Quando Ron alcançou o terceiro andar e começou a chamar pelo nome de sua irmã, não houve resposta. Ele bateu com força na porta do quarto dela e não obteve resposta. Ele normalmente não entrava no quarto dela sem ser convidado, mas nada esta noite estava sendo normal, então ele abriu a portasó para encontrar o quarto escuro e vazio.
- GINA! – Ron gritou, subindo as escadas tortas que levavam para o quarto andar, esperando encontrá-la com Fred e Jorge no quarto deles – EI, GINA!
- O que foi? – sua irmã perguntou, os longos cabelos vermelhos caindo pra frente e cubrindo seu rosto ao se inclinar no corrimão do quinto andar.
Sem perder tempo, Ron continuou subindo para o quinto andar, onde Gina estava esperando.
- Mamãe precisa que você... ajude-a com Hermione – ele ofegou, devido a rápida subida.
Olhando atrás do ombro dela, Ron percebeu que a porta do seu quarto estava entreaberta e lá havia uma luz brilhando através da fenda. Como ele havia quebrado sua lâmpada em pedacinhos, junto com tudo o mais naquele quarto, horas atrás, ele achou isso embaraçoso. Sem pensar, ele empurrou Gina e entrou no quarto para achar Fred e Jorge parados no meio das ruínas com suas varinhas.
- ...muito pior que qualquer uma de nossas explosões – Ron ouviu Fred murmurar para Jorge.
- Eu duvido que consigamos consertar tudo isso – Jorge respondeu.
- O que vocês estão fazendo aqui? – Ron perguntou. Os gêmeos, que não tinham percebido que Ron estava lá, se viraram para encará-lo.
- Arrumando seu quarto, seu ingrato – Jorge disse.
- A menos que você queira dormir no meio de todo esse lixo – Fred acrescentou.
- Bem, para ser honesto, a maioria era lixo antes de ele quebrar – Jorge sussurrou para Fred alto o bastante para que ele pudesse ter certeza que Ron ouvira.
- Deixem ele em paz – Gina disse, ao entrar no quarto – Eu vi o chiqueiro que vocês chamam de quarto.
Ignorando os três, Ron se abaixou e pegou uma camiseta desbotada do chão e empurrou para Gina.
- Leve isso para o banheiro. Mamãe quer que você prepare um banho quente e espere por ela e Hermione lá.
Pegando a camiseta da mão estendida do seu irmão, Gina se virou e deixou o quarto. Ron pôde ouvir seus passos rápidos descendo a escada torta. Seus olhos se demoraram um bom tempo em Fred e Jorge, e então Ron se virou para seguir a irmã.
- Ei – ele ouviu Jorge gritar – É sua bagunça. O mínimo que você poderia fazer é nos ajudar a limpá-la.
- Deixe isso aí – ele disse de volta, desaparecendo de vista.
Ron se sentiu um pouco imbecil sentado lá com suas costas na parede, olhando para a porta do banheiro. Se passaram, no mínimo, 30 minutos desde que deixara Fred e Jorge em seu quarto, e eles ainda não tinham saído. Parte dele se sentia como se devesse ajudá-los, mas ele não tinha intenção de deixar seu lugar no chão. Era irracional, e Ron sabia disso, mas ele simplesmente precisava estar perto dela. 'Ela está perfeitamente salva lá com mamãe e Gina. Apesar disso, você está sentado aqui, como um grande perturbado, esperando que ela saia do banho. O que você vai fazer quando mamãe colocá-la para dormir?Dormir no corredor do lado de fora do quarto? Na verdade...', Ron decidiu, 'não é uma má idéia. Desse jeito eu posso me certificar que...'
Qualquer pensamento de onde ele iria dormir deixou sua mente quando a porta que ele estava observando se abriu, e Gina saiu, Hermione nos seus calcanhares. O par de garotas parou abruptamente quando viram-no.
- O que você está fazendo? – Gina perguntou, olhando para seu irmão com uma expressão estranha – Você não estava tentando ver através da...
- Não! – Ron exclamou alto, corando até os pés. Ele poderia sentir Hermione estudando-o, e sabia que ele teria que encontrar seu olhar. A última coisa que ele queria era que ela pensasse que ele era algum tipo de pervertido que tinha sido pego no ato e estava envergonhado de olhar pra ela. Os olhos azuis de Ron saíram do rosto de Gina e foram para o de Hermione. Ela não olhava de modo nervoso ou suspeito. Na verdade, era o oposto. Ela parecia satisfeita de vê-lo e, a menos que ele estivesse enganado, ele pôde ver a sombra de um sorriso. Mesmo pequeno, aquele sorriso tinha um efeito incrível sobre ele. Sem nem perceber, ele soltou a respiração que estava prendendo e sentiu seu corpo relaxar. Ele não tinha percebido que estava tão tenso até sentir o peso se erguer do seu ombro. 'Ela sorriu. Isso significa que ela está bem', pensou e deixou seus olhos vagarem, em uma tentativa de ler sua linguagem de corpo. Pelo menos essa era a idéia geral.
A primeira coisa que ele notou foi que o cabelo dela ainda estava úmido e, como resultado, seu visual normalmente espesso foi transformado em cachos que estavam agora caindo pelos seus ombros. Ron observava Hermione tirar os cachos do rosto e juntá-los num rabo de cavalo. Com seu cabelo agora preso nas suas costas, ele podia ver os duplos 'C' e a bola de canhão veloz que formavam o logo do Chudley Cannons, estendido na frente da blusa barata que ela estava vestindo. Sua blusa barata. Era velha. Era gasta. A cor laranja violenta há tempos estava desbotada. O algodão estava fino, mas isso só a deixava mais confortável e, por isso, era sua camisa favorita. Quer dizer, até agora.
Hermione estava vestindo sua camisa favorita e isso era tudo que ela estava vestindo. Além disso, ela se ajustava nela de um modo diferente do que nele. Em primeiro lugar, o duplo 'C' no peito dela estava, na verdade, esticado e fazendo uma curva que ele não esperava. 'Ela está bem', Ron pensou quando seus olhos recaíram na pele à mostra de suas coxas. Não era como se fosse a primeira vez que ele tinha visto suas pernas. Sua blusa era tão longa nela que, a grosso modo, parecia estar no mesmo ponto que suas saias de Hogwarts, mas alguma coisa era diferente. 'E não é porque aquelas meias horrendas estão faltando', Ron pensou. 'Eu já a vi sem aquelas coisas um monte de vezes.' Era porque a única coisa que ela estava vestindo era dele. O tecido fino agora em sua pele, já tinha estado na dele também. Era quase como se aquilo os ligasse de algum jeito estranho. 'Eu sou um pervertido', Ron refletiu quando percebeu para onde sua mente estava indo e quão inapropriado os pensamentos eram. 'PARE!', ele se censurou, forçando seus olhos a voltarem para o rosto de Hermione de novo. 'Agora não é, definitivamente, a hora para pensar nessas coisas.'
- Veio me ajudar a descer as escadas de novo? – Hermione perguntou quando os olhos de Ron encontraram os dela.
- Não – Ron respondeu ao sentir que seu rosto ruborizava. 'Pense em algo para dizer, seu idiota' – Calculo que você possa descer sozinha agora – ele acrescentou quando sua mãe apareceu na entrada atrás das garotas com um roupão de Gina na mão. Ela segurava para Hermione, que o pegou e rapidamente o vestiu – Como se sente? – Ron perguntou, enquanto a observava amarrar o roupão.
- Como se tivesse sido atropelada pelo Nôitibus – Hermione respondeu – Mais ou menos cinco vezes.
- Estou com medo que piore de manhã – a Sra. Weasley disse, dando um tapinha nas suas costas.
- Você não pode... – Ron começou a perguntar à mãe, mas parou quando notou que ela já estava balançando a cabeça.
- Não há feitiço que alivie os efeitos da Maldição Cruciatus. Essa é uma das razões pelas quais é tão popular com os... – a Sra. Weasley balbuciou quando percebeu que Gina ainda estava lá.
Fred e Jorge tinham se juntado à Ordem assim que deixaram Hogwarts, para o desgosto de sua mãe. Ron ainda era jovem demais para se juntar oficialmente, mas a Sra. Weasley sabia que não adiantava. Ele já tinha visto e experimentado demais. Não, ela não poderia proteger Ron da realidade cruel da guerra. Ela viu isso em primeira mão esta tarde quando o reviveu e percebeu o que tinha acontecido comHermione. Mas Gina? Gina ainda poderia ser protegida. Gina ainda podia ser resguardada.
Se ela fosse honesta consigo mesma, ela admitiria que Gina há muito tempo não era inocente ou ingênua. Ela também tinha visto e experimentado demais. Aquela experiência terrível com o diário de Riddle durante seu primeiro ano. E, há poucas semanas, ela tinha ido ao Departamento de Mistérios com Harry, Ron e Hermione. Ela estremecia ao pensar na sua garotinha encarando, lutando com os mais ardentes seguidores de Você-Sabe-Quem. 'Como eles sempre conseguem sair vivos está além de mim', a Sra. Weasley ponderou. Ela estremeceu de novo, só de pensar nisso. 'Não, Gina ainda é jovem para ouvir qualquer coisa dessas.'
- Gina, querida, por que você não vai encontrar Fred e Jorge e ver se eles precisam de alguma ajuda com o quarto de Ron?
Gina olhou furiosa para sua mãe.
- Em outras palavras, some daqui! –Gina jogou de volta.
Hermione percebeu que a boca da Sra. Weasley se estreitou enquanto seus olhos pegavam fogo. Era um olhar que Hermione conhecia muito bem. Ela já tinha visto a mesma expressão cruzar o rosto de Ron quase toda vez que ela tinha uma briga com ele. Era um olhar de perigo. Quando Ron a olhava daquele jeito, ela sabia o que queria dizer tão claramente como se ele tivesse dito as palavras 'não mexa comigo, Hermione. Eu não estou de bom humor' em voz alta. Hermione estava distraída vendo em primeira mão onde Ron tinha aprendido isso. Só que a Sra. Weasley era obviamente melhor que ele, porque Gina conteve sua língua e se rendeu. Hermione raramente fazia o mesmo. Com freqüência, quando Ron lhe dava aquele olhar, ela se sentia desafiada, quase intimidada. Hermione trouxe a mão até a boca e tentou conter seu riso abafado enquanto via Gina sair sapateando, praguejando baixinho contra a mãe. Seus olhos se lançaram sobre Ron para ver como ele reagiria quando "o olhar" estivesse em cima dele. De algum modo ela não achava que ele desistira tão fácil.
'Isso seria interessante', ela pensou ao ver a Sra. Weasley se virar para o filho. Como ela esperava, Ron permaneceu em seu lugar. Ele estava hesitante. Era muito pouco perceptível. Se não o conhecesse tão bem, Hermione provavelmente não teria percebido. Mas ele continuava em seu lugar e se firmou para a batalha que ele sabia que viria.
- Então? – a Sra. Weasley disse, a carranca se abrandando – Vamos, então – ela fez sinal para os dois adolescentes seguirem-na para o corredor – Os outros estão esperando.
-O quê? – Ron perguntou sem acreditar, olhando sua mãe com suspeita – É isso? Sem discussão? Qual é o truque?
Ignorando seu filho, a Sra. Weasley colocou a mão nas costas de Hermione e começou a guiá-la na direção da escada. Quando começaram a descer, Hermione deu uma espiada por trás do ombro e viu que Ron estava acompanhando de perto, ainda estudando a mãe cautelosamente.Na hora em que eles entraram no corredor seguindo para a porta da cozinha, ela parou de andar. Como ela ficou lá parada olhando para a porta nervosamente, Hermione sentiu Ron surgir atrás dela. Ela fechou os olhos ao sentir o calor seguro do corpo dele e se apoiou nele. Quase instantaneamente, sua mão estava no ombro dela, oferecendo força e a deixando saber que não estaria sozinha.
- Posso... posso ter uns minutos com Ron antes... antes... – Hermione atropelava as palavras.
- Claro – a Sra. Weasley disse, olhando para Hermione tristemente e prosseguindo na direção da porta da cozinha sozinha – Nós estaremos lá dentro – ela acrescentou – a qualquer hora que você estiver pronta.
Ron poderia senti-la tremer. Assim que a porta fechou e eles ficaram sozinhos, Hermione se virou e enterrou o rosto no peito dele. Sem nem pensar, ele a cobriu com os braços de forma protetora. Ele fechou os olhos e a segurou com força. Isso fez seu coração doer ao vê-la daquele jeito. Medo. Vulnerabilidade. Naquele momento ele teria dado de tudo para ser capaz de arrancar essa dor dela.
'Malditos sejam aqueles bastardos por fazerem isso com ela', ele pensou ao sentir a umidade de suas lágrimas molharem sua blusa. Quando Ron sentiu a fúria o incendiar por dentro, ele notou que parecia que estava sumindo a dor que ele sentia. 'A raiva é melhor', ele pensou. 'É mais fácil de lidar, mas... isso não é sobre o que é mais fácil pra mim. É sobre o que Hermione precisa. Então, se contenha, Weasley, porque a última coisa que ela precisa é você perder o controle.'
- Vai ficar tudo bem – Ron murmurou para Hermione quando ele começou a acariciar suas costas.
Hermione respirou fundo e Ron sentiu-a se afastar dele. Abrindo seus olhos, ele olhou para baixo para vê-la avaliando-o.
- Ron, eu sei o que isso fez a você – Hermione começou. Ela interrompeu por um segundo quando percebeu que os olhos dele se lançaram sobre o chão, e então continuou – Nada disso foi sua culpa – ela garantiu.
Incapaz de encará-la, Ron continuou a olhar para o chão, enquanto a culpa o corroía.
- Você sabe disso, certo? – Hermione perguntou.
Ela recebeu o silêncio.
- Ron?
Ele sentiu as mãos dela escorregarem de suas costas. Ela deu um passo para trás, forçando-o a soltá-la também. Depois, para surpresa dele, Ron sentiu ela segurar suas mãos.
- Ron, por favor, olhe para mim – Hermione implorou.
Relutantemente, ele levantou os olhos e encontrou o olhar penetrante dela.
- Nada disso foi sua culpa – ela disse novamente – Foi minha.
- Se eu não tivesse brigado... – Ron começou.
- Não foi sua culpa – Hermione interrompeu.
- Você não teria saído correndo – Ron continuou.
- Não tinha nada a ver comigo correndo – Hermione disse – Eram aqueles malditos ingressos de Quadribol. Era uma armadilha. Eles estavam tentando atrair Harry para longe dos Dursley. Eles pretendiam levar nós três para o jogo. Quando eu os rasguei, eles mudaram os planos. Eles queriam pegar nós dois, e era minha culpa. Não havia nada que você pudesse fazer para evitar o que aconteceu.
- Eu devia ter te protegido – Ron respondeu, a culpa ainda evidente em sua voz.
- Isso era o que eu estava fazendo – Hermione declarou – Por que você acha que eu peguei aquela chave de portal? Para proteger você. Era tarde demais para mim. Eu já tinha sido pega. Você não poderia me salvar, Ron. Mas eu podia salvá-lo. Era minha escolha. Eu sabia que isso ia acontecer comigo, mas isso não importava. Tudo que importava era que você estava a salvo. Eu fiz isso de coração. E faria de novo.
Hermione se assutou quando viu os olhos dele se encherem de lágrimas.
- Não, Hermione! – ele disse veementemente.
- Tudo bem você me proteger, mas eu não posso proteger você? – ela perguntou.
- NÃO! – ele disse alto.
- Um pouco de reciprocidade, você não acha?
- Eu não ligo – Ron respondeu com teimosia. Mas de algum jeito ele deve ter percebido que estava sendo irracional, porque mesmo no corredor escuro ela viu o rosto dele corar quando seus olhos se voltaram para o chão de novo.
- Bom, eu ligo – Hermione disse irritada. Sem significar que tivesse sendo tão dura, ela tocou o rosto de Ron fragilmente. No instante em que ele olhou nos olhos dela, Ron viu sua própria dor se refletir de volta nele – Eu não poderia suportar se qualquer coisa acontecesse a você – ela disse gravemente – Eu não vou me sentar e assistir você se matar. Não se eu puder evitar. Eu me importo muito com você. Não me peça para fazer isso porque eu não vou. Não posso. Eu sei que você entende o que eu estou dizendo. Você pode não gostar, mas entende.
Antes que Ron pudesse responder, a porta da cozinha se abriu e eles ouviram o Sr. Weasley limpar a garganta em voz alta.
- Só mais um minuto – Ron disse, olhando tempo suficiente para ver seu pai acenar com a cabeça e voltar para a cozinha. Quando o olhar de Ron se voltou para Hermione, ele notou que seus olhos estavam agora fechados. Ele reparou quando ela respirou fundo e tentou ralentar seu coração golpeado. 'Ela está apavorada', ele pensou ao segurá-la em seus braços novamente e a puxar para um abraço.
- Eu não estou bem, Ron... talvez você... devesse esperar...
- Você já teve que encarar isso sozinha, uma vez – ele disse – Eu vou me amaldiçoar se eu deixar você fazer isso de novo.
Hermione o puxou de volta e olhou em seus decididos olhos azuis. 'Não é nenhum mistério eu amá-lo tanto', ela pensou e sorriu para si mesma – Você está pronto? – ela perguntou com a voz trêmula.
- Você está? – Ron respondeu, segurando sua mão.
- Eu acho que eu tenho que estar, não tenho? – ela respondeu, puxando-o para a porta da cozinha – Vamos acabar com isso.
N/T: Quero desejar a todos que lêem essa fic um 2005 repleto de paz, felicidades, alegrias, saúde e, claro, muito HP!!! Mas isso não será problema, afinal teremos o lançamento do livro 6 em julho e o 4° filme em novembro... É isso, gente! Continuem acompanhando a fic em 2005!!! Beijos a todos!
...Agradecimentos...
Pati G W Black - hehehehe, a fic é boa mesmo, né? Desculpe por não ter postado esse capítulo antes, mas os preparativos para o ano novo me consumiram... Mas, só de saber o quanto vc curte a fic e que vc entra sempre pra ver se atualizou me deixa realmente orgulhosa e me inspira a postar os caps mais rápido! Obrigada! Beijinhos!
Mario - é isso aí! A curiosidade é o que move uma boa história! Continue aparecendo sempre por aqui, muitas coisas legais ainda vão acontecer!!! Beijos!
Paolo - continue acompanhando para saber se o Harry aparece logo... hehehe... Que bom que vc tá gostando, viu??? Beijos!
