Quando Severus abriu os olhos, todo o seu corpo doía, por um segundo ele desejou que tivesse uma poção para a ressaca. Por segundo os seus lábios abriram levemente para acionar quando sentiu a toalha gelada sobre a sua testa e os dedos carinhosos na sua face. Então tudo voltou e ele sentou desesperado olhando em volta

– Você está seguro – A voz disse então ele notou que não estava sozinho. Atrás dele, vestido em vestes de linho azuis estava Eileen, o cabelo impecavelmente trançado para trás e as mãos para frente, com os dedos encostados. – Eles não vão mais machucar você. Nunca mais, meu filho.

Severus então relaxou a postura rígida que se encontrava, finalmente deixando as costas encurvaram um pouco

– O que aconteceu?

– Dumbledore aconteceu a você. Ele queria trocar a sua alma pela dele no inferno e só precisava que você aceitasse, pra isso usou Lilian para convencê-lo a ficar lá.

– Mas Lily está...

– Sim. Cada pecado que você viu, ela cometeu. E nunca se redimiu por isso, achou que morrendo pelo filho estaria a salvo, mas foi ela quem colocou na mente de Sirius Black que ele seria pego caso fosse o guardião do segredo.

– Lily jamais faria uma coisa dessas, mãe.

– Meu filho, eu tenho te observado de perto desde que parei em Azkaban por causa do seu pai. Na verdade, por sua causa eu estive livre mesmo que presa atras daquelas grades e nunca fui tão feliz em toda a minha vida. E tudo o que você tem hoje foi restaurado quando aquele bêbado morreu.

– Tudo o que ficou para Hermione, incluindo a mentira de que ele morreu por cirrose.

– Você fez o que tinha de fazer para se manter a salvo. Pelo menos enquanto o seu julgamento ainda estava acontecendo

– Então você não está com raiva?

– Por que eu estaria?

– Eu ter sujado ainda mais o sangue dos Prince

– Eu não estou. Seu avô provavelmente está revirando na própria cova, mas eu não. Eu fico feliz que você tenha seguido em frente, querido – Eileen afagou o rosto do filho – Querido, você não sabe o quanto me alegrei quando você decidiu cuidar daquela garota e que estava decidido a ter uma família de verdade com ela.

– Gran... Hermione escolheu o outro, mãe, assim como Lilly.

– Mas ela voltou, querido e lhe deu uma filha, um casamento. Ela fez questão de ficar em pé perante os seus primos para te desposar. Lutou com todas as fibras do ser dela contra o feitiço para consumar o casamento esperando seu tempo e o dela. Merlin é testemunha do quanto aquele feitiço consome o ser feminino.

– E mesmo assim ainda não fui o suficiente para ela

– Você está brincando? Hermione estava idolatrando quando você decidiu que viajaria sem ela

– Ela fugiu, nunca respondeu uma carta minha

– Hermione precisava de um tempo, querido. Ela tinha acabado de descobrir que não dava para enganar a morte. Pessoas que a estavam acobertando estavam sofrendo com isso e você não suportaria vê-la sofrer sabendo que mais pessoas que o necessário morrera para que você pudesse dar a ela a filha que ela perdeu por causa das próprias escolhas – ele aspirou e escovou o cabelo para trás – a morte estava atras da Weasley e a filha dela era uma. Mesmo me escolhendo no final, a filha dela era uma Weasley e cumpriu o seu destino

– Você sabe que Hermione ainda pode gerar uma criança e essa criança receber o núcleo de Rose, não sabe? – Eileen finalmente disse depois do desabafo – Dessa forma ela seria uma Prince, a mesma primeira criança, e Hermione poderia ter melhores memorias da sua gestação nada convencional.

– A menos que ela case com Marcus Prince...

– Querido, você não está entendendo. O seu lugar não é aqui, você está aqui por influência de Albus. Alguns de nós ainda temos ligações com nossos quadros e Dumbledore deixou escapar que você queria recriar a pedra para algumas pessoas gananciosas. Albus Dumbledore, eu jamais deveria ter confiado naquele homem – Eileen mostrou arrependimento – Albus Dumbledore o mandou para morte mais uma vez e dessa ele conseguiu. Eu jamais deveria tê-lo mandado para as mãos daquele homem ou ter fingindo que não notava todos os anos você se perder no ódio. Albus sempre destinou você para ser o espião que ele tanto desejou por que não podia arriscar sua preciosa professora mais uma vez.

– Não foi a sua culpa. Eu não podia dar a você mais preocupações já tendo Tobias.

– Meu Severus – Mais uma vez a mulher levou a mão a face do homem – Meu mais doce menino. Eu senti tanto a sua falta. E embora eu queira você aqui, pertinho de mim, ainda não é a sua hora. Eu desejo que você tenha a família que sempre sonhou, a vida que sempre desejou. Hermione está esperando por você e eu estarei aqui, todos os dias olhando por vocês – Ela levantou do sofá – Só cabe a você escolher. Você poderá voltar para ela ou poderá ficar aqui para sempre e esperar que algum dia ela venha.

– Aqui estão todas as pessoas por quem já senti algum tipo de afeto algum dia, não há nada para mim lá.

– Você aprenderá a ter algo pela sua esposa. Algum dia você acordará e verá a sua alma através dos seus olhos e você se apaixonará. Algum dia você será grato por tê-la salvo da guerra. E você verá que está dirigindo o próprio destino e construindo uma vida ao lado de alguém.

– Hermione tem quase a metade da minha idade, além disso, não sei nada do que se passa com ela além da oclumência. Também sei que ela tem uma mania horrível de decorar os livros e que coloca as provetas de testes sempre a direita, próximo ao pulso

– Já são três coisas que você sabe sobre ela, querido. Aprendemos esses detalhes no decorrer da vida.

– Mas e se não der certo?

– Esses são os pais do arrependimento, meu querido. "E SE". Se não der certo, vocês terão criado algo bom, você terá algum tipo de controle sobre a sua vida e terá vivido, pela primeira vez. Sobreviver não é o suficiente.

O vinco no meio de sua testa finalmente desfez.

– O que eu fiz? – Finalmente Severus levantou – O que eu fiz? Eu deixei Hermione sozinha. Eu a prometi uma família, uma filha e a deixei sozinha com meu corpo no meio de uma igreja. O que eu fiz?

– Você gostaria de reaver isso?

– Como? Não há como voltar dos mortos.

– Talvez a divindade lá em cima me deve um ou outro favor pela vida que eu tive, querido. Nenhum segundo passará desde que você os deixou. Vai parecer que você foi apenas estuporado. – Eileen pegou as duas mãos dele e fechou em um frasco contendo algo branco – Você terá o poder de mudar o que quiser, basta decidir o momento que quiser.

– Como?

Eileen apontou para ele uma porta, então o guiou até ela.

– Não esqueça nunca o quanto estou orgulhosa de você. – E com essas palavras, Severus foi deixado à frente da porta. Eileen desapareceu totalmente da sala e o móvel que ele estava deitado.

Os dedos dele encostaram na maçaneta e quase vacilaram quando a voz de Lilian sussurrou em seu ouvido para que ele não fizesse isso, mas olhando bem para o que Eileen lhe deu, o fraco era a mesma coisa que estivera tão bem escondido em seu cofre.

Pureza não pode misturar com as trevas – Dizia a etiqueta do frasco

Então ele girou o trinco e deixou os gritos de desespero de Lilian para trás. A sua frente ele podia ver uma penseira e quatro frascos. Minos estava entre eles, haviam dois de cada lado do chapéu quem cantava algo sobre amores além da vida.

– Você recebeu a dádiva de retornar. Os deuses atenderam ao seu pedido como jamais atenderam ao de Merlin. Entretanto, aqui há quatro opções para retorno. Você deverá escolher com seu coração em qual momento a sua experiência pode alterar. E uma vez que você escolher, não pode mais voltar

Eu quero saber quais as minhas opções

– Huuum, janeiro de 1978. Nos últimos meses em Hogwarts, mas naquele ano você voltou para casa – Minos começou e um dos fracos acendeu.

Severus o tomou e jogou na penseira, mergulhando profundamente.


O vento gelado empurrava os balanços do parquinho. Severus sabia exatamente qual momento era aquele: James Potter havia proposto Lily e sua família havia concedido a sua mão. Ela estava se gabando do anel que havia recebido do seu prometido quando o seu eu mais novo adentrou no pátio, trazia uma caixinha preta com o anel que ele havia economizado por dois anos, abdicando de coisas necessárias para comprar.

– O que você faz aqui, Snivellus?

– Vim tentar me desculpar.

– Eu não preciso do seu pedido de desculpas – Lily falou rispidamente – Logo pessoas como você estão caçando pessoas como eu. E eu não quero nenhuma ligação de alguém que possa me usar para ferir minha família. Além disso, o que você pode me oferecer? Uma casa decadente no subúrbio?

As amigas de Lily desataram a rir. Severus estava pronto para dar a ela o anel de proteção quando Marlene McKinnon gritou

– Mostre a ele o anel

Dorcas apoiou a mão da amiga para mostrar a enorme pedra solitária que banhava o anel de ouro

– Você nunca vai poder me dar isso, Snivellus – Lily disse com soberba – Nunca.

O trio saiu zombando do rapaz que, quando se viu sozinho, caiu sob os joelhos ignorando a que estivesse sujando as únicas peças de roupas limpas até ir para Hogwarts.

Severus ficou assistindo aquela cena, ele sabia que mais tarde ele descontaria a raiva no pai quando roubasse a varinha da mãe detrás de um quadro e lançasse no bêbado um feitiço da morte, mandando a mãe diretamente para a prisão.

Mas algo chamou a atenção do homem, caminhando mais para perto do trio que o recém-abandonou, ele pode ouvir que Lily confessava para as amigas.

– Se ele parasse de andar com esses Death Easter, eu aceitaria as suas desculpas.


Severus deu dois passos para trás quando saiu da penseira. O ar parecia não entrar pelo nariz então ele abriu a boca para inspirar audivelmente, parecendo que estivesse sufocado. Ele tinha uma chance com Lily, ele tinha uma chance de consertar tudo.

– Agora o segundo frasco. – Minos chamou a sua atenção – E eu não tenho a eternidade toda, embora não tenha nada para fazer nas próximas horas

O homem olhou furiosamente para o chapéu, tomou o frasco ao seu lado e o jogou na penseira.


Estava escuro, e ele só ouvia a respiração pesada. Ele sabia onde estava, o barulho de papel amassado significava que ele estava amassando mais uma vez o convite de casamento de Lily e James. A porta abriu-se, Lucius passou por ela, abandonando a máscara prata na mesa ao lado da porta, acompanhado dele estava Mulciber e Avery tremendo, ambos em vestes de comensais.

– Eu sabia que você estaria aqui assim que soubesse que ela está se casando hoje. Vamos, o lorde das trevas te espera.

O jovem Severus levantou, tomou da mesa escritora a máscara de comensal que seria adornada por seu mestre, rasgou o convite e aproveitou o braço estendido de Lucius para caminhar entre os outros dois e sair.

Ele os acompanhou por um extenso corredor até encontrarem um grande salão com trono de ossos no meio e Tom Riddle sentado, outros Death Easters estavam cochichando sobre aquele pequeno grupo que estava no meio do salão, prestes a servir o mestre.

– Esta é a última chance de vocês desistirem. Mas saibam que, se saírem por aquela porta, perderão tudo o que eu prometi a vocês. Vocês deverão me seguir por fidelidade e não por medo. Vocês deverão vir a mim por lealdade e não pelo o que posso fazer a vocês caso saiam, e acreditem em mim, vocês vão implorar por Azkaban.

Mas Riddle não era considerado o homem mais sádico da face da terra, competindo diretamente com Albus Dumbledore sem nenhuma razão. O local escolhido para aquela ocasião era apenas algumas quadras da igreja que Lily estava casando ao modo muggle com James. Quando os sinos anunciaram os recém casados, o jovem Severus estava de joelhos com o braço estendido, na frente do seu mestre.


– Eu realmente não tive nenhuma chance – Severus disse ao sair da penseira.

– Você poderia ter ido embora. Mas havia tanto ódio no seu coração que você recebeu a marca apenas por ela ter se casado. Você nem por uma palavra, acreditava no que ele pregava. – Minos disse. – Você poderia ter recomeçado em qualquer outro lugar, mas ficou para tentar dar a ela o anel da proteção. E agora que você sabe que ela jamais receberia o anel, você tem certeza de que gostaria de ficar e repetir tudo novamente? Você mataria Lily novamente apenas pelo poder?

Severus piscou. O frasco em sua mão esquentou um pouco como se protestasse por ele ainda cogitar nessa escolha.

- Qual a próxima opção?

- Ah, você vai adorar essa. – Minos respondeu. – Você escolhe não sobreviver durante a guerra e a garota não é obrigada a casar com o Weasley, mas ela o faz e viram a família dos sonhos, com direito a filha nascida e irmão...

– Passo – Severus disse – Granger merece algo melhor que o energúmeno com quem ela sobreviveu. Até o búlgaro pareceu uma opção melhor.

– Então isso nos leva a nossa última opção. Caso você queira atravessar a porta de volta e escolher voltar para Eileen e paz. Descanso eterno. – Severus não deixou que Minos terminasse, tomou o frasco e jogou na penseira. – Deixo logo avisado, o que você vai ver, será apenas um resumo do que será a vida da sua esposa nos próximos anos.


Severus mergulhou a cabeça, ele viu Hermione desprender-se dos braços da mãe e abraçar o corpo, pedindo para todas as divindades para que ele voltasse, mas quando o auror declarou a morte oficial e fechou os olhos do mago, Hermione gritou com punhos cerrados. A imagem correu, ele conseguia vê-la a maior parte do tempo sentado na sua poltrona a frente da lareira apagada. Os elfos pareciam ter desistido de alimentá-la há muito então apenas se contentam em assistir os dias decorrer. até a casa que pareceu ter tomado vida quando ela estava lá, estava escura e com aparência abandonada novamente, a maçaneta da biblioteca estava empoeirada, sinal que há muito ninguém entrava lá

Novamente o tempo correu, dessa vez era dia e Hermione estava cansada sentada no sofá enquanto Marcus Prince avaliava cada canto do imóvel, ela estava com os bracos encruzados vendo-o mexer na caixa entalhada de flu que Severus havia comprado por que Hermione havia achado a gravura bonita em um dos livros que ela leu sobre o benefício do transporte.

Severus deu um passo na direção da bruxa e o tempo correu diante dos seus olhos, agora Hermione descia as escadas segurando o brasão da família, vários outros bruxos estavam na sala a aguardando e Marcus esperava a ela no meio juntamente com um juiz de paz.

Severus tentou-a impedir, mas quando ele chegou próximo dela, o tempo correu. A próxima imagem que ele viu, mostrava-se Hermione extremamente desconfortável no sofá enquanto Marcus deixava manchar a poltrona e os livros com chá.

– Eu estou grávida – Ela disse a Marcos. O mundo de Severus caiu juntamente com o decorrer da cena.

A criança, uma menina, estava caminhando e Hermione estava em seus aposentos alisando a barriga protuberante, um segundo filho a caminho. A mulher parecia fortemente abalada e os olhos profundos lutavam para se manter abertos.

Quando o tempo parou, Hermione chorava agarrada ao menino morto em seus braços enquanto Marcus dizia a ela o quanto gente igual a ela era imprestável para ter um herdeiro homem. E havia sido apenas por isso que ele havia sido obrigado a casar com ela.

No tempo seguinte, a menina parecia ter seis e Hermione já erguia uma barriga enorme, os pés inchados e profundas olheiras eram destaques além da barriga e o corpo magro. Ren tentava dar a ela sopas, caldos, algo que ela comesse, mas apenas o cheiro era nauseante. Obrigando que ela fosse ao banheiro para tentar vomitar.

Nabuchodonosor já tinha cinco quando Hermione estava chorosa dizendo que não aguentaria outro parto e Marcus a obrigava a ter mais uma criança e chamar de Perseu. A menina tapou os dois ouvidos com as mãos

– Isso é culpa sua – A garota disse por fim – Teríamos uma vida melhor se você não tivesse mandado o seu primeiro marido para a morte. Agora nem para uma escola de bruxa eu posso ir.

– Querida…

– Não, Hermione – A garota falou – A partir de hoje você é só a responsável pela procriação dessa casa. A responsável por dar a meu pai filhos com inteligência. Um sangue-sujo que infelizmente contaminou o meu.

A garota bateu a porta, Hermione caiu de joelhos chorando, escondendo a face com as mãos até começar a sangrar.

Quando Severus correu para socorrê-la e o chão desfez aos seus pés. Hermione estava na mesma sala que Eileen, sentada no mesmo sofá.

– Você me deixou! – ela disse assim que os olhos levantaram – Você me deixou para morrer depois de me salvar.


Severus foi jogado da penseira atordoado. Ele tinha várias oportunidades de mudar tudo, mas naquele momento, segurando aquele frasco apenas Hermione importava para ele. Apenas os seus olhos de amêndoas pedindo para que ele voltasse.

– Vejo que você já escolheu – Minos disse – E foi preciso você ir do inferno aos céus para notar que tem sentimentos pela sua esposa.

– Como farei para voltar para ela?

– A porta que você veio parar aqui é a mesma que levará você até o que o seu coração escolheu.

Severus acenou para Minos então voltou para a porta, uma luz acendeu fortemente quase lhe cegando então ele notou esta deitado, nos seus dedos estava o frasco dado por Eileen e do outro lado vinha Hermione correndo, driblando a barreira de aurores para chegar no homem no chão

– Severus! Severus! Por favor Severus, fique. Você me prometeu

– Alguma vez você me viu quebrar alguma promessa, Hermione? – Ele disse e a garota não se conteve abraçando-o pelo pescoço e beijando seu rosto.

– Eu tive tanto medo de te perder.

– Não vou a lugar nenhum sem você, Granger. – O homem colocou as mãos nas costelas dela.

Hermione levantou a cabeça apenas para olhar para o marido e então o beijou.