Severus guiou Hermione debaixo da sua capa até o átrio do ministério e então desapareceu nas chamas, ele sentiu quando as mãos dela passavam pelo paletó que ele estava vestido e lecionou tempo o suficiente para saber quando uma pessoa estava realmente nervosa. Quando a grade fechou em meio aos flashes disparando, ela fez o impensável por ele. Pulou e o beijou quando as chamas o consumiam e as luzes estouraram ao seu redor. Mais tarde ele faria questão de relembrar isso: Potter preso, seu escudeiro também, todos da família que o excluiu estavam mortos e ele ganhou a fama que almejava e a garota Gryffindor. Cozinhou a fama e a glória e colocou um fim a morte, na verdade ele enganou a morte por duas vezes e então riu na face de quem o condenou a ela.
Ele estava vivendo o espelho da vida que almejou em sua juventude e ele calculou o momento certo até que isso acontecesse. Os flashes deram lugar a tubulação e então a sala da sua casa onde Ren aguardava tricotando algumas meias pretas. Hermione então baixou a cabeça e limpou o restante das cinzas do seu suéter, pigarreou e então anunciou
– Estarei em meus aposentos
– Você gostaria que eu mandasse os jornais que chegarão para você ou...
– Que você queime – ela respondeu – eles não tiveram a mínima consideração por mim, apenas pelo próprio sangue e meu dinheiro para ascensão, também não terei por saber quantos anos passarão em Azkaban. Nenhum segundo traria minha Rose de volta.
Severus ficou assistindo-a subir os degraus enquanto analisava se era má pessoa em querer comemorar as condenações e por um segundo ele sentiu que Lílian Evans estava, de alguma forma, vingada. O pensamento na mulher que o quase enviou ao inferno por puro sadismo o fez lembrar do presente de sua mãe, guardado em um baú no seu laboratório. Luz e trevas não deveriam ser misturadas, de acordo com Eileen e então a única forma para dar a Hermione o que ele havia prometido a ela quando ela se colocou sob os pés após o acidente era na forma que a natureza foi criada.
Quando o jornal chegou por uma coruja horas mais tarde, Severus segurava em suas mãos o frasco e observava escurecer campos a fora. A capa tinha a foto do garoto Potter, estilo sensacionalismo de Rita Skeeter.
Abaixo da foto havia uma tabela com nomes e suas penalidades, por ordem alfabética. Alguns nomes de cordeiros da fênix ainda vivos, faltaram. Alguns integrantes da armada montada também integravam. Médicos, potioneiros, pessoas que ascenderam em suas profissões a pouco tempo. Pessoas que também tiveram suas vidas e carreiras marcadas por pessoas extremamente gananciosas
– Foram muitos anos? – Hermione interrompeu os pensamentos dele
– pensei que gostaria de permanecer na ignorância.
– Eles foram minha família por muitos anos. Alguns momentos de reciprocidade pesaram a mente enquanto eu talhava leite
– Serviços domésticos? – Severus franziu as sobrancelhas
– Na verdade eu estava testando uma poção com potência moderada para dor. Também algo que fosse nutritivo quando desse fome.
– A guerra acabou, você não precisa mais acampar.
– Eu estou falando sobre sangue de lince dourado. Você sabe as propriedades dele fresco? – Severus acenou – embora eu seja contra a fabricação de poções de origens animalescas, tenho que admitir que a espera por um é emocionante a ponto de não valer a pena comer
– Você não comeria nem se estivéssemos assistindo a uma corrida de lesmas
– Mas lesmas são nojentas além de lentas, mas ainda pode acontecer algo que eu possa perder e... Um lince é raro.
- Por acaso estamos novamente em salas de Hogwarts para você me contatar com o óbvio?
– A sua falta de contestação prova que eu estou certa e que você está mudando de assunto.
– A garota Weasley Potter vai cumprir pena em casa por estar gestando...- ele começou notando-a sentar – os demais cumprirão de sete anos a perpétua por diversos crimes. Crimes que ferem a índole, os juramentos de suas profissões.
Os olhos castanhos vacilaram por um segundo até pousar em uma das mãos onde tinha o frasco, do tamanho da palma, mas com o fecho que ela não conhecia.
– Isto é...
– Um presente de Eileen para você.
– Rose? – Ele acenou positivamente.
– Infelizmente ela não deixou nenhuma instrução sobre o que fazer. Apenas que não conseguiríamos pela pedra, pois luz não se mistura com magia negra, que por sinal é a base da nossa família.
– Então...
– As pesquisas que fiz apenas falam que funcionam com quem não teve nenhum sabor desse mundo. – Falou ele indo em direção a uma das prateleiras e analisando o tomo de cada livro com as mãos para trás.
– Rose não conseguiu mamar – as palavras o fizeram soltar a lombar de um título que já estava pela metade fora
– Que vieram de forma natural – Continuou passando os dedos e então Hermione levantou pondo-se ao lado dele
– O parto dela foi normal, embora as circunstâncias... – Parou quando alcançou um livro de capa marrom e entregou a ele.
– E que deveria vir em seres que não têm almas
– Flamel fala que seres sem almas são aqueles que ainda não possuem magias em seu núcleo, seja ela em qualquer quantidade.
– Ou seja.
– Seres não nascidos ou inanimados.
- Isso me leva a pergunta, a sua mãe gestaria a criança por você?
– Perdão?
– Achei que devido a sua experiência passada, seria melhor que procurássemos uma alternativa mais segura. Devido a nosso sobrenome e nosso sangue. Trouxas não seria bons portadores de puros sangues por riscos
– Não me importo que seja aborto, mas... depois de perder Rose e quase perder você, eu notei que meus traumas não são nada.
– Nunca se diminua para caber em outras pessoas – Ele finalmente ficou de frente para ela e então ergueu o frasco – Cada luta é válida. E cada guerra conta. – Terminou colocando entre os dedos dela.
– Eu não estava diminuindo a causa, apenas... gostaria de saber se você quer ser o pai da Rose?
- Eu iria até o inferno para que isso fosse possível.
– Vejo você em seus aposentos?
– Por que não muda para lá de vez? – Os olhos dela brilharam – Podemos ir aos poucos até estarmos prontos.
– E eu conheço uma enciclopédia ótima para mesa de cabeceira... para o caso de quebrarmos o gelo nos primeiros dias.
Severus apenas acenou e então o sol finalmente se pôs, lançando naquele casal, de mãos juntas naquela biblioteca, uma última olhada.
