Capitulo 4 – A Triste Imperatriz e a Surpresa de Syaoran
Sakura se encaminhava para o seu quarto. Ainda tinha em mente aquela boca grosseira que a beijara de forma tão rude. Se encontrasse aquele monstro em sua frente, neste exato instante, lhe acertaria vários socos na cara.
Lang a seguia, temerosa, pelo estranho humor da princesa. O que diabos aquela menina tinha? Nunca a vira tão injuriada! Olhando para a janela lateral, Sakura vê o sol se acomodar entre grandiosas montanhas. A mistura de cores do entardecer pareciam se entrosar com tanta facilidade, que fascinavam aquela curiosa garota. O mar de cores era tão poético e confortante.
Sem se dar conta, hipnotizada pela magia das cores, Sakura se bate de frente com alguém, sendo segurada para evitar uma possível queda.
- Ai, me perdoe, eu... – enquanto tentava se explicar sentiu as palavras lhe fugirem a mente, ao fitar a outra pessoa. Era um formoso rapaz alto e de pele clara, que tinha formas delicadas na face. Possuía cabelos curtos e acinzentados, e olhos negros como a noite. Usava óculos e vestia roupas de seda azulada. Tinha um porte respeitável e um olhar levemente adocicado, extremamente gentil.
- Não, eu que peço desculpas! Estava distraído, e admirando as belas cores do pôr do sol. Tens que me perdoar, mas é que não resisto a este espetáculo poético... – Sakura arregala os olhos, percebendo a tamanha delicadeza daquelas palavras. - ...Mas, vejo que não foi em vão minha distração. O destino me enfeitiçou para me fazer encontrar algo mais belo ainda! – disse olhando-a de forma carinhosa.
Ela se sentia extremamente envergonhada com tais dizeres. Nunca pensou que seria elogiada daquela forma, sendo comparada a grandeza do entardecer. Aquele misterioso homem a enfeitiçava com palavras tão harmoniosas e doces, embriagando sua alma que parecia pedir mais. Suas frases eram perfeitas e delicadas, revelando o clamoroso espírito romântico daquela criatura. Estava encantada...
- Eu...
- Oh, desculpe! – ele a solta, vendo o rubor na delicada face.
Ambos ficam em silêncio, até este ser quebrado por um frio chamado.
- Sakura!
- Oh, Imperatriz! – curva-se Lang.
Sakura olha para o lado e encontra Sorae, acompanhada de duas servas. De expressão séria e numa postura elegante, ela encarava os olhos esverdeados da menina.
- O que está fazendo? Não sabes que deveria estar em seus aposentos?
Por um instante a menina pensou em lhe responder com palavras rudes, pois detestava o olhar de desdém da grande Imperatriz, mas logo pensou em Kaho e no que ela lhe recomendara.
- Sinto muito, Grande Mãe... – ela se curva. – Mas enquanto dirigia-me ao quarto, acabei, por distração, esbarrando neste cavalheiro e estava a lhe pedir desculpas pelo meu erro... – mantém seus olhos abaixados.
- Muito bem! Pelo jeito sua professora conseguiu colocar juízo e bons modos em sua pessoa. Mas mesmo assim, deveria olhar para onde se dirige, para evitar estes acidentes!
- Sinto muitíssimo... – fecha o punho tentando conter a si mesma e para evitar os confrontos desnecessários que teria, caso revidasse.
- Se já terminou, venha comigo! – encara a menina, que lhe retruca o olhar. – Não ouse perguntar, pois isto é uma ordem...
- Jamais ousaria desrespeitá-la... – sorri levemente, enquanto se dirige para o cavalheiro a sua frente. – Perdão pela minha distração, mas se me der licença, vou atender ao chamado da Grande Mãe... – Sakura tentou se conter, mas suas últimas palavras ainda assim soaram desrespeitosas. Acontecia que sua revolta era tão grande, que seu espírito rebelde não conseguia ser contido facilmente.
Sorae apenas fitou a menina. Maldita criatura, quando ela aprenderia a se pôr em seu lugar? Não sabia explicar a indignação que crescia dentro de si, mas aquela garota sabia irritá-la de tal forma, que seu ser se enchia de nojo por sua simples presença. Definitivamente, a personalidade da pequena não fora herdada de Nadeshiko.
Passando pelos grandes corredores, sendo assistidas pelas raras peças de decoração, a imperatriz trilhava seu caminho até seu quarto, sendo seguida por Sakura e três criadas. Chegando até uma grande porta, as servas foram dispensadas e as outras duas damas adentraram o local.
Sentando em uma pequena e rasteira mesa, Sorae indica um lugar a Sakura, bem a sua frente, onde poderia encará-la face a face. A pequena garota sentou-se calmamente nas confortáveis almofadas de veludo avermelhadas. Constatando estar bem ajeitada, colocou suas mãos sobre os joelhos e olhou para Sorae.
- Fui informada de que finalizaram suas aulas....
- Sim...
- Pois bem, agora que já completastes teus estudos, está na hora de se casar, afinal, já tens quinze anos. Por isso, você tem permissão para estar na festa de hoje! – informa meio contrariada.
- Se me permite perguntar, a festa comemora o quê?
- A festa será dada em homenagem aos Capitães e Generais, que chegam para uma reunião geral com o Imperador.
Sakura arregala os olhos, tamanha fora a sua surpresa. Li acabara de se tornar Capitão, isto significava que ele estaria nesta festa. Sentiu no estômago um rebuliço, e um crescente enjôo, lembrando-se, novamente, do beijo.
- E isto inclui o jovem Syaoran Li, afinal, como já deves saber, ele fora nomeado Capitão de uma das melhores tropas da elite. – Sorae afirmou, colocando um tom provocativo em sua voz.
- Por que me contas isto? – olha-a injuriada.
- Só achei que fosse de seu interesse! – olha-a sarcástica – Afinal, foram amigos a seis anos atrás! Quem sabe, ele não queira fazer de sua pessoa uma noiva!
- Como ousas dizer isto?! – altera-se na voz, tornando seu olhar mais ofensivo.
- Qual o problema? Não gostarias de ser tocada pela única pessoa que a ajudou, quando estava preste a morrer? – desafia-a com as palavras, arqueando uma das sobrancelhas – Ou será que tens medo de sentir teu corpo ser tocado por ele?
A menina parou no mesmo instante. Por que Sorae lhe dizia aquelas coisas? Está certo que todos, dentro do império, sabiam da amizade dos dois, mas a Imperatriz usava estes argumentos como se quisesse feri-la, sabendo do ocorrido entre eles.
- Por que me diz estas coisas? O que eu fiz para você?
Sorae se assusta com aquela situação. A Imperatriz sente o corpo todo imobilizar-se, ao olhar para os olhos da menina. Aquele olhar. Aquele olhar tristonho e recendido, pedindo por clemência, através dos orbes encharcados. Era Nadeshiko! Por deus, aqueles olhos eram os mesmo de Nadeshiko!
- Sa-saia... – sussurrou com dificuldade.
- O quê?
- Saia...Daqui...
- O que a senhora tem? – pergunta preocupada.
- Me deixe em paz! SAIA DESTE LUGAR IMEDIATAMENTE! – grita desesperada.
Sakura sente o corpo cair para fora das almofadas e se segura no chão. Mas o que diabos aquela mulher tinha? Parecia possuída, pois seus olhos transbordavam de fúria. Aquela mulher havia enlouquecido, pensava assustada. Sem perder mais tempo, levanta-se subitamente e corre para a saída do quarto, dirigindo-se para a liberdade dos corredores. Bate as grandes portas de madeira e se dirige para seu quarto, deixando a Imperatriz com sua solidão.
Sorae ainda se mantinha em estado de choque. Por que aquela maldita criança tinha de possuir os olhos de sua querida Nadeshiko? Deus, como doía reencontrar o olhar da doce falecida. Como sentia saudades de sua amada confidente de infância e parceira de alegres momentos.
Sentindo a cabeça girar com tantas lembranças, a solitária imperatriz cambaleia até sua cama. Ao sentir o corpo pesar sobre a maciez do colchão, afunda seu rosto na gostosa colcha de cetim. Por um instante, sentiu o tempo parar, como se o mundo houvesse adormecido na eternidade. Deitou o rosto de lado e se pôs a observar a penumbra do anoitecer. O dia já havia se despedido e lá estava ela, novamente remoendo sua infelicidade.
Quando menina, ela adorava brincar com suas lindas bonecas e detestava quando Chon as quebrava com suas molecagens:
- Não me interessa se um dia ainda vais ser o grande imperador da China, você não tem direito de fazer isso, são as minhas bonecas, Chon!!!! – reclamava chorosa.
- Deixe de ser chata Sorae, são somente bonecas estúpidas! Se eu não as quebrasse, com certeza alguém, algum dia, o faria! – retruca o jovem menino, mostrando-lhe a língua.
- Você é um idiota! Odeio ter você como primo!!!
- Eu também odeio ter uma chata, como você, como parente!
- Por que estão brigando? – pergunta outra garotinha, que se aproxima dos dois primos.
- Nadeshiko, o Chon quebrou as minhas lindas bonecas! Eu as tinha ganhado há somente três dias, quando meu pai voltou de sua viagem ao Oeste do país!
- Mas por que você fez isto? – pergunta para o menino.
- Eu...Não foi de propósito! Eu juro! Eu escorreguei sobre elas, não queria quebrá-las!
- Viu, ele não fez por querer, Sorae! – sorri a pequena garota de cabelos ondulados.
- Mas, eu as achava tão bonitas, por que ele tinha que fazer isto?
- Eu já disse que foi um acidente! Deixe de ser chata!
- Eu não sou chata, seu idiota!
- Parem, assim não vão resolver nada! Será que vocês dois não vêem que a culpa é dos dois?
- Como? – repetem em coro.
- Sorae, se você brincasse com suas boneca, num lugar mais seguro, ao invés do jardim, não correria o risco de quebrá-las! – olha para a menina de longos cabelos escurecidos e olhos misteriosos. – E Chon, se você tomasse mais cuidado, não teria esbarrado nas coisas da sua prima! – desvia o olhar, para o menino mais velho e de face rebelde. – Agora, façam as pazes! – ordena.
- Mas, eu sou o futuro imperador, não devo desculpas a ninguém! – fala esnobe.
- Chon, não importa o quão poderoso você seja, ou venha a ser, deve sempre ter em mente uma atitude humilde! Isso cativa as pessoas e as fará confiar e respeitar você! Se começar a praticar desde cedo, virá a ser um ótimo imperador e um grande homem, digno de respeito. – olha docemente para o garoto, que sente a face ruborizar.
- Obrigada, Nadeshiko... – fala timidamente. – E desculpe, Sorae! Prometo que lhe darei novas bonecas, para compensar a sua perda.
- EstÁ bem. – sorri para ele e olha para Nadeshiko. – Você é uma das pessoas mais gentis que já conheci em toda a minha vida!
- Obrigada! Eu gosto muito de vocês dois e espero que sejamos amigos para sempre! – corre e abraça os dois.
Sorae sente uma lágrima lhe escapar dos olhos. Como sentia falta dos tempos de infância. Maldita a hora em que descobrira que estava apaixonada por Chon. Aquela paixão havia estragado tudo! Principalmente quando soubera que seu amado também estava apaixonado, mas por Nadeshiko!
Como a vida era injusta. Por que tudo acabara deste jeito? Ela sempre gostara muito de sua amiga, mas amava Chon, como ninguém jamais havia feito! Sua vida tornara-se um inferno por causa deste amor, pois ela sabia não ser correspondida, mas não conseguia esquecê-lo igualmente. E tudo ficara mais difícil quando virara esposa dele.
Quando fora possuída por ele, sentiu-se no paraíso. Pôde beijá-lo, tocar seus cabelos, sua pele. Pôde sentir seu toque trêmulo e aconchegante lhe acariciar com toda a inexperiência da pouca idade. Sentiu aquele corpo quente e suado lhe transformar em mulher, fazendo-a suspirar e gritar com o auge de todo aquele prazer.
Mas apesar de tê-la, ela sabia não ser o desejo do Imperador. Mesmo sendo ela a Imperatriz, sabia que Nadeshiko era o único desejo de Chon. Mesmo quando ele tocava seu corpo, sabia que era o corpo de Nadeshiko que ele queria. Mas antes isto não importava, pois o simples fato de senti-lo já lhe bastava.
Infelizmente, querê-lo só para si já era desejar muito. Nunca pensou que seu Imperador fosse tão ambicioso, a ponto de fazer aquilo com Nadeshiko. Ele fora cruel com sua pobre amiga. "Quem sou eu para julgar Chon, se sei que ele fez isso pelo que sentia por ela. Eu mesma já fiz loucuras por ele e pelo amor que sinto. Mesmo sabendo que era crueldade, nunca o repreendi por ter feito de Nadeshiko sua esposa, mesmo ela não querendo. No final, ela só sentia amizade por ele. No entanto ele nunca aceitou e fez aquela monstruosidade...", pensa ressentida e culpada por guardar aquele segredo repugnante. Pensando agora, apesar de sentir raiva da pequena Sakura, a pobre menina não tinha culpa de ser quem era. O culpado de tudo era o Imperador, pois...
- Com licença, Imperatriz! – chama uma das criadas a interrompendo bruscamente.
- O quê?! – fala assustada, enquanto limpa o rosto – O que foi?
- Já devo avisar as outras criadas para que comecem a arrumar as outras consortes e os outros filhos de vosso esposo?
- Ah, sim, claro, já comecem a arrumá-los, e mande uma das criadas vir aqui, começarei a me preparar também!
- Sim, senhora! – a jovem criada se retira, mas rapidamente retorna. – Desculpe-me, mas esqueci de avisá-la: o Imperador deseja vê-la em seus aposentos, antes que se arrume para a festa!
- Já estou indo... – fala seriamente.
O Imperador encontrava-se em seu quarto. Esperava por Sorae, pois tinha de saber se ela havia falado com Sakura. Olhando a sua volta, lembrava-se que já se fazia um ano e meio que não chamava sua Imperatriz em seu quarto. Mas não podiam culpá-lo. Ninguém sabia o quão difícil era desposar uma criaturinha que ele vira nascer, pois era cinco anos mais velho que ela e que se tornara sua parceira de brincadeiras. Se ele a amasse verdadeiramente, não seria um problema, mas seu sentimento não era este.
Ainda se lembrava como havia sido difícil deflorá-la. Na hora, não soube o que se apossara de si, mas só se lembrava de ter sentido um forte desejo ao ver a branca pele exposta a sua frente. Sorae era uma mulher muito bonita, tanto de rosto como de corpo, mas ele se sentia um monstro por tocá-la sem amá-la. Porém o desejo falara mais alto e ele a havia feito uma mulher. Lembrava-se de como o dia seguinte lhe fora deprimente. Maldita a hora em que fora obrigado a se casar, por vontade de seu pai.
- Desejava me ver?
- Sim, entre Sorae... – olha-a fixamente.
Lentamente ela ordena a suas servas que fechassem as portas do quarto. Vira-se de frente para ele, avança três passos e pára.
- Sabe que não mordo... – riu ele, debochando.
- Esta distância está perfeita para conversarmos... – olha-o, séria.
- Por que o destino me entregou uma esposa tão teimosa e difícil?
- Sei que queres saber da minha conversa com a menina Sakura. Pois bem, ela se apresentará na festa de hoje e, sim, ela esta um pouco mais apresentável. – fala apressadamente e irritada. – Agora, se me dá licença...
- Não...
- Como?
- Só saíra quando eu mandar...
- Já terminei de lhe dizer o que queria ouvir... – responde com raiva, mas em um tom baixo.
- Por que me trata assim? Será que ainda não consegue perceber que sou seu marido, após tantos anos?
- Sim, mas se fostes realmente meu marido, me chamaria mais vezes em teu quarto... – alfineta.
- ...- franze a testa, em sinal de desaprovação.
- Por que não argumenta sobre isto agora, meu senhor? Vais me dizer que é mentira? – olha-o sarcasticamente. – Sabes que não é mentira, pois não sentes vontade de me ver ou prazer em me ter em tua cama!
Sorae não sabia o que estava dizendo, só tinha certeza de que as palavras saíam sozinhas, sem seu consentimento. Não queria desafiá-lo, tampouco fazer pouco caso, mas estava com raiva devido às lembranças e em ser evitada por ele.
- Mas também, o que mais iria querer de mim? Já lhe garanti um herdeiro saudável e forte; te presenteei com uma das mais belas damas como filha e te represento com respeito perante os outros. Fales a verdade, eu sou um enfeite desta maldita corte que você governa, pois nem me amar tu fazes!!! – grita.
Chon só a observa. O que aquela mulher tinha? De onde vinha tanta raiva? Sorae nunca deixava de falar o que sentia, desde pequena ela o fazia. Mas esta situação era desconhecida para si. Ela falava estas coisas como se as tivesse guardado por tempos. A verdade é que suas afirmações eram corretas. Quase todas, pois ele até sentia prazer em tê-la, mas se sentia culpado após. Além disso, ele a amava, mas como um irmão ama sua pequena irmãzinha.
Apesar de ter conhecimento das razões dela, detestava ser desafiado ou humilhado pelos outros. Com postura firme, se aproxima de Sorae e a agarra pelos ombros, assustando-a.
- Cala-te mulher, pois não mais quero ouvir tuas reclamações. Queres me ter junto a teu corpo? Pois, bem, que sejas agora! – ameaça esbravecido.
- Te afasta de mim, ser repugnante. Já não mais quero teu cheiro, pois este me dá nós no estômago!
A Imperatriz não conseguia parar de ofendê-lo, pois o fazia com prazer, como se todo o seu amor se transformasse em repudia.
- Não tens o direito de me negar isso! Sou teu marido, teu dono e se estavas a pouco reclamando de minha ausência é por que me queres!
- Te falei aquelas coisas, pois são verdades entaladas! – ameaça-o com o olhar. – Não quero o aconchego da tua cama, tampouco teus chamegos mentirosos, quero é que vejas o que teu espírito egoísta faz comigo!
- Agora não se trata de tuas vontades e sim das minhas! – a empurra contra a parede, encurralando sua Imperatriz. – Deves cumprir a tuas obrigações... – desce a mão até o busto de Sorae, que tenta empurrá-lo inutilmente.
- Me deixe... – geme contrariada.
- Fique quieta... – sussurra enquanto a beija.
Sorae sentia o chão se abrir por debaixo de seus pés, enquanto seu corpo flutuava na imensidão do infinito. A boca dele era tão quente. Aquele cheiro másculo que só ele possuía lhe embriagava as narinas, enquanto o gosto daquela saliva lhe penetrava as papilas. Detestava quando se deixava controlar pelos toques dele. Ela podia estar transbordando em fúria, que bastaria um simples suspiro dele em seu pescoço, que o mundo se transformava em flores.
Ela finalmente voltava à estaca zero. Estava conseguindo se livrar de toda aquela angústia, mas, infelizmente, novamente se deixava dominar por aquele sentimento que a tornava tão fraca.
De repente, eles ouvem a porta arquear e se separam com o susto.
- Oh, perdão, senhor! – fala um dos servos.
- Tudo bem... – se afasta dela - O que queres?
- As tropas estão chegando!
- Sim, pode se retirar, já estou indo!
O criado faz uma reverência e se retira.
- Já estou indo... – fala Sorae, sem encará-lo.
- Te quero neste quarto esta noite! – ordena forte e imponente.
- ...- ela para e hesita. "Diga não!", fala para si mesma - Sim,...Meu senhor.....
Sakura andava de um lado para o outro dentro de seu quarto. Estava nervosa e angustiada. Iria rever Syaoran e a situação não poderia lhe parecer pior, afinal, com que expressões iria encará-lo? "Pelos deuses Sakura, deixe de ser burra! Ele não viu seu rosto!", falava para si mesma. Infelizmente, isto não a fazia parar de sentir aquele terrível frio no estômago.
- Sakura, ainda não tomou banho! – repreende a velha Lang, ao adentrar o quarto da menina.
- Perdoe-me Lang! Mas é que... – ela fica sem palavras para argumentar a situação.
Lang a olha, com olhos cansados. Sakura não mudava. Mesmo possuindo um corpo de mulher, sua ingenuidade infantil persistia em lhe habitar a mente, e era exatamente por isso que temia por ela, afinal, o mundo não lhe seria gentil e poucos a entenderiam.
- Está bem, vamos para o banho agora! – ordena a velha.
- Está certo... – suspira.
Sakura se dirige para dentro de um quarto anexado ao seu. Lá estava o grande ofurô cheio de água vaporizada. Enquanto Lang pegava suas vestes festivas, a menina retirava os elegantes panos que vestia, se sentindo libertar de toda aquela luxuosidade. Por um instante pode sentir-se pura e verdadeira. Adentrando a morna água de seu banho, recosta seu corpo naquela grande banheira.
Olhava para o teto, pensativa, sem saber o que aconteceria. Syaoran havia mudado. Ele estava diferente, com um certo ar vulgar. Mas, talvez fosse só a primeira impressão, afinal, mal pudera observá-lo. Naquela hora, tudo que tinha em sua mente era confuso e vago. Ela sabia que um reencontro tinha de ocorrer, pois se preparara para isto durante seis anos. Mas quando ouviu Yamazaki lhe falar aquele nome, todo o seu conhecimento pareceu lhe evacuar a mente.
Ainda não conseguia acreditar que batalhara com ele. Simplesmente não parecia real, pois tudo fora muito momentâneo. O fato de encontrá-lo, mesmo não tendo certeza da sua localização, de terem batalhado de igual para igual e de terem se beijado...Deus, maldito seja aquele imbecil, praguejava.
Com raiva de suas lembranças, a garota mergulha sua cabeça dentro d'água. Por que estas coisas só aconteciam com ela? Todo o universo parecia conspirar contra seu destino! E quem era ela para vencer aquela batalha? Ninguém! Era uma simples menina em um mundo sujo e injusto que a oprimia, por ser do sexo feminino.
- Está louca, menina! – grita Lang que a puxa para a superfície. – Desejas morrer, criatura?!
- Me deixe... – resmunga, tristonha. – Eu sou um nada neste lugar....Não me querem nesta maldita festa...Só querem que eu esteja lá para me prender a um homem que nem conheço, e se livrarem de mim...
- Ah, minha menina... – suspira a velha que lhe abraça a pequena cabeça encharcada. – Não fales assim, minha criança. Não tens culpa de nada neste mundo...
- Não, eu tenho certeza de que a culpa é minha! Eu estraguei tudo com meu nascimento! – começa a chorar no ombro da velha.
- Não, não fales isto. Ah, se soubesse como este mundo já estava arruinado antes de tua vinda... – lhe acaricia a face branca. – Tu não tens culpa de nada, apenas pagas por erros antigos...
- Como? – a menina a encara.
- Tua vida, teus problemas...- a velha faz uma longa pausa e lhe olha profundamente. – Nada mais são do que reflexos das conseqüências do passado...
- De que problemas...Tu estas falando?
- Águas passadas não movem moinhos, minha doce criança. Deixe o passado descansar em paz, não vale a pena mexer em cicatrizes antigas.
- Mas...
- Nada de 'mas'! Vamos vire-se e me deixe lavar tuas costas. E pares de chorar, ou teus olhos ficarão tão inchados que nem a maquiagem ira lhe ajudar!
Sakura termina de se lavar e sai daquela saleta. Lang a ajuda a colocar suas longas vestes. Primeiro, a menina se cobre com uma longa e fina túnica transparente. Em seguida, veste uma espécie de camisola decotada, que lhe cobria o pescoço e possuía grandes mangas largas. Por cima lhe foi colocado um longo colete de seda levemente rosada, todo decorado com pétalas de cerejeira. Seu abdômen foi enfeitado com uma peça de tecido leve, sendo presa com uma rica faixa avermelhada, em detalhes dourados.
Seus longos cabelos foram delicadamente penteados e lhe foi preso somente a parte superior em um pequeno coque, que em seguida fez par a um riquíssimo enfeite de flores e pequenas pedras esmeralda. Em seu rosto, a maquiagem lhe foi pouca, pois sua face em si, já era por demasiada bela.
Sakura termina de se enfeitar com as suas reluzentes pulseiras e adornos e se vira de frente para Lang. A velha lhe encara com os olhos cheios de lágrimas e orgulho.
Ela estava linda, perfeita, magnífica! Se um dia os anjos tivessem de ter inveja de um mortal, esta seria Sakura. A falecida, com certeza, estaria muito orgulhosa de sua criança. A empregada se aproxima da penteadeira e pega um grande frasco de perfume. Aproxima-se de Sakura e esguicha no ar a deliciosa fragrância ao redor da menina, que instantaneamente fecha os olhos.
Sentindo aquele doce cheiro no ar, Sakura lembra-se de suas gostosas tardes de primavera, em que se sentava ao pé de sua grande árvore e dormia a sua sombra. Ao ouvir o silencio do ambiente, ela arqueia seus grandes olhos e encontra Lang com um sorriso bobo na face.
- Está na hora...
- Sim...- responde docemente.
Syaoran alisava constantemente a farda de seu uniforme. Olhava-se no espelho e desaprovava sua cabeleira rebelde. Sentia o suor do nervosíssimo lhe escorrer pela espinha, enquanto seu estômago se embrulhava com aquela situação. Não via a hora de abrirem as portas daquela maldita saleta. Dali a poucos minutos ele entraria no salão real e reencontraria a sociedade que abandonou e em especial a sua pequena bonequinha.
"Diabos, homem...", xingava-se, "...pare de pensar nela com estes adjetivos melosos! Quando eras crianças, tudo bem, mas agora és um homem! Não uma criatura afeminada!"
- Syaoran?
- O quê? – olha a rapaz que o chamava, assustado.
- Pelos deuses, o que você tem? Parece nervoso!
- Estas louco?! Eu nunca fico nervoso! – olha-o irritado.
- Se é o que diz...
- Senhores! – chama um dos grandes generais que ali se encontrava. – Acompanhem-me até o salão! Nosso grande Imperador ordena que nos apresentemos!
Todos os grandes guerreiros dali se levantam e se dirigem a entrada. Matsuya, seu soldado de confiança, se encontrava ali presente, pois o Imperador permitia a presença de um membro das tropas.
Com passos firmes, Li adentra o grande salão dourado. Totalmente enfeitado e iluminado, o luxo do lugar parecia querer lhe penetrar a alma. Damas, perfeitamente vestidas e belas, desfilavam em companhia de familiares, enquanto se deixavam observar as reluzentes jóias em seus pescoços, pulsos e orelhas. Já os homens, encontravam-se em rodas exclusivistas e animadas, onde discutiam a política e elogiavam a beleza e fortuna da cidade proibida.
Seu Imperador, rodeado pelos amigos mais próximos e pessoas importantes, conversava longe do trono, mantendo sempre seu ar de superioridade e realeza. Ao notar a presença de seus guerreiros, o Grande Filho dos Céus se aproximou e foi recebido com reverências. Ordenando a recomposição deles, recebeu olhares sinceros de devoção e obediência.
Ele se dirige a seu trono e para ao lado deste, pedindo o silêncio geral.
- Escutem todos aqui presentes. Membros da sociedade, respeitados políticos e homens de bem, eis que chegam aqui, meus leais guerreiros. Generais e Capitães recebam, como gratidão por sua força e coragem, os aplausos de agradecimento do povo da China e de seu imperador!
O momento seguinte foi seguido por uma grande enxurrada de agradecimentos e bateres de mãos. As mulheres encontravam-se ao canto, onde aplaudiam silenciosamente acompanhadas dos mais velhos e os homens, mais ao centro, de onde viam de perto os defensores do império.
Syaoran não podia sentir-se mais orgulhoso. Tinha certeza de que se seu pai o visse, seus olhos brilhariam radiantes. Infelizmente, ele havia falecido fazia dois anos e isto o pôs no comando da família. Quando se fez o silêncio, o Imperador tornou a falar.
- Agora, meus caros, peço-lhes para que se afastem dos portões laterais e abram caminho para minhas esposas e filhas!
As pessoas, instantaneamente, se puseram a abrir caminho. Os grandes portões dourados foram arqueados e delicadas beldades surgiram. Uma mais linda do que a outra, pensavam os homens. Eram tão formosas as moças e mulheres, que todos abriam suas bocas ao vê-las passar.
Syaoran, em particular, sentia-se embriagar com tanta formosura. Tão belas, porém tão proibidas, pensava divertidamente. Ele se encantara com todas, mas uma jovem, em particular, lhe chamara muito a atenção. Ela era pequena e delicada. De pele branca e longos cabelos negros, seus olhos tristonhos o encantavam. Seguia-a maravilhado, com o olhar. Viu-a se sentar em uma ala reservada para a família real e ficou a pensar se ela seria filha ou esposa do grande imperador.
- Quem estas olhando, meu Capitão?! – divertia-se Matsuya.
- Não que sejas da tua conta, soldado insolente... – falava ao mesmo tempo em que não parava de olhá-la – Mas meus olhos perseguem aquela adorável dama, de longos cabelos negros! – sorri maliciosamente.
- Tens muito bom gosto, Li! Pelo que sei, ela é Meiling, a 9º filha do Grande Imperador. Dizem que é a preferida dele. E não deve ser para menos, afinal, ela é filha da Imperatriz Sorae.
- Meiling, heim... – olhava-a fixamente. – Eu não me importaria de fazê-la minha esposa, se quisesse me casar!
- Com certeza conseguiria, pois ganharias pontos extras por ser filho de Shang Li!
- Se ela é a favorita, acho que não teria problemas para consegui-la!
- Não faças besteiras, Li! Sei que, apesar da sua beleza, não irias querer nada sério com ela, então não tentes seduzir esta mulher!
- Tu deves me julgar um sem-vergonha, não?! – olha-o indignado.
- Sim...
- Oras! Não, tudo bem, esta eu deixo passar, pois estamos em um lugar formal! – desembucha irritado. – Mas, e você, viu alguma que tenha lhe agradado?
- Por favor, Capitão! Não me dou nem ao luxo de escolher. São filhas do Imperador, por mais que eu desejasse alguma, não teria chances de me casar com ela!
- Não queres que eu acredite nisto, não é? Vais me dizer, que nenhuma lhe chamou a atenção, em especial?
- Bom...Olhe para aquele lado – aponta discretamente para a direita do altar do trono. – Procure uma garota de longos cabelos claros e roupas rosadas.
Syaoran segue as instruções do amigo, até deparar seus olhos na moça indicada. Pelos deuses, aquilo era uma deusa ou mortal?! Ele se sentia congelado, olhando para aquela criatura belíssima. Aquela aparência doce e gentil, em face de menina. Aqueles lindos olhos esverdeados eram provocantes, debochados e extremamente excitantes. Aquela pele branca parecia enfeitiçá-lo, como se o chamasse, o desafiasse a descobrir mais.
Mas, aqueles olhos... Eles lhe eram tão familiares...! Assustadoramente familiares!
- Sa-sakura...! – balbuciou trêmulo e excitado.
Continua...
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Oi, gente!
Olha desculpa pelo atraso, mas as provas tão chegando e tah difícil! #P ( e eu ainda tive um bloqueios desgraçados....¬¬;)
Eu ainda não vou postar os comentários por falta de tempo, mas até o fim da semana eu o faço! .
Obrigado a todos que escreveram e please, mandem reviews!
Bjinhos felizes para todos e um bjaum especial pra minha grande revisora, M-chan!!!!
Caroll
