Capítulo 1. Das regras do jogo
– Não, não e não! Você não está fazendo direito, Narcisa! Está esquecendo do biquinho!
Numa monótona tarde de quinta-feira, primeiro dia de um feriado prolongado, Andrômeda esforçava-se em consertar o francês carregado de sua irmã mais nova, ao mesmo tempo em que tentava estudar um pouco de História da Magia.
-Très bien, Narcisa! Agora você já pode fazer isso sozinha, não acha?
A garota loura estava na flor da idade. Aos 14 anos, Narcisa despertava olhares de garotos interessados e de garotas invejosas, mas suas pupilas só sorriam para um único bruxo em toda a escola.
– Ah, Andie, não consigo estudar... O Lúcio não sai da minha cabeça... Já lhe mostrei a carta que recebi dele hoje?
– Já – a outra respondeu ácida. – Umas cinco vezes.
A caçula se doeu:
– Pois não tenho culpa se os garotos não olham pra você! Se passasse menos tempo com o nariz enfiado nos livros e se arrumasse um pouco mais, talvez arranjasse um namorado.
– Deixe-a em paz, Narcisa!
Primeiro a respiração se congelou, para, em seguida, o ventre contraído mandá-la respirar cada vez mais rápido. Narcisa não era medrosa, mas conhecia a irmã mais velha. Prevenir era sempre o melhor remédio quando se tratava de Bellatrix.
A primogênita adentrou o salão comunal e sentou-se ao lado de Andrômeda, que não procurara demonstrar agradecimento. Sabia que Bellatrix não o fizera por ela, mas por si mesma.
– Que tédio! – a mais velha suspirou, olhando os livros empilhados a sua frente – Mamãe já respondeu?
Andrômeda largou a pena com que fazia anotações por um instante e ajeitou-se na poltrona dura e desconfortável.
– Ela mandou um berrador que eu tive o cuidado de jogar na lareira sem nem ao menos abrir – e encostou a cabeça pesada no encosto do sofá.
– Droga!
Narcisa finalmente relaxou ao perceber que Bellatrix não estava nervosa com ela, mas com a situação. Era a primeira vez que se viam proibidas de voltar para casa num feriado prolongado. A indignação era maior ainda porque o primo Regulus fora literalmente intimado a retornar, enquanto as três tinham sido abandonadas na escola semi-deserta.
– Sirius também não foi convidado... – Andrômeda comentou sem pensar, os olhos se fechando automaticamente pelo cansaço.
– Ora, Andie, faz três anos que o Sirius prefere ficar em Hogwarts a ir para casa – Narcisa retrucou. – Creio que se pudesse passar as férias aqui também, nunca mais voltaria ao Largo Grimmauld.
– Não faria falta... – Bellatrix arremedou displicente.
Ficaram alguns segundos em silêncio. Andrômeda se pôs a brincar com a pena entre os dedos e, enfim, compartilhou seus pensamentos.
– Vocês já se perguntaram por que Sirius gosta tanto de ficar em Hogwarts nos feriados?
– Por quê? – Narcisa revirou os olhos. – Porque ele é um anormal! Simplesmente por isso!
Bellatrix continuava calada, em transe. O comentário de Andrômeda não era tão tolo como pensava sua irmã mais nova. A verdade era que, ela tinha que admitir, Sirius sabia se divertir tanto quanto sabia arrumar encrencas. E, bem, com a escola deserta era mais fácil ficar só na parte da diversão.
Enquanto Narcisa continuava seu discurso infantil a respeito do primo, Bellatrix procurava explorar os pensamentos de Andrômeda. Aprendera a ler mentes há menos de dois anos, mas já era tão sutil nesta tarefa que a fazia sem que seu objeto de estudo percebesse de imediato, aos menos no que se referia a memórias recentes. Entre fórmulas de aritmancia, receitas de poções e estratégias de defesa pessoal, Bellatrix finalmente encontrou algo interessante.
– Você andou conversando com ele... – ela afirmou.
– Como? – Andrômeda abriu os olhos, despertando novamente para a realidade.
Andrômeda e Bellatrix nunca tinham sido melhores amigas, apesar da pequena diferença de idade. Tampouco eram rivais. Em verdade, dividiam um respeito mútuo de quem entende as agruras da adolescência e visualizam no futuro a solução de todos os seus problemas. Respeito que, no entanto, esvaía-se quando uma das duas se via encurralada.
A garota de cabelos castanhos pegou a varinha deixada sobre a mesa e atacou a irmã. O feitiço, fraco demais, agiu como vento levantando as madeixas de Bellatrix. A bruxa encerrou a leitura.
– Nunca mais tente ler meus pensamentos outra vez, está entendendo? – Andrômeda se levantou furiosa e começou a empilhar os livros nos braços. Tencionava encontrar mais privacidade no dormitório vazio.
Bellatrix balançou a varinha e devolveu os volume à mesa.
– Sente-se – ela ordenou e, ainda que contrariada, Andrômeda terminou por obedecer. – Não farei novamente.
Ficaram as três a evitarem seus próprios olhares, num processo lento de racionalizar a situação. Estavam presas em Hogwarts e não havia meios de alterar esta realidade. Teriam de fazer o relógio correr.
– Por que você foi procurar o Sirius? – Narcisa deixou a vozinha enjoada escapar por entre os lábios trêmulos.
Andrômeda continuou em silêncio, sentindo dois pares de olhos a contemplá-la. Encarou a irmã mais velha, assegurando-se de que ela não estava invadindo sua privacidade uma vez mais. Por fim, esclareceu:
– A idéia me ocorreu ontem à noite, logo que recebemos a carta. Por um acaso meus olhos procuraram a mesa da Grifinória e viram nosso primo exalar felicidade enquanto picava o envelope recém-recebido de uma coruja. – disse em tom de muxoxo.
– Aposto como nem se deu ao trabalho de ler – Narcisa comentou e Bellatrix balançou a cabeça concordando.
– Foi o que me ocorreu – a irmã do meio continuou. – Sei que, traiçoeiramente, fui hipnotizada pela atitude de Sirius. Parece loucura, eu sei, mas... bem... tive inveja dele... Queria conseguir ignorar os mistérios que edificam nossa família, exatamente como Sirius faz há anos.
Bellatrix fitou a irmã apenas um ano mais jovem com cautela. Andrômeda estava diferente desde que passara um mês em Beauxbatons, num intercâmbio oferecido aos monitores de ambas as escolas. Dissera aos pais que queria aprimorar o francês e talvez aquele fosse o único motivo plausível para sujeitar-se à companhia de tantos sangue-ruins e mestiços, pois a maioria dos monitores não vinha de uma linhagem pura como a delas. Além disso, a escola francesa era internacionalmente conhecida por sua tolerância racial. Havia rumores de que até mesmo elfos freqüentavam aulas de magia...
– Não há motivo para invejá-lo, Andie – Bellatrix soltou a voz fina e petulante. – Todos nós temos nossos próprios mistérios... E Sirius, bem, talvez ele tenha um pouco mais de mistérios que uma pessoa normal.
Ela sorriu. Desde que se entendia por gente, a grande fascinação de Bellatrix Black era o comportamento humano. Alegria, raiva, dor, tristeza, melancolia... E para não depender exclusivamente do temperamento e mudança de humor alheio natural, aperfeiçoou-se na arte de induzir tais sentimentos, usando de magia ou não. Certa vez, quando comentara algo a respeito com uma Andrômeda ressentida por ser o objeto de estudo da vez, a irmã retrucara que fazia 'maldades' porque não era capaz de sentir.
Adivinhando o teor e os desdobramentos os pensamentos de Bella, Andrômeda se adiantou:
– Você não está pensando em...
– Uma aposta – ela foi direta. – Cada uma de nós tem até domingo para arrancar um segredo nebuloso da vida de nosso amado priminho. Aquela que desvendar o mistério mais complexo, além de ter Sirius nas mãos, poderá pedir o que bem entender das outras duas.
– De que adianta ter o Sirius nas mãos? Nada que venha dele me interessa! – Narcisa fez muxoxo.
– Se descobrir algo interessante poderá usar o vestido rosa de Andrômeda no baile de formatura do seu namorado.
Bellatrix usou do meio de persuasão mais eficaz em sua irmã caçula: a vaidade. Os olhos azuis de Narcisa cintilaram ao imaginar-se vestindo o traje de gala.
– Ei! – a outra protestou. – Não vou participar disso.
– Receia não descobrir nada, Andie? – Bellatrix sorriu maliciosamente.
– Eu não leio mentes alheias – ela retrucou irônica. – Se eu dispusesse de um recurso como esse, estaria tão segura quanto você está agora.
– É verdade! Isso não é justo – Narcisa fez bico.
– Não preciso disso – Bellatrix deu de ombros. – Aliás, perderia a graça. Se duvida, Andrômeda, prepare uma poção de juramento. Bebo até a última gota. Se ainda não perceberam, estou tentando arranjar uma forma de driblarmos o tempo de forma divertida. E, bem, na pior das hipóteses, conseguiremos que Sirius deixe de exibir aquele sorriso irritante pelos quatro cantos do castelo por algum tempo. E então, topam?
Narcisa e Andrômeda se entreolharam desconfiadas, mas, conhecendo Bellatrix como conheciam, não hesitaram em aceitar. Antes a irmã infernizasse a vida do primo que a delas.
N/A: O que essa fic está fazendo aqui se eu não dou conta nem das outras duas que jah estou escrevendo? Bom, a verade eh que comecei a escrever esta fic pra um challenge... Mais precisamente o IV Challenge S/B do3V, muuuuuuuuuito tmepo atrás. Só que a historia foi crescendo, crescendo, ateh o ponto de ficar inviavelpara participar de um challenge. Principalmente por cusa do prazo... Não adianta ficarem animados pensando que eu jah terminei a fic! Como sempre, ela está em andamento... Mas acho que o segundo capitulo jah estah pronto, pelo menos! E essa eh uma fic curta... Coisa de 6, no máximo sete capitulos, todos jah iniciados (eh eu naum sei escrever linearmente...). Agora eh com vcs! R&R! Ah, obviamente, os outros capítulos não são tão curtos quanto este... A megalomania continua viva! E eu ainda estou escrevendo SCARS, por isso não precisam preparar pedras, ok? Bjux!
