Hermione sentia a sua vida esvaindo nos chãos das masmorras. Seus lábios ainda tinha a sensação de ter tocado aos de Ron. Fora o seu primeiro beijo, e havia sido com quem gostava. Errou, ela sabia, tinha plena ciência disso. Sabia que deveria ter permanecido ao lado do ruivo para procurar a espada, no entanto alguns gritos vindos das masmorras a fizeram correr em socorro e ser atingida por uma grande pedra que a quase esmagou, mas tinha absoluta certeza de que estava com uma hemorragia grave por dentro. O sangue vomitado sem esforço algum era prova disso.
Ela sabia que a morte rondava aquele castelo atrás de suas relíquias ou da alma de quem havia a enganado. Aquela noite Harry ou Voldemort sucumbiria. E provavelmente ela também.
Sentiu uma fisgada ainda do esôfago e uma dor pra respirar. Provavelmente a pancada que recebeu perfurou o pulmão. Sabia de medicina o suficiente para dizer que não tinha mais que alguns minutos de vida, mas o seu cérebro trabalha com todo poder que conseguia para estar ciente. Ela sabia que se permanecesse ali nos corredores, as chances de ser encontrada por alguém que poderia usá-la contra o-menino-que-sobreviveu que eram altíssimas, principalmente pelo motivo de a casa das cobras localizada especialmente naquela região do castelo ter mais filhos de comensais do que qualquer outra.
Usou todo o seu peso para virar e quem sabe esconder o seu corpo magro atrás de algum pilar e torcer que sua alma intercedesse a Merlim que Potter ganhasse e que fosse o lado da ordem quem desse descanso para o esguio corpo. Mas alguém, lá em cima, queria que ela sobrevivesse por estar exatamente em frente à sala do mestre em poções.
Ela usou toda a força que tinha para puxar o seu corpo até a sala e abriu a porta rezando para que tivesse uma poção que a ajudasse. A sua varinha ainda estava com Harry, e a taça havia consumido todo o seu poderio para convocar alguma poção que fosse. As prateleiras eram altas demais e organizadas demais. Praguejou o metodismo de Snape àquela altura do campeonato. Praguejou estar sozinha, nas masmorras. Praguejou por ter o espírito de querer ajudar sempre a todos. Havia sido esse espírito que a metera em confusões todos os anos com Harry e Ron. E agora custava a sua vida
O calafrio no corpo pela quantidade de sangue perdida já lhe abatia e as forças dos seus braços lhe permitiram chegar até a mesa do ex-professor. Encostou as costas no local e ficou a observar a porta aberta enquanto o último toque de sanidade se esvaia pelo corpo junto do sangue que escorria pela boca. Pediu a Merlim que alguém a encontrasse e estava quase se deixando levar para a luz quando deslumbrou sapatos lustrados e uma calça preta com botões até a bainha lhe chegar ao lado.
– Pro... Professor Snape. O senhor veio me buscar.
XXX
Hermione abriu os olhos, claro demais. Mas não eram as camas da enfermeira de Hogwarts, ou do St. Mungus.
Piscou apenas para acostumar-se a luz recebida. Sentia todo o seu corpo doer e a cabeça latejando. Olhou em volta, não reconhecia aquele Hospital em particular, mas pela organização deveria ser do mais alto escalão no mundo bruxo. O médico abriu porta imediatamente acompanhada por uma enfermeira que, com o aceno da varinha, examinou o corpo inteiro dela.
– Pode sentar se quiser senhorita. – Anunciou o médico e pelo sotaque Hermione notou estava na França.
– Como se sente? – Perguntou à companhia om a voz doce ao ajudar a castanha a erguer o tronco e arrumar as almofadas para ajudá-la a sentar – Dolorida? Sente alguma outra dor além do tronco?
A jovem abriu a boca para responder, só então percebeu que estava com a boca seca. Os lábios rachados e o cabelo incrivelmente curto.
– Ainda não pode falar senhorita. – Anunciou o médico – a quantidade de sangue que percebeu ao expelir danificou um pouco a sua garganta e tivemos o maior trabalho para conseguir recuperar.
A enfermeira então estendeu uma pena e um pergaminho para ela.
– Aqui. Pode ajudar a se comunicar melhor conosco e com o seu marido.
Hermione abriu ainda mais os olhos levemente então começou a anotar as diversas perguntas quando a voz potente a fez parar
– Sempre a intragável sabe-tudo enchendo alguém de perguntas atrás de conhecimentos.
Ela piscou outra vez, esperava no mínimo que Harry ou Ron, até mesmo os gêmeos Weasley avisassem que era uma brincadeira. De mau gosto por sinal.
Hermione riscou todas as perguntas para escrever apenas
"Como?"
– Poderia nos deixar a sós, doutor? – Perguntou ele e o médico apenas assentiu, saindo. Snape moveu levemente a varinha murmurando feitiços silenciadores e voltou os olhos para ela – Eu sou um exímio mestre em poções. Já havia percebido o quanto que Voldemort usava a cobra para atingir as vítimas então criei o antídoto do veneno extraído do que sobrou de Charity Bourbage. Esperava usar em outra pessoa, mas... Foi-me útil.
"Quanto tempo estou aqui?"
– Cinco meses. Ninguém sabe que está aqui, ou que estamos vivos.
"Quem ganhou?"
– Potter. – Snape praticamente vomitou o sobrenome – Eu... Quando sobrevivi, Potter havia caído. Assim como muitos alunos. Outros precisando de ajudas e eu havia poções... No estoque que deixaria para Pomfrey antes de ir. Mas ao chegar aos meus aposentos, encontro com a senhorita quase morta. Pomona e Pomfrey haviam trabalho demais, então eu mesmo estanquei a sua hemorragia e... Usei a chave para trazê-la a França caso o outro lado ganhasse.
"Meu cabelo..."
– Tive de cortar – Snape deu os ombros – Ficou melhor assim
Hermione franziu os lábios e sobrancelha.
"Eu quero voltar!"
– Não enquanto não terminar o seu tratamento. A senhorita perfurou os dois pulmões, teve quatro costelas quebradas, a clavícula e bacia, toda a sua magia foi extinta além de quase não ter chances de acordar do coma e acaso a senhorita tem se visto no espelho ultimamente?
Hermione negou com a cabeça e Snape calou-se
"Vai me deixar na curiosidade?"
– Vai se arrepender. – Snape foi até o banheiro e voltou com o espelho de rosto
A jovem podia ver-se, mas não acreditava que era ela ali. A pele macilenta, com profundas olheiras, o cabelo estava ressecado e muito mais curto e escuro. Os lábios inchados e rachados com a aparecia de que estavam sendo cicatrizados aos poucos.
Os salientes clavículas, apenas uma estava exposta. A outra estava profundamente escondida por baixo da pele amarelada magra, além de ainda que claros, existentes hematomas espalhadas pelo corpo inteiro.
Snape retirou o espelho no exato momento em que os olhos, que antes eram brilhantes, mas agora opacos, começaram a encher de água. Mesmo mudos os protestos
Ele sentou na poltrona ao lado da cama, cruzando os dedos.
– Pergunte
"Esposa?"
– Não precisa agradecer. Era a única forma de salvá-la além de... Garantir que jamais a encontrariam até que chegasse a hora, senhora Prince.
