Capitulo 9 – Alma Violenta

"E os dragões abraçados no céu
Lado a lado entre a vida e o além
Tudo aquilo que um dia eu perdi
Os sorrisos que nunca sorri
E viver por viver eu vivi
Já sumindo entre estrelas os vejo:
O dragão voa longe e a virgem a cair..."

(Subaru Sumeragi)

A paisagem ao redor era campestre. Arvores e pedras para onde quer que se olha-se. Já se fazia uma semana desde que Sakura e Meiling haviam abandonado o castelo Imperial e iniciado sua viagem. Elas se direcionavam para a casa da grande mãe dos céus, aquela que trouxera ao mundo o Imperador Chon Tuang.

Agora lembrando, Sakura só vira sua avó uma vez na vida. A Imperatriz Yani era uma mulher muito bondosa, um pouco rígida, mas lembrava-se com carinho da bela face da parenta.

Tradicionalmente as mães dos Imperadores moravam no império, sob a proteção de seus filhos, mas Yani era diferente. Nadeshiko sempre lhe contara que a mãe de seu pai era uma mulher forte e teimosa, do tipo de quebrar barreiras. Sua mãe lhe contara que ela dizia a seu pai, que já havia escrito sua história naquele império, que não mais havia necessidade de sua permanência no castelo, pois Chon já estava casado e uma nova Imperatriz já ocupava o trono.

Com tais argumentos, sua avó mudara-se para um luxuoso palacete, devidamente construído e protegido para ela. E agora, as princesas do Império se dirigiam para o lar da Imperatriz Yani Tuang.

- Já vai escurecer, não? – pergunta Sakura para Meiling, que se encontrava a frente dela dentro da carruagem.

-...

Sakura suspira profundamente. Sua irmã se encontrava nesse silêncio mórbido desde a partida.

A ruiva não se surpreendera com a atitude de seu pai para com ela. Quando sua mãe morrerá, ela muitas vezes pensou que seria mandada embora. Para falar a verdade, sempre acreditou que esse dia chegaria. Já Meiling não.

No dia em que fora chamada para o escritório de seu pai, surpreendeu-se ao encontrar sua irmã. Quando ele anunciou a partida de ambas, o choque foi instantâneo, mas não pelo fato dela, Sakura, estar sendo enviada para outra moradia, mas sim, pelo fato de que Meiling lhe acompanharia.

Logo pensou na insanidade de seu pai. Como podia um homem estar mandando sua cria favorita embora? Mas, logo lhe veio a resposta: Pey-Meii. Aquela mulher era mais perigosa do que ela pensara. De alguma forma, aquela feiticeira infame conseguira corromper o coração do Imperador e assim o controlava como queria.

Era triste o destino que sua irmã recebia. Sempre amada e bem recebida, agora era rebaixada ao mesmo fim que a ovelha negra da família.

Olhando a sua volta, pensou que gostaria da companhia de outra pessoa. O Imperador mandara uma comissão de trinta soldados bem treinados, para protege-las durante a viagem e no entanto, nenhuma empregada que as acompanhasse, unicamente para que elas tivessem que conversar entre si. Quanta maldade!

Na tentativa de passar o tempo, apoiou sua cabeça na janela e ficou a fitar o céu. O entardecer estava a se aproximar e junto deste, chegavam rápidas nuvens trazidas pelo vento. Uma chuva logo se apossaria de seu caminho e concerteza teriam de viajar até achar uma cidade que lhes desse abrigo.

Com a visão embalada pelo caminho sem fim, seus pensamentos voaram até Syaoran. Como estaria o desgraçado? Sentiria, ele, sua falta? Devido a tais pensamentos, um riso simples escorregou em meio a seus lábios. Quanta inocência de sua parte fantasiar que ele pensava nela. De certa forma, isto era até irônico.

A verdade era que ela estava mudando, crescendo por dentro. Estava se tornando uma mulher... Uma mulher fria e sem qualquer esperança. Ignorância a sua, pensar que era uma mulher... Talvez em espírito, mas não em carne...

Suas faces coraram de leve, ao pensar em si desta forma. Jamais tivera desejos, mas ultimamente, além de querer machucar insaciavelmente, desejava ardentemente experimentar os prazeres da carne. Definitivamente, ela estava enlouquecendo.

De repente uma parada brusca lhe arrancou de seus pensamentos. Com o semblante confuso, olhou para Meiling e encontrou na irmã uma duvida semelhante a sua.

- O que aconteceu? – pergunta Meiling

- Não faço idéia... – reponde preocupada, sentindo o receio lhe preencher a mente.

Desde que haviam partido da cidade proibida, nunca haviam parado no caminho, somente em pousadas seguras e bem protegidas. Como se fosse uma sirene estridente, um grito de pavor toma os ouvidos femininos de ambas as garotas e os olhos se arregalam em espanto.

- O que foi isso! – pergunta Meiling apavorada – Meu deus, o que são estes gritos!

Sakura sente as mãos tremerem e com dificuldade afasta de leve a cortina que protegia a janela da carruagem. Diante do verde selvagem de seu olhar, um jorrar de sangue pinta a imagem de sua vista. Sues olhos seguem a rica a queda do corpo ferido de um soldado imperial. Em seguida, os mesmos olhos, que antes presenciavam a morte daquele desgraçado, agora olhavam espantados para a face maldosa de um marginal.

Os olhos verdes da menina refletiram o rosto sanguinário da figura assassina e Sakura sentiu o espirito tremer diante da situação. Lá fora, os soldados imperiais escolhidos a dedo para proteger as princesas da China, encontravam-se caídos por sobre o solo, jazindo seus últimos suspiros sofridos, enquanto bandidos, assassinos faziam-se vencedores na situação.

- O que esta acontecendo? – pergunta Meling com o coração apertado

- Fique quieta! – sussurra Sakura apavorada

- Olhem dentro da carruagem! – grita o homem que vira Sakura– Há diversão para vocês, meus homens! – sorri perversamente enquanto encara a ruiva apavorada

Sakura sentiu o sangue gelar nas veias. Aqueles homens concerteza fariam horrores com elas! Ela tinha de pensar rápido, tinha que achar um jeito de salvar Meiling, de se salvar!...Não...Ela, Sakura, poderia morrer, era uma desgarrada sem salvação, mas Meling não! Sua irmã não podia sofrer o que o destino reservara para sua alma. Salvaria Meling sim, mas assim que esta se encontra-se em segurança, não faria mais nada para continuar viva.

- Fique aqui! – fala com firmeza para a garota de olhos vermelhos

- O que vai fazer! – pergunta preocupada, indo em direção a janela

- Não olhe! – grita colocando sua mão na cortina – Nunca lhe dei uma ordem ou conselho, mas agora, pela primeira vez, eu ordeno que você não olhe para esta janela! – fala com os olhos inflamados de coragem

Meiling se espanta com a reação de sua irmã. Nunca vira Sakura se impor a ninguém, mas agora ela estava diferente. Agora parecia mostrar um lado oculto de sua personalidade e por um instante, sentiu medo da garota a sua frente.

- Escute bem, pois temos pouco tempo! – fala as pressas – Esta havendo um massacre lá fora e os nossos soldados estão sendo mortos por desordeiros! – Sakura vê o olhar de Meiling mergulhar em desespero e nesse momento, sente o coração doer pela irmã – Mas... – seu olhar torna-se doce e tristonho - ...eu vou te salvar. Não vou deixar que toquem num fio do seu cabelo. – sorri melancólica – Por isso, eu vou lá fora e quando eu te chamar, você saía correndo daqui e fuja! Fuja para bem longe e tente encontrar alguém que te ajude! – fala com voz chorosa

Meling se espanta com a situação. Sakura iria se arriscar por ela? Mas, por que?

Sem mais demoras, a ruiva abre a porta da carruagem e sai rapidamente, fechando a mesma em seguida. Lá fora, naquele cenário de morte sem fim, com corpos de soldados jogados por toda parte, Sakura sentiu um enorme enjôo atacar seu estômago e seus olhos arregalaram-se expressando seu medo, tanto pelos corpos desmembrados, que estavam por toda parte, como pelo olhar monstruoso daqueles homens nojentos e banhados em sangue.

Uma lágrima de pavor rolou pelo seu frágil rosto e naquele instante, ela quis correr para bem longe, para o colo quente seguro de sua falecida mãe.

- Vejam só, mais que bela menina... – falou o homem que a vira dentro da carruagem – Peguem-na para mim homens! Quero ter uma diversão esta noite...

"NÃO!", gritou sua mente. Ela não podia enfrentar estes monstros, eram mais de dez homens, contra uma única menina! O que ela podia fazer! Suas pernas começaram a tremer com a aproximação de um deles, de olhar malicioso e maldoso. Seu rosto se contorceu de medo e ela se encostou à porta da carruagem, desatando a chorar em pleno desespero.

- Não chore menininha, você irá gostar do que ensinaremos... – ri por pura malícia

- Não... – sussurrava aos prantos, sentindo aquelas mãos nojentas lhe pegarem.

De dentro da carruagem Meiling olhava apavorada para aquela situação. Espiava amedrontada por uma fresta da cortina e agora chorava pelo que aconteceria a Sakura. Em toda a sua vida, nunca pensara que se encontraria numa situação como esta. Quando era criança, costumava ouvir historias horríveis de massacres de guerra e assaltos de estrada, mas sempre esteve certa que isto nunca viria a lhe acontecer. Agora, diante desta cena brutal de morte e pura maldade humana, chorava pelos soldados mortos, por seu destino e por Sakura...

Enquanto isto, do lado de fora, Sakura era arrastada pelos cabelos até um canto da floresta. Iria ser estuprada, disso não tinha duvida, mas não podia deixar isto acontecer. Chorava como uma condenada, sem saber o que fazer. Pensava em sua mãe, em Kaho, na sua querida velha Lang, em Syaoran...Sim, Syaoran, por Deus era tudo culpa dele! Maldito, se antes não tivesse aparecido em sua vida, tornado-a uma rebelde e depois lhe abandonado, ela não estaria nessa situação. Odiava-o de todo o coração e agora, suas lágrimas eram de ódio, puro ódio!

Sentindo aquele ser grotesco lhe arrastar pelos fios delicados de seu cabelo, a dor que antes sentia, não lhe atinge mais e com toda agilidade que possuía, ela segura o pulso do desgraçado, apoia seus pés no chão e se impulsiona para cima, conseguindo atingir a cara do homem com seu joelho.

O homem solta seu cabelo e caí para trás, chamando a atenção dos outros.

- Ora, sua putinha! – grita outro bandido, indo auxiliar o amigo

Sakura salta por sobre ele e lhe atinge a face, fazendo sangrar o nariz do infeliz. Pousa no chão e logo se abaixa, dando uma rasteira no homem que lhe vinha por trás. Mais três vem para cima dela e mirando o sujeito da esquerda, corre na direção dele, desviando de um soco, lhe acertando o estômago e em seguida a face.

Aproveitando a queda de seu alvo, pisa no homem corpulento, usando-o como base e joga-se nas costas de um outro inimigo que lhe vinha pela direita, acertando-o no pescoço. Parando perfeitamente de pé, sente os pulmões arfarem e logo se vê cercada de inimigos.

- Ora essa, vou morrer sem ver de tudo nessa vida! – fala o sujeito que parecia ser o chefe – Uma princesa que luta...e muito bem por sinal! – elogia sarcasticamente

- Faço o que posso! – ri esnobe – O que se pode fazer se luto melhor que seus homens!

- Uma lutadora de língua afiada e bonita... – enumera – Mas, será que estas tuas habilidades podem com isto! – pergunta em riso, abrindo caminho

Um jovem rapaz, de treze anos, traz como prisioneira Meiling. A jovem de face rosada e chorosa encontrava-se presa pela raiz do cabelo, numa cena em que Sakura sentiu o olhar transtornar-se.

- Sakura! – grita a menina chorando e espremendo os olhos, ao sentir o jovem rapaz lhe puxar as mexas com mais força

- Seus animais! – grita a ruiva em fúria. Agora ela sabia que estava sem saída, pois prometera a si mesma que salvaria a irmã – Deixem-na em paz!

- Acho que não! – fala se divertindo com a situação – Renda-se!

- Largue ela!

- Kotoko... – ordena o chefe ao garoto

O rapaz da uma rasteira em Meiling, fazendo a menina cair e em seguida, obriga-a a se levantar de novo, enquanto ele lhe puxa mais os cabelos. Meiling grita mais alto e as lágrimas lhe saem com mais força, não conseguindo conter os soluços.

- PARA! – grita com lágrimas nos olhos – Por favor, eu me rendo, mas...para!

- Boa menina... – fala manso – Peguem ela! – ordena firmemente

Sakura permanece parada, e um dos homens se aproxima, acertando um soco na face juvenil. O anjo ruivo cai para o lado e logo se aproximam mais bandidos, que lhe acertam de inúmeras maneiras. Meiling vê sua irmã ser espancada e fica horrorizada.

- Sakura! Sakura! – grita Meiling tentando correr na direção desta, mas logo é puxada pela cabeleira, caindo sentada no chão

- Calada, sua cadela! – grita o garoto

- Sakura! – chama-a com os olhos espremidos, enquanto segura, inutilmente, a mão do garoto – Não deixe que eles façam isso com você, Sakura! Defenda-se por favor! Não se importe comigo! Faça alguma coisa minha irmã!

- O que você acha que ela pode fazer? – pergunta o garoto em um tom descrente – Nos matar!

- Sakura não faria isso! Ela não é como vocês! - grita

Sakura é levantada do chão e segurada por dois homens. Totalmente machucada, suja e sangrando, ela olha para o chefe daqueles assassinos, que a encarava com desdém.

- Você esta nojenta! – zomba de sua aparência – Mas, pode ser usada mesmo assim!

- Vá pro inferno! – cospe na cara dele um misto de sua saliva com sangue

- Vagabunda! – bate na face machucada – Você merece um castigo! – desembainha uma pequena adaga e a encosta na face feminina. Ele desce o metal frio pelo pescoço dela, acariciando a pele com a lâmina frívola. Trilha um caminho lento, até chegar no ombro dela e rasga, lentamente, a roupa e a pele de Sakura.

Tendo o grito de dor entalado em sua garganta, o ambiente a volta dela começa a girar. As cenas mais marcantes de sua vida lhe vem a mente: a morte da mãe, o abandono de Syaoran, o beijo do maldito, a batalha no salão de armas, a cena do cemitério, tudo! Tudo vinha num misto confuso, tristonho, arrebatador! A palavra matar começa a ecoar na sua mente, enquanto o ferimento recente lhe arde em contato com a atmosfera. O sangue lhe escorre quente, lento e indolor e as palavras do pequeno garoto lhe ecoam na cabeça, seguida de uma enorme dificuldade de respirar. " Vou matar Syaoran...", começa a delirar, " ...vou matar estes desgraçados, vou matar meu pai, vou matar TODOS! Ferir, sangrar, brotar minha lâmina na carne de um infeliz! Eu preciso, eu preciso disso! Eu vou matar, matar, matar...Sangue eu quero ver sangue!", explode sua consciência, obscurecendo o olhar da menina.

Sakura começa a rir de cabeça baixa, fazendo todos estranharem a situação.

- Do que esta rindo? – pergunta o homem desconfiado – Acha isso divertido? – pergunta indicando a pequena arma

- Rasga a minha pele, faz meu sangue jorrar... – ela olha para ele – Mas eu juro que te mato! – começa a gargalhar

O homem fica assustado com o que vê. Nos olhos daquela menina parecia se refletir o brilho da morte, o desejo assassino da vingança. O demônio possuíra aquela menina e com essa simples idéia, seus joelhos começaram a tremer.

Assim que Sakura percebeu o medo se apossar daquele ser imundo, reuniu forças de sua raiva e se impulsionou para frente, batendo no peito do sujeito. Em seguida, bateu com o calcanhar na partes intimas de um dos homens que a segurava e puxou a espada da bainha do inimigo.

Sem dó, nem piedade , enfiou a espada no abdômen do outro homem e logo sentiu uma prazerosa sensação lhe preencher o âmago. Segurou a haste da espada com mais força e afundou ainda mais a lamina reluzente, tendo um suspiro de prazer lhe escapando dos pulmões.

O homem cai morto no chão e Sakura pega a espada do falecido partindo para cima de outro bandido, duelando agilmente e matando sem piedade. Meiling assistia tudo assustada. O que estava acontecendo? Por que ela estava sendo tão cruel? Aquela concerteza era a cena mais barbara que já vira em toda a sua vida. Era como se a alegre e simpática Sakura houvesse evaporado e dado lugar a um ser brutal e sanguinário.

O rapaz que segurava Meiling, tremia e percebendo isso, ela tenta se soltar, mas ele a segura.

- Ela não vai me matar se eu estiver com você!- fala temeroso

- Sakura... – sussurra assustada

A garota continuava a lutar de forma violenta. Chutava aqueles homens, voava pelos céus cortando o que via pela frente, fazendo cair um, dois, três de seus inimigos. Quem caísse apenas machucado, ela logo afundava no coração a espada que usava, fazendo surgir mais sangue, brutalidade e violência naquele massacre.

O chefe dos bandidos chocava-se com o que via. Era um ser frágil revelando-se uma cobra assassina, um monstro abominável. Sentindo a raiva de ver seus companheiros serem mortos por aquela garota, desembainhou sua espada e apertou com força a haste de sua arma. Respirou fundo e enquanto via ela dilacerar o braço de um de seus homens, firmou os pés no chão e correu na direção daquele ser diabólico.

Percebendo o novo inimigo que se aproximava, Sakura jogou o cadáver de sua vitima para o lado e se pos em posição de ataque. Recebendo o golpe do inimigo, ela cambaleia para trás, mas logo se firma no solo e revida o golpe. Percebendo que sua força não fora o suficiente, ela se abaixa e arrisca uma rasteira, que o inimigo evita com um pulo e mergulha com sua arma em sua direção. Sakura se joga para o lado e sorri. Finalmente um homem com o qual podia lutar direito.

A menina se recompõe depressa e parte para o ataque novamente. Saltando por sobre a cabeça do inimigo, este a repele com sua arma e ela é jogada para o lado e sem demoras, pousa perfeitamente e parte para cima dele de novo.

Duelam incansavelmente, até que ele lhe burla a espada e Sakura se encontra desarmada. A jovem ardilosa esboça um simples sorriso no rosto, tendo um brilho violento e satisfeito nos olhos. O homem permanecia com sua espada apontada para o peito da garota e assim, sorri vitorioso.

- Agora, vais morrer, não só por mim, mas por todos os homens que tu matou!

- Oh, que pena... – fala irônica – Matei TODOS os seus homens, sim! E faria tudo de novo... – sorri em malícia, passando a língua nos lábios sangrentos e machucados

- Sua desgraçada! – ele investe com sua espada contra ela e esta se abaixa e da uma rasteira no sujeito

O homem cai, deixando sua espada voar pela atmosfera, dando chance a Sakura de pega-la para si. Capturando a arma do inimigo, ela rapidamente afunda o metal fundido no abdômen masculino, fazendo a criatura urrar de dor.

- Concentre-se nessa dor... – sussurra maldosamente - ...pois é isto que tu e teus malditos companheiros causaram a todos aqueles soldados e todos os outros que vocês mataram! – fala por entre os dentes

Ela gira a arma dentro da carne da vitima e o homem grita mais alto, cuspindo sangue abundantemente. Em poucos segundos o assassino para de respirar e Sakura se levanta para receber um ataque surpresa que lhe vinha pelas costas. Alguns bandidos haviam se escondido e agora começavam a ataca-la, pensando que esta estivesse desprevenida.

Meiling olhava com pavor para o cadáver do chefe daqueles homens. O sujeito ostentava no olhar moribundo um medo, um pavor tão grande que parecia ter visto o diabo. Um enjôo lhe subia pela traquéia, uma angustia mistada em choro e soluços, algo que a garota de cabelos negros não conseguia distinguir. O garoto que continuava a segura-la tremia sem parar e ela podia ouvir os soluços dele.

- E-ela...ela...vai me matar... – chorava o rapaz, enquanto assistia aquele demônio ruivo

Por um instante Meiling esqueceu a raiva que tinha do garoto que a segurava. Talvez o infeliz andasse com aqueles marginais por não ter escolha.

- Ela não vai... – sussurrou meio contida

- Como? – perguntou soluçando

- Sakura só esta... – ela parou por um instante - ...matando... – proferiu aquela palavra com angustia - ...pois...estão...atacando ela... – falou por fim

O garoto se encolheu e continuou a assistir a luta. Talvez aquela menina estivesse certa. Se ele ficasse parado no canto dele, a garota ruiva talvez não o matasse. Olhou para Meiling e de novo para Sakura. Viu a menina de olhos verdes matar o último de seus inimigos e não conseguiu se conter.

I woke today

Inside the train of dreams

The rain poured down

In black and white

I stood and stared

the rest of what remains

My own world crumbling aroun

(Hoje eu acordei

Dentro de um trem de sonhos

A chuva forte caía em preto e branco

Eu parei e olhei fixamente

O resto do que sobrou

Meu próprio mundo se desmoronando)

As nuvens ao redor se tornavam mais pesadas e a chuva desabaria dali a pouco sobre o solo manchado, lavando, talvez, um pouco de toda aquela violência. O garoto amedrontado largou Meiling e desatou a correr. Sakura, ao perceber a fuga do último dos bandidos, sorriu em maldade e saltou pelos ares na direção da preza fujona.

-Sakura! – grita Meiling percebendo o que sua irmã queria – Deixe ele ir! Ele não fez nada a você! – grita com todas as suas forças, com medo da garota de olhos verdes

I held my tears

One day comes after another

(Eu prendi minhas lágrimas

um dia vem após outro)

Sakura não deu ouvidos as suplicas da irmã. Correu atrás dele e antes que o menino pudesse perceber, ela já havia lhe capturado. Meiling correu até eles e tropeçou no caminho, caindo de joelhos no chão.

- SAKURA! – gritou com todas as forças de seus pulmões

The falling rain

Carassed my skin again

Just let it flow to wash away

A time gone by

Feeling long denied

My heart is no more bound in pain

(A chuva que caiu

acariciou minha pele novamente

Só deixe-a fluir para eliminar

O tempo que passou

Sentindo negado por muito tempo

Meu coração não está mais amarrado em dor)

Antes que qualquer outra palavra pudesse ser proferida, o anjo ruivo rasgou sua lâmina na garganta daquela criança perdida. A espada fria e sem coração cortou os últimos suspiros juvenis e o sangue do garoto jorrou forte e impecável no rosto de Sakura.

Sentindo o liquido quente e viscoso lhe preencher a visão, Sakura sentiu-se acordar daquele transe violento e sem sentido. Sentiu a arma cair de sua mão e bater com força de encontro ao solo. O corpo jovem do menino caiu-lhe por sobre o colo e ela foi levada ao chão, tendo o cadáver daquele anjo desgarrado nos braços.

And now it's clear

One day leads on to another

I dry my tears

There´s so much else to discover

Somewhere

(E agora está claro

Um dia segue o outro

Eu sequei minhas lágrimas

Há tanto para se descobrir em outro lugar)

Olhou ao seu redor e viu, apavorada, o que havia feito sentindo a alma entrar em desespero. Nunca matara um ser em toda a sua vida e agora, num momento de pura alucinação e loucura, dizimara sem piedade, a sangue frio, mais de dez homens. Além disso, matara uma criança! Sim, aquele menino era uma criança! Não importava se encontrava-se em companhia de assassinos ou não, ele era uma criança!

Meiling levantou-se devagar, sentindo os joelhos ralados arderem. Olhou para a irmã e viu o olhar desolado da mesma. Por que? Por que ela fizera isso?

I hear the sound, a thousand voices

I lost my innocence

I'm on my way across the desert

To rescue what I sent

Out of my heart

Away

(Eu ouço o som

de mil vozes

Eu perdi minha inocência

Eu estou no meu caminho

Através do deserto

Para resgatar o que eu enviei

Fora do meu coração e meu caminho)

Sakura agarrou-se com força ao corpo sem vida e começou a chorar. Lágrimas violentas caíram por sobre seu rosto e soluços arrebatadores lhe fincavam o peito, machucavam sua garganta. Recostou a face na testa do garoto e deixou sua lágrimas misturarem-se com o sangue dele.

Naquele mesmo instante, a chuva começou a cair. Meling olhou para o céu e não proferiu sequer um palavra. Voltou silenciosamente seus olhos para aquela cena angustiante. As gotas frias e pesadas começaram a molhar os cabelos ruivos, lavando aos poucos, o sangue contido na face de Sakura, que continuava a chorar, misturando as lágrimas quentes de seus olhos, com as lágrimas frias dos céus, que também parecia chorar com ela, por ela.

And now it's clear

One day leads on to another

We'll fight our fears

And find the way back to each other

(E agora está claro

Um dia segue o outro

Para descobrir nossos medos

Temos que nos encontrar)

Sakura perdia sua inocência naquele momento. No momento em que matara a sua primeira vitima, no momento em que matara o jovem rapaz em seus braços. Abraçou-se com mais força nele e beijou-lhe a testa com os lábios feridos. Sua boca quente entrou em contato com a pele morna, que se esfriava aos poucos e ela acariciou de leve os cabelos negros do jovem cadáver.

Meiling continuava calada. Não iria falar nada, não seria capaz de violar aquele silencio que naquele momento, era tão precioso. Só ficou ali, parada, no meio da chuva, dolorida e machucada, olhando a triste queda daquele anjo infeliz...

I hear the sound, a thousand voices

I lost my innocence

I'm on my way across the desert

To rescue what I sent

Out of my heart

Away

(Eu ouço o som

de mil vozes

Eu perdi minha inocência

Eu estou no meu caminho

Através do deserto

Para resgatar o que eu enviei

Fora do meu coração e meu caminho)

I hear the sound, a thousand voices

I lost my innocence

I'm on my way across the desert

To rescue what I sent

Out of my heart

Away

(Eu ouço o som

de mil vozes

Eu perdi minha inocência

Eu estou no meu caminho

Através do deserto

Para resgatar o que eu enviei

Fora do meu coração e meu caminho)...

HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Kaho tomava seu chá na varanda de sua casa. Sua cabeça estava atordoada de problemas desde que Pey-Meii chegara na cidade proibida. Aquela feiticeira era o mal em pessoas, era a erva daninha dos belos jardins e sua última maldade lhe tirara a flor mas bela e corajosa do império.

Com o peito inflado de angustia, uma lágrima de tristeza lhe escapa dos olhos. Aquele demônio em forma de mulher também roubara o homem que ela amava. Talvez ela não devesse pensar desta forma, pois o Imperador nunca lhe pertencera e nunca viria a pertencer, mas seu coração teimoso não parava de faze-la se sentir desta forma.

Chon tinha o direito de desposar a mulher que quisesse e este ciúmes bobo não tinha fundamento. Mas, por mais que tivesse noção dos direitos dele, sempre pensara, ou pelo menos fantasiara, que ele também retribuía um pouco do carinho dela. Desde que se casara com a filha de Liang, eles nunca mais conversaram. Óbvio que os assuntos referentes ao país eram constantes, afinal, ela era uma diplomata; mas o fato é que a amizade do Imperador não era mais presente. Era como se ele estivesse adormecido dentro de si.

De repente, enquanto levava a xícara de chá até os lábios, uma pontada lhe atinge o coração e os membros do corpo ficam tencionados, forçando-a a se jogar para trás. Uma dor forte, dilacerante e brutal lhe preenche a alma e o ar começa a lhe faltar aos pulmões. À mente da sacerdotisa vêm a lembrança de Sakura e por um instante, ela tem a visão de sua pequena criança cortando o pescoço de um rapaz e em seguida, caindo em prantos.

Kaho leva a mão até a boca e desaba a chorar. Uma criada que se encontrava por perto vê o ocorrido e corre na direção de sua senhora.

- Senhorita Kaho! Senhorita Kaho! – acude a mulher preocupada, lhe segurando a cabeça que pendia para o chão

A mulher de cabelos chocolate soluçava em desespero e um liquido amargo lhe saiu da boca, manchando o chão. Kaho tossiu fortemente e em seguida vomitou mais. A criada segurava sua senhora, enquanto olhava espantada para o estado da mesma. Quando percebeu que já havia acabado, a empregada pegou um lenço e limpou os lábios da figura abatida.

- Senhorita, o que esta acontecendo...! – pergunta em preocupação

- O demônio de olhos negros... – soluça - ...afastou-me e tudo mudou, Yanan! Tudo! – chora mais forte – Meu anjo aprendeu a matar...! – e em seguida caí sobre o colo da mulher

- Eu não compreendo,... – fala com tristeza - ...mas estou com a senhorita a muito tempo e por isso, chore! Chore, minha senhora...eu lhe emprestarei meu colo... – choraminga acariciando os cabelos lisos, enquanto sussurra um mantra entre lágrimas.

HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Sorae escovava seus cabelos em frente a penteadeira. Alisava seus longos fios negros, admirando a maciez dos mesmos. Olhou ao redor encarando o silêncio de seu quarto, usufruindo do canto dos pássaros que transpassava a janela. Mais alguns minutos se passaram, até que ela finalmente levantou-se bruscamente e bateu com força a escova na madeira de seu apoio.

- Maldita... – sussurrou com raiva, lembrando-se da jovem Pey-Meii

A Imperatriz encontrava-se aflita com tudo aquilo. Quando que Chon Tuang mandaria sua filha favorita embora? Ele havia enlouquecido e tudo levava a crer que a responsável era a jovem concubina que ele arranjara!

Tinha raiva, sim, muita raiva! Detestava aquela maldita que lhe afastara de sua filha e conquistara seu esposo. Mas, o que podia fazer? Proteger o único ser que ainda lhe restava: Chiu-Liang. Seu filho precisava ser vigiado, para que aquela menina mundana não lhe atingisse também.

Enquanto viajava em seus pensamentos, alguém adentrou seu quarto e logo em seguida, fechou as portas, chamando a sua atenção. Olhou para trás e encontrou a figura do Imperador, parado na frente da entrada.

- Deseja alguma coisa? – pergunta séria, com uma certa desconfiança

- Apenas queria a sua companhia, minha Imperatriz... – fala em tom de malícia

- Minha companhia? – fala com ironia – Sua demência já chegou a tal ponto?

- Ah, Sorae... – começa com tom divertido, se aproximando - ...isto são modos para comigo? O teu marido... – chega na frente dela - ...o teu amante! – sussurra no ouvido da esposa

Sorae sente um arrepio lhe subir pela espinha e logo se levanta injuriada.

- O que você pensa que esta fazendo! – pergunta irritada

- O que foi? Não gosta de me ter tão perto? – pega-a pelos braços – Não me deseja, Imperatriz! – malícia beijando o pescoço dela

- E-eu... – gagueja encabulada -...pare... – sussurra tremula

- Por que? Você gosta disso, não! – ri de encontro aos lábios dela

Os dois se envolvem num beijo forte e sensual, se entrelaçando como loucos, movidos pela paixão. Mas, de repente, Soare empurra Chon e lhe atinge a face.

- Retira-te daqui, agora! – grita em fúria

- Estas louca! – fala espantado – Tu é minha mulher, não grites assim comigo! – altera-se agarrando-a novamente

- Me largue! – grita, enquanto sente ele lhe descobrir o ombro de forma rude, machucando-a

- Não me negues o que é de direito! – beija-lhe a pele nua

- Já disse para me soltar! – berra lhe acertando as partes intimas e vendo-o cair

Sorae corre para fora do quarto e bate as portas, se apoiando na parede do corredor. Ofegante e confusa, ajeita as vestes e respira fundo. Logo a explicação lhe vem a mente e ela se põe, apressada, a procurar o quarto de Pey-Meii.

Logo que encontra o quarto da dita cuja, adentra de forma brusca, assustando as criadas que a ajudavam a se vestir.

- Saíam, eu termino! – fala rígida, vendo as mulheres saírem apressadas e fecharem a porta

- Algum problema, Imperatriz! – pergunta a garota preocupada

Sorae caminha lentamente na direção da menina e para na frente desta, pegando o robe de cetim amarelo.

- Vista! – ordena friamente, erguendo a peça de roupa

Pey-Meii meio confusa, obedece, vestido-se.

- Vira-te! – ordena novamente, vendo a menina ficar de costas

A Imperatriz pega a faixa para prender a roupa e envolve a cintura de Pey-Meii. Da duas voltas com o longo tecido e se prepara para dar um nó.

- Ouça bem, pois eu não voltarei a repetir... – sussurra com raiva – Não brinques comigo! – aperta a faixa no fino ventre feminino, vendo a menina gemer de dor e se segurar no espelho – Mandas-te minha filha embora e enfeitiças-te meu marido... – aperta mais forte, ouvindo outro gemido – Mas, nem pense em chegar perto do meu filho ou de tentar me atingir... – fala com mais ódio, dando um nó cego e muito apertado, quase arrancando o fôlego feminino – Você não sabe com quem esta lidando! – por fim termina e começa a se retirar

Pey-Meii sente o ventre doer e o ar se comprimir. Se solta do espelho e tenta inutilmente desfazer o nó de sua roupa, sem adquirir resultados. Sentindo pontadas de dor, caí de joelhos, respirando ofegantemente. Olha para Sorae que saía do quarto e se desespera.

- Po-por favor... - sussurra

Sorae olha para trás e abre a porta, onde encontra as duas criadas aguardando. Saí do quarto e começa a se retirar.

- Podem entrar...- fala secamente

- E o que podemos fazer? – pergunta uma das mulheres aflita, vendo a garota no fundo do cômodo

- Tanto faz! – responde de longe, sem se virar

As mulheres entram as pressas para socorrer a garota. Enquanto uma delas a ajuda a se levantar, a outra busca uma tesoura na cômoda e corta o tecido. Pey-Meii sente um alivio enorme lhe tomar o corpo ao se libertar da faixa. Respira fundo sentindo a coluna dolorida e se senta na cama.

- Ela é louca! – pergunta a feiticeira aflita

- Deves ter feito algo muito grave para ser castigada por ela, senhora... – fala uma das criadas em preocupação

- Por que dizes isto! – pergunta Pey-Meii

- A Imperatriz castiga as esposas desobedientes... – começa tímida

- A ultima vez que ela fez isto... – interfere a outra - ...foi para punir Kanoe, a 13º esposa do grande Imperador. Parece que ela havia discutido com Meling e a Imperatriz Sorae resolveu puni-la. Na época Kanoe parecia estar nos primeiros meses de gravidez...

- Mas ela perdeu a criança,.. – completa a outra - ...pois a mãe Sorae lhe apertara tão forte o ventre, que estrangulara o pequeno ser! – conta banalizada

Pey-Meii arregala os olhos. Sorae não era uma mulher facilmente manipulável e isso lhe trataria problemas. Desde que chegara a cidade proibida, percebera que a Imperatriz da China tinha muitos desejos reprimidos. E sobre desejos, ela, Pey-Meii, entendia muito bem. A feiticeira pensou que se agradasse a grande mãe, através de seus prazeres, conseguiria controla-la, mas pelo visto, pensara errado.

A garota de olhos negros olha para a porta de seu quarto e sente o peito se comprimir em preocupação. Talvez ela tivesse facilitado um pouco sua vida, ao tirar as filhas do Império de seu caminho; mas talvez ela também tenha atiçado as brasas mornas de outros obstáculos...

HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Sakura começava a arrastava o cadáver do jovem rapaz. A noite já havia caído, a chuva cessado e ela tinha de fazer alguma coisa.

- Deixe-me ajuda-la, Sakura... – fala Meiling se aproximando timidamente

- Não. – responde firme e fria – Eu o matei, eu o enterrarei...

- Mas...

- Faça-me um favor e não cause mais problemas... – fala sem encara-la – Entre para dentro da carruagem e tente encontrar alguma roupa para vestir...Não fique doente, pois não posso cuidar de você... – termina e volta a levar o garoto morto

Meiling permanece silenciosamente irritada. Não tinha o direito de causar mais problemas para Sakura, mas sua irmã não tinha porque lhe falar daquela forma. Sem falar mais nada, deu as costas para a jovem ruiva e se pos a caminho da carruagem. Seus pés feriram o caminho a frente e ela olhou para a grande mala posta no chão. Eram as suas roupas! Para sua "sorte", aqueles bandidos haviam retirado sua mala de cima da carruagem e agora tudo que ela precisava fazer, era tentar coloca-la para dentro de seu abrigo.

Abriu a porta do transporte e começou a puxar a pesada mala. Depois de grandes esforços e muitos tombos no chão lamacento, ela finalmente se encontrava abrigada. Abriu a mala e começou a vasculhar no meio de suas roupas. Enquanto procurava o que usar, um súbito medo se apossou de seu corpo. O que aconteceria com ela dali em diante?

Enquanto isso, ainda no frio daquela noite, Sakura procurava um jeito de enterrar o jovem garoto. Mesmo achando errado matar aqueles outros desgraçados, o pobre menino era o único que merecia um túmulo, afinal, era uma criança e fora o único que ela matara "injustamente"...que não havia tentado lhe matar.

Uma lágrima lhe escorreu pelo rosto ferido ao lembrar da cena. Ela havia enlouquecido, era a única resposta óbvia! Tudo do que lembrava era de tudo ao seu redor girar tão rápido e tão lento, lascivo, que nada parecia fazer sentindo. Um desejo tenebroso de matar toda aquela dor, dar fim a tudo aquilo que lhe machucava, de tudo que a fazia sangrar, a dominou por completo!

Mas, apesar de toda aquela sede, foi só ela sentir o sangue de um inocente, que tudo voltou a ter luz...luz para lhe mostrar o monstro que ela era. Sakura se sentia suja, errada e incrivelmente culpada! Todo aquele sangue que permanecia machado na sua roupa, no seu rosto, nos seus cabelos, só serviam para mostrar que sua pessoa não era muito diferente daqueles homens imundos! Sua espada não trouxe defesa ou justiça, como desejava Kaho. Sua lâmina deu origem a morte.

Chorando em desespero, ela largou o corpo do rapaz e se pos a correr para dentro da floresta. Era noite, mas ela não tinha medo da escuridão e sim dela mesma. Correr, correr para longe do mundo, correr para longe de sua vida, fugir de si! Tudo que ela queria era morrer ali mesmo.

O céu se limpava aos poucos, mostrando as estrelas do céu. A lua cheia se revelou rapidamente e iluminou aquela noite. Sakura, que até agora corria sem rumo algum, para de repente. Diante de seus olhos cansados, uma clareira no meio da floresta trouxe-lhe o brilho prata do luar. O olhar esverdeado do ser feminino encheu-se com a luz reconfortante. No meio do local, havia um pequeno lago de aparência límpida.

Ali, naquele cenário de beleza e inocência natural, Sakura resolveu decretar a sua morte. Correi novamente na direção do antigo campo de batalha. Avistando a primeira arma, pegou-a com firmeza e retornou para aquele cenário de paz. No meio do caminho, amarrou a espada na cintura e retomou o cadáver infantil. Ela estava decidida, não podia continuar como estava.

Chegando ao local, recostou a arma na beira e entrou no lago, junto a sua vitima. A água fria lhe penetrou a alma, levando embora toda a sua tristeza. Com seus braços trêmulos, o anjo vermelho apoiou-se em uma pedra e segurou a cabeça do morto e se pos a embalar o corpo, lamentando em meio a perdoes.

Novamente Sakura chorou. Chorou de pena, de arrependimento, de tristeza. Lavou os cabelos escuros e beijou-lhe testa, deixando, em seguida, o garoto afundar. Fungando seus soluços, ela nadou para a borda e sentou-se com os pés afundados na água. Apanhou a espada e respirou fundo.

Não sofreria mais, não choraria de novo, não mataria novamente. Pegou seus cabelos e encostou a lâmina insensível aos fios. Com uma força brutal, arrancou de si mesma a vida que tanto detestava, a pessoa que ela enojava. Segurando as longas mexas em suas mãos, levantou-as no ar e abandonou no ar sua identidade, deixando a princesa do império desfalecer e afundar no desconhecido. Não voltaria a ser como antes. Não retornaria a cidade proibida, pois não pertencia mais aquele lugar. Viveria livre enfim!

- Adeus, Sakura Tuang...

Continua...

HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Eaeeeeeeeee! Finalmente mais um cap! Aff, ñ agüentava mais vê u desespero de vcs (me axei a importante agora)!

Bom, desculpa a demora, mas a minha vida ñ tem estado fácil, cheia di confusões, provas e falta de momentos propícios a escrita! D shusaushashauhsuhasauhs

A musica dessa fic se chama Innocence, e é do Shaaman. Recomendo não só a banda mas a musica tbm, pra ajudar a adentrar no clima dos acontecimentos! Hehehehe Ah, antes que eu esqueça, o trechinho da poesia que se encontra no inicio da fic foi recomendado pela minha querida revisora M-chan e a autoria é de alguém que utilizava o nick Subaru Sumeragi!

Mas, espero que entendam que esse capitulo foi muuuuuuuuuuito difícil, justamente pelas fortes emoções envolvidas na situação! Afff, terminei esse cap. totalmente estressada! Mas, valeu a pena! uashaushauhsuhsuahsuahsuah

Bjaum pra toduxxxxxxxxxxxxxx! D

PS: quem curte a minha outra fic, Caminhos Selados, ñ perca as esperanças, estou trabalhando nele! hehehehehehe