Hermione abriu aos olhos apenas para certificar de que estava sozinha em sua cama. O travesseiro frio ao seu lado era a prova de que seu marido havia partido horas atrás e nem se deu ao trabalho de acordá-la, ao tempo que ela se perguntava por qual motivo o faria isto? Era um casamento por conveniência e ela lembrava de passar os últimos sete dias arrastando os pés próximo ao seu laboratório na chance de vê-lo.
Os quadros da casa faziam pouco-caso dela, uma vez que ainda não estava vinculada a ele e muito menos os elfos obedeciam a seus pedidos de menu para a refeição, optando por seguir ao da antiga senhora antes de Eileen ser banida da família e a bruxa era uma extravagância na alimentação fazia Hermione perguntar como a família sobreviveu ao declínio do sobrenome para manter uma mesa daquela forma. A outra pergunta que lhe tomava a mente era o fato do seu marido – ainda era estranho para ela referir-se daquela forma – ter conquistado o sobrenome tão rapidamente. As paredes pareciam guardar mais segredo a que ela conseguia ler e os livros pertencentes a biblioteca não conseguiam contá-los.
Na verdade, os relatórios que ela recebeu por coruja, o sobrenome recém-adquirido estava em ascensão mais rápida que as do Malfoy e seus milhares de trabalhos voluntários e, garganta seca, os Weasley e toda a sua glória em participarem ativamente do grupo que derrotou a Voldemort, excerto por Percival Weasley.
E lembrando disto, ela também precisaria conversar com ele a respeito de vestes, por Salazar, ela tinha roupas do século XVII prestes a entrar no XXI!
E ela precisava fazer isso rapidamente antes que Severus voltasse ao laboratório onde ela não tinha acesso para entrar a menos que fosse convidada por ele.
Correndo ao banheiro, ela abdicou dos trabalhos com o cabelo, apenas trançando-o enquanto a água esquentava, e fazendo seus asseios rapidamente e, cansada das roupas da família, ela resolveu finalmente transfigurar algo que fosse mais secular.
A camisa cinza e o jeans lhe caíram perfeitamente para aquela manhã, na certa o café também seria mais proveitoso, surpreendentemente até o ar que entrava pela janela parecia ser mais reconfortante as agonias.
Chegando à sala, caminho para a cozinha, os seus dois pés travaram quando os olhos mostraram-no dormindo de forma desconfortável em uma poltrona.
Se alguém contasse a Hermione Granger do quarto ano que no final da guerra ela estaria casada com o seu professor de poções, planejando uma descendência e que agora ela estava preocupada com a posição dele na poltrona, ela chamaria de louco e St Mungus certamente receberia outro insano, mas era isto que ela tinha no momento, um casamento com um homem que a desprezou dois terços da sua vida mágica e gastou seu nome para salvá-la.
Ela utilizou de toda a sua destreza para ir até ele e finalmente ajustar sua postura, retirando das mãos o copo que ela jugou ser de uma bebida forte e pousou na mesa de centro.
Quando sua postura foi finalmente arrumada e sua cabeça pousou no encosto, os olhos negros abriram-se curiosos para a atenção recebida vendo a sua esposa com as mãos pousadas em sua bochecha enquanto olhava para o cabelo bagunçado
– Granger… – Rosnou fazendo-a saltar levemente para trás
– Desculpe… Eu só…. Você parecia desconfortável.
– Apenas… não me toque novamente, nunca.
– Sem problemas – Levantou as mãos em sinal de rendição – isso não acontecerá novamente, professor
– Isso é ótimo. Arrume-se, sairemos em dez minutos
– Isso não são roupas descentes? – Hermione abriu os braços mostrando com orgulho o seu trabalho em transfiguração.
– Você é uma mulher casada, Granger, porte-se e vista como uma. Você leu ao livro do casamento
– Livro que não é atualizado mais de cem anos! – Retrucou ela – Eu posso ser a sua esposa, querido professor, mas ainda sou uma nascida no século XX e prestes a entrar em Hogwarts e para o século XXI.
Severus arqueou a lateral dos seus lábios com a ferocidade da esposa.
– Compreendo Granger, mas nunca mais me chame de professor. Fora os piores anos da minha vida e eu ficarei mais feliz em esquecê-lo. – ele levantou-se apontando o dedo para ela
– Ótimo, Severus
– Esteja pronta em cinco – Disse ao passar ao seu lado, sentindo-a virar o pescoço para responder
– Eu já estou, senhor Prince.
Ignorando a resposta, Severus foi até seus aposentos, retornando com o rosto lavado e terno trocado e encontrando Hermione a mesa conversando com Ren sobre o almoço. Havia algumas torradas sobre a bancada, o cheiro do pão recém-assado remeteu a infância quando Eileen os fazia da farinha que sobrava das refeições e escondia para comê-lo quando Tobias não estivesse em casa. Lili chegou a dizer algumas vezes que o pão da senhora Snape era mais gostoso que o da senhora Evans, mas a violência do pai e precariedade do bairro somados ao medo da mãe de sair de casa, nunca deixou que ambas se conhecessem. E agora estava ali, o mesmo cheiro enquanto alguém pertencente a mesa família estava alegre, com a mesma alegria que Eileen tinha ao ver os olhos do filho ansiando pelo pão que cheirava a casa inteira.
Ele saiu do transe com a voz da Hermione chamando-o, perguntando se tomaria café antes de partirem, e suas mãos quase tomaram uma das fatias, mas mostraria mais vulnerabilidade que estaria disposto a assumir no momento, então apenas acenou com a cabeça para que partissem imediatamente.
Enquanto Hermione arrumava a capa na parte da frente, Ren entregou a Severus um embrulho branco que foi escondida dentro da capa. O mago guiou a esposa até fora dos domínios da mansão e desaparatou no Diagon Alley.
Os dois aproveitaram o caos que ainda tinha o ministério e pousaram o mais próximo possível do banco, a capa dela permitia que o gorro escondesse o seu rosto até a entrada do banco, vazia aquele horário da manhã
– Gostaria de adicionar a minha esposa ao cofre da família e que ela recebesse relatórios mensais dos valores – Anunciou ao aproximar da bancada vendo que o pequeno Goblin não lhe daria atenção
– Varinhas, por favor – Pediu o ser sem levantar os olhos do seu serviço e recebeu em sua bancada o par – Senhores Prince?! Desculpem – O ser desceu da sua bancada imediatamente e abriu a porta para que o casal o acompanhasse. Os olhos de Severus sempre se mantinham a frente enquanto Hermione olhava constantemente para ele procurando na sua feição alguma coisa que denunciasse o que estava se passando. Demorou pouco tempo de caminhada até ela focalizar no carro de mina, mas passos para a direita a poucos pés do transporte mostrou que não era isto que ambos estavam atrás. Na verdade, uma grade de ferro que lembrava vagamente o elevador do ministério apareceu no meio de uma rocha, e o Goblin moveu a mão para que abrisse.
– Não era o carrinho de mina para chegar aos cofres? – ela sussurrou para apenas o marido
– Aparentemente o trilho foi quebrado quando um dragão escapou daqui durante a guerra, a queda do ladrão também foi danificada… – Hermione sentiu a bochecha queimar por saber exatamente do que se tratava. Ela só não esperava que os danos demorassem mais de ano para recuperar.
– Eles ainda nos responsabilizam.
– Não mais. Enquanto um novo ministro não subir, eles não têm como cobrar do ministério pelas obras, nem mesmo no setor.
– Oh, eu sinto muitíssimo.
– Exatamente pelo quê, Granger? Se não fosse o estrago, Voldemort jamais saberia que vocês tinham posse das horcrux e jamais teria mostrado a Potter as demais pela sua ligação.
O Goblin rosnou para que entrassem logo, dando a cada um, copo com líquido dentro.
– Isso é para provar que vocês são quem dizem ser, portadores da varinha, bebam.
Assustada, Hermione olhou para Severus quem já levava a sua taça a boca, ingerindo toda a bebida.
– Preferiria algo mais forte – Rosnou devolvendo o copo, Hermione repetiu o gesto, estremecendo com o gosto amargo ao fundo
– Nomes.
– Severus Prince, embora anteriormente tenha sido Snape
– Hermione Granger-Prince.
– Status de sangue
– Mestiço
– Trouxa
– Data do casamento
– Primeiro de novembro de 1999 – responderam uníssono
– Tempo de relacionamento – Hermione engoliu a seco, não sabia ao certo do que responder
– Eu… o conheço desde 1991- murmurou
– Mesma resposta – Severus disse sem emoção
– Hum, certamente. Movam-se para trás – Ordenou o ser pequeno entrando no pequeno quadrado e a grade de ferro fechou arras dele.
As engrenagens rangeram pelo desuso demasiado, mas quando pegou velocidade na vertical, Hermione tremeu com o vento gelado que lhe tomou a pele descoberta
– Eu disse para você vir mais precavida de roupas
– Eu teria vindo se tivesse roupas desse século. Eu preciso de vestes novas
– Que decepção a McGonnagal – ele estalou a língua
– Desculpe se perdi a aula de transfiguração de roupas enquanto estava trancada fazendo lições para o Harry participar do torneio.
O silêncio se abateu sobre ambos com o nome em questão ao ser pronunciado. Severus se sentia anos mais velho e duas toneladas nas suas costas ao lembrar do que quase perdeu por causa da sua promessa a Lili. Ele perdeu mais que a própria liberdade e o direito de morrer e apenas o rangido preenchia o espaço frio enquanto o elevador continuava a correr.
– Aquele é o cofre dos Lestrange – Hermione murmurou sentindo-se orgulhosa por ainda reconhecer – Malfoy…
Três níveis abaixo, o transporte parou. Estava um escuro inquietante e ela sentia um frio e claustrofobia.
– Senhor Prince… – Severus ergueu a sua varinha e um barulho metálico pode ser ouvido estalando, o elevador movimentou-se mais uma vez para baixo – chegamos
– Onde?
– Cofre dos Prince – Severus disse e Hermione sentiu o piso do elevador pousar no chão
– Onde?
– Ao seu redor – imediatamente as chamas acenderam e ela pode ver tudo reluzir, tomos, grimórios, caldeirões, torres de dinheiros que fizeram o cofre dos Lestrange ser pobres a vista. Os tomos dos livros que ocupavam mais da metade das paredes, dividindo espaços com obras de artes de abortos e quadro trouxas. Algumas imagens dos ancestrais da família Prince a qual Hermione reconhecia pela característica cabeleira negra rodava todas as paredes como se estivessem em forma de assembleia. O Goblin parou ao fundo e murmurou algo para o quadro da cabeceira que poderia ser muito bem o precursor daquela família.
– Apresentarei você a família Prince para que receba a sua bênção para utilizar do cofre e deixar tudo o que for de valor por tempo ilimitado. – Imediatamente ele retirou da capa o embrulho dado pela elfa mais cedo - Atenção, apresento a vocês minha esposa Hermione Granger-Prince, mãe da nossa herdeira Sophie Prince.
– Esta não tem nossa genética – murmurou o quadro a cabeceira da reunião
– Ainda não, estou trabalhando para isso – Severus rebateu
– Enchendo a sua esposa de poções para evitar não é o que eu chamo de trabalhar – Disse uma mulher a direita de Hermione que ela leu o nome de Katherine Prince na placa – mocinha, você ainda não foi aprovada por nós
"coragem Griffyndor"
– Diga-nos, Severus porque demorou tanto tempo para consumar seu casamento quando sabemos que sua esposa quis isso?
– Pela moral, senhor Klaus. Antes de esposa, Hermione foi a minha aluna e graças ao feitiço que vocês lançaram, tive de esperar uma semana até que ela parasse de agir como uma… algo que ela não era para poder tomá-la
– E passou a noite arrependido na porta dela. - disse Katherine e Hermione fez nota mental de cobrir o quadro da mulher na casa quando o encontrasse – A sangue-ruim é tão… horrível na cama… frigida, como ouvi dizer?
– Nunca. Me. Chame. Deste. Nome – Hermione destilou em direção a mulher de feição aristocrata
– Ou o quê? Ninguém vai salvá-la novamente – a mulher desdenhou – Você precisava ver a felicidade de Abraxaras e dos Black quando Bellatrix usou você para encerar o piso da mansão e talhou em seu braço com faca de prata e sangue de dragão o quão imunda você é.
Hermione imediatamente levou a mão para o braço esquerdo e Severus a alcançou erguendo o braço
"mudblood" estava gravado para sempre na sua pele, assim como a marca negra estava na dele.
– Quando?
– Antes da guerra, quando caçadores de recompensas levaram Harry para os Malfoy e os Black. Ela estava tão fissurada sobre estarmos no cofre que achou que me torturando… então ela retirou a adaga de uma bandeja onde tinha um coração de dragão ainda batendo… a adaga estava nele… e então a dor era tão grande que eu… eu só pedia para Harry viver e derrotar aquele filho da… eu só queria que de alguma forma o Harry escapasse e eu pudesse vê-lo jogar todos no chão. Quando Molly… quando a senhora Weasley contava com orgulho com Bellatrix caiu depois de ameaçar Ginny, eu fiquei "ei, ela me torturou até quase insanidade por menos" eu senti falta dos meus pais todos os dias naquela casa. Eu desejei ter morrido na mansão a ter que passar mais um dia naquela vida.
– Granger, você está a salvo agora. Nada, nem ninguém vai te ferir novamente, está me ouvindo? – ela assentiu – O circo terminou, vamos comprar seus materiais e você irá para casa solicitar a diretora de Hogwarts uma vaga para o retorno das aulas.
– Não a aprovamos ainda – Rosnou o quadro do centro
– Vocês não precisam aprová-la. Eu a trouxe apenas pela assinatura e Merlim abençoe que jamais precise pisar aqui novamente – ele rosnou voltando para o elevador onde encontrava o Goblin – Faça seu trabalho.
Seveurs entrou no transporte enquanto o Goblin toava encantamentos em Hermione e sua varinha estendida. A porta do cofre desceu até o centro onde ele indicou para que ela tocasse em um dos galhos mais afastados. Imediatamente um pássaro surgiu na ranhura da arvore.
Ela viu Klaus Prince assentir seguidos dos demais e parando em Katherine, quem revirou antes de assentir
– Bem-vinda a família Prince, Hermione Granger.
