No momento que as chamas avermelhadas deram lugares as verdes, a xícara de louça antiga pousou no pires e os olhos astutos de Minerva demoraram menos de três segundos para assimilar a imagem de Hermione surgir entre as chamas e limpar as vestes das cinzas remanescentes. Os olhos passaram de curiosos para vitoriosos assim que os castanhos correram todas as paredes em busca do quadro de Albus Dumbledore. Hermione queria muito ter a oportunidade para fazer o senhor dormindo queimar até as cinzas ao tempo que empurrava Minerva para as memórias da juventude, guerra e os abusos na mansão. Não demorou mais que os três segundos necessários para que a bruxa anciã desse a volta na mesa e estendesse aos braços para a recém-chegada.

– Eu sabia que era você. Desde que aquela coruja mal-humorada pousou na minha mesa. Uma mamãe leoa jamais esquece dos seus filhotes – E, de repente, Hermione estava no meio do abraço da diretora e sentiu todas coisas voarem do bolso das suas vestes. – Harry ficará tão feliz em saber do seu retorno

– É bom ver você novamente, diretora – Hermione retrucou saindo dos abraços e olhando carinhosamente para ela – Especialmente por não ver desde antes do final da guerra.

– Oh, eu estive no seu casamento – Minerva respondeu apontando a direção da cadeira que Hermione poderia ocupar, a legimencia da diretora jamais pegou o desgosto de Hermione enquanto ambas estavam confortando-se em seus assentos – Por falar nisso, a família Weasley estava a passeio pelo castelo essa semana e estão no salão jantando. Podemos nos unir a eles a qualquer momento

– Isso não será necessário, diretora, já que minha visita não vai perdurar por muito tempo – Hermione respondeu

– Mas você não deseja ver a sua família? Eles têm estado muito tristes desde que pensaram que você morreu – Hermione crispou os lábios

– E você diretora? Teve tempo de sentir a minha falta ou os assuntos do castelo continuam sendo mais importantes?

– Oh querida, não entremos em detalhes… Chá?

Todos os instintos de Hermione gritaram por conta da semelhança com o plano de Severus formado horas atrás, mas ela não poderia negar, embora fosse por formalidades, a ex-diretora da casa dos leões precisava de provas sobre a verdadeira identidade de Hermione e a garota saberia conduzir a conversa ao seu favor

– Sim por favor. Com dois torrões – Respondeu e ela teve a impressão dos lábios de Minerva curvarem lentamente para cima enquanto servia o líquido morno e o açúcar voava para dentro da xícara

Não foi preciso muito mais que um gole para que Hermione notasse a pressão muito mais forte em seu cérebro. Nem a queda do ladrão e o sistema implantado pelos Goblins haviam causado tamanha pressão em sua mente a ponto de ela precisar ocluir todas as suas emoções e empurrar a família Prince para longe de onde o seu cérebro era torturado. Ela continuou a tomar mais do líquido sabendo que o efeito não aumentaria, parte do seu ser estava à mercê o veritasserum e a outra metade estava preparada para isso.

– Onde você esteve todo esse tempo querida?

– Com o meu marido – Ela respondeu rapidamente.

– Mas Ronald Weasley jamais deixou a sede

– Jamais fui casada por livre e espontânea vontade com Ronald Weasley, diretora

– E quanto a esse suposto marido. Onde ele está?

– Em casa, com os seus afazeres.

– Ele não a acompanha?

– Não vejo necessidade de ter um enfeite a mais na sua sala, diretora. – Respondeu Hermione levando a mão a boca para conter o riso que ameaçava escapar

– Isto é um assunto importante, senhorita Granger… ou devo chamá-la por seu nome de casada?

– Granger está ótimo – Hermione respondeu – Quanto a isso, ele foi o primeiro a influenciar a minha volta a escola e consequentemente meus estudos em relação a poções de cura rápida, devido ao meu … hum... problema do passado

– Compreendo – McGonagall – Mas por que você não falou que era casada antes da cerimônia com o senhor Weasley?

– Qual cerimônia? Aquela que eu estava dopada ou quando ninguém, além dele, ia me visitar nos meus aposentos?

A xícara vazia da diretora foi totalmente abandonada sobre a mesa enquanto observava Hermione tomar outro gole do seu chá, nesse ínterim, a líder sabia que a garota não tinha como mentir. Horas atrás, desde que reconheceu o "H" na carta, a mulher já havia invadido o estoque pessoal de poções do antigo professor e tomado uma quantidade absurda de veritasserum. Ordenado pessoalmente que os elfos pusessem no chá a ser servido para a visita que a diretora tomaria outro tipo, servido diretamente na sua xícara.

– Eu peço perdão pelas coisas que aconteceram, querida. Pelo o que aconteceu e eu não pude estar lá por você, ainda mais sendo a figura de liderança, eu pensei que estava em boas mãos – Minerva adicionou deixando a tristeza despontar sua voz

Hermione apenas assentiu antes da porta ser aberta e Harry Potter passar correndo, vermelho, por ela

– É ela? É realmente ela?

A garota levantou e girou, mostrando-se finalmente ao recém-visitante. Seu rosto permanecia sereno devido a quantidade de poção ingerida mas por pouco que o desgosto pela massa ruiva, formando atrás do garoto-que-sobreviveu-novamente, tomou o seu semblante. Ela tentou conter, mas tudo o que conseguiu foi um suspiro enquanto umidificava os lábios e desviava o olhar

– Hermione, querida – Ronald foi o primeiro a empurrar Harry e correu, agarrando-a pelos ombros e a abraçando-a – Eu pensei que tivesse perdido você

O estômago de Hermione embrulhou ainda mais quando Molly veio para o abraço, ela podia sentir olhares carinhosos e caridosos sendo dirigidos a ela dos outros integrantes da família. As preces de "sentimos tantas saudades suas" continuavam no meio dos braços das pessoas que deveriam protegê-la e não a usar como escada para sua ascensão mais rápida.

– Oh querida – Molly começou afagando os cabelos dela – Eu chorei e rezei todos os dias para que qualquer entidade lá em cima devolvesse vocês – Imediatamente todos olharam em direção onde Hermione estava sentada anteriormente – Onde está minha neta?

– Nos braços da Fleur – Hermione soltou antes mesmo de notar o que estava falando

– Não estou falando de Victoire, mas da minha outra neta, Rose. – Ronald finalmente a soltou dos braços e passou a segurá-la pelos ombros

– Hermione, onde está Rose? – perguntou o ruivo – Onde está a nossa filha?

Os pulsos da garota imediatamente voltaram para dentro e para cima, saindo da posse do homem. A cada movimento, ela notava Harry se encolhendo ainda mais.

– Para vocês, ela está morta. – Um longo silêncio abateu enquanto Molly engasgava – O que quase me matou no hospital a matou. Os curandeiros não conseguiram a tempo e a coisa, que vinha sendo alimentado das duas magias… foi demais para ela.

– Uma mãe sempre, sempre, prefere dar a sua vida a seu filho! – Molly bradou – Eu sempre fiz isso pelos meus e tive sete!

– Eu teria dado – Hermione respondeu a mesma altura já virando para a matriarca – Eu teria dado a minha vida por Rose se tivesse consciente. Mas fui encontrada apagada, longe das minhas faculdades mentais. Só fui saber sobre o parto da Rose horas depois e a quilômetros de distância de onde ela estava.

– Você matou a minha filha – Ronald gritou atrás dela – Você nunca a quis e a matou. Depois fugiu! – Desdenhou

– Como ousa? Alguma vez alguém foi atrás das poções que eu necessitava? Alguma poção de pré-natal? – Ela viu balançarem a cabeça negando, outros envergonhados – Meu marido confiou a minha vida a vocês quando me deixou na porta deste castelo – Ela virou os olhos para a diretora – Ele confiou em você por conhecê-la há muito. Ele também foi aluno aqui quando você era diretora na casa dos leões. Ele confiou a minha vida a você e o castelo era mais importante.

– Oh querida. Eu sinto tanto – Minerva

– Você não compareceu sequer ao meu memorial – Hermione retrucou – Eu tive dois e você não compareceu a nenhum, diretora. O castelo estava acima de qualquer vida perdida para defendê-lo. Eu estive em seu poder por sete anos. Seis ininterruptos e um inteiro debaixo das suas proteções.

– Deixei você para ser cuidada pelas pessoas que eu mais confio a minha vida.

– Em troca, eles me casaram novamente, contra a minha vontade devo enfatizar, e me forçaram a parir um bebê que já tinha data da sua morte enquanto tudo o que eu tinha era a minha magia voltada para dentro tentando me curar de tudo o que eu passei enquanto meu marido tentava descobrir formas de me salvar.

– Eu sou seu marido, Hermione – Ron gritou levanto o polegar ao próprio peito – Eu! Casei com você perante o ministério e juntos tivemos um bebê. Largue essa baboseira de que você tem outro marido que talvez eu te perdoe por matar a nossa filha.

– Sempre fui casada, Ronald, antes mesmo da guerra acabar.

– E como tivemos um firmamento da nossa união?

– Não tinha magia, lembra? Quando casei com você, meu outro casamento não pôde ser anunciado devido a minha falta de assinatura mágica. E quando ela retornou, tudo o que eu queria era me ver livre de você.

– Hermione – A voz de Ron diminuiu dois tons e a mão descansou levemente no seu ombro – Volte para casa, todos nós sentimos a sua falta. Volte para nós e daremos um jeito de anular o seu casamento com… seja lá quem for. Krum? – Hermione negou com a cabeça sentindo todo o seu estômago querer expulsar o chá – Esquecemos de tudo e possamos reconstruir a nossa vida.

– Eu vou voltar para casa sim, mas para a minha casa onde meu marido me aguarda. Diretora, poderia liberar a lareira?

– Querida, creio que a família Weasley ainda tenha algumas coisas a serem faladas

– Eu não marquei reunião com eles, muito menos com a ordem. Marquei a reunião com Minerva McGonagall, a diretora de Hogwarts para tratar dos meus assuntos em relação ao mundo acadêmico. Se esse assunto não pode ser discutido, sugiro que marquemos outra data a ser combinada com antecedência devido aos meus deveres de família. – Pequenos murmúrios formaram atrás dela

– Ainda há muito o que discutirmos

– Não com eles aqui. Muitos assuntos são particulares e me recuso a falar na frente de estranhos

– Como… – Ronald começaria a falar, mas ela o interrompeu ao levantar o antebraço

– Diretora?

– Creio que essa seja uma opção inviável, no momento, senhora.

Os dedos de Hermione queriam ir com rapidez ao pingente da chave de portal, mas ela precisava de distância segura para poder ativar o colar sem que alguém fosse levado por intruso.

– Neste caso, eu estarei no saguão jantando e irei ao corujal escrever ao meu marido a respeito do sequestro e da tentativa de me manter aqui contra a minha vontade

– Querida Hermione, como vai? – O retrato do diretor imediatamente abriu aos olhos, e fingiu-se espreguiçar na sua moldura – E o seu marido?

– Você não tem o direito de falar sobre ele ou sobre mencioná-lo. Não quando você retirou tudo dele e o deixou para morrer no seu plano de se tornar imortal.

– Como ousa falar assim com Albus? – Molly rosnou.

– Então talvez você queira saber que os seus irmãos morreram sem necessidade alguma. Ou que os pais de Harry eram apenas peões na mesa para o grande triunfo de Albus Dumbledore contra o próximo mal que poderia surgir. Ou que todas as mortes que "faziam parte de um bem maior" foram planejadas pelo diretor e que Mad-Eye descobriu e tentou sequestrar Harry no ministério.

– Eu? – Pela primeira vez, Hermione lembrou do garoto – Mas por quê?

– Mad-Eye sabia que você era mais poderoso que Dumbledore. E que você morreria. Ele queria ter contado a você antes de mandá-lo para a morte, mas Dumbledore descobriu antes e deixou que chegasse aos ouvidos de Mundugos Fletcher e Peter Pettigrew que Mad-Eye era um oponente forte. O próprio Voldemort o matou depois de colocar um rastreador em Mundugos e manipulou para que fosse ele o Potter com Alastor.

– Oh Merlim – Minerva levou ambas as mãos a boca.

– Da mesma forma que ele manipulou os Dusleys para ficar com você e ele ser o seu primeiro mentor magico. Os pais de Lilian Evans ainda estavam vivos quando… a primeira guerra estourou. O diretor espalhou sobre a proteção de sangue, colocando um alvo nas costas deles. Petúnia jamais foi mencionada no mundo bruxo, por isso que eles não sabiam que Lilian tinha… tem uma irmã.

– Eu tive avós? – Harry perguntou olhando para o grande quadro e o silêncio instaurou

– Fabian e Gideon não tinham necessidade de morrer, mas murmúrios em locais errados, e sendo aumentados depois de arrastarem para ser segurança do diretor sem necessidade, fizeram comensais crerem que os dois eram poderosos a ponto do próprio Albus usá-los para defesa pessoal – Molly soltou uma exclamação em lagrimas, sendo aparada pelo marido – Dessa forma, toda a geração Weasley teria uma vingança para lutar. Albus sabia que o sonho era ter uma menina e que a matriarca não descansaria até tê-la. Mas o clã Weasley era marcados por homens, assim, Molly teria muitos filhos varão antes de ter a sua bonequinha de porcelana.

– Oh céus! – Alguém gritou e todos foram aparar os mais atingidos pelas palavras de Hermione enquanto ela dava passos para trás até seus pés encontrarem o primeiro degrau que levava ao fundo do escritório.

Imediatamente ela levou a mão ao pingente para convocar a chave de portal. Seus dedos passaram um calor familiar e aconchegante enquanto ela continuava a subir silenciosamente até a janela existente

– Hermione – Harry levantou a cabeça e começou a procurá-la a sua volta – Como você? Como você sabe disso?

– Os diários que Albus deixou – Ela respondeu virando para eles já alcançando a janela – Meu marido possui a todos eles.

– E quem é o seu marido? – Perguntou Gui

– Eu só posso dizer o sobrenome dele – Ela tentou, mas a chave ainda não estava totalmente ativa

– E qual é? – Ela sentiu os seus pés levitando e o estômago repuxando. Estava pronta para partir

– Prince.