Nunca sem meu filho (1)

o-o-o-o

Olhava perdido pela janela, os pequenos flocos brancos caíam graciosamente lá fora. Sentiu uma mão pousar em seu ombro e virou-se para dentro da sala com um doce sorriso.

"Tudo bem?"

"Claro, amor." – aconchegou-se no peitoral de Heero, acariciando o próprio ventre – "Já vamos cortar o peru?"

"Sim, já é quase meia-noite, Duo." – informou, enlaçando a cintura do amado e acariciando sua barriga deveras grande – "Vamos ficar com os outros agora?"

"Claro." – sorria.

Devolvendo-lhe o sorriso, Heero o conduziu de volta à mesa de jantar, onde os amigos os esperavam para comemorarem a ceia de Natal.

"Estava tão distraído, Duo, aconteceu alguma coisa?" – perguntou Quatre, preocupado.

"Haha, não, imagine! É só que eu estava pensando que logo, logo meu filhote vai nascer." – revelou, orgulho, enquanto tornava a acarinhar sua barriga.

"Só espero que ele não se torne alguém tão chato quanto você." – Wu Fei brincou, causando risadas a todos.

"Não, não, Wuffy, meu filhote será melhor, ele será muito feliz." – contou com um ar sonhador.

Heero deslizou uma mão pelo pescoço do moreninho, trazendo sua cabeça para junto da sua. Sim, eles seriam muito felizes.

o-o-o-o

3 anos e 2 meses depois:

"Papa! Eu té bincá." – resmungou o pequeno, cruzando os bracinhos.

Heero, terminando de dar o nó em sua gravata, olhou bem o neném. Seu filhote estava sentadinho à mesa, recusando-se a tomar seu café da manhã, que consistia em pedacinhos de frutas ao leite, com a carinha enfezada. Quando olhava aquele serzinho minúsculo e inocente, quase não tinha forças para negar-lhe as coisas, ainda mais agora que ele aprendera a fazer a carinha manhosa que Duo fazia; porém, quando prometera levá-lo no parque no sábado, não podia imaginar que surgiria uma conferência importantíssima da Preventers para ir. Infelizmente, teria que faltar com a palavra ao filho.

Aproximou-se do pequeno, erguendo-o no ar, para que ficassem da mesma altura:

"O papa já explicou que não pode, Deni." – viu o menino fazer biquinho – "Eu prometo que quando voltar da viajem eu passo o final de semana inteira com você, tá bem?"

O neném pareceu analisar um pouco, antes de responder:

"Tá... O papa volta logo?"

"Volto, sim, querido. Amanhã mesmo eu já estou aqui."

Deni abraçou-se ao pescoço do pai, esfregando seus sedosos fios vermelhinhos em seu queixo:

"Tô cum saudades, volta logo. Eu num quélu poteger o dad no seu lugai pá sempe." (2)

Heero apertou-o mais em seus braços, rindo do comentário do filho.

Click.

Os dois voltaram-se para trás, onde Duo segurava uma máquina fotográfica, que batera mais uma foto. Ela foi revelada na hora e o trançadinho a pendurou na geladeira. O japonês abriu um meio sorriso, Duo adorava tirar fotos da "super-família feliz", como ele mesmo chamava; tanto que já nem havia espaço livre nos seus álbuns. Voltou-se para os dois homens de sua vida:

"Eu ouvi meu nome aí no meio da história. Posso saber o que os senhores estavam tramando?"

Heero olhou para o filho, que o olhou de volta, respondendo:

"Esse é um segredo entre dois homens, Duo."

Revirou os olhos violetas, divertido, pegando o ruivinho no colo e o devolvendo à sua cadeira. Examinou o pequeno, que comia calmamente. Seu filho era tão lindo e perfeito! Tinha o cabelo vermelhinho rebelde como o de Heero e grandes e redondos olhos cor de cerveja, como os seus, porém os do menino transmitiam muita calma e ingenuidade. A princípio assustaram-se pela sua cor do cabelo e olhos, todavia ele tinha muitos traços dos dois, desde o formato do nariz aos dedinhos da mão. Então preocuparam-se por se tratar de alguma anomalidade e, após alguns testes, inclusive de paternidade, atribuíram aquilo a uma "travessura" da genética: afinal, às vezes nasciam mesmo filhos diferentes dois pais, nesse sentido.

"Eu tenho que ir agora. Deni, promete que vai cuidar direitinho do dad?" – Heero piscou um olho para o menino.

"Pometo, papa!" – ergueu o polegar, num sinal de positivo.

Sorriu mais uma vez, beijando o topo da cabecinha ruiva:

"Até mais, meu bem. Seja um bom menino pro dad."

"Tá!" – abriu um enorme sorriso – "Tchau, papa! Amo você." – encostou a pontinha de seu nariz no de Heero, num delicado carinho.

"Também amo você, querido." – afagou seu fino cabelhinho.

Afastou-se, seu filhote era tão meigo! e foi até Duo:

"Ah, bom, finalmente lembrou-se de mim!" – brincou, fingindo-se de indignado.

Heero lançou-lhe um olhar maroto, levando sua mão à nuca do moreninho, mexendo os dedos compridos, numa carícia inebriante.

"Se continuar assim, não viaja hoje." – sussurrou Duo, pois este mínimo toque já o estava deixando excitado.

"Tsc, você é muito sensível."

"Com um homem como você, quem não ficaria?" – tornou a dizer baixinho, não queria que o pimpolho escutasse suas sacanagens.

Dizendo isso, Duo beijou seu marido longamente.

"Ui, ui!" – Deni balançou as mãozinhas, em sinal de calor.

Os dois riram do menino sapeca, largando-se por fim, pois até a criança já percebera o que faziam. O japonês pegou sua mala, que estava no chão ao lado do batente da porta da cozinha.

"Até mais."

"Tchau, papa!"

"Até logo, querido." – Duo deu-lhe um último beijo e Heero deixou a casa.

Suspirando, foi sentar-se ao lado do filho, aproveitando para limpar a sujeira que ele fazia.

"Dad, o papa volta logo, né?"

"Claro. Por que?"

"Puique... Seiá que ele vai ficá bem sem nóis?"

"Ahaha, claro que vai, pequeno. O papa já é um homem e sabe se virar sozinho. Mas vou te contar um segredinho: ele não consegue ficar muito tempo longe da gente, por isso que ele sempre volta pra nós." – mesmo pequeno, o menino já era tão amável, preocupado com o bem-estar dos pais.

O ruivinho abriu a boca num "ó" perfeito.

"Eu tamén num consigo ficá longe dos cêis, dad. Seiá que é doença?" – franziu a testa, ingenuamente.

Duo sorriu, limpando a boquinha do menino, que estava toda suja de leite:

"Não, isso não é doença."

"Ahnnn... Ah, ô dad? O papa pometeu me levá no paique hoje."

"Tudo bem, eu te levo."

"Obaaa! Bigado, dad!" – abraçou o pai, enchendo sua face de beijinhos – "Hihi!"

Adorava aquela boquinha macia beijando suas bochechas, pois Deni era uma criança carinhosa e vivia a beijá-los, abraçá-los e dispensar-lhe carinhos. Qual o pai que não gosta disso?

"Hahaha! Agora termine de papar pra eu te levar ao parque."

"Tá." – sorriu, tornando a comer.

o-o-o-o

Duo sentara num banco embaixo da sombra de uma árvore, descansando um pouco. Seu filho tinha um pique que até para ele era difícil de acompanhar, apesar de ser uma criança calma. A esta hora não haviam muitas pessoas por ali, na verdade, apenas duas meninas de uns seis anos, bem loirinhas, brincavam naquela parte do parque. Eles só estavam lá ainda porque Deni insistira em ficar mais um pouquinho.

"Só mais cinco minutinhos." – gritou para o menino.

"Tá bom, dad." – Deni foi brincar com uma bola laranja florescente pouco maior que suas mãos.

Aquele era um lugar agradável, em especial aquela área onde estavam, pois era bem arborizada, com canteiros bem cuidados, e muito tranqüila. Já estivera nas outras áreas do parque no mesmo dia com o filho, e agora chegara a vez desta. Porém, já estavam de saída.

"Ah, não!" – ouviu Deni exclamar, voltando-se para si – "Dad, a bolinha caiu no matinho."

Duo olhou ao redor, vendo uma cor laranja ofuscante no meio de uma moita do canteiro, que era cercado por uma grade em ondas de uns 50 cm, e entendeu que o que ele queria dizer com "matinho" era justamente "moita". Levantou-se:

"Eu pego, mas tome mais cuidado da próxima vez."

"Hunhun." – seu pai passava por ele, dando um último aviso:

"Não saia daí."

"Tá, dad." – ficou parado, enquanto o pai ía até o canteiro, uns seis metros adiante, retirar a bola de lá.

Duo foi até o canteiro, debruçando-se ao máximo que podia sobre ele para alcançar a moita, sem ter que entrar dentro daquela área proibida. Com algum esforço sua mão chegou ao "matinho", mas a esfera laranja estava bem intrincada no meio dele e teve de se esforçar um pouco mais para retirá-la de lá. O sol já estava ficando quente, devia ser por volta do meio dia, eles tinham que voltar logo para almoçar e, ademais, não queria que o menino tomasse o sol forte do horário.

Tirando a bolinha do filho do emaranhado, Duo voltou-se, dando alguns passos até olhar direito pra frente e não ver seu filho ali. Juntou as sobrancelhas, apurando a visão para ver se o achava por perto. Porém, não o encontrou:

"Deni, onde você está?" – chamou, sem obter resposta.

"Droga, eu disse para ele não sair de perto.", pensou, enquanto se dirigia para um bebedouro que ficava um pouco atrás do banco em que estivera sentado, virando à direita, onde pensou que ele pudesse ter ido. O americano podia até ser meio desencanado e tudo o mais, mas quando se tratava de seu filho ou de Heero, tinha o dom de ficar aflito em questões de segundos e por pouca coisa.

Chegando ao bebedouro, não o viu ali e nem nos arredores. Voltou apressado para onde estavam antes, na esperança de Deni ter voltado pra lá, mas decepcionou-se amargamente ao não vê-lo por ali. Nessa hora as duas menininhas loiras chegaram, de mãos dadas, ao banco onde sentara-se mais cedo, subindo nele, a brincar. Foi até elas:

"Com licença, garotas, vocês viram o menino que estava comigo?"

"Um ruivinho?" – perguntou uma delas.

"Sim, este mesmo. Sabem onde ele está ou viram para onde ele foi?"

"Não... Da última vez que nóis viu ele, o senhor tava levantando daqui." – tornou.

"E a gente foi até o banheiro nessa hora." – continuou a outra.

"Obrigado." – respondeu de qualquer jeito, nervoso.

Com a hipótese do banheiro, foi até os sanitários daquela área. Entrou no masculino e encontrou um velho faxineiro o limpando.

"Senhor, tem algum garotinho aqui?"

"Oi? Ah, não, aqui não tem ninguém, meu filho."

Suspirou pesadamente, suas pernas já amolecendo-se. Mordeu o lábio inferior, supondo:

"Será que ele não está no banheiro feminino? Ele é muito novo e não sabe ler..."

"O senhor está procurando seu filho? Eu acabei de tocar duas garotinhas do feminino, e já o tranquei. Só estou mesmo limpando este porque está sujo, mas o outro que estava limpo, não tinha mais ninguém." – informou.

Os olhos de Duo expressavam uma súbita angústia, acompanhada de um alto nervosismo. Saiu correndo de lá, procurando pelo parque todo por seu pequeno. Pela área dos brinquedos, do lago, dos animais... Gritava o nome do menino, pedia para ele voltar que ele não estava bravo, interpelando os poucos que ainda estavam no local, e nem sinal de Deni. Estava se desesperando ao passar por toda aquela extensão e não ter um retorno positivo. Seu peito acelerava e doía, os nervos por debaixo da pele ardiam, dificultando até seu andar.

Já estava na hora do parque fechar, só sendo aberto duas horas mais tarde, e não haviam funcionários para ajudá-lo a encontrar o filho. Nervosíssimo, tirou seu celular do bolso e discou para o de seu marido. No segundo toque ele atendeu:

"Duo?" – perguntou, enquanto se dirigia para o salão de refeições do hotel da Preventers, ao reconhecer o nome de seu amor no visor do celular.

"Heero, eu perdi o Deni. Ele não está em lugar nenhum!" – desabafou, a voz embargada de choro.

"Do que você está falando, Duo?" – veio a resposta apreensiva e confusa.

Passou a mão pela testa, sentia que não demoraria a se formar um buraco em seu estômago, de tão nervoso.

"Eu o trouxe para o parque... Ele derrubou a bolinha no canteiro, eu fui pegar e, quando voltei... Ele havia desaparecido!" – tentava falar coerentemente.

"Acalme-se, Duo. Na certa ele está por aí, brincando em algum lugar." – ponderou, mais racional.

"Não, não, não! Eu já o procurei no parque inteiro! Debaixo dos bancos, no meio do mato, até espiei na rua... E nada! Heero, eu estou dizendo, Deni não está aqui."

De repente Heero ficou em silêncio, sem saber o que dizer.

o-o-o-o

Continua...

o-o-o-o

(1) Este é um nome de um filme, só que na verdade, o real é "Nunca sem minha filha"; nele a mulher americana é casada com um sujeito do Oriente Médio, com o qual eles tem uma filha. Como o cara tá ruim de vida, eles se mudam pra lá pois lá ele diz que teriam uma vida melhor. Porém, a mulher passa por péssimas no Oriente e decide ir embora, mas naquele país ela só pode voltar pros E.U.A sozinha, pois eles não dão a guarda de filhos às mães. Então ela passa por um monte, até conseguir fugir ilegalmente pro seu país com a menina, pois ela não abandonaria a filha de jeito algum com o pai naquele país, daí o título do filme. (viram? Pime também é cultura u.u)

(2) Querem saber o porquê dele chamar o Duo de dad e o Heero de papa? Bom: "dad" é papai em inglês (duh!) e "papa" é papai em japonês, usado por chibis! (mais cultura ainda, hehe n-n) Como em outra fic minha o Trowa era chamado de "papaizão" e o Quatre de "papaizinho" pelos filhos, não podia repetir o mesmo nessa, ne? Então pus assim.

Tive a idéia de fazer esta fic depois de assistir um filme na Record outro dia, chamado "Resgatando não sei quem" x-x", no qual uma mãe tinha seu filho seqüestrado pelo ex-marido. Não o vi até o fim, infelizmente, mas gostei do tema e, então, resolvi escrever sobre crianças desaparecidas. (e só aí lembrei que isso já ocorrera em "Senhora do Destino"¬¬). Okey, okey, este cap. não ficou muito do jeito que queria, mas não estou boa para escrever... Sim, levei outra pancada na cabeça u.u e tá meio difícil de pensar por causa disso, então entendam o fato deste cap. estar meio podre, tá? E, muito calma nessa hora, o Heero tá OOC mas o motivo disto será explicado mais adiante, okey?

Please, deixem reviews!

Ateh mais

16/12/05