CINCO MESES ANTES

Snape errou!

Sim, ele havia errado quando foi se encontrar com o lorde das trevas na casa dos gritos. Não era covarde. Só queria a morte do homem que matou o amor de sua vida.

Ele sabia, arriscou-se e quase pagou com a própria vida se a sua experiência de espião não lhe prevenisse. Mas ver Potter ser carregado pelo meio gigante para fora da floresta, enquanto os comensais comemoravam, havia sido o estopim. Snape sabia que se ficasse seria acusado de traição. E que o melhor a se fazer era partir para a França, onde poderia reaver toda a fortuna da família Prince e sumir no mundo mágico.

E quem sabe, algum dia reunir uma retaliação.

Agradecia pelo castelo ainda respondê-lo e poder aparatar diretamente nas masmorras. O chão estava destruído por uma pedra que bolara da parede e as manchas indicavam que alguém foi atingido. E que Salazar tivesse pena da pobre alma.

Ele sabia que tinha forças o suficiente para ativar a chave do portal. A cobra maldita tinha esvaído quase todo. Mas poções no seu estoque lhe ajudariam. Assim como também ajudariam madame Pomfrey e Pomona. Ele tinha ciência que a guerra deixaria baixas de ambos os lados, mas que talvez um estoque previamente preparado amenizasse.

Os sapatos lustrosos andavam na antiga sala que reconheciam ao antigo diretor e ex-professor ao tempo que as portas dos estoques abriam.

Snape estava pronto para ir. Não tinha mais nada a ganhar ou perder. Um pequeno flash de luz e ele viu o esguio corpo encostado na sua mesa. Dizer que a senhorita Granger estava deitada era eufemismo. Ou sentada. Apenas a parte de cima do seu tronco estava encostada, o seu tórax afundando e o cabelo viraram uma verdadeira lama de sangue, bile e terra. A boca vomitando o sangue sem força alguma era sinal que a menina, menina não jovem, estava com hemorragia. O quadril, afundado por baixo das calças, indicava que estava quebrado. O homem lembrou-se da pedra do lado de fora, encontrou a pobre alma atingida por ela, lutando para viver.

O homem tentou ignorar quando a vozinha deixou a sua garganta

– Pro... Professor Snape. O senhor veio me buscar.

Snape parou. Ele sabia que a garota tinha visto sua quase morte e saber que ela estava dizendo palavras como essa para alguém que jurava ter morrido era o fato de que estava se entregando a própria.

Potter estava morto. E a única pessoa que poderia organizar uma revolução estava morrendo. Os olhos abertos não focavam mais nada, Granger estava deixando a vida.

Ele convocou diversas poções, todas que conseguiu para mantê-la viva pelo menos até que alguém da ordem a encontrasse. Mas Potter estava morto, sua mente lembrava constantemente. Ou seja, as chances mínimas de que alguém do lado da luz fosse procurar por sobreviventes nas masmorras era ínfima.

Snape segurou no pulso fino da garota, sentia perder pulsação rapidamente.

– Droga Granger. Droga. – Àquela altura os cabelos mais atrapalhavam do que ajudavam.

Com um diffindo Snape os cortou dela. As partes que seriam difíceis de tirar o sangue vomitado e a terra do chão que ela provavelmente se arrastou.

Tentou colocar os ossos no lugar, mas cada movimento que fazia ou cada osso que ele tentava arrumar mais sangue era expelido por ela.

Sabia que se aparatasse para a enfermaria ela destrincharia e não poderia correr o risco de perder a única pessoa que poderia ajudá-lo a vingar-se do Lorde das trevas. Não.

A chave do portal exigiria menos de ambos exaustos. Granger poderia ter o treinamento necessário depois que se curasse. Sim, ela poderia ser a sua arma e depois ele poderia dar um jeito de conseguir o próprio espião dentro do círculo. Os anos que trabalhou como comensal lhe dava algumas pessoas devendo favores de vida a ele. E ele cobraria, ah se iria cobrar.

Snape rasgou as vestes da garota, o tórax profundo provava que ela não sobreviveria mais um segundo ali.

O homem então convocou o máximo de ditamno que conseguiu e jogou sobre o corpo dela, e por fim chamou a pena que também era uma chave de portão e, então o local que ambos estavam, se dissolveu perante a vista e seus pés.

Hermione não destrinchara. Isso era bom. Ela estava resistindo. E ela só teria de resistir um pouco mais até que ele conseguisse se transportar pela lareira até o hospital.

Olhando o estado da garota, o homem agradeceu a Salazar por ela ter finalmente parado de vomitar sangue. Mas não poderia chegar simplesmente com ela nua no hospital, e também não lembrava ter roupas femininas na sua residência. Snape arrancou o, sobretudo é a capa a enrolando e agarrou o corpo pequeno até a lareira são então sumiu nas chamas verdes.

– Por favor. Alguém a ajude – Gritou ele assim que os olhos focaram a recepção e imediatamente diversos medi bruxos agarraram a jovem e jogaram em cima das macas. Snape sabia que se o mundo sucumbisse às trevas, a jovem precisaria de proteções da família.

– Senhor... Senhor. O que o senhor é da jovem?

– Ela é minha esposa. Hermione Prince. Não tivemos tempo de enviar os papéis ao ministério.

– O que aconteceu com ela?

– Ela quis lutar na batalha de Hogwarts.

– A... A... Ela está acontecendo nesse momento? – O homem assentiu – Por Merlim. O... O que aconteceu com a sua esposa?

– Ela foi atingida por uma rocha de defesa. A encontrei quase sem vida, tive de rasgar as roupas, e cortar os cabelos para conseguir estabilizar. O impacto destruiu com tudo dentro e fora, demorei bastante para conseguir traze-la.

A mulher assentiu. Terminou de preencher a ficha de admissão da jovem e então puxou assunto com o homem. Principalmente porque a camisa que ele vestia o deixava amostra a marca negra. E ela queria ter certeza que Hermione estava lá como esposa e não como uma sequestrada pelo o grupo.

– Onde está?

– Perdão?

– As alianças de vocês. Onde estão? Não o vejo usando uma ou ela deu entrada com uma – O homem inspirou – Espero que não esteja mentindo. E esse hospital é anti convocação e conjuração. Então eu lhe pergunto senhor Prince, onde estão a sua aliança e de sua esposa?

Snape inspirou três vezes, queria azarar aquela recepcionista intrometida. Mas Granger valia a pena aturar, ela era a sua arma de vingança. O homem então passou a mão atrás do pescoço tocando a corrente e a retirando para fora da camisa que vestia. O anel da ponta, de pedra tão verde quanto os olhos daquela que ele amou, pendia ao lado de outro anel grosso. Snape guardava esse anel consigo desde o seu quinto ano em Hogwarts, quando a perdeu por ofendê-la.

– Não que isso seja da sua conta, mas por estarmos aparentemente em lados opostos não a usamos. – Disse ele ao estender o pingente para a recepcionista

– Desculpe senhor Prince, mas por se tratar de uma guerra e a... Sua marca... Eu quis me certificar que a sua esposa não era uma... Prisioneira de guerra.

Snape encruzou os braços e ergueu os lábios levemente. De certa forma Hermione era a sua prisioneira, a sua vingança.

A noite caiu a fora das paredes. Os medi bruxos trabalhavam arduamente para que a jovem se recuperasse rapidamente. O sobrenome Prince pesava principalmente naquela região da França. E Snape caminhava de um lado a outro da recepção.

– Senhor Prince. Nós fizemos tudo o que conseguimos pela a sua esposa. Mas infelizmente nosso estoque de poções...

– O senhor está brincando com minha cara? Acaso sabe quem eu sou? – Bradou Snape

– Senhor... Nós...

– Minha esposa está viva ou morta?

– Viva. Mas por pouco. Não temos as poções necessárias para ela e a guerra...

– Quais poções?

– Perdão?

– Quais poções vocês precisam?

– Senhor Prince... Não tem quem venda ou prepare ainda mais com o mundo em crise com a batalha de Hogwarts.

– Doutor. Creio que não fomos apresentados corretamente. Severus Prince Snape e então eu lhe pergunto quais poções a minha esposa precisa?

O médico abriu e fechou a boca repetidamente. Estava diante do exímio mestre em poções. Ele sabia que se o homem estava perguntando, porque ele arrumaria no céu ou inferno. Ou até mesmo prepararia.

Antes que o médico respondesse, a coruja correio deixou a correspondência nas pernas do mestre e voou sem esperar pelo trocado.

A primeira página jazia

"POTTER VENCE"

Uma curvatura leve atravessou seus lábios, não precisaria mais da Granger. Não precisaria se preocupar com ninguém mais além de si próprio, então deixando o medi bruxo de lado, Snape foi até a lareira e desapareceu nas chamas verdes.

QUATRO MESES

Severus estava sentado na sua poltrona, uma mão descansava sob o colo, outra estava erguida com um copo com um dedo de uísque. Os olhos negros iluminados pela lareira, à face, pela primeira vez em anos calma. Apenas ele e o fogo da lareira jaziam naquela residência. Agora que acabara a guerra, ele não sabia mais o que fazer. Poderia trabalhar com poções, encomendas... Para algum hospital ou escola. Quem sabe Beauxbattons não precisava repor os estoques.

O homem então solveu o restante do líquido de seu copo e foi até o escritório escrever algumas cartas. Não que precisasse do dinheiro, mas precisava de ocupação para a mente e quem sabe um pouco de paz para o seu espírito.

A coruja do profeta diário já estava em seu poleiro. O jornal jazia sobre a mesa do escritório e a página principal trazia a foto do Potter, os ruivos Weasley Ronald e Ginevra pedindo pelo corpo da jovem Hermione Granger. Pela primeira vez em um mês Snape lembrou que a deixara no hospital a própria sorte. Sem poções para reverter o seu caso, e com inúteis tomando de conta dela.

Pela primeira vez teve pena da garota que tomou conta de todos e no momento em que mais precisou fora deixada a própria sorte. Tanto pelos cabeças-ocas que a acompanhava quanto por ele.

Logo ele quem sempre fora deixado de lado por todos, fez isso com ela.

Convocou todas as poções que conseguiu preparar no mês de calmaria e desapartou na porta do hospital. Pensou em deixá-las ali na recepção com um bilhete dizendo para quem era, no entanto sabia que se o fizesse alguém alguma hora deixaria escapar para a Granger que ela não delirou préchoque traumático, que ele estava vivo.

Agradeceu ou praguejou a Merlim que a mesma recepcionista intrometida estivesse lá.

– Vim ver a minha esposa. – Disse ele anunciando-se

– Agora? O senhor...

– Eu tive de fazer as poções além de ter ido a julgamento pela marca. – Mentiu a última parte – Mas estou livre e vim vê-la.

– Senhor Prince, a sua esposa... Ela, bem... – A bruxa limpou a garganta – Ela está sedada por magia. Eu vou chamar o médico dela para lhe explicar melhor.

O homem pousou a caixa de poções sobre o balcão, não demorou muito e a recepcionista voltou acompanhada do médico de voz irritante calma.

– Senhor Prince. Eu sou o medi bruxo responsável pela recuperação da sua esposa. Por favor, acompanhe-me enquanto lhe explicou o caso dela. Os ferimentos foram intensos e ela usou muita magia para conseguir viver. É um milagre que ela esteja sobrevivendo depois de ter todos os órgãos esmagados e os pulmões perfurados, possivelmente que sua magia tenha voltado para dentro para se recuperar. Apenas o cérebro dela estava intacto.

Snape riria se não fosse tão grave o assunto. Somente o cérebro da cabeça do trio de ouro permaneceu intacto. Ao chegar ao quarto que a jovem se encontrava, ele se converte.

O cabelo sempre bagunçado, mas cheio de vida estava curto e opaco, assim como a pele sempre corada seja por brigas com os patetas amigos, por estar sempre em confusões, ou sempre ansiosa por querer responder alguma pergunta, estava macilenta e apagada. A volta dos olhos eram sinais do quanto a jovem sofrera. Tudo por se colocar ao lado do maldito Potter, de acordo com ele

A Granger merecia uma vida diferente do que viver sofrendo às custas da testa rachada tão prepotente quanto o pai.

O homem então se tocou, desde quanto prestara atenção na jovem? Em que momento ela deixou mesmo de ser uma criança? E porque ele declarou que ela fosse sua esposa e não outro familiar?

– Como eu ia dizendo senhor... Se a sua esposa não acordar em quatro meses, todo o nosso esforço será em vão. – Maldito Potter

– Doutor. Eu farei de tudo, para que a minha esposa tenha a vida digna que ela merece. Comprometei em fazer as poções para o hospital para que ela permaneça viva e algum dia possa se recuperar - Dois coelhos numa cajadada só.

– Ela pode voltar a usar a aliança se quiser, principalmente agora que a guerra acabou. Eu vou deixá-los a sós.

O homem ficou olhando para a jovem ainda jogada na cama. Granger merecia muito mais do que viveu. Ela merecia paz. E se fosse a aliança de Lilian quem lhe garantisse isso, pois que usasse a aliança até que acordasse.

Snape foi até a administração do hospital, apresentou-se ao diretor e então fez a sua exigência

– Eu não quero que a minha esposa seja incomodada por quem quer que seja, nem mesmo se for o ministro da magia. Quero uma enfermeira de minha confiança dia e noite fazendo a sua vigília, quero exames diários da restauração da sua magia e do seu corpo. – Ordenou – Em troca, fornecerei de bom grado as poções necessárias para o hospital sem custo algum enquanto ela permanecer aqui.

Nos três meses que se seguiram, a jovem conhecida como Prince melhorara a aparência, mas Snape sempre conseguia mantê-la com o cabelo curto e escuro para não ser reconhecida por suas fotos divulgadas nos jornais até acordar. Cumpria com o prometido enquanto acompanhava a melhora gradativa dela. Aos poucos os ossos voltavam aos lugares. O cabelo rebelando-se finalmente e os lábios – Que ele não sabia o motivo de tamanha preocupação – Estavam menos ressecados e já tinham cores menos esbranquiçadas

Era mais um dia de entrega quando o medi bruxo o encontrou

– Senhor Prince. A sua esposa. Ela acordou.

E lá estava, Snape sentado na poltrona ao lado de Hermione Granger Prince. Que permanecia estática ao saber que era conhecida como esposa do mestre.

"Por que me salvou?"

– Confesso que no início queria usá-la como arma de vingança. Mas resolvi que a senhorita merecia uma chance de vida diferente da que levava ao cercar o Potter

"Harry é meu amigo"

– Mas a deixou para morrer. A senhorita acaso sabe o que a atingiu?

"Uma pedra?!"

– Proteção do castelo desenvolvida especialmente para proteger o Potter. Não a senhorita e muito menos ao energúmeno do Weasley, mas somente ao Potter que anda oferecendo uma recompensa pelo o seu corpo.

"Ele acha que morri?"

Snape deu os ombros.

"Estávamos na câmara e o castelo não nos atingiu. As masmorras, elas..."

– Gritaram pelo Potter. A senhorita entrou na câmara ela ofidioglossia e o único ofidioglota no castelo era o Potter e... Enquanto as masmorras a senhorita, não-Potter, apareceram. – Hermione desapontou – Dumbledore montou essas proteções. O castelo me avisou quando a senhorita e o Weasley entraram, mas não o Potter. Eu tinha ciência que a ordem estava lá, mas não o Potter. O castelo estava para protegê-lo. E que o restante sucumbisse.

Hermione deixou os ombros caírem. Voltou os olhos ao pergaminho e a mão que segurava a pena descansou.

– Senhores Prince – O médico chamou na porta e Snape virou-se e a abriu com um aceno da varinha – Vim para fazer alguns exames. O senhor quer ficar ou prefere sair?

– Estarei lá fora, querida, qualquer coisa, toque a pedra do anel e ele me avisará – o homem a beijou o topo da cabeça da jovem e saiu a deixando sozinha com o médico enquanto fitava o seu anel de pedraria verde no topo do seu dedo da mão imóvel.

– Sabe que se der tudo certo no seu exame, a senhora pode ir embora? – Hermione assentiu – Não há motivos para mantê-la aqui principalmente quando o provedor do seu tratamento estará em sua casa. Mas percebo certa hesitação na senhorita perante o seu "marido" então eu lhe tratarei por senhorita e lhe perguntarei: a senhorita deseja ir para casa com ele ou aciono os aurores?

Hermione analisou cada palavra do médico e das informações passada pelo ex professor. Ela merecia uma vida nova sem cercar o Potter e as confusões que quase lhe custava a vida. A todo o momento só se lembrava dos pais, de estarem sós, dela morrer sem que eles lembrassem que tinham a uma filha... E ninguém ofereceu isso além do seu ex temido professor

"Doutor, primeiramente sou senhora. E sim, estou ciente de que o meu marido é ex-comensal e um mestre em poções. Então se possível for, finalize os exames porque quero ir para casa e ter uma vida normal"