O medibruxo enrolava a criança na mesa de aparo do quarto nos lençóis quando Severus aproximou-se para visualizar mais uma vez o pequeno pacote de linhos branco e bochechas avermelhadas enquanto umas das elfas sob o móvel observava encolhida o corpo pequenino carregando um ser tão poderoso que se alimentava da sua magia.
O homem desenrolou observando os traços dos olhos fechados. Rose Granger era uma vítima dos incidentes pós guerras ao mesmo nível que Hermione Granger, uma quase morreu para salvar o mundo bruxo e outra morreu pelos erros do pai para salvar a mãe. Internamente Severus não culpava a ex-aluna pelas coisas que aconteceram a elas porem não estava grato que Rose tivesse sucumbido apenas pelo motivo de ele, um exímio mestre em poções e conhecedor íntimo das artes das trevas, ter deixado passar ínfimos detalhes de que a sua principal vingança tinha um ser sugando o seu núcleo magico enquanto ela reprimia a magia com o dano causado da horcrux.
O polegar do homem passou levemente na pequena bochecha do tamanho da sua digital enquanto sentia o ser apoderando-se de cada extremidade, até mesmo as veias da face escureciam a medida que o obscurial apossava-se do corpo. Rose não deveria ir com aquilo, não. A garota merecia algo mais a ser lembrada além do recém-nascido com o maligno.
Enrolando-a na manta e a embalando no antebraço como vira o medibruxo fazer, o mestre em poções desceu as escadas até o laboratório e colocou o embrulho sob o divã e caminhou até uma estante mais afastada e mal iluminada que existia, voltando com um livro encadernado por coro de dragão e nenhum detalhe na capa de qual seria o seu conteúdo. Então o pôs sobre a mesa do local de frente a pequena e abriu a capa passando a vista rápida pelos tópicos enumerados ao avulso do que se trataria aquelas anotações.
Os dedos passavam nas páginas manuscritas antigas até encontrar o título que estivera atrás: REMOÇÃO DE UM OBSCURIAL DO CORPO DE UMA CRIANÇA. Se havia, na história, alguém que havia conseguido fazer isso era Newt Scammander, o mazoologista que deixou parte dos seus diários para Albus Dumbledore e Severus estava, particularmente, grato por ter acesso aos aposentos do ex-diretor e apossar-se das cópias únicas existentes. Mesmo que não fosse o pai de Rose, mas aquela criança teria o enterro que merecia como heroína, no mausoléu da família Prince e finalmente um pouco de descanso desde que fora concebida. O que ele faria com o maior prazer para dá-la.
Scammander era meticuloso, além de bastante detalhista de todo o processo desde a identificação até a conservação por muitos anos na bolha. Decerto que a garotinha de oito anos quando foi identificada já tinha pelo menos doze quando ele documentou tudo, provavelmente pela falta de informações ou pelo escasso material de estudos, ou organização do tempo, já que o bruxo sempre andava com a sua maleta com diversas espécimes, demorou tanto. E o mais infeliz foi que aquele estudo estava fora dos livros publicados por ele anos mais tarde, ou seja, além dos diários Severus não tinha absolutamente nada para fundamentar a sua teoria.
E pela primeira vez do dia que mal nascera, Severus agradeceu por roubar todos os cadernos e diários, pois quem sabia o que mais precisaria para fundamentar a sua pesquisa e destruir o obscurial sem destruir o corpo da pequena.
Severus levou o caderno até o divã onde o pequeno embrulho ainda jazia e o colocou ao lado, abrindo lentamente a parte superior e observando que as veias já estavam escurecidas pela maldição. O homem levantou-se dando uma última olhada no caderno e erguendo a manga para começar os cânticos e encantamentos quando Ren, a quem ele julgava extremamente irritante por suas intromissões em horas indevidas, abriu a porta de uma vez com as mãos tremendo
– Mestre, eles precisam de mais poções para estabilizar ela. Mas mestre disse a Ren que não era para Ren adentrar no laboratório do mestre
Inspirando profundamente e contando até dois, onde a sua paciência dava, Severus voou em direção ao ser e meneou a varinha liberando a trava securitária do laboratório integrado ao estoque particular
– Pegue tudo o que eles precisarem, não os deixem a sós com ela e nem que tenham acesso a minhas poções, fui claro?
A elfa balançou a cabeça que sim e voou porta afora, obrigando Severus a batê-la com força que o baque fez com que algumas folhas do diário passassem. Severus ergueu para voltar as páginas quando uma pequena referência no canto esquerdo tratava ao nome de Paracelsus.
O mestre então se intrigou em compreender ao motivo que levara o nome do alquimista ter alguma relação com o diário tratando da remoção de um obscurial. Ele era conhecedor particular da fama que o homem adquiriu entre os séculos XV e XIV por tanto, para Scammander ir tão longe a suas referências e pesquisas, algo de grave deveria ter acontecido na época da concretização do texto. Por sorte, a família Prince era detentora de alguns antigos e bem conservados livros antigos que Severus fizera o inventário pessoalmente e, enquanto caminha procurando nas prateleiras os livros contendo as obras de Paracelsus, perguntava-se internamente o que levou a Albus e Alberfort Dumbledore unir-se a Scammander na época. Deveria ter sido algo bem forte, já que os irmãos não eram conhecidos por suas demonstrações de empatia entre si.
Severus passou os dedos nas colunas dos livros enquanto tentava filtrar algo importante do sensacionalismo escrito por Skeeter e foi somente quando os dedos encontraram a lombar da obra conhecida por HOMONUCLEO que as informações se encontraram: Scammander estava com Albus na batalha contra Gellert que causou a morte precoce de Ariana Dumbledore e Grindewald afirmava com veemência nos seus discursos posteriores ao combate que Creedence Bourebage era, na verdade, Aurelius Dumbledore. Mas a informação só seria verídica se, o bruxo e posteriormente obscurual, tivesse nascido após a morte da irmã, enquanto o pai estava em sua pena em Azkaban. E como sol que começara a brilhar atrás dos vitrais iluminando a sala, a mente de Severus cruzou as informações existentes
– O Velho utilizou o obscurial do corpo da irmã para recriá-la e liberta-lo da culpa de sua morte – Concluiu observando o embrulho que mal ocupava espaço sobre o móvel e puxou o livro para dedicar-se ainda mais a teoria.
Se havia sido este o motivo que levara a Dumbledore por a todo o corpo docente e discente em risco quando guardou a pedra filosofal no castelo como retribuição ao favor a Nicholas Flamel por uma das propriedades das pedras, pois Severus estava em suas faculdades de que a recriaria para trazer a única combatente pós-guerra não responsável por coisas que antecederam a sua vinda.
Severus estava pronto para unir a sua pesquisa de retirada do ser a conservação do homonúcleo quando Ren retornou
– Mestre, os medibruxos desejam vê-lo, eles querem uma decisão sua sobre a senhora.
