Capítulo 19

— Eu não acredito que você ainda insiste em usar essas botas horrorosas para trabalhar – a Sra. Weasley disse ao seu filho mais velho logo que ele apareceu na cozinha do Largo Grimmauld e se deixou afundar numa cadeira ao lado de Hermione – E esse brinco horrível. Francamente, Gui, você não poderia pelo menos tirá-lo enquanto está lá? – ela acrescentou ao lhe passar uma xícara de chá fumegante – Eu acho que você pod...

— Eu já disse, mamãe – Gui a cortou antes que ela continuasse com aquilo – Eles não ligam para o que eu uso.

— Mas você não está explorando tumbas, você tem um emprego no escritório agora. Você não deveria parecer um pouco mais...

— Respeitável? – Gui terminou, já submetido a essa conversa tantas vezes que agora ele podia praticamente repetir tudo enquanto dormia.

— Não há nada de errado em parecer respeitável – sua mãe respondeu rapidamente.

— Não há nada de errado com meu cabelo também – ele atirou de volta, sabendo o que ela ia mencionar em seguida – Então esqueça isso.

— Mas você parece um marginal – a Sra. Weasley protestou – Só uma aparadinha? – ela perguntou esperançosa, apanhando a varinha.

— NÃO!

— Número 11 – Hermione resmungou para si mesma. Tinha sido um longo e entediante dia. Tão cansada quanto estava ao chegar, ela não conseguira dormir muito durante a noite, o que a deixou mal humorada e irritada. Parte do problema vinha do fato de que aquela casa enorme estava calma demais e ela achou isso enervante. Claro que isso era apenas uma pequena parte do problema. Com medo que se ficasse no quarto dormiria e estaria sujeita ao mesmo pesadelo horrível, Hermione procurara refúgio na cozinha, a qual normalmente estaria tumultuada. Mas como ela não estava de bom humor para ouvir a Sra. Weasley discutindo com seu filho, ela deixou sua mente vagar.

— O que foi que você disse, querida? – a Sra. Weasley perguntou para Hermione ao colocar um prato de bolinhos na mesa para Gui.

— Foi como você fez – Hermione disse, se virando para encarar Gui – Foi como você nos trouxe aqui. Você não estava procurando pelo número 12. Ele não pode ser encontrado, mas o número 11 pode. Tudo que você tinha que fazer era encontrar a casa vizinha.

Gui, que tinha sido pego de surpresa, olhou para Hermione pensativo por um momento e depois respondeu.

— Na verdade – ele riu – eu estava procurando pelo número 13. Estou impressionado. Só levou um dia para você perceber. A maioria das pessoas não teria nem tentado. Já considerou uma carreira de desfazedora de feitiços? – ele perguntou ao tomar um gole de chá – Eu posso falar a seu favor em Gringotes.

— Na verdade, não – Hermione admitiu.

— Talvez você queira – Gui respondeu – Eu ouvi que Aritmancia é uma das suas matérias preferidas. Sinto que você gostaria. Pessoalmente, eu não acho que haja nada melhor do que esclarecer um bom mistério. Não há nada como a correria para quebrar um feitiço difícil. Você devia ver alguns dos feitiços em que trabalhei. Aqueles Antigos Bruxos Egípcios realmente sabiam o que estavam fazendo. Alguns deles são praticamente indetectáveis a menos que você saiba exatamente o que está procurando. Muitas pesquisas antes de qualquer tentativa podem ser feitas para passar por eles, é claro. Mas isso você já faz, não é?

— Parece intrigante – Hermione disse.

— É fantástico – Gui respondeu.

— É perigoso – a Sra. Weasley se meteu ao abrir a porta da despensa e começar a procurar por alguma coisa para preparar o jantar – Arriscar sua vida caçando tesouros que você nem pode ter – ela continuou murmurando para si mesma – Qual é o sentido disso, eu pergunto?

— Não a escute – Gui se inclinou e sussurrou – Mamãe acha que tudo que é divertido é perigoso – ele riu – Estou trabalhando em um particularmente sujo no momento – ele continuou no tom normal de voz – Embora não haja muita chance, sentado na minha mesa – ele acrescentou mais alto para sua mãe – Ainda que pesquisar como quebrá-lo seja fascinante. O primeiro passo para desfazer um feitiço é aprender como fazê-lo, afinal. Quer dar uma olhada? – ele perguntou à Hermione – Eu trouxe minhas anotações para casa na chance de encontrar tempo para trabalhar nisso.

— Claro – Hermione respondeu, os olhos brilhando de excitação – Mas, eu não quero te trazer problemas – ela acrescentou – Não é confidencial ou algo assim, é?

— Não, eu posso consultar quem quiser – Gui garantiu ao se abaixar para a mochila aos seus pés e tirar uma pilha de anotações – Os duendes não se importam, contanto que eu encontre uma solução.

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No fim da tarde, Hermione e Gui tinham pergaminhos espalhados por toda a mesa da cozinha e estavam tão absortos em sua conversa que levou um minuto para que percebessem que o retrato da Sra. Black estava gritando obscenidades na entrada. Por um momento, Hermione estava acabada. Ela estava gostando muito da discussão deles e sentiu que seria grosseria simplesmente abandonar Gui no meio disso tudo. De qualquer forma, se os gritos nas escadas de cima eram algum sinal, o resto da família Weasley tinha chegado e nem mesmo um rebanho de centauros assustadores poderiam impedi-la de correr para aquelas escadas.

Gui a observou perseguir sua mãe, com um sorriso no rosto. Rapidamente juntou suas anotações e as guardou de volta na mochila, ciente de que não ia mais trabalhar hoje.

Hermione saiu da cozinha nos calcanhares da Sra. Weasley. Ela chegou no momento exato de ver Ron largando os dois malões que ele vinha arrastando pelo corredor e se afastar da porta para que pudesse ajudar seu pai a fechar as cortinas que normalmente escondiam a velha bruxa desagradável que gritava com eles.

— É melhor calar essa boca – Ron preveniu a feroz velha ao segurar um lado da cortina e começar a puxar furiosamente – Ou eu voucortar seu retrato com um faca de açougueiro. Aí você vai ver o que aquele feitiço permanente vai fazer com você. Você pode se pendurar lá ese rasgar que eu nem vou ligar.

— Apenas a ignore – seu pai disse ao puxar seu lado da cortina. Mas, para sua surpresa, a velha bruxa tinha parado de gritar e estava silenciosamente medindo Ron de cima com seu olhar indignado.

— Você não ousaria – ela sibilou, estreitando os olhos para frente.

— Experimente, sua morcega velha – Ron cuspiu de volta – Se você a chamar daquele jeito de novo eu vou...

— Vá ajudar sua irmã – a Sra. Weasley disse ao chegar ao lado de Ron e empurrá-lo na direção de Gina que tinha acabado de puxar seu próprio malão e a cesta de Bichento pela porta e fechado a porta com o pé.

Enquanto Ron deixava seu lado das cortinas para sua mãe e ia na direção do malão de sua irmã, Gina abriu o trinco da cestinha do gato. O enorme gato laranja de Hermione pulou imediatamente para fora e se atirou por entre os pés de Ron, quase dando-lhe uma rasteira.

— Esse gato é uma ameça – Ron murmurou ao se inclinar e pegar a parte de trás do malão de Gina – Ele fez de propósito.

— Ah, não fez – Gina replicou enquanto carregavam seu malão para o corredor e o deixavam com os outros dois próximos do pé da escada – Suponho que você vá acusá-lo de tentar roubar Hermione também? – ela perguntou, dirigindo os olhos para o gato ronronando e circulando os pés de sua dona, arqueando as costas e se esfregando em suas pernas.

— Eu sei que foi uma longa viagem – Hermione disse se desculpando ao se curvar e pegar o gato no colo – Mas era inevitável– ela acrescentou ao coçar atrás de suas orelhas, fazendo-o ronronar ainda mais alto – Tenho certeza que você foi um bom menino – ela disse, os olhos não mais no gato, mas em Ron que parecia congelado no lugar a poucos centímetros dela.

'Ah não, ele não foi', Ron disse para si mesmo. 'Ele foi um...' mas o resto do pensamento desapareceu ao ser substituído por um outro assim que olhou nos olhos de Hermione. 'Por que eu estou tão nervoso? Não fique aqui parado como um idiota', ele se repreendeu. 'Diga alguma coisa'.

— Oi – ele conseguiu dizer lentamente. 'Ah, ISSO foi genial. Você pensou nesse momento por dois malditos dias e 'oi' é tudo que você consegue dizer. Você é realmente um idiota.'

— Oi – Hermione respondeu com um sorriso tímido ao deixar Bichento descer pro chão. O grande gato olhou para ela infeliz, depois lançou seu olhar decepcionado para Ron. Com o rabo de escova agora se agitando para trás e para frente com irritação, ele se virou e subiu as escadas.

— Esse maldito gato me odeia – Ron resmungou para si mesmo procurando algo mais para dizer – Olhe o que ele fez – ele se queixou ao puxar a manga de seu casaco para que Hermione visse as marcas de arranhão no lado de dentro de seu braço.

— Talvez se você parasse de apelidá-lo – Hermione sugeriu ao reprimir uma risada. Ele estava tão fofo brandindo os arranhões como se alguma coisa imperdoável tivesse acontecido. Parecia um menininho tagarelando sobre um dos irmãos.

— Eu arrumo nomes para Pitchi o tempo todo – Ron atirou de volta – Você acha que aquele minúsculo monte de pena se importa?

'Se importa. É por isso que ele te ignora', Hermione pensou ao atirar seus braços em volta do pescoço de Ron e abraçá-lo com força.

— É ridículo eu ter sentido sua falta? – ela sussurrou ao puxá-lo mais pra perto e respirar fundo.

— Não – ele riu suavemente, enterrando o rosto em seu cabelo cheio e relaxando contra o corpo dela – Ridículofoi escrever uma carta assim que você saiu.

— Fiquei feliz com isso.

Sabendo que sua família estava provavelmente olhando, Ron se forçou a soltar o abraço dela e dar um passo para trás.

— Para onde todo mundo foi? – ele perguntou quando abriu os olhos e percebeu que estavam sozinhos no corredor.

— Acho que eles desceram para a cozinha – Hermione respondeu embora não estivesse totalmente certa. Ela não tinha notado que eles tinham ido embora. Na verdade, uma vez que Ron estava parado à sua frente, ela parecia esquecer de todo mundo. Assim como quando eles brigaram, todos desapareceram para os fundos e ele era tudo o que ela via.

— Você não dormiu o suficiente – ele disse olhando para ela, preocupado – Monstro não a incomodou, né?

— Não, eu não o vi – Hermione admitiu – Eu acho que ele não está mais aqui. Não perguntei sobre isso, afinal. Eu não quero mesmo saber o que aconteceu com ele.

— Espero que tenham alimentado Bicuço com aquele vagabundo.

— Ron! – Hermione sibilou.

— Ele merece, Hermione – Ron declarou ao dar uns passos para trás e sentar no malão – Ele traiu Sirius.

— Eu sei – ela admitiu ao se sentar ao lado dele – Eu aindafico achandoque vou vê-lo – ela confessou – Sei que Sirius se foi, mas toda vez que entro na cozinha, espero vê-lo lá sentado – ela disse serenamente enquanto levantava seus olhos.

— Provavelmente vai levar um tempo paranos acostumarmos – Ron respondeu, abraçando o ombro de Hermione e a puxando contra ele.

— Estou feliz que esteja aqui, Ron.

— É, esse lugar é assustador à noite. Principalmente quando você está sozinho.

— Não foi isso que eu quis dizer – Hermione disse.

— Eu sei – Ron admitiu – Mas ainda é a verdade. Embora eu suspeite que Fred e Jorge eram osresponsáveis pela maioria dos barulhos que eu ouvia. O quarto deles era bem em cima do meu, afinal.

— Eu não ouvi nada na noite passada.

— Então você ficou no meu quarto?

— Sim – ela admitiu.

'Ótimo. Pedi que Gui tomasse conta do quarto deles durante a noite. Se aquele pequeno vagabundo deixou alguma supresa, ele irá encontrar.'

— Mas você não dormiu muito – ele disse ao dar uma olhada em sua aparência.

Sem saber como responder, Hermione baixou os olhos. Ela não queria contar a ele que cada vez que dormiasonhava com os Comensais da Morte atacando a Toca.

— Vou dormir melhor hoje à noite – ela finalmente disse.

— É, ter Gina no mesmo quarto vai ajudar – ele concordou. Uma Hermione cansada era uma Hermione mal humorada e ele não queria irritá-la – Eu ficaria contente se Harry estivesse aqui. Não acho que ele vá querer vir nesse verão, afinal. Duvido que ele queira voltar para essa casa. Ele escreveu de volta?

— Não, ainda não – Hermione respondeu – Mas, eu falei com ele ontem.

Os olhos de Ron se arregalaram de choque.

— Você foi para...

— Não. Não, no telefone – ela explicou rapidamente – Eu queria que ele ouvisse minha voz para que soubesse que estou bem.

— E aqueles trouxas horríveis deixaram você falar com ele? Eles não... desligaram?

— Bem, eu não gritei com eles, não é? – ela provocou, sorrindo ao ver as orelhas de Ron ficarem vermelhas – Duvido que eles me deixassem falar com ele se soubessem que eu era, então eu menti. Disse que era a sobrinha da Sra. Figg.

— Quem? – Ron perguntou, a testa enrugada em confusão – Ah... aquela velha aborto dos gatos?

— Sim. Contei à tia dele uma história sobre convidá-lo para um chá e, como ela sabia que ele odiaria isso, ela o colocou no telefone.

— Que mulher amável – ele disse sarcasticamente – Então? Como ele está?

— Ele disse queestão tratando-o bem. Alimentando-o e tudo mais. Eles têm medo que Moody apareça e os enfeitice se não o fizerem.

— Não. Quer dizer... ele parecia... – Ron começou.

— Distante? – Hermione perguntou.

— Eu ia dizer zangado, mas... estava distante? – ele perguntou.

— Inicialmente, não – Hermione admitiu – Acho que ele estava bastante aliviado. Eu lhe disse que estava bem. Ele pareceu ótimo... até eu dizer que o que aconteceu não era culpa dele. Ele ficou quieto por um momento e depois perguntou como você estava reagindo a isso.

— E? – Ron pressionou.

— Eu contei a verdade.

— Você disse a ele que nós...

— Não, eu disse que você reagiu mal – Hermione explicou – Que você se culpou, mas que eu tinha conseguido te convencer que não era sua culpa. Eu o convenci disso, né?

— Você não espera realmente tranqüilizá-lo com uma conversa pelo feletone, né? – Ron perguntou, fugindo do assunto.

— Ron?

— O quê?

— Vocês dois vão me deixar doida varrida se continuarem com isso – Hermione gritou ao tirar o braço dele de seu ombro e encará-lo.

— Se nós continuarmos com o quê? – ele perguntou, embora tivesse quase certeza da resposta – Eu não estou fazendo nada.

— Está sim – Hermione respondeu, soando um pouco irritada com ele – Você está se fazendo de desentendido de propósito. Agora pare de tentar mudar de assunto.

— Eu não estava mudando de assunto – Ron protestou. 'Tá, eu estava, mas eu esperava que ela não percebesse.'

— Não foi sua culpa, Ron. Agora diga isso para mim.

— Não foi sua culpa – ele disse com um sorrisinho torto.

— Você é impossível – ela declarou, balançando a cabeça exasperada. Sentindo-se quase à beira das lágrimas de novo, dessa vez com razão, Hermione tirou os olhos do chão e evitou olhar Ron diretamente – Nós provavelmente deveríamos levar seu malão para cima – ela disse, surpresa que sua voz tivesse soado tão firme. 'O que há comigo hoje? Por que estou tão emocional? Eu estava feliz há um minuto e agora estou... Estou o quê? Zangada? Não. Estou...'

— Hermione?

— O que foi? – ela perguntou, os olhos no malão onde Ron estava sentado.

— Vem aqui – ele disse, fazendo sinal para que ela sentasse próxima a ele.

— Se você não quer minha ajuda, tudo bem – Hermione disse, virando as costas para Ron e olhando na direção da cozinha, onde ela presumia que o restante da família Weasley estava reunida. Mesmo que não dissesse, ela percebeu que não estava mais falando do malão – Não se preocupe com os outros dois – ela continuou, apontando para seu próprio malão e o de Gina – Nós cuidamos deles mais tarde – ela acrescentou ao começar a ir embora.

Ron estava de pé e colocara a mão no ombro dela antes que ela conseguisse dar mais dois passos.

— Hermione? – ele disse ao puxá-la para parar.

— O jantar vai estar pronto logo. Sua mãe deve estar nos procurando.

— Você pode, por favor, olhar para mim?

'Por quê?Para queeu possa ver a culpa nos seus olhos?', Hermione pensou. Ela se virou para encará-lo, mas evitou seus olhos.

— O que há de errado? – Ron perguntou.

— Eu não sei – ela admitiu, e isso era parcialmente verdade. Ela estava irritada que ele não a deixasse ajudá-lo, mas aquilo era só uma pequena parte do problema. Suas emoções estavam à flor da pele hoje e ela não sabia porquê. Tudo que ela tinha certeza era que não queria falar sobre isso até ter a chance de se recompor.

— Eu sei – Ron disse – Você está exausta.

— Não é isso – ela respondeu. 'É mais que isso.'

— Então o que é?

— Eu não sei.

— Sabe sim. Agora me conte o que é – ele exigiu.

— Eu disse que não sei. Por que você não deixa isso pra lá? – Hermione atirou de volta, enquanto a tristeza que ela estava sentindo era substituída por irritação.

— Porque não posso ajudar você a menos que eu saiba qual é o problema – Ron replicou, soando um pouco nervoso. Esse não era definitivamente o encontro que ele tinha fantasiado nos dois dias anteriores.

— Você quer saber qual é o meu problema?

— Quero.

— É só... – 'Só o quê?', Hermione imaginou – É só...tanta coisa – ela respondeu, dizendo a primeira coisa que veio em sua cabeça – Estou preocupada com você e Harry e meus pais e isso é muita coisa – ela disse. Ela secou as lágrimas mornas do rosto assim que as sentiu, mas o estrago já estava feito. Ron já tinha visto. A próxima coisa que ela soube é que o corpo dele estava bem perto do dela.

— Você não tem que se preocupar mais – ele disse ao puxá-la para um abraço – Você está segura. Harry está seguro. Seus pais estão fora tirando umas férias agradáveis em algum lugar. E eu estou aqui agora. Estamos todos bem.

— Não, vocês não estão – Hermione abafou um soluço contra o peito dele – Meus pais não têm idéia do tipo de perigo que os ronda. E você e Harry... vocês dois se culpam por algo que não é culpa de vocês e eu odeio isso. Odeio que eu seja a causa disso. Odeio que vocês dois tentem lidar com isso sozinhos. Odeio me sentir assim. Odeio que façam me sentir... – 'Sentir como?', ela perguntou para si mesma. 'Impotente!', sua mente gritou. 'Vulnerável. Com medo.' – Não posso me permitir ser fraca. Não posso ceder – ela declarou. 'Eu não vou deixar aqueles desgraçados me abatarem' – Eu tenho que ser forte.

— Hermione, você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Você acabou de passar por uma coisa horrível. Ninguém vai pensar que você é inferior se você 'ceder'. Isso não significa que você seja fraca. Você é apenas uma humana, isso é tudo. Não há ninguém aqui para ver, só eu. Já te vi chorar antes, só... desabafe.

— Você não ouviu? Acabei de dizer que não quero – 'Se eu tiver um ataque, eles vencem.'

— E daí? Você vai sentar e pensar como o Harry? Você vai me mandar embora e lidar com isso sozinha?

— Não, claro que não. Eu só não quero discutir isso agora. Principalmente no meio do corredor – 'Preciso de tempo para juntar meus pensamentos e entender o que estou realmente sentindo em primeiro lugar.'

— Tá, você está certa – Ron admitiu – Esse provavelmente não é o melhor lugar para entrar em algo assim. Não temos que falar sobre isso agora. Eu posso pensar em um jeito mais efetivo para fazer você se sentir melhor, de qualquer forma – ele acrescentou, o sorriso torto retornando – Mas nós provavelmente não deveríamos fazer isso no corredor também.

— Você é realmente impossível – Hermione respondeu, tentando soar irritada embora não conseguisse evitar se divertir com o jeito que ele entrava na conversa – Eu não sei por que suporto você.

— Porque eu beijo bem – Ron sugeriu, o sorriso se alargando.

— Quem te disse isso, seu convencido? – Hermione perguntou mordendo o lábio inferior para evitar sorrir de volta.

— Você – ele respondeu, notando o brilho travesso nos olhos dela.

— Ah bem, eu volto atrás então – ela respondeu tristemente.

— Não pode – Ron informou.

— Já voltei – Hermione revidou, sem se preocupar mais em esconder seu sorriso. Isso era normal. Isso era confortável. Por mais estranho que parecesse, esse era o jeito como flertavam.

— Tarde demais – ele abafou o riso – Eu já sei que eu 'tiro seu fôlego'. Talvez eu precise refrescar sua memória – Ron sugeriu, erguendo a mão e acariciando levemente o rosto de Hermione – Sem respostas geniais? – ele perguntou ao ver os olhos dela se fecharem.

— Ah, é isso que você está esperando então? – Hermione provocou, os olhos ainda fechados – Pensei que tivéssemos terminadoo joguinho.

— Eu realmente senti sua falta – Ron sussurrou, tão perto agora que ela podia sentir a respiração dele em seus lábios enquanto falava.

— Prove – ela sussurrou de volta, ciente de que ele não desistiria do desafio.

Por um momento, Hermione pensou que tivesse escutado Ron abafar um riso, mas isso deixou de importar no momento em que sentiu os lábios dele roçarem nos seus. O beijo era suave e gentil e durou só um instante. Depois ele se afastou.

— Ainda estou respirando – Hermione informou a ele. Dessa vez ela estava certa de ouvi-lo rindo.

— Então tá – ele respondeu, o nariz roçando o dela enquanto se inclinava e exigia seus lábios uma segunda vez.

Esse beijo não era nada como o primeiro. Não era nem suave nem gentil, mas cheio de ardor. No momento em que seus lábios se fecharam nos dela, Ron passou os braços em volta da cintura de Hermione e puxou o corpo dela contra o seu. Senti-lo tão firmemente pressionado contra ela teve um efeito quase instantâneo e, antes que ela soubesse, seu corpo inteiro estava queimando com um calor que combinava com a fúria dos beijos dele.

Ela gostava desse lado de Ron. Por todos esse anos ela tinha visto vislumbres desse lado poderoso e apaixonado quando brigavam. Não somente a intrigava, mas a excitava também. Ron era um quebra-cabeça que ela estava ainda lutando para montar. Havia uma dualidade nele que simplesmente não fazia sentido. Ele era rude e insensível, mas podia ser tão doce e cheio de consideração. Até mesmo o jeito que a beijava era uma contradição. Sua boca era faminta e exigente, mas ao mesmo tempo que devorava os lábios dela, suas mãos gentilmente traçavam pequenos círculos na parte mais baixa de suas costas. Somente Ron podia ser passional e terno ao mesmo tempo e isso estava levando Hermione à loucura.

— E esse como foi? – Ron perguntou quando inesperadamente abandonou os lábios dela e a puxou para o malão próximo.

— Muito melhor – Hermione respondeu, o coração batendo desordenadamente, enquanto se sentava ao lado dele e olhava para aqueles olhos profundamente azuis.

— Então você admite que foi bom? – ele perguntou com um ar arrogante que ele sabia que a provocaria.

— Não admiti nada – ela riu.

— Vamos ver então – Ron riu e se inclinou para beijá-la novamente.


N/A: Curtindo meu último dia de férias, resolvi postar logo o capítulo 19 e dar uma adiantada na tradução dos próximos! Continuem lendo e deixando reviews! Elas são muito importantes!

...Agradecimentos...

Pati G W Black – Obrigada, Pati! Estou bem melhor agora, eu acho... Foi no Potter Rio 3?

Carol – Ah, que bom que continua curtindo a fic! Fico muito feliz! Obrigada, viu?

Mione Wood – Nossa, currículo pra Rocco? É um caso a se pensar... rsrs... Ia ser legal se me colocassem como assistente da Lia, porque eu ia ficar sabendo sobre o livro 7 antes de todo mundo! rsrs... Mas, falando sério agora... Eu nem teria o que colocar no currículo, porque só fiz 2 períodos de faculdade de Letras e essas traduções são um hobby... Mas mesmo assim, nossa, fiquei lisonjeada com os elogios! Muito obrigada mesmo! E, sim, as coisas voltaram a esquentar, né? rsrs... Que bom! Obrigada!

Anna-Malfoy – Oi, Anninha! Saudades suas... 4ª feira eu volto ao trabalho e acho que te encontro no msn, né? Obrigada pela review!

Thiti Potter – Ah, que bom que vai continuar acompanhando a tradução... Eu amo traduzir essa fic! Obrigada!

E queria muito mesmo agradecer a todas vocês pelo carinho e pela preocupação! As traduções têm ocupado minha cabeça e começo a me sentir muito melhor! E acho que encontrei um site legal para postar os extras! Assim que chegar perto de postar eu aviso aqui na fic, ok? Beijos a todas!