Romeu e Julieta

O Grand-Finale

Capítulo Doze

O ponteiro menor do relógio marcava sete horas, enquanto o maior mostrava os vinte e cinco minutos. No palco, o segundo ano A acabava de interpretar a Bela Adormecida, recebendo uma salva de palmas logo após o beijo selado entre os protagonistas. As pesadas cortinas aveludadas desceram para em seguida revelar todos os personagens em fila, reverenciando a platéia.

Mais uma vez as cortinas se fecharam, e agora todos os atores podiam respirar aliviados. A menina que interpretara a Princesa Aurora ainda retirava a peruca loira quando uma apressada Keiko a atropelou, sendo seguida por diversos garotos que empurravam um grande cenário.

Se para o segundo ano A a partir daquele instante era só curtição, para a turma C era o início do "problema". Eles tinham exatos cinco minutos para trocar o cenário, rever as falas e se prepararem. O grande dia finalmente chegara.

-Mais para a esquerda! – gritou Keiko, abanando as mãos para o lado certo. Ela já não mais sabia se o frio no estômago era por causa da ressaca ou pela aflição de, do outro lado da cortina, estar uma multidão concentrada no auditório esperando pela peça.

-Tudo certo! – falou o garoto que representaria o Frei Lourenço, olhando para o cenário da praça. –Agora é relaxar...

x

Do outro lado do palco um aglomerado de meninas se reunia em volta do recém-chegado que aguardava o término dos últimos ajustes de sua roupa. Kurama ainda olhava para o chão quando a voz de Akane finalmente avisou:

-Pronto! Agora está perfeito. – disse ela, puxando o espelho em sua direção.

O ruivo arqueou uma sobrancelha. Ele teria realmente de usar aquilo?

-De uma volta. – falou Akane enquanto erguia-se do chão e arrumava suas vestes. –Para ver se atrás ficou bom.

Ele suspirou enquanto fazia o que a loira sugerira, arrancando risinhos e suspiros das garotas. Voltou a encarar seu reflexo. E tinha de concordar com Yusuke: aquelas roupas eram horríveis...

Da sua blusa social branca só estavam a mostra as mangas cumpridas, o resto era tampado pelo colete azul-escuro de mangas bufantes e detalhes em vermelho. A barra do mesmo colete descia um pouco abaixo do quadril, sendo preso na cintura por um cinto avermelhado. As calças brancas eram justas e colantes, e Kurama não deixou de pensar que aquilo mais parecia uma meia-calça...

-Tome, falta isso. – Akane entregou-lhe o chapéu emplumado e a capa cor de sangue. A menina não pôde deixar de rir da expressão que o colega fizera.

-Cara, eu tenho pena de você... – Yusuke falou, olhando-o de cima a baixo. –Tua roupa chega ser pior que a minha! – exclamou ele, indignado com a roupa que usaria.

-Tem certeza que shorts bufantes listrados de laranja e dourado não são piores? – criticou Kurama.

-Ao menos eu tenho shorts... – respondeu o moreno, cruzando os braços.

O ruivo ainda iria responder, mas preferiu calar-se. Todos os garotos estavam reclamando de suas vestimentas, mas pena mesmo ele tinha era do Frei Lourenço. Porque usar vestido era dose...

-Eu não vou usar isso! – exclamou uma voz rouca enquanto carretéis de fita e linhas voavam para todas as direções.

-Hiei, não banque a criança! – uma ruiva gritou no mesmo tom do baixinho. –Além do mais você está uma graça de Tebaldo.

-Não me chame de "graça", mulher!

-Mulher vírgula! Eu tenho nome: Mukuro. – disse ela, espetando, propositalmente ou não, uma agulha no garoto. –E fique quieto!

Hiei fechou os olhos, emburrando a cara, mas calando-se. Não tinha como discutir... Não com ela...

-Está tudo certo? – Keiko perguntou, encaixando o microfone no ouvido e endireitando o fone junto à boca. Um O.K. foi dito pela maioria, enquanto o resto confirmou com a cabeça. –Então... Em seus lugares e... Seja o que Kami quiser!

O sinal de cinco segundos fora soado, formando um alvoroço entre os atores. E quando as luzes do palco acenderam e a cortina subiu, só restava o cenário da Praça e uma Yukina envergonhada, trajando um vestido branco de rendas azuis.

- "Duas casas, com igual dignidade – na famosa Verona vos dirão – reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais nasceu um par de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos" – uma pequena parada para respirar, e logo ela retomou em seu coro. – "Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquele triste sorte em uma hora vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento".

A menina encurvou-se ligeiramente e acompanhada de uma salva de palmas as cortinas se fecharam, para reabrirem em menos de dez segundos, mostrando Sansão e Gregório.

- "Por minha palavra Gregório: não devemos levar desaforos para casa". – Kuwabara recitou, estufando o peito.

- "É certo. Para não ficarmos desaforados". – Taoki, o menino gorducho que representava Gregório falou, passando a mão no queixo.

A conversa dos dois prosseguiu, exatamente como estava no script, quando mais personagens entraram, representando criados de Montecchio.

Uma pequena briga encenada começara quando, sem graça, Yusuke vestido com uma blusa larga azul-anil, short bufante listrado, meias-calças azuladas e chapéu emplumado, entrou em cena já com a espada na mão.

- "Estares loucos? Largais as espadas e parais com isso!" – exclamou, metendo-se no meio.

- "Idiota! Sacas sua espada contra corçozinhos medíocres e sem força? Vem, Benvólio, vem encarar a morte!" – um baixinho que usava roupas iguais as de Yusuke, com a diferença de serem pretas e brancas entrou em cena.

Por um instante Yusuke pensou que ia gargalhar. Os olhos já lacrimavam e o riso podia ser percebido na fala. Quem diria ver o Hiei vestido daquela maneira...

A peça seguiu com a luta de ambos, e depois a confusão onde os senhores e senhoras das casas rivais se encontravam. E finalmente, para delírios de todas as meninas da platéia, o garoto mais cobiçado de todo o colégio entrou, arrancando suspiros e assobios.

A parte onde Romeu dizia-se apaixonado aconteceu, e para alívio de Keiko, Yusuke não havia se enrolado nas frases. As quais todo ensaio ele retrucava ter "amor" de mais.

As cortinas se fecham, aplausos estouram e mais uma vez abrem-se, revelando Koenma e mais dois garotos.

- "Então, milorde, pensaste no pedido em que fiz?" – Páris perguntou, dirigindo-se ao garoto baixo de bigodes falsos.

- "Gentil Páris, Julieta mal completou o curso de catorze anos! De dois estios murchará o orgulho, sem que ouçamos das núpcias o barulho".

A cena continuou, até a festa ser anunciada e o criado "confundir-se", acabando por convidar Romeu e Benvólio.

- "Nessa tradicional festividade de Capuleto vai cear a tua formosa Rosalina, assim como demais beldades" – "Benvólio" comentou. "Então, primo? Queres ir e ver como teu cisne transforma-se em corvo ao lado das demais damas?".

- "Irei, mas não para ver tal resplendor. E sim para ofuscar-me em meu amor". – as garotas suspiraram enquanto Yusuke rodava os olhos. Mais aquele ruivo heim?

As cortinas se fecharam e uma dezena de personagens correu ao palco, virando o grande cenário da praça. O qual havia, em seu outro lado, um quarto. Agora era a parte de Botan e Kurama nem a visto tinha. Perguntou-se como que a menina ficara de Julieta.

- Sai daí Kurama! – chamou Keiko, acertando-o com a cartolina. E ele mal teve tempo de balbuciar alguma palavra, já sendo empurrado para o camarim. As cortinas subiram e lá estava a ama e a Senhora Capuleto, chamando a filha.

- "O que houve? Quem me chamas?" – e pela primeira vez desde o começo da peça, a estrela da mesma compareceu, recebendo uma salva de palmas e assobios. Botan sorriu enquanto as bochechas se ruborizavam.

- "Vossa mãe! E adivinhas, para falar sobre casamento!" – saltitou a menina gorducha que faria a ama.

- "Exato. Filha Julieta, dizei-me: em que disposição está para com isso?".

- "É uma honra com a qual jamais sonhei". – admitiu, puxando com as mãos uma mecha de cabelos, nesta noite soltos e encaracolados.

- "Honra! Se não tivesses tido apenas uma ama, afirmaria que, com o leite, mamara também o juízo". – exclamou a menina, com uma expressão atônita.

- "Pois estamos na época de pensar em casamento. Se não me engano, vossa mãe tornei-me com vossa idade em que ainda sois donzela. Para ser breve: o valoroso Páris requesta seu amor".

- "Que homem, menina! Um homem desses... Não... Em todo mundo, só feito sobre encomenda!" – e a ama cutucou-a com o cotovelo.

- "Que me diz? Sereis capaz de amar o jovem? Hoje a noite vê-lo-eis em nossa festa". – a "Senhora Capuleto" perguntou, pousando as mãos sobre a da menina que ainda mexia no cacho azulado.

- "Vou ver se prendo nele os meus olhos. Mas a vista chegar além não há de do que me consentir vossa vontade". – disse Botan, segurando firmemente as mãos daquela que interpretava sua mãe.

- "Senhora! Os convidados já chegaram, a comida está na mesa, a procuram! Estais tudo de pernas para o ar. Tenho que voltar, por obséquio acompanhe-me, por favor!" – um garoto que faria o criado atropelou as falas, mal entrando e já saindo.

-Ahn... – balbuciou a Capuleto, enquanto via o garoto ir embora. – "Já te sigo... Julieta, o conde à espera". – e assim ela se foi atrás do criado.

- "Bela noite te desejo, sou sincera" – desejou a ama, com lágrimas nos olhos.

Finalmente o primeiro encontro dos dois protagonistas chegara, e Kurama encontrava-se nervoso. Dezenas de personagens passeavam pelo palco, encenando uma festa. E ele não tirava os olhos do corredor frontal da direita, por onde Botan surgiria.

Minutos se passaram e a ansiedade do garoto apenas aumentava, mas finalmente, ela apareceu.

Por um momento ele pensou ter-lhe faltado o ar. Seus olhos cintilaram e não pareciam crer no que viam... Ela, mais uma vez, estava ainda mais linda... O vestido de corpete rosa e saia prateada deixavam-na parecida com uma princesa de contos de fadas, e os cabelos, agora soltos, encaracolavam-se caindo como cascata pelos ombros.

E, ainda hipnotizado, caminhou lentamente em sua direção, tocando-lhe a mão e recitando, maravilhado, os versos que caíram como uma luva para a menina, que sorria.

- "Se profano com minhas mãos indignas este relicário, a explicação é esta: meus lábios, dois peregrinos solitários estão prontos a suavizar com terno beijo tão rude contato..." – e beijou-lhe delicadamente a mão.

- "Ofendeis vossa mão, bom peregrino", - disse desvencilhando sua mão da do rapaz – "Que se mostrou devota e reverente. Pois as santas têm mão que são tocadas por peregrinos, e o enlaçar palma com palma, é o beijo dos portadores das palmas".

- "Não têm lábios... santas e peregrinos?" – e tentou roubar-lhe um beijo, mas ela se desviou.

- "Sim peregrino... Lábios que devem ser usados na oração."

- "Então deixai que os lábios orem para que a fé não se torne um desespero".

- "Mesmo imóveis, as santas atendem a oração" – mais uma tentativa frustrada.

- "Então permaneça imóvel enquanto eu colho o fruto de minhas precess...".

Os lábios aproximaram-se lentamente, e iria ser o primeiro beijo da peça se a Ama não tivesse engolido algumas falas e entrado antes do tempo.

- "Senhorita... Vossa mãe quer falar-lhe" – olhou feio para Kurama, e o ruivo limitou-se a estrangula-la em pensamentos.

O Primeiro Ato terminara, finalmente, e seria a pausa de um minuto. Se é que isso poderia ser chamado de pausa... As cortinas desceram, tudo estava indo bem. Mas dois jovens encaravam-se, como se quisessem dizer algo, mas faltava coragem.

-Kurama... – Botan começou. –Hum, sobre ontem... Por acaso... Por acaso eu lhe disse algo? – ela mordeu o lábio inferior, em sinal de nervosismo.

Sua vontade era a de dizer sim, mas a hora não era aquela. Ele apenas negou com a cabeça, fazendo-a soltar um suspiro, aliviada.

-O que estão fazendo aí, parados? – brandiu Keiko. –Botan, suba nessa escada e Kurama fique embaixo da torre! Vocês querem estragar minha peça, é?

Os sessenta segundos haviam passado, e era dado o início do Segundo Ato. A cena da torre acontecera, fazendo todos da platéia derreterem-se diante das juras de amor, que aos seus olhos, estranhamente pareciam tão reais.

Algumas cenas foram cortadas, e outras adaptadas pela própria diretora. Não demorou muito para Julieta entrar no conficionário, e o Frei Lourenço aparecer. Mas o garoto que interpretava o mesmo havia fico particularmente nervoso. Não chegou a esquecer as falas, por maior que fossem, mas as recitava sem qualquer emoção sem tirar os olhos da platéia.

O garoto suava horrores... E depois de algum tempo sob os holofotes, começou a dizer suas falas cada vez mais rápido para que a cena terminasse logo e ele pudesse sair dali.

- "Prudência! Quem mais corre mais tropeça" – terminou de falar e foi logo saindo, só não correu porque os pés estavam pesados demais para isso.

-Rasu... Você tá branco! – exclamou Keiko, preocupada.

-Não serei eu que vou voltar lá! – declarou, com os olhos arregalados.

-Nem pense nisso! Não foi você que disse que era para "relaxar"? – a morena agarrou a gala da batina. –Trate de voltar na próxima cena para o palco! – mas ela não pôde fazer mais ameaças, pois o garoto acabou desmaiando ali mesmo. -Acorda seu inútil...! Não tem ninguém pra te substituir!

-Assim você vai matar o garoto - advertiu alguém tentando acalmá-la.

-A peça está acabada... Tanto trabalho PARA ESSE INÚTIL DESMAIAR! – berrou, sacudindo ainda mais Rasu. –Onde que eu vou encontrar um substituto? – pensou alto.

-Pode deixar que eu faço o "padreco". – anunciou Yusuke, recebendo um olhar mortal de Keiko. –Olha, eu só estou querendo ajudar, mas se tu não quer...

-Ok, ok! Do jeito que eu estou desesperada... Até um trapo como você serve... – ela suspirou. –Você tem uma leve noção das falas?

-Claro... que não...

O casamento chegara, e para agonia da diretora Rasu não havia acordado, e o jeito era confiar em Yusuke. No palco já chamavam o padre, quando eis que no instante seguinte entra Yusuke levando um baita tropicão na barra da batina.

-De meia-calça pra saia... Será que ninguém usava roupas decentes naquela época? – pensou ele antes de ser interpelado por Botan.

-Mas o que você está fazendo aqui? – deixou escapar por causa da surpresa de ver o amigo, mas lembrou-se de que as cortinas já estavam abertas e de que Julieta era uma menina doce e delicada que não ia sair gritando com um padre – Pensei que o Frei Lourenço celebraria o casamento... – continuou com um tom todo açucarado.

-Ah minha filha... – continuou o moreno aproveitando a deixa para explicar a súbita troca de atores - ... o Frei Lourenço morreu, você não soube? Foi uma tragédia... – fingiu limpar uma lágrima falsa. -Eu sou o padre... Kevedo. E então, já podemos começar o casório? – a platéia achou graça e riu ao passo que Keiko mais queria invadir a cena e estrangular Yusuke com suas próprias mãos. Onde já se viu... Fazer gracinha no meio de uma tragédia?

Mais um imprevisto aconteceu quando Hiei, que representava Tebaldo, exagerou um pouco em sua morte, e acabou errando o palco caindo no chão perto da primeira fila:

-Tudo bem com você? – os outros alunos que estavam na cena chegaram até a beirada do palco para conferir o estado do colega.

-O que vocês acham? Eu estou morto! – respondeu o baixinho, abrindo um dos olhos e depois voltando a se fingir de moribundo.

Kurama riu sem graça, já que fora ele que "matara" Hiei, mas resolveu deixar para lá, já voltando-se em direção ao Frei Lourenço... Quer dizer, Padre Kevedo. O mais surpreendente foi que Yusuke sabia todas as falas... E depois de um último encontro com sua Julieta, Romeu fugiu para Mântua.

Obrigada a se casar com Páris, chega à hora de Julieta buscar o conselho do padre que sugere o seguinte plano: fingir-se de morta para evitar o casamento com o conde e facilitar sua fuga para Mântua onde encontraria seu amado Romeu. Misteriosamente, Yusuke sabia todas as falas, mais uma vez...

Tudo teria dado certo, se o recado do sacerdote tivesse chegado até Romeu. Desesperado ao saber da morte de sua amada e sem saber que tudo não passava de uma farsa, Romeu retorna a Verona e vai até o mausoléu dos Capuletos, já com o veneno que comprara de um boticário para pôr fim à sua própria existência e assim poder unir-se à sua esposa na eternidade.

A cena da batalhe de Páris e de Romeu começa, e estranhamente, aquilo parecia mais pessoal do que representativo.

- "Importância não dou a teu pedido e prendo-te por seres criminoso". Koenma rangeu os dentes, tomando as dores do personagem para si.

- "Queres me provocar? Então defenda-te!". Alertou Kurama, indo em sua direção para não muito tempo depois, "matar Páris". "Oh amor, querida esposa... A morte poder não teve sobre sua formosura. Permita-me, formosura, um último beijo...".

Os lábios selam-se, enquanto o ruivo ajoelhava-se no palco, retirando o chapéu emplumado. Lentamente suas mãos levam o pequeno frasco a boca, sorvendo todo o líquido.

- "Ó boticário veraz e honesto! Tua droga é rápida, deste modo, assim, deixo a vida...", e cai junto ao túmulo.

Yusuke, ao meio de tropeções, entra no cemitério e vê Kurama "morto".

- "Romeu! Oh, pálido! Quem mais? Quê! Também Páris? E encharcado de sangue? Oh! que hora dura teve culpa deste acontecimento lamentável? A dama se levanta..."

Botan ergue-se, sustentada pelas mãos que se apoiavam na tumba. Os olhos róseos encaram Yusuke, para em seguida fitar o ambiente.

- "Meu bom frade, onde está meu senhor? Sei muito bem onde eu deveria estar, e aqui estou. Mas onde está o meu Romeu?".

- "Seu marido sobre aquela superfície morto jaz; Páris também. Vem logo, não perca tempo, pois o vigia logo vem. Oh bondosa Julieta, não me atrevo mais a esperar."

- "Vai, que eu daqui não sairei jamais."

-Tá bom... – respondeu Yusuke sem muita cerimônia, já deixando a cena.

- "Que vejo aqui? Um copo bem fechado na mão de meu amor? Certo: veneno foi seu fim prematuro. Oh! Egoísta! Bebeste tudo, sem que me deixasses uma só gota amiga, par que pudesse seguí-lo. Vou beijar seus lábios... É possível que algum veneno ainda se ache neles, para me dar alento e dar a morte."

-É agora gente... O beijo... – todos estavam à expectativa, inclusive o resto do elenco, vendo tudo de trás das cortinas.

Botan acariciou a face do rapaz, passando os dedos por entre as mechas ruivas que destacavam-se na pele alva. Escorregou a mãos até seus lábios entreabertos, tocando-os. Pôs algumas mechas de seu próprio cabelo atrás da orelha, debruçando-se sobre ele.

E no mesmo instante, ali, tão perto dele, todos os momentos que tiveram juntos passaram como turbilhões em sua mente. De seus olhos lágrimas trilhavam um caminho, indo alojar-se no rapaz. E então suas últimas falas foram tão carregadas de emoção, que foram poucos os olhos que não encheram-se de lágrimas:

- "Ouço um barulho. Preciso andar depressa. Oh! Seja bem-vindo, punhal!" – pegou o punhal e levantou-o sobre o peito – "Tua bainha é aqui" – e enterrou o punhal no peito devagar o bastante para dar a impressão de dor que a cena pedia - Repousa aí bem quieto e deixa-me morrer" – e cai sobre o ruivo.

Yukina retorna ao palco, e virando-se em direção ao casal que mantinha-se intacto, recita:

- "Esta manhã nos trouxe paz sombria: esconde o sol, do pesadume, o rosto. Ide,e falai dos fatos deste dia. Serei clemente, ou rijo, a contragosto, que há de viver de todos na memória de Romeu e Julieta a triste história".

As cortinas se fecharam e uma salva de palmas explodiu no auditório. Os atores reapareceram, de mãos dadas, agradecendo. Keiko foi empurrada para o centro do palco, meio envergonhada mas satisfeita. No final das contas, havia dado tudo certo...

x

-Kurama! – a voz esganiçada de Maya veio acompanhada de um puxão no braço do garoto. –Você estava lindo! – disse, abraçando-se a ele que há essa hora não estava mais vestido de Romeu.

O garoto desvencilhou-se do abraço, segurando-a firme pelos ombros.

-Maya... Nós temos que conversar... – disse, encarando-a sério.

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Botan descera para a praia. O vestido de Julieta fora trocado por um quimono cor-de-rosa, e os únicos rastros da estrela da peça eram os cabelos, ainda encaracolados, e a maquiagem leve que encobria seu rosto.

Deixou escapar um suspiro por entre os lábios, mirando os olhos em direção a lua que refletia no mar a sua frente. Deu alguns passos mais, segurando a barra do quimono para não molha-lo nas ondas que vinham-lhe tocar os pés.

- "Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela".

-Kurama...? – Botan sussurrou, erguendo os orbes em direção ao ruivo que a observava do alto. Ela sorriu, e resolveu recitar seus versos. – "Ai de mim!".

- "Oh, falou! Fale de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso por esta noite...", ele encaminhou-se para os degraus, descendo-os calmamente para seguir pela areia até o lado da jovem que sorria.

-Kurama... Você representou tão bem! – ela disse, permitindo-se abraça-lo. – Mas, acho que não devia de ficar aqui... – seu sorriso desfez-se. – A Maya, ela...

-Eu e a Maya terminamos... – confessou, virando o roto para o mar enquanto a menina o observava, atônita. –Eu realmente compreendi que era apenas uma ilusão... – voltou a olha-la. –Sabe? Você me perguntou se havia dito algo para mim ontem, ou melhor, nesta madrugada... E eu menti. – os olhos cor-de-rosa arregalaram-se. –Na verdade, você disse algo sim.

-Eh? – engoliu a seco. –E... E o que foi?

Kurama riu, segurando-lhe o pulso e a puxando para si, aproximando sua boca do ouvido da menina.

-Disse que me amava... – sussurrou, fechando os olhos e imaginando a expressão que Botan fizera. –E sabe de uma coisa? – os braços enlaçaram sua estreita cintura. – "Ah, que apesar da venda, o amor consiga trilhar seu caminho sem fadiga...".

-O que quer dizer? – ela perguntou, com as bochechas rubras. Mas sua resposta foi muda, porém intensa, assim como as duas esmeraldas que a fitaram antes dos lábios do dono dos orbes esverdeados tomarem sua boca para si, em um doce beijo.

A mão que segurava o quimono o largou, deixando-o molhar-se pelas ondas que tocavam a areia e seus pés. A dança prazerosa de lábios selados só foi quebrada quando, de dentro da yukata, Kurama retirou um pequeno embrulho.

-Botan... Você quer namorar comigo?

Palavras não foram necessárias, tamanha a alegria demonstrada pela blue-onna que saltou em seus braços, derrubando os dois na areia.

Ela não era Julieta, e ele também não era Romeu. E ambos estavam felizes por isso, pois diferente dos amantes, eles teriam toda a vida para estarem juntos, e após muitos anos, a eternidade também...

...Fim...

Nota da Autora: E é o fim de Romeu e Julieta, essa fic que durou um ano, um mês e seis dias completos hoje... E eu só tenho que agradecer a vocês, que leram e me apoiaram por todo esse tempo... Pois, se não fossem por vocês e suas reviews de encorajamento, talvez eu não tivesse conseguido.

Desculpem-me se decepcionei vocês em alguma coisa, mas juro ter dado o meu melhor! E na próxima, espero conseguir melhor ainda mais!

Espero nos vermos de novo em uma outra fic KxB, e que não demore muito! Adorei a presença de vocês, e na próxima, as quero novamente, ok? )

E, a todos que leram, comentaram, me apoiaram, encorajaram e não me deixaram desistir...

MUITO OBRIGADA!

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Teella

Romeu e Julieta:

Começada dia 25 de janeiro de 2005 – Terminada dia 3 de março de 2006

Às 18 horas e 10 Minutos

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