Aviso Importante: Deste capítulo para frente, os temas tratados serão fortes e pesados, contendo possivelmente cenas que serão desagradáveis de se ler. Entretanto, a autora dessa fic não é a favor deles e nem os apoia, muito menos os explora com a intenção de obter algum lucro ou prazer. Sendo assim, ela está no seu direito de escrever sobre pessoas que passam por situações traumáticas e horrorosas como esta, não violando, portanto, nenhuma conduta ou lei.
o-o-o-o
5 anos
"Heero, será que você poderia me ajudar com isso?" – Duo pediu, dos ombros para cima ainda dentro do porta-malas.
"Claro." – respondeu, trancando o carro e indo até o amante.
Com cuidado, tiraram as sacolas de compras do porta-malas e o fecharam. Duo tinha um pequeno sorriso no rosto devido a um causo engraçado que vinha contando a Heero no caminho de volta. Heero também lhe lançava o mesmo sorriso e, enquanto procurava pela chave da porta da frente em seus bolsos da calça jeans que usava, ouviram um carro estacionando bem próximo deles. Olhou curioso para trás, vendo uma cabecinha morena e trançada completamente virada para a direção do carro de polícia que parara ali, inquietando-se na hora.
Sem demorar tanto, mas também não tão rápido assim – para a angústia de Duo, que empertigava-se todo com o fato – dois policiais deixaram o carro, ligando o alarme.
"Senhor Maxwell, senhor Yuy." – um deles, de cabelo cor de mel, os cumprimentou, acenando com a cabeça.
"Doug..." – Duo lhe respondeu, a voz ansiosa – "O que houve, por que estão aqui?"
"Uhn, bem, nós podemos entrar?" – o outro, de fios castanhos escuros, fez um gesto indicando o que falara, humildemente.
"Claro, claro, entrem." – Heero apressou-se em abrir a porta e deu lugar para os dois homens da justiça entrarem.
Enquanto passavam por si, mirou seus olhos cobaltos nas violetas confusas e temerosas de Duo. Podia imaginar o que se passava na mente do marido: conheciam aqueles dois há anos, pois sempre estavam na delegacia – assim como em tantos outros órgão relacionados à crianças, em especial às desaparecidas – para saberem das novidades, uma vez que jamais deixaram de procurar pelo filho desaparecido, coletando dados e pesquisando por conta própria, muitas vezes em que os resultados da polícia apenas regrediam e, como a última vez que os procuraram fôra há umas três semanas, não haveriam motivos para eles estarem lá. A menos que tivessem alguma notícia de Deni.
Duo sentia um aperto no coração, como se quisesse permitir-se imaginar que tinham encontrado seu filhinho, mas tivesse medo de, ou de o terem encontrado morto, ou de continuarem sem pistas do menino e, assim, se machucar ainda mais pela falsa ilusão. Seu coração ainda sangrava, até hoje. Era muitíssimo doloroso falar sobre seu pequeno, então aprendera a não se deixar sonhar demais com coisas como essas que aconteciam agora, caso contrário, aquilo só lhe traria mais dor, o afogaria cada vez mais naquela mar escuro no qual caíra há anos, desde a perda do filho.
O japonês podia ler claramente os sentimentos de Duo em suas orbes violetas, não só porque o conhecia bem demais como também por ser exatamente aquilo que se passava dentro de si. Uma agitação, fagulhas de esperança, um pouco de temor, ansiedade e medo. Duo apertou os lábios, pressionando um contra o outra com força, perdido em pensamentos que tentava a todo custo não ter. Heero, percebendo a aflição de seu amor, resolveu falar-lhe logo para "trazê-lo de volta" à realidade:
"Duo, entre."
"... Hã?" – olhou bem à sua volta, percebendo que os policiais já haviam entrado e que Heero segurava a porta com algum sufoco, já que tinha em mãos as sacolas do mercado – "Tá."
Entrou e Heero o seguiu, fechando e trancando a porta. Enquanto o fazia, Duo pedia para que as visitas se sentassem no sofá da sala de estar.
"Um minuto." – Heero pediu a eles.
Meneando a cabeça, os policiais permitiram que ele se afasta-se, pois sabiam o quão difícil aquilo era para eles, além de que, o assunto que lidariam era delicado e precisavam de muito tato para dize-lo, aproveitando a ausência que teriam para pensarem melhor em como contar-lhes. Heero puxou um Duo abobalhado pelo braço até a cozinha, depositando as compras sobre a mesa. Gentilmente tirou as sacolas de Duo de sua mão e as colocou junto das suas. Depois, ficou parado, olhando para elas sem, na verdade, vê-las. Seu coração palpitava mais forte e, com um suspiro, encarou o marido:
"Duo, seja lá o que for, você precisa estar calmo." – disse, preocupado com o estado do americano.
"Hn, não dá, Heero! Você também acha que eles estão aqui por causa... por causa..." – apertou mais ainda os lábios, os olhos prontamente se marejando.
Heero levou a mão à sua face, alisando sua bochecha esquerda com o polegar, tentou sorrir positivamente:
"Calminha, tudo bem? Tem certeza que quer ouvir o que eles têm a nos dizer? Você tem que estar preparado, caso seja algo relacionado ao Deni."
"Hunhun, eu quero."
Continuou a carícia, percebendo que, mesmo que o pudesse impedir, Duo estava mesmo disposto a ter aquela conversa, muito embora talvez não fosse forte o suficiente para agüentá-la, dependendo do que ela se tratava.
"Está bem, mas tem que tomar um daqueles calmantes, por segurança, caso eles estejam aqui para falar sobre o nosso filho."
"Não precisa, Heero..."
"Ei, ei, é claro precisa. Olha como você está pálido só de vê-los."
"Droga, eu já cansei de me dopar sempre!"
"Duo..."
De fato, isso fôra algo que preocupara Heero por um bom tempo: Duo dependendo cada vez mais de sedativos, calmantes e afins para conseguir algum alívio aos nervos; mas já aprendera a lidar com isso, depois de tanto tempo, aprendera o que fazer para acalmá-lo sem precisar do uso de remédios e, modéstia à parte, conseguia fazê-lo muito bem. Todavia, a situação que estavam agora necessitava de todo cuidado e o melhor seria tomar um calmante, a fim de, qualquer que fosse a conversa, seu moreninho não ter um colapso nervoso.
"Não insista, tá bem? É só um remédinho, por precaução."
"Arg... Tah bem, mas anda logo que eu não estou mais agüentando, quero falar logo com o Doug e o Bradley."
"Ok..."
Heero abriu algumas gavetas, procurando por um calmante não muito forte e, ao encontrá-lo, deu um comprimido ao moreninho, junto com um copo d'água. Duo bebeu tão depressa, de tão ansioso que estava, que Heero teve medo de ele se engasgar. Ao terminar de engolir forçosamente a água, colocou o copo de qualquer jeito sobre a pia, lançando os violetas medrosos ao marido. Heero, a fim de tranqüilizá-lo e de lhe conferir segurança, segurou em sua mão, entrelaçando seus dedos no dele. Assim, com um último suspiro de Duo, foram-se para a sala, sentando-se à frente dos outros dois.
"Pois bem, estão aqui para...?" – Heero iniciou, direto como sempre.
Doug corou, abaixando a cabeça:
"Er, bem, é que..."
Bradley, percebendo o apuro do loiro, tomou seu lugar, falando com firmeza e sensibilidade ao mesmo tempo.
"Bom, senhor Yuy, como já deve ter percebido, estamos aqui para tratar de seu filho desaparecido, pelo qual procuram há... cinco anos, estou certo?"
"O... o que tem ele? Vocês descobriram alguma coisa?" – Duo disparou, mas não tanto quanto seu coração, que estava a ponto de saltar de sua boca e sair rolando pelo chão da sala.
Heero não pôde evitar de arregalar os olhos por alguns instantes. Enfim, algo sobre Deni! Seu filhinho... Aquilo era tão doloroso, algo que os machucava tanto. Nem Deus sabia o quanto tinham sofrido nos últimos anos, as lágrimas sangrentas que choraram. Desconhecer o paradeiro de seu filho, sem saber se estava vivo ou não, era tão horrível, tão cruel que sempre os assolava e os perturbava à hora que fosse, roubando-lhe as sanidades. Mas o pior de tudo era ter de aprender a conviver sem ele, sem sua risadinhas gostosas, suas mãozinhas pequenas e macias, sem sua voz alegre e inocente. Era ter que se conformar que Deni estava tão longe, tão longe deles... ter de acordar todos os dias sem seu filhote e, ainda por cima, não sentir como se uma punhalada o atravessasse toda santa vez em que isso acontecia. Esse era o pior, não sofrer mais toda aquela intensidade de dor por já ter se conformado à sua ausência.
Porém, saber algo a respeito dele, nem que fosse algo mínimo, seria maravilhoso o suficiente para fazer seu peito voltar a se aquecer e, finalmente, um sorriso genuíno voltar aos lábios de seu amor. Seria como uma luz, mesmo que talvez fraca, à frente da escuridão que os envolvera por tanto tempo. E era por isso que seria praticamente impossível dizer o que sentiam naquele instante, era uma mistura de sentimentos tão grandes e contrastantes que só quem os sente pode sabê-los. Em parte um grande temor, medo, em outra, uma alegria, uma esperança sem tamanho. Algo que poderia torturá-los em questões de segundos, parecendo que, para eles, em suas enormes confusões de sentimentos exaltantes, tinha se passado uma longa e dolorida eternidade.
Todavia, a parte que era só medo e receio impulsionava, ao mesmo tempo, a querer não ouvir o que se seguiria. Depois da perda do filho, chegaram até, algumas vezes, a freqüentar centros de auto-ajuda para famílias com entes desaparecidos. Ao decorrer desses cinco anos, seja na delegacia, via internet ou até mesmo nesses centros, acabaram por entrar em contato com outras famílias que passavam pelo mesmo drama que os seus. De certa forma isso às vezes ajudava a aliviar suas dores, mas, justamente por esse contato, sabiam também de coisas desagradáveis, como de pais que encontraram os filhos mortos e sem os órgãos ou foram descobrir seus pequenos vivendo até mesmo em outros países, felizes com suas famílias postiças e tendo de passar por várias coisas terríveis, como a recusa das crianças de voltar a morar com a família verdadeira e outras coisas do tipo. Isso só ajudava a desesperá-los mais. Se fosse alguma notícia ruim que os aguardava, não saberiam se conseguiriam suportar mais essa.
"Bem, na verdade, este é uma assunto delicado e eu espero que os senhores tenham paciência de escutar-nos." – Bradley olhou diretamente para Heero, sabendo que isso seria impossível para Duo, devido a esses anos que o conhecia, investigando o caso do filho deles.
Heero consentiu mudamente, com um abano de cabeça, que tentaria controlar seu marido, ao preocupado policial.
"Sendo assim... prosseguirei." – observou-os bem e, após ver que era aprovado, continuou – "Há algum tempo que o nosso departamento está investigando uma rede de corrupção infantil" – ao mencionar tal coisa, ambos os corações dos pais dispararam mais ainda – "que atua no campo da internet principalmente. A operação foi muito importante e em breve sairá nos jornais, com certeza, pois ela desmantelou essa podridão que vinha acontecendo há anos no nosso país, sendo uma das principais exploradoras de crianças da colônia, e envolveu esforços desde de autoridades políticas à importantes jornais, no intuito de combater esse crime grave e sórdido. Aos poucos, as equipes envolvidas nessa operação conseguiram desmantelar essa quadrilha de criminosos sujos e imorais. Foi um trabalho árduo e demorado, para tentar prender desde as pessoas que freqüentavam esses lugares às que exploravam as crianças. Por fim, há duas semanas, conseguiram que um dos programadores de um dos sites ligados a essa quadrilha denunciasse os "cabeças" responsáveis por aquilo e, em pouco tempo, eles foram capturados, embora isso tenha sido difícil e trabalhoso." – terminou com um suspiro entristecido.
"O que o nosso Deni tem a ver com isso?" – Duo, completamente aflito e tentando negar a ligação entre o assunto iniciado pelo policial e o seu filho, estarrecido o suficiente para somente conseguir dizer-se em pensamentos: "não, não, não".
Bradley os olhou mais uma vez, aquilo seria realmente duro para eles. Se isso já o chocara bastante, imaginava quanto aos pais das crianças envolvidas.
"Senhor Maxwell... Acho que seria melhor eu explicar tudo. Apesar de não ser nada concreto... Bem, retomando o que dizia, essa operação revelou várias coisas e encontrou muitas crianças desaparecidas..." – Duo tremia e suava tanto, que Heero apertava sua mão com mais força, posto que estava igualmente incrédulo... aquilo que lhes propunham não poderia ser verdade – "Primeiramente, as crianças, muitas vezes raptadas ou moradoras de rua, eram aprisionadas em uma casa na estrada, um lugar aos pedaços, aparentemente, e lá elas eram exploradas..." – sua voz tremia à medida que contava, sentindo incrível pena dessas pobres crianças e uma raiva mortal de quem fazia isso com elas –"pelos próprios integrantes do bando, sendo que muitas delas acabam sendo fotografadas e "íam" para a internet, dos mais torturantes jeitos possíveis." – suspirou, uma dor no peito à medida que contava – "muitos dos freqüentadores dos sites se interessavam por alguma em especial e estas eram vendidas ou 'cedidas' a eles. Esse esquema existia há vários anos, por isso, quando essa casa foi revistada, foram encontradas várias ossasdas de crianças enterradas ao longo de uma grande extensão do terreno. O fato é que, todas as poucas crianças vivas, e que infelizmente eram a "carne nova" para eles, que foram encontradas, algumas nessa casa e outras com os freqüentadores desse lugar, foram retiradas de lá. Porém, como eram maltratadas, violentadas, torturadas, não recebiam alimentação ou higiene adequadas, algumas vieram a perecer."
"V-vo-vo-você está dizendo...?" – Duo começava a se agitar a tal ponto que chegava a perder a racionalidade.
Heero estava igualmente abalado e não conseguia acalmar o marido muito bem, o que foi capaz de fazer foi apenas segurá-lo pela cintura, impedindo-o de se levantar. O que ele e Duo também deveria estar pensando era que, como as crianças que vão parar em lugares horríveis como este acabam morrendo em pouco tempo, segundo o que Bradley contara, Deni provavelmente estaria... Não, não poderia ser! Isto é, creditando a possibilidade de que realmente havia uma relação entre as palavras do policial e seu filho.
"N-não! Senhor, por favor, espere pelo fim da história." – pediu Doug, um tanto quanto nervoso, devendo-se em boa parte ao acontecimento nefasto que seu parceiro lhes transmitia.
À medida que Bradley falava, eles iam se enojando cada vez mais, Heero sentindo um embrulho no estômago que o revirava todo por dentro. Aquela história escabrosa e que conseguiria tocar até mesmo os mais insensíveis estava despertando uma raiva descomunal dentro deles, pois era impensável que aquelas inocentes criancinhas passassem por isso! Aliás, criança alguma deveria ser exposta a tal violência e trauma. Sabiam eles e quase todos os homens de mente sã o quão repugnante era isso e que somente pessoas consideradas "doentes" – e com toda a razão – seriam capazes de tal atrocidade. Sabiam também que todos eles, homens sãos, condenavam ao extremo quem maltratasse esses seres pequenos e indefesos, desejando-lhes os piores dos castigos. Muitas vezes, as pessoas, manipuladas pela mídia e o alto consumismo, mantinham essa aparente insensibilidade, esse egoísmo e frieza, posto que, ao assistirem um jornal, por exemplo, e verem um caso de assassinato, nem se chocavam mais; contudo, este talvez fosse o único crime imperdoável para todos eles. O único o qual todos se revoltariam e se "humanizariam", sentindo na pele a dor desse grave pecado, xingando, ameaçando e tudo o mais que fosse possível os culpados de um crime assim.
E eles não fugiam à regra: sentados ali, naquele sofá, sentiam os corações encherem-se de ódio e repulsa por esses miseráveis que ousaram macular tantos pequenos, tantas crianças. Não importava se o filho deles estava ou não envolvido nesse caso, a história por si só já era aterrorizante o suficiente para causar-lhes aqueles sentimentos de raiva, revolta, angústia, pena, sofrimento. No interior de si, desejavam com todas as suas forças que os porcos imundos responsáveis por essa loucura abominável e doentia pagassem muito caro por seus feitos maldosos. Ainda mais se tivessem feito algo semelhante à Deni.
Porém, o que os acalmava um pouco, depois que Duo se exaltara novamente e Doug fizera o favor de negar-lhes o que estavam pensando a respeito da morte do filho, era que esta hipótese era um tanto quanto difícil também: encontradas as ossadas há duas semanas ou mais, três, quatro... Não importava, esse tempo seria muito pouco para reconhecerem os restos mortais do pequeno Deni, ainda mais impossível sem tê-los contatado, e já estarem ali anunciando que encontraram o cadáver em de composição do ruivinho. Restando, assim, somente um opção visível, a de que o pequenino estava entre as crianças encontradas com o bando. De qualquer jeito, essa era uma notícia ruim, posto que, se já era horripilante a idéia com crianças que nem conheciam, com o próprio filho era mil vezes, ou mais, pior! Todavia, deixariam o policial contar até o fim o caso, para evitarem de tirar conclusões precipitadas e, talvez, errôneas. Muito embora esperar pelo fim fosse angustiante, qualquer coisa ligada àquele assunto o seria, e só lhes causasse um tormento ainda maior. Mas era assim que seria, não havia um caminho fácil, apenas aqueles tortuosos e dolorosos que, mesmo massacrando seus corações, ainda poderiam ter um final feliz. Isso só dependeria deles e da sorte de, um dia, reencontrarem o filho que tanto amavam vivo.
Bradley tomou fôlego para continuar, sentindo um gosto amargo espalhar-se pela boca, o gosto do asco que sentia por tudo aquilo, por toda aquela maldade sem fim, o gosto da condolência pelo que todos aqueles pais e crianças passaram e ainda passariam, o triste gosto da impotência diante de tudo. Poderia desvendar casos como esse, prender e julgar os culpados, mas poderia, algum dia, amenizar um pouco a dor do que teria acontecido até tudo ser desmantelado? Isso jamais conseguiria, o sofrimento a que as pessoas em geral seriam exposta, uma vez que submetidas às inescrupulosidades dos outros? De bandidos como esses do caso que contava à pais aflitos agora? Com pesar, balançou suavemente sua cabeça, afastando todas suas divagações e se concentrando em somente revelar o necessário à Duo e Heero.
"Tentarei ser breve para não prolongar a angústia dos senhores." – o policial moreno continuou – "Mas o mais estranho foi que, com a prisão dos cabeças, uma criança foi encontrada viva com eles. Eles eram dois irmãos, ao que tudo indica, o mais velho coordenava essas atividades criminosas, o mais novo também participava, mas ele é retardado mental e será encaminhado ao hospício. Bem, o que quero dizer com isso é que, quando o mais novo era transferido para a prisão, ele deu um verdadeiro show, dizendo que não poderia ficar longe da criança que encontraram com eles. Ao investigar rapidamente isso, ele acabou confessando que um dia a roubou enquanto seu pai estava distraído, pois tinha adorado-a; então a levou para viver consigo e com seu irmão, que tomava conta dele, já que ele era privado de sua sanidade, e a transformou no seu 'bichinho de estimação', alegando que não podia viver sem ela. Ao que ele disse também, seus cuidados com ela não eram nada dignos e ela era exposta aos mesmos tratos que as outras crianças, inclusive figurando no site e sendo "emprestada" para os clientes daquela espelunca, porém, ele não permitia que a machucassem demais ou extrapolassem os limites, como acontecia às vezes, o que levava as crianças à morte." – tudo aquilo era chocante e repugnante, era até penoso contar uma barbaridade dessas para aqueles dois pais que o ouviam horrorizados – "Essa criança também foi submetida a um processo para avaliar sua saúde, já que, como a maioria dos pequenos encontrados lá, estava num estado de puro medo, quase catatônica, e, bem, não sei ao certo o resultado desses laudos, mas sei que constata que ela também foi vítima de abusos durante anos, supõe-se, tendo alguns de seus órgãos internos prejudicados há um bom tempo."
Heero e Duo estavam paralisados e com o coração na mão. Só havia um motivo para eles estarem lhes revelando aquilo e essa hipótese os assustava tanto e os enojava e, acima de tudo, lhes doía tanto, que preferiam não acreditar. E o escutavam calados, não porque estivessem calmos ou com paciência, mas sim porque o choque era grande demais para permitir-lhes qualquer mínima reação. De certo que já tinham imaginado algo parecido no começo daquela conversa, mas a realidade constatada era mais fria e dolorosa do que meras suposições, sendo capaz de imobilizá-los como fazia agora. O ruivinho, tão inocente, tão purinho e amável... Não, não era possível! Oh, como aquilo era horroroso! Seu pequeno, seu pequeno teria ele sofrido tanto assim? Deveras grande o choque que lhes era causado, suspeitavam que pai nenhum estaria, algum dia, preparado para ouvir tal coisa que ouviam agora. Estavam perplexos, horrorizados. Mas ainda haviam esperanças, Bradley ainda não chegara à conclusão do fato. Talvez, quem sabe talvez, tudo não pudesse ter uma alternativa menos feia e sofrível? Era nisso que eles tentavam se apoiar a todo custo.
"Bem, prontamente as delegacias de toda a colônia foram acionadas, em busca de registros de crianças desaparecidas. Ao meu conhecimento, sei apenas de uma que teve a família encontrada, as outras não sei em que pé estão. Porém, depois de vermos algumas fotos tiradas do pequeno que vivia com aqueles cretinos..." – sua voz saía embargada de ódio, como se guspisse as palavras, misturada a um tom de dor – "Bom... Nós examinamos aquela imagem de como o filhinho de vocês estaria agora, com uns 7, 8 anos e, bem, eles são muito parecidos. Devem ter aproximadamente a mesma idade e, como provavelmente esteve com aqueles crápulas durante alguns anos, talvez... Talvez ele e Deni sejam a mesma pessoa."
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Haviam já dez minutos que os policiais deixaram a casa e eles continuavam sentados e estáticos naquele sofá. Depois de cinco anos procurando pelo filho, era assim que o encontravam? Isto é, se aquele garoto fosse mesmo o filho deles. De certo que era melhor encontrá-lo vivo, pois seria pior se estivesse morto, mas aquela história era tão horrorosa, tão doída que era quase insuportável suporta-la. Se fosse mesmo Deni, seu filhinho, ele teria passado por tanta coisa ruim! Pai algum deseja mal aos filhos, mas, neste caso, ter a hipótese de seu filho pequeno ter passado por tanta maldade, por essa enorme e dolorosa tortura, tanto física quanto emocional, era como se cada um deles morresse por dentro e, talvez, essa comparação ainda não descrevesse um terço da dor que sentiam.
Ainda estavam em choque, mas, ainda sim, a culpa os assolava com uma velocidade e intensidade gigantescas. Pensavam que, por culpa deles, o ruivinho vivera tudo aquilo. Quanto sofrimento para uma pobre criança! Qualquer um que estivesse no lugar deles saberia como se sentiam: quando se ama incondicionalmente alguém, como a um filho, e sabe-se que ele passou por uma coisa dessas, não há nada que seja o suficiente para dizer o quão os pais sofrerão. E era isso mesmo que acontecia com eles, estavam abalados, sofrendo, profundamente tristes e, bem lá no fundinho, aliviados por, talvez, terem o filho de volta – se aquele fosse mesmo o pequeno Deni. Duo foi o primeiro a quebrar o silêncio, falando desolado:
"Foi assim que juramos proteger, cuidar e sempre fazer feliz o nosso filho?"
Heero afundou-se em pensamentos, nenhum deles podia chorar livremente tudo que seus peitos suprimiam pois ainda estavam abobalhados e chocados demais. Mas, de qualquer forma, uma hora ou outra, quando a consciência do que acontecera viesse, teriam todo um mar de lágrimas para derramar.
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E o dia veio, Duo passara tanto tempo chorando, desesperado, se culpando mais do que nunca pelo que acontecera ao seu suposto filho. Heero também, mas como já estava acostumado a fazer, chorava e se desesperava à sós, sem poder dar mais essa tristeza ao seu amante fragilizado. Ao contrário, mesmo abalado, tentava tranqüilizar seu marido moreninho, tentando fazê-lo perceber que não deveria jogar tanta culpa sobre seus ombros – uma vez que o próprio Heero a admitira toda para si – e, de todas as maneiras possíveis, tentava, ao menos, amenizar um pingo dar dor que Duo sentia e, involuntariamente, suas palavras de consolo amenizando o mínimo do mínimo de sua dor. Nunca seria possível diminuir um bom tanto do que sofriam neste momento, mas qualquer coisa que fosse já era um começo, algo que os impediria de cair cada vez mais e mais no poço que sempre estiveram nesses cinco anos, de afogar-se de vez e sucumbir ao pranto. Obviamente, Heero se desgastava com tudo isso, mas estava já acostumado a amparar seu frágil americano e, ademais, sentia-se terrível, de qualquer jeito, por vê-lo novamente nesse estado de zumbi. A verdade era que doía-lhes demais e, pelas noites e dias de choro, de má alimentação e descanso, sem ânimo ou sorrisos, podia-se constatá-la, constatar aquela dor que preenchia seus corações, suas vidas e os desgastava mais e mais.
A dor, o sofrimento, era incomparável, mas pelo menos sobrava a única coisa boa disso tudo, a qual Heero vivia a lembrar seu amante: "Não se martirize, Duo, pelo menos, se for ele, nós o teremos de volta." E era isso o que os mantinha em pé depois de tão horrível revelação: a esperança de ter o filho de volta. Por um lado poderia não ser aquele o pequeno ruivinho que um dia os abandonara; justamente por isso, advertira o policial, não era permitido o contato com as crianças resgatadas, sendo apresentada uma foto da criança para os supostos pais que procuravam pelos filhos e, caso alguma delas fosse reconhecida, seria feito um exame de D.N.A. para confirmar.
Agora eles se preparavam para ir ao laboratório fazer o exame: de nada adiantava ver sua foto se os próprio policiais já tinham chegado àquela conclusão e, caso o resultado do exame fosse negativo, se ele não fosse Deni, e eles tivessem visto a foto do menino, aumentando ainda mais suas expectativas e, caso se apegassem ao menino por causa foto, aí então estariam com o coração partido muito mais. Então, mesmo Duo tendo chiado um pouco, dizendo que já passara anos separado do filho e que agora precisava vê-lo novamente logo e a qualquer custo, acabou concordando que o melhor para eles era esperar pela resposta do exame de paternidade.
Duo estava sentado na cama, o olhar perdido em algum ponto qualquer, enquanto criava coragem para terminar de se arrumar. Heero entrou no quarto, tinha acabado de escovar os dentes e estava pronto já, quando notou seu amante moreninho desolado daquele jeito. Foi até o armário, pegando um casaco marrom e o levou até o marido, cuidadosamente agasalhando-o. Duo finalmente moveu os olhos, a encarar seu amor, e ficaram ambos assim, apenas se olhando, por alguns longos instantes. Heero o segurava pela gola do casaco, seu americano tinha profundas olheiras, a pele meio desbotada, os olhos um pouco inchados ainda de choro e, na verdade, ele próprio também estava assim. Isso era fruto dos últimos dias, em que mal podiam dormir, atordoados pelos últimos acontecimentos, pelas lembranças do filho, que agora estavam mais vivas e nítidas do que nunca, comovidos e irados com a trágica história de tantas crianças que caíram nas mãos daquelas pessoas doentes e inescrupulosas, pela ansiedade de poder reaver Deni, de poder fazê-lo feliz, como ele possivelmente nunca mais fôra desde que se separara deles... Eram tantas coisas, que os atormentavam, que, no fundo, só queriam poder voltar a ser felizes, os três juntos novamente. Contudo, de uma coisa tinham certeza: os desgraçados que tinham feito isso ao menino pagariam muito caro – sendo ou não aquele o verdadeiro Deni. Eles clamavam por justiça, por vingança e, se caso fosse mesmo o ruivinho deles, garantiam que os infelizes que uma vez ousaram levar o menino, roubando suas felicidades e acabando com um grande e inestimável pedaço de suas vidas, maltratando o ser que amavam tanto quanto ninguém, machucando aquela criança inocente e despedaçando sua alegria em migalhas teriam um fim longo e doloroso.
"Você está bem?" – irônico, já que nunca estariam bem.
"Não estou pronto, Heero." – confessou, assustado, sua voz num fio.
"Tudo bem, amor, tudo bem. Não precisa ficar com medo, eu vou segurar sua mão o tempo todo, está bem?" – sussurrou para seu marido.
Duo o encarou novamente, as violetas hesitantes e temerosas; por fim, baixou a cabeça, concordando:
"Tá."
Heero soltou um pequeno sorriso – não de felicidade, mas um sorriso sem motivo, apenas para não ter de derramar um lágrima – e o ajudou a se levantar, pegando sua escova sobre a penteadeira e, colocando-se atrás do americano, que encarava o próprio reflexo no espelho do móvel, pôs-se a pentear os sedosos fios. Duo deixava-se pentear, amuado e protegido contra o peitoral definido do japonês; ao terminar, trançou seu longo e farto cabelo como ele gostava, prendendo-o na ponta. Ambos olharam-se no espelho, estavam prestes a dar um grande passo em suas vidas. Então, sem prolongar mais aquele sentimento, foram ao hospital.
Por ser um exame não muito simples e comum e, por trabalharem na Preventers, decidiram fazer o exame no hospital de lá mesmo, já que este do mesmo modo era creditado em qualquer parte das colônias e ainda por cima não teria uma longa demora para se realizar, já que em hospitais comuns enfrentariam um bom tempo até poderem fazer esse exame de paternidade. (1) A gravidez masculina era um feito científico razoavelmente requisitado, uma vez que muitos homossexuais preferiam ter um filho do próprio ventre, coisa que obviamente para eles era impossível por natureza, embora boa parte deles tivesse adotado crianças que ficaram órfãos após a guerra, tornando-as os filhos que nunca teria por si próprios naturalmente.
O percurso até lá fôra feito em silêncio, cada um com sua angústia e desejos entalados em suas próprias gargantas. Se de um jeito desejassem que não fosse Deni, por não desejarem que o filho tivesse passado por essas coisas horríveis, de outro também queria que aquele pequenino que carregava tanto fardo fosse seu filhote, posto que, além de ansiarem muito por reencontrarem o filho, também sabiam que se não fosse ele, as chances de encontrá-lo diminuiriam cada vez mais, isto se o que lhe acontecera não fosse pior do que a esse garoto que achavam ser Deni. Além de que seria impossível pedir a um pai que impedisse aquela pontinha de esperança e felicidade por recomeçar a vida junto de seu filhinho que tanto ama formigar em seu estômago e subir-lhe pelo corpo, tomando todas as suas vontades, de fantasiar estar com seu pequeno novamente, quando existe essa possibilidade. Poderia ser considerado como egoísmo, querer que, mesmo que machucado, aquele fosse seu filho, só para tê-lo novamente, mas não importava. De um ou de outro jeito, toda e qualquer possibilidade de encontrá-lo seria sempre triste, pois, se fosse fácil e feliz, eles já o teriam localizado instantes após seu desaparecimento. Sendo assim, só restavam possibilidades penosas para eles. Contudo, eles estavam dispostos a enfrentar tudo o que aparecesse, desde que tivessem seu pequeno e pudessem amá-lo e mostrar-lhe todas as coisas boas que tinha perdido ao lado deles e que, então, poderia recuperar. Na verdade, só queriam o filho de volta...
Heero estacionou o carro, continuaram parados e quietos, mirando às suas frentes sem, de verdade, olhá-las. A respiração era pesada e claramente audível. O estômago de Duo queimava de nervosismo, enquanto Heero estava entorpecido em pensamentos. Por fim, a reação partiu do americano:
"Heero..." – parou de falar, a dor em sua barrigada aumentando, ao passo que Heero começava a prestar-lhe atenção – "Acho... Acho que temos de ir..."
"Hai." – concordando, desprendeu seu cinto e saiu do carro.
Duo o imitou e, juntos, adentraram o recinto. Iam nervosos e aflitos, ansiosos. Temerosos, mas, no todo, realmente esperançosos de, finalmente, terem encontrado o filhinho perdido. Foram percorrendo as alas, tomaram o elevador, tudo no mais completo e valioso silêncio. Um silêncio precioso para eles, para suas idéias e sentimentos fluírem. Durante o trajeto, algumas pessoas lançavam-lhes olhares furtivos, um ou dois chegaram a interpelá-los, desejando-lhes que tudo desse certo: estes eram os que souberam dos últimos acontecimentos; praticamente todos, mesmo os que não os conheciam ou não lhes tinham grande empatia, desejando-lhes silenciosamente que tudo terminasse bem, pois, mesmo que não gostassem tanto assim do casal, sabiam que sofriam muito, uma dor que eles mesmos não desejavam para si e seus cônjuges, além de terem pena da criança envolvida, já que era impossível não pensar em seus filhos quando imaginavam que alguém tão novo vivera todas essas experiências horríveis e concluir do fundo de seus corações que não saberiam o que fazer caso isso lhes acontecesse, não desejando, desse modo, esse mal a pessoa alguma.
Finalmente ganharam a ala médica da Preventers. Avistaram seus amigos mais íntimos esperando por eles. Seus amigos. Pessoas que sempre estiveram aos seus lados, mesmo quando não precisavam, que sempre os ajudaram de todas as maneiras que podiam e sempre tentavam ampará-los e não deixá-los desanimar. Amigos que prezavam pelas suas felicidades e bem-estar, que sofriam por não poderem ajudá-los, na imponência que os próprios Duo e Heero se encontravam. Que estiveram com eles nos últimos dias, mais uma vez, impedindo que caíssem. Deviam muito a eles, mas não isso já não era necessário e eles sabiam disso: se faziam tudo o que faziam por eles dois, era porque os amavam e não porque esperavam algo em troca como gratidão.
Ao se aproximarem, Duo ficou à frente de Quatre e, ao vê-lo, o loirinho envolveu seu pescoço num abraço, sussurrando suavemente:
"Tudo bem?" – perguntava não no sentido de ele estar bem depois de tudo o que acontecera, mas sim se estava preparado para o que viria.
"Não, mas... Sinto que, na hora certa, eu estarei pronto para tudo." – confessando-lhe isso, afastou-se gentilmente com um pequeno sorriso confiante no rosto.
O árabe lhe sorriu em resposta numa mistura de tristeza e confiança, separando-se dele para Sally que vinha abraçá-lo ternamente, como a um irmão. Duo a abraçou também, pousando sua cabeça em seu ombro descoberto pelo cabelo ruivo jogado para trás, sentindo o gostoso perfume de seu pescoço. Ela fazia pequenos carinhos em sua costa e, em seguida, afastou-se, olhando-o mais uma vez. Heero e Trowa também se abraçaram rapidamente e era agora enlaçado pelo loiro. Quando Quatre afastou-se do japonês, foi a vez de Sally vir lhe apoiar, abraçando-o ligeiramente enquanto beijava-lhe a bochecha em sinal de carinho e, acima de tudo, transmitindo-lhe toda sua esperança e boas preces. Admirava Heero por tudo que ele fizera, pelas rédeas que tomara da situação após o desaparecimento de seu filho, nunca deixando Duo perdido no meio do caminho, guardando suas mágoas só para si, fazendo o possível e impossível para manter a relação depois da tragédia que acontecera ao invés de deixá-la ruir com o desespero que os cercara no começo, quando ainda era recente a perda de Deni. Então ela se afastou e veio Wu Fei, que, olhando sinceramente de Duo para Heero, colocou uma mão sobre o ombro de cada, seu olhar dizendo mais que qualquer palavra, dizendo-lhes coisas como "Não se preocupem, vocês já passaram por tantas, conseguirão enfrentar essa também" . Duo deu-lhe outro pequeno sorriso, puxando-o para um abraço. Wu Fei o envolveu protetoramente, sem receios, fechando os olhos; permaneceram assim alguns instantes, afastando-se em seguida.
Trocaram um último olhar com todos; aqueles pares de olhos de diferentes tonalidades no fim diziam a mesma coisa, olhares de felicidades por coisas boas que estavam por vir, de apoio e esperança.
"Vai dar tudo certo."
O moreninho meneou a cabeça positivamente ante a afirmação de Quatre. Então, corajosamente, dirigiram-se ao balcão, falar com a enfermeira-atendente. Pouco após trocarem as últimas palavras, um médico alto e de idade avançada, que acompanhou a gestação de Duo por ordens de seu superior que achou ser melhor que um de seus homens grávido tivesse acompanhamento dentro da própria Preventers, já chegou aos seus lados, depois de acionado pela mocinha. Trocaram uma meia dúzia de palavras insignificantes, partindo para o assunto pelo qual estavam lá:
"Creio que sabem como será o processo, não?" – olhou atentamente para a face dos mais jovens, apreensivos – "Como os tecidos dos óvulos e ovário implantados em você, Duo, foram feitos a partir de células modificadas geneticamente e você escolheu não retirá-lo, continuando com o 'tratamento', o sangue terá de ser coletado diretamente do ovário."
Os dois consentiram, afirmando com a cabeça. Para que os filhos fossem gerados a partir de material genético exclusivo dos próprios pais, os tecidos retirados daquele que hospedaria o embrião era tratado à base de radiação, em uma ínfima quantia, e manuseado quimicamente. Então era manipulado e feito artificialmente um ovário que, implantado no hospedeiro, era tratado com diversos remédios ingeridos pelo paciente, inclusive hormônios, pois era muito difícil para o corpo masculino agüentar uma estrutura feminina e não rejeitá-la. Podia-se dizer que era um processo pesado e exaustivo, causando vários efeitos colaterais aos hospedeiros, mas era o melhor que tinham em relação à gravidez masculina. E a vantagem era que , após um excessivo tempo usando este método, nunca se encontraram crianças nascidas com problemas por causa dele, com problemas mentais, de saúde a afins.
Porém, era algo que requisitava de muito custo, o paciente deveria começar o tratamento, quando já estivesse com o ovário dentro de si, muito antes de quando pretendia engravidar, não só porque ele precisava de tempo para se desenvolver, desenvolver os óvulos e tudo o mais, como também precisava-se de uma longa espera, suportando rejeições e vários outros transtornos, para que ele se adaptasse ao seu corpo e, enfim, a gravidez não corresse riscos como possíveis abortos espontâneos. Todavia, terminada a gestação, se fosse o desejo do hospedeiro, poderia cessar o tratamento e retirar seu ovário, só que como esse também era um processo custoso e poderia trazer complicações à saúde do paciente, posto que hemorragias devidas à parar de tomar os remédios para a aceitação do ovário eram comuns, bem como infecções, reações à subtração do órgão do corpo que já estava começando a adaptar-se a ele, entre outros, alguns optavam por manter o tratamento por mais um enorme período, de anos e anos, até o seu corpo finalmente se acostumar à presença estranha e não precisar mais de tratamentos tão extenuantes. (2)
Duo e Heero decidiram continuar com o tratamento, pois, antes mesmo do nascimento de Deni, planejavam ter, quem sabe mais para frente, outro (s) filho (s). Contudo, depois do ocorrido de cinco anos atrás, até se esqueceram dessa idéia, mas como sabiam que exames de paternidade seriam opções possíveis assim que Deni sumira, continuaram com o tratamento por todo esse tempo. Agora sabiam que tinham tomado a decisão certa.
Então o doutor continuou:
"Ótimo. Como será um pouco mais complicado o seu exame, Duo, o faremos primeiro." – Duo assentiu, olhando para Heero que o confortava com o olhar – "Depois colhemos o seu, Heero." – à confirmação de Heero, prosseguiu – "Bem, então vamos começar, venha."
Os dois se olharam por uns minutos, Heero tomou sua mão fina entre as suas e as beijou delicadamente:
"Vai ficar tudo bem, amor. Vá lá."
"Certo. Obrigado." – o americano, hesitante e desconfortável, encarou as orbes cobalto, temeroso, abraçando-o e beijando-o, por fim.
Heero o enlaçou com um braço, beijando-lhe o topo da cabeça e afagando seu cabelo sedoso:
"Tudo bem, amor, vai." – sussurrou com docilidade.
Separaram-se com alguma dificuldade e, ouvindo um último 'boa sorte' dos amigos, saiu acompanhando o médico. Enquanto ía, seu médico lhe contava que uma equipe já tinha sido encaminhada para fazer a coleta de sangue do menino e que os três exames seriam enviados ao laboratório logo em seguida.
Heero voltou-se e sentou-se no banco de espera, onde alguns de seus amigos estavam espalhados. Com um ar cansado, deixou-se largar lá, sua vida estava dando voltas. Era agora, agora que fariam o exame detentor do poder de mudar ou não toda sua vida. Trowa sentou-se ao seu lado, enquanto os outros três conversavam em pé e baixinho à frente deles:
"Tem certeza que está tudo bem?" – perguntou o amigo, preocupado.
Heero abaixou a cabeça, alguns fios caindo sobre seus olhos, enquanto fixava a vista no piso branco do chão:
"Eu não sei... Mas se for ele, meu Deni, acho que finalmente encontraremos a paz." – respondeu. Talvez nunca fosse a paz pelo passado do seu pequeno menino, no tempo em que ele ficara perdido, mas quem sabe pelo futuro que os esperava...?
o-o-o-o
Suas pernas nunca pareceram tão pesadas antes. Enfim, este era o momento em que sua vida daria ou não um grande salto, em que talvez pudesse ser feliz por completo novamente. Finalmente se aproximaram, esticou o braço, tomando o envelope nas mãos. Sentiu uma mão suave pousar sobre suas costas e um par de olhos violetas espiarem por cima de seu ombro. Eles miravam o papel branco em suas mãos, temerosos e curiosos. Olhou-o mais uma vez, tendo a certeza de que poderia abri-lo. Tentando controlar o tremor em sua mão, o abriu vagarosamente, retirando as folhas de lá de dentro. Apressado, revirou-as, correu os olhos pelas linhas, chegando ao ponto que queria. Preparou-se para ler em voz alta, pousando os cobaltos sobre as pequeninas letrinhas pretas e leu para seu marido: "Positivo. Paternidade confirmada..."
o-o-o-o
Continua...
o-o-o-o
(1) Mais uma vez, não faço idéia do que a Preventers faz. XD Será que ninguém vai se dispor a me esclarecer isso, não? (hehe, aquela bem cara-de-pauXD)
(2) Hoho, mais uma invenção maluka minha...XP Eu tinha uma teoria super legal sobre gravides masculina, mas eu demorei tanto pra escrever que me esqueci... o-o" Bem, aí eu inventei isso agora mesmo, por isso que ficou meio xoxo... Bah, eu nunca gostei da hipótese de implantar óvulos alheio! Porque o óvulo é de outra pessoa e, nas mpregs, o filho acaba sendo consangüíneo só de um. - Nd contra, eu pretendo adotar quando for adulta, mas se os caras até engravidam pra ter filho nas mpregs e um acaba não passando o material para o filho fica meio sem graça né?
Que posso dizer? Eu sou má. Mas não se preocupem, eu paguei todos os meus pecados enquanto escrevia esse cap. Sério, eu sou presunçosa o suficiente para chorar com a própria fic, então, já viu, me debulhei em lágrimas no pedaço que contava o que tinha acontecido com akelas crianças! Por falar nisso, vou repetir mais uma vez: EU sou totalmente CONTRA abuso infantil e pedofilia. Entenderam? Quer dizer, vocês eu sei que entenderam, mas sempre tem uns escrotos por aí que não conseguem discernir porcaria nenhuma e daí pra quem vocês acham que vai sobrar se algum deles vier ler isso daki? Pois é, vai sobrar pra Pimezinha aki! E como eu não quero sarna pra me coçar... XP Por isso o aviso lá em cima e a repetição aki embaixo. u-u
Ebaa, finalmente encontramos o Deni, naum/o/ OH, mas coitadinho, que história triste... ;-; Hehe, bem, agora vamos vê-lo do jeito que EU o acho fofinho (porque eu n tinha achado ele fofinho no primeiro cap., já que eu tendo a achar kawaii os chibis meigos e... ei, num vou falar naum se naum estraga a surpresa! XP) Pois é, dessa vez eu demorei pra atualizar, pois eu tava num ritmo de atualizar essa fic semana sim, semana não, pra poder acabar com ela rapidinho e no começo das aulas. Mas não deu, eu tive alguns probleminhas aki e, bem, travei! Não tinha ânimo pra escrever nd, tanto que tds as fics que eu tava digitando pra postar nessas férias ficaram paradas... Bem, mas agora que a coisa andou e melhorou, tou de volta! Nyaahhh! XPPP
Também porque eu vi que era a hora certa de escrever isso: aconteceu numa cidade vizinha daki um caso de estupro de uma criança de 3 anos por um de 15, 16 ou 17, não me lembro! É um horror, mas o caso foi parar na mídia porque a mãe matou o garoto que fez isso com o filho dela. Não concordo que matar é a melhor punição, pra isso existe a cadeia, mas dá pra compreender o estado de nervos horrível em que ela fikou dpois de ver seu menininho de 3 anos ter passado por isso! O que me dá raiva é que dpois todo mundo fikou com akela hipocrisia: nossa, ela não precisava ter feito isso, que horror!. Meu, horror é o ke o defunto fez! (isso sem mencionar que mãe desse garoto que morreu dpois d estuprar o bebê, matou a filha de 6 anos a pauladas e veio da cadeia pro enterro!) Me dá mó raiva essas coisas, essa inversão de valores! Aiai, fora isso, ontem mesmo fikei sabendo de outro caso de exploração aki na cidade... Meu, essas coisas acontecem o tempo todo, entaum, mais uma vez, a boa-pime avisa: tenham cuidado.
Eu sei que fikou meio eskisito esse cap. O-o principalmente o finalzinho, mas tipo assim, eu dormi 4 horas noite passada, minhas pernas estão doendo de tanto fikar sentada nessa cadeira, meus olhos já estão s embaçando de sono, to com tpm, o jantar me deu azia e tá um kalor dos infernos aki... Por isso, não consegui caprichar muito no sentimento deles qnd eles tavam indo fazer o exame. Qnt ao pedaço final, que eles recebem a confirmação, eu trato de mostrar como eles se sentiram melhor no próx. Cap. Por falar nisso, esse cap. tem bem menos coisa do que eu havia planejado, mas isso é pq ele ia fikar muito extenso e cansativo se eu as colocasse, por isso, fika pra próx... Por falar nisso, o reencontro deles está se aproximando... Como as coisas vão acontecer agora? Hehe, agora sim estamos chegando na história!XP
Gente é, isso, desculpe pela demora mais uma vez e obrigada pelo apoio, principalmente da Tina-chan, mais uma vez. Obrigada, Tina, isso me deixou bem mais segura para escrever, viu? n-n
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Matta ne
tchauzinhu n-n
02/03/06
