No primeiro momento que adentrou no elevador, Hermione ficou a olhar para o homem enquanto este permanecia com a face ríspida para o goblin resmungando o quão longe era o cofre. Severus mais uma vez se provava digno do posto de "homem mais corajoso" que Harry Potter dizia aos quatro ventos.

Assim que a gaiola de ferro pousou no térreo, as grades da frente encolheram para dar passagem aos usuários. O dia estava alto, quase horário de almoço, muitas pessoas estariam no banco ou no Diagon Alley, significando aparecer em público pela primeira vez como senhora Prince, ou melhor, como uma fênix ressurgida pela segunda vez desde a guerra. Instintivamente Hermione agarrou ao braço do marido antes do primeiro passo ao átrio de entrada.

– Você só aparecerá caso queira. Do contrário poderemos ir para casa sem chamar atenção

– Como? – Perguntou ela

Sem realmente responder, Severus ergueu um capuz da própria capa e passou o antebraço em volta dela, escondendo-a na aba da capa, ambos deixaram o banco sem chamativa de muita atenção até o ponto de aparatação e Hermione engoliu um bocado tentando se conter para não entrar no Flourish and Blotts até finalmente chegarem ao ponto. Aguardavam a sua vez quando ouviu uma bruxa comentar que Hogwarts finalmente abriria para as aulas em um mês, e que as pessoas interessadas em voltar poderiam mandar uma carta para a diretora Minerva McGonagall.

Severus notou o olhar simbólico de Hermione, Hogwarts era o seu lar há muito tempo. Ele não tinha vontade nenhuma em voltar e relembrar os momentos de escravidão que aquelas paredes guardaram. Hermione era casada, mas ainda era uma bruxa livre, ela poderia ir caso desejasse.

Assim que chegaram aos terrenos da família, Severus retirou sua capa de Hermione e o capuz, Hermione pôde notar colinas escondendo a casa e algumas nuvens que deixavam o sol bater indiretamente na mansão, ela não notou até então o quão grande era a casa, pois sempre adentrou inconsciente ou nunca olhou para trás quando aparatou.

Assim que adentrou, uma coruja aguardava na sala com uma carta. Imediatamente Severus tomou o pergaminho, e o tirou do envelope analisando todos os termos e passou a varinha sobre. Transferindo para Hermione fazer o mesmo.

– Uau, não sabia existirem tantas residências assim. Japão, Áustria, Índia, Grécia, Itália… – Ela parou de falar assim que notou que ainda existiam mais duas páginas – Hogsmead?

– Sim. Meus avós construíram para que Eileen tivesse um local para ir aos fins de semana e cumprir com as tradições da família. – Hermione acenou sem retirar a vista dos papéis – Temos também na Irlanda, América…

– Qual região?

– Toda ela – Severus respondeu – Do Alasca as ilhas de Falkland, meus antepassados, particularmente eram pesquisadores assíduos de substâncias e runas das Américas.

– Uau, sobre o que eles pesquisaram?

– Assuntos que posso deixar os livros separados para você analisar. E se for da sua vontade, poderemos discutir no jantar. – As bochechas de Hermione queimaram e ela abaixou a cabeça levemente. – Por agora, você só precisa assinar os papéis de posse das residências e precisamos entrar com o processo no ministério da magia de todos os continentes para que você seja reconhecida.

– É tanto trabalho assim? – Os olhos finalmente deixaram o pergaminho e foram para o homem na sala – Eu posso fazer toda a parte administrativa, se você quiser… além disto, eu não tenho muito o que fazer durante o ano além das pesquisas para a pedra

– Você poderia concluir os seus estudos na escola que quiser. Dessa forma você e eu teremos foco o suficiente nas coisas necessárias.

– Ma…

– Não era da sua vontade terminar seu NIEMs em Hogwarts?

– Sim, era, mas… Eles aceitariam um aluno casado? – Perguntou olhando para o dedo marcado com a aliança negra.

– Você seria surpresa com a quantidade de alunos casados que já frequentaram a escola, agora se me der licença, você tem muito trabalho a ser feito e eu algumas pesquisas para concluir.

Severus deu as costas para Hermione e a deixou olhar os papéis das posses, ciente de que a linha para ela assinar só apareceria após analisar tudo. Levaria pelo menos duas horas até que ela checasse as nove folhas e pelo menos mais uma até que ela assinasse tudo nos lugares certos e enviasse a ele para correção.

Os caldeirões ferviam no laboratório, todas as poções necessárias para Hermione nos próximos dias estavam em desenvolvimento. Ele esperava que ela repensasse sobre Hogwarts com inclinação a aceitar, não estava disposto a dividir com ela a fama por recriar a pedra filosofal

Na verdade, Severus não estava querendo a fama para si, e sim a vingança de todos os familiares que abandonaram ele para a morte mesmo quando ele estava à frente das fileiras do lorde das trevas. Ele sabia que o avô ainda era vivo no fim da primeira guerra e no seu julgamento e que a matriarca só havia passado dessa para outra vida no início da segunda guerra, quando comensais do segundo círculo torturaram a família em busca de informações sobre a lealdade de Severus. Mesmo assim, a família orgulhosa recusou a proteção dele, sucumbindo em 1997 durante uma batida dos apoiadores recrutando novas pessoas.

Os demais foram escondidos nas residências da família pelo mundo afora, mas a assinatura de Hermione sendo reconhecida por legítima dona, os fariam ir atrás do atual herdeiro para, no mínimo garantir a sobrevivência já que estavam acostumados à riqueza da família.

A poção maturou em fogo baixo, era hora de adicionar as cem gotas de sangue de centauro, recolhidos com a espécie ainda viva.

A outra vantagem de manter Hermione por perto era a utilização dela para as variações de poções: a confiança nele cresceu tanta desde que ele a resgatou pela segunda vez que ela jamais indagou uma só vez a respeito da rapidez com o que o tratamento fluía. As anotações dos acertos e erros do período que cuidou dela estavam empilhados com anotações e depoimentos dos médicos particulares e dos elfos.

Ele estava contando setenta e sete gotas quando Hermione parou do outro lado do balcão, seus olhos curiosos contaram as vinte e três restantes. Mexendo pela última vez e vendo a poção tomar a consistência lilás, Severus a colocou sob êxtase antes de falar

– Acaso não sabe bater?

– Eu o fiz, por três vezes. Como não respondeu… Eu resolvi entrar e esperar, não sabia em que fase da poção estaria para esperar do lado de fora

– Mas deveria ter feito isso.

– Bem, se você estivesse na maturação, a julgar pela mesa de jantar no canto, eu esperaria dois dias antes de obter uma resposta. Se fosse a fase ativa de adição, pelo menos dezesseis horas até que eu tivesse um pouco da sua atenção e se…

– Já chega, Granger. Isso só prova que a senhorita decorou os livros de poções, mas o seu sexto ano com o Potter não significou absolutamente nada no que diz respeito ao príncipe mestiço. Agora diga, o que queres aqui?

– Eu já terminei a análise do pergaminho. Bom, eu ficarei com a posse da casa de Hogsmead no período letivo de Hogwarts, depois ela passa a ser da família novamente. Após o nascimento de Sophie, quererei ir à casa da Austrália resolver alguns assuntos pendentes a minha vida pessoal. Depois ficarei permanentemente na casa da Inglaterra com a criança até chegar à idade.

– Se era só isso…

– Também… – Ela estendeu duas folhas para Severus – Essas são as posses da família Granger, eventualmente passarão para mim com a morte dos meus pais. E tudo o que for meu, também será seu. Preciso que assine

– Eu não preciso das suas posses, Granger. Guarde para a sua prole.

– Também a sua, Snape – Ela empurrou novamente – Sophie será tanto minha filha quanto sua. Caso tenha esquecido, eu li o livro a respeito da lei da sua família. Ninguém herdou as posses por não ter herdeiros, você, no entanto, herdou no momento que casou comigo e a cerimônia só se concretizaria caso eu fosse fértil. Por isso aquele feitiço estava em vigor há tanto que doía em mim. Por que eu, Snape?

– Por quê? Porque esses idiotas pisotearam Eileen e me deixaram para morrer tantas vezes que eu pensei ser uma fênix. Porque eu queria todos eles humilhados a minha porta igual a minha mãe quando pediu exílio antes daquele trouxa miserável matá-la de traumatismo. – Severus ergueu os papeis recém-assinados por Hermione – E você me deu isso de mãos beijadas. Em troca de duas temporadas nas residências e uma casa que será sua, eventualmente.

– Mas…

– Agora, se puder se retirar, há muita coisa para atualizar antes daqueles deploráveis pisarem a minha porta – Severus rosnou

– Então é para isso que você me queria? Que você queria casar comigo com tanta urgência? – As sobrancelhas de Hermione encurvaram em descrença – Apenas para humilhar a sua família materna?

– Não foi fácil no início e confesso que quase perdi as esperanças quando voltou para o Potter. Eventualmente tentei as solteiras em idade de casamento, mas todas elas queriam a riqueza e outras aplicar golpes. É fácil identificar quando se é um legimentes.

– Então você me usou apenas como meio para chegar a sua vingança? – Severus assentiu

– Eu nunca menti para você dizendo que seríamos uma família feliz. Sempre deixei claro que a salvei para ser a minha máquina de guerra. E você se saiu melhor do que eu esperava.

– Ótimo, Snape – ela disse com tanto ódio o sobrenome dele que quase foi palpável – Se você queria uma esposa, você vai ter a esposa. – A meia luz, Severus poderia jurar que as íris dela tornava-se mais cor de fogo ao natural – Você também quer uma parceira, eu serei.

Imediatamente ela colocou as palmas das mãos no balcão, inclinando…

– Eu nunca pedi por isso – Severus rosnou

– Mas você vai ter o pacote completo – Ela rebateu – E já que eu sou a sua consorte, eu vou participar ativamente de tudo. Não quero um centavo seu, tenho o meu próprio dinheiro. Mas enquanto eu estiver nessa casa, você me terá onde eu bem entender, está me ouvindo?

– Se você pensa que vai agir como minha sombra, está enganada – Severus rebateu

– Não, querido. Eu não vou ser a sua sombra. Vou ser a outra você. O seu braço direito.

Antes que ele desse por si, as mãos dela estavam na pesquisa que ele fazia. Eventualmente todas as palavras saltaram a sua vista enquanto ela decorava até os traços de borrão.

– Isso não é da sua conta – Severus tomou o pergaminho por cima da bancada assim que se deu conta do que ela lia, temendo que ela tivesse uma reação hormonal e ataque de explosão, igual presenciou diversas vezes ela fazer com os amigos de escola

Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, mordendo o lábio inferior em intervalos intercalados e a clavícula subir e descer.

– Podemos trocar o suco de romã por essência de visco-do-diabo – Ela disse depois de um tempo – dessa forma teremos o crescimento mais rápido e menos doloroso. O gosto apenas que será horrível

– Entretanto o crescimento passaria a ser desordenado. Isso sem contar que a poção perderia todo o seu efeito em contato com a luz.

– No mundo muggle, eles têm soros que perdem a eficácia em contato direto ou indireto com a luz, por tanto eles criaram recipientes que inibem o contato. Poderíamos adaptar alguma parte do laboratório para a extração e fabricação, e alguns frascos para armazenamento.

– E como a senhoria planeja controlar o crescimento do osso, visto que a essência do visco é conhecida por aumentar – Severus pigarreou.

– Eu sei que algumas gotas são essenciais para homens inseguros com o tamanho do próprio órgão. Mas pense comigo. E se ensinarmos a poção na quantidade que ela deve crescer se for aplicada diretamente? Igual a uma injeção muggle? Só precisamos definir tamanho, diâmetro para calcular as runas...

Enquanto Hermione falava, Severus pegou analisando as suas palavras. Jamais tivera uma conversa ao nível da que estava tendo com ninguém, nem mesmo no seu mestrado. Ao que parecia, ter Hermione Granger-Prince no seu laboratório não seria tão ruim a ponto de ele revirar os olhos.

– Você está me acompanhando? – Ela perguntou atraindo a sua atenção – Como eu estava dizendo… precisamos definir se os ossos ainda crescerão, se causarão algum dano se não adaptar, qual será a magia empregada…

– Granger – Severus inspirou profundamente – Você precisa terminar os seus estudos e começar algo na área de poções para ter isso publicado

– Então você está dizendo...

– Que sim! Tem fundamento a sua teoria. Mas o mestrado em poções não aceita menos que O em todo o exame exaustivo. E que você deveria escrever para McGonagall ainda hoje.