casamento arranjado! Mas ainda assim eu acho que você é uma mulher incrivelmente atraente, então o que você diria sobre passar um tempo comigo para nos conhecermos melhor...? Tenho certeza que se tiver um tempo para me conhecer, reconsideraria sobre a chance de casar comigo... Então que tal nós...-
Yutaka foi interrompido quando Kid atingiu seu rosto em cheio com um soco usando sua mão direita.
As roupas limpas e imaculadas do jovem se mancharam ao que ele caiu no chão de costas com um estrondo após receber o golpe do ruivo e Anton soltou uma exclamação assombrada arregalando os olhos tamanho seu choque; Kid estava parado de forma firme ainda mantendo o punho na frente do corpo e apertou ainda mais seus dedos conforme rosnou mostrando os dentes, os olhos laranjas cerrados com firmeza e sua postura intimidadora.
– Ela disse não, otário... – Kid vociferou em um tom baixo, entre os dentes, olhando Yutaka de cima.
Echo piscava estupefata ao olhar para Kid.
– Woah... – Ela pensou distraída com o rosto enrubescido antes de voltar-se à frente mirando os olhos cor-de-rosa na direção de Anton e Yutaka, assistindo conforme o homem de bigode agitava seu filho que babava completamente apagado pelo soco de Kid - que nem tinha sido tão forte assim. Colocando ambas as mãos em sua cintura, Echo se pronunciou chamando a atenção de Anton, que piscou. – No fim das contas obrigado mas não, obrigado. É melhor achar outra pessoa pra casar com seu principezinho. – Ela moveu os dedos no ar de forma travessa dando um ênfase debochado à palavra. – Tchau!
Ainda atônito e parecendo assombrado como se apenas ali visse aquelas três pessoas como piratas perigosos, Anton engoliu em seco mas apenas permaneceu no mesmo lugar deixando com que o trio começasse a se afastar enquanto ele gritava pelo mordomo para que dessem socorros ao seu filho desacordado. Com o peito inflado Kid andava de queixo para cima e Dante caminhava da mesma forma que sempre, parecendo perdido em pensamentos antes de abrir um gentil sorriso espiando na direção da irmã que andava ao seu lado.
– ...Ele provavelmente vai mandar alguém atrás de você.
– Ah, tudo bem. – Echo riu casualmente no que sorria divertida. – Entre na fila!
...
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Pouco tempo depois os capitães e o navegador tinham retornado à encosta onde os navios estavam ancorados e recebiam uma brisa tranquila que movia as velas lentamente. Andando próximos um ao outro Dante e Echo pararam ao fim da estrada que levava à praia e o homem de cabelos escuros se virou na direção da irmã lançando à ela um olhar significativo de cima.
– Echo... – Ele começou com a voz suave e baixa, o vento fresco movendo seus cabelos longos conforme seus olhos amarelos miravam nos de Echo, que lhe sorria de baixo. – Eu... Eu espero que não tenha parecido que eu queria que você aceitasse a proposta, em momento algum. Eu sei que há muito tempo protestei sobre assumirmos essa vida de piratas mas eu sei agora que é isto que o destino tinha nos reservado. Um casamento arranjado nunca é a escolha certa, apesar de saber que nossos pais tomaram essa decisão no passado querendo que você tivesse coisas boas em sua vida.
Echo riu de leve e tocou no braço do irmão. – Eu sei, Dante. Não precisa ficar assim. Estou feliz que pudemos virar essa página afinal. Você conheceu o pai e a mãe melhor que eu e por mais tempo que eu, então eu sei como isso era importante pra você.
– Obrigado. – Dante sorriu de forma significativa com seus olhos brilhando ao olhar para ela com carinho antes de soltar uma breve risada. – Adorei o seu discurso. Você cresceu muito... E sei que se eles pudessem vê-la agora, estariam orgulhosos. Assim como eu estou. Eu sempre estou.
– Ah... Pare com isso ou você vai me fazer chorar... – Echo brincou fazendo um bico mas sorria claramente apreciando as palavras do navegador. Fechando os olhos a mulher de cabelos azuis deu um passo à frente e abraçou Dante com carinho no que o irmão retribuía o gesto gentilmente logo em seguida, apesar de por ser tão mais alto poderia apenas abraçar Echo pela metade sem se abaixar. Assim que se separaram Dante fez um gesto com seu rosto sorrindo e começou a caminhar em direção à rampa subindo em direção à Iron Maiden enquanto Kid mantinha-se atrás com uma expressão séria, aparentemente esperando os dois terminarem o que estavam fazendo para começar a fazer seu caminho em direção ao seu próprio navio.
No entanto, Kid piscou no que espiou na direção de Echo e viu que ela levemente cerrava os olhos com um sorriso divertido, olhando diretamente para ele.
Corando ele bufou. – Por quê está sorrindo desse jeito?
Em passos lentos a capitã se aproximou dele.
– Eu gostei quando você socou o pirralho riquinho... – O tom de Echo era travesso e seus olhos cor-de-rosa brilhavam conforme os lábios dela curvavam-se em um sorriso.
– Bah... – Kid fez desviando o olhar ao movimentar seu corpo de leve de maneira rabugenta, sua linguagem corporal sempre irritada. Bufando ele momentaneamente fechou os olhos enquanto cruzava os braços na frente do corpo, franzindo os lábios pintados de vermelho. – Pois é, eu soco muita gente. Não pense que é nada de mais. Ele estava me irritando...
Aproximando-se ainda mais Echo parou em frente ao corpo largo de Kid ainda sorrindo e ergueu seu braço direito na direção do ruivo repentinamente tocando no lado esquerdo de seu rosto e repousando a palma de sua mão ali levemente, inclinando-se ligeiramente nas pontas dos pés para pressionar os lábios na bochecha dele com os olhos fechados, o rosto levemente inclinado para um lado. Paralisando Kid abriu os olhos espantado e imediatamente sentiu como se alguém tivesse aceso uma fogueira dentro de si, seu rosto queimando por completo em uma fração de segundo; o ruivo não estava certo se o tempo tinha parado mas sentiu os lábios de Echo em seu rosto pelo que pareceu um longo tempo, tentando controlar em vão o bater acelerado e descontrolado de seu coração em seu peito. Com os próprios lábios entreabertos ele permaneceu parado em choque e apenas piscou quando Echo se afastou, olhando para ela embasbacado conforme ela sorria daquele jeito insuportavelmente cativante.
– Eu sei, eu sei... – Echo fez com um tom divertido mas tinha algo mais em seus olhos conforme ela tirou sua mão do rosto do ruivo lentamente. Sem pressa ela lançou um olhar significativo e travesso para Kid antes de começar a se afastar e caminhou sobre a rampa da Iron Maiden sendo seguida pelo olhar distraído e absorto de Kid, que ainda piscava parecendo travado no mesmo lugar boquiaberto.
Atordoado Kid piscou parado sozinho na praia sem saber o que fazer consigo mesmo e completamente inconsciente ao fato de que no convés da Victoria Punk Killer esperava com os braços apoiados na beirada do navio tendo assistido tudo que acontecera.
– ...Agora ele não vai mais conseguir parar de pensar nisso. – Killer suspirou com um sorriso por dentro de seu capacete antes de levantar a voz para chamar a atenção de seu amigo distraído. – Vai ficar plantado aí muito tempo, capitão?
Kid pulou espantado e seu rosto ficou imediatamente ainda mais vermelho do que antes, os olhos arregalados e os dentes cerrados. Despertando de seus devaneios proporcionados pelo gesto inesperado de Echo o ruivo cerrou os punhos com força e franziu o cenho irritado e frustrado já entendendo que Killer tinha visto tudo devido ao seu comentário; girando nos calcanhares fazendo com que sua capa esvoaçasse Kid respirou fundo e então urrou:
– CALE A BOCA!
...
