Capítulo Dois – Despedida de Solteiro

- À sentença de morte do Tiago! – falou uma voz gutural e todas as canecas presentes se juntaram num brinde.

Assim se iniciou minha despedida de solteiro naquela noite. Estávamos todos reunidos na casa de Sirius, que organizou o evento depois de descobrir que eu havia feito o pedido, há dois dias atrás. Muitos amigos compareceram, e até convidados que eu nunca tinha visto na vida antes. Amigos de Almofadinhas é claro, que em sua época de social rebelde freqüentava todo e qualquer bar trouxa que existia em Londres. Exagerado não? Bem, Sirius é assim mesmo.

Esse comportamento também explica a decoração de sua casa. Com quadros malucos e praticamente indescritíveis. Prateleiras de taças e garrafas de vinho, mas nenhum livro sequer e uma almofada extragrande e inflável como berço para seu animal de estimação: um pastor belga maior do que o Profº Flitwick. Presente de uma antiga namorada, Sirius se desfez de um apartamento durante a separação de bens só para poder ficar com aquele cachorro. O tratava como se fosse um filho, e na minha opinião, Snuffles parecia cada vez mais com o pai. Ou seria o contrário? Bem, continuando...

Todos nós esperávamos ansiosos pela surpresa que meu padrinho dizia estar guardando para o final da festa. Ele havia prometido uma festa inesquecível, e no meu caso já havia se tornado uma dívida, pois eu detestava surpresas. Era curioso, em termos mais francos eu diria que eu tinha uma extraordinária sede por conhecimento. Foi isso que me impulsionou a conquistar Lílian, eu queria na verdade é saber o motivo pelo qual era me odiava. Curioso e insistente, duas qualidades (ou defeitos) que poderiam definir a minha pessoa. Destemido também, mas isso quando não relacionado à Lílian.

- Rabicho ainda está com a mãe no hospital? – perguntei confirmando a ausência de um dos marotos.

- Pois é, ela piorou nessas últimas semanas. – informou Aluado com a voz cansada.

- Preparado para amanhã Tiago? – indagou Ted Tonks, um amigo da escola.

- Amanhã? – devolvi confuso abrindo um sorriso confiante em seguida - Festa de noivado é moleza...

- Noivado? – pediu confuso encarando os demais na mesa – Porque então uma festa de despedid...

Mas já sabíamos qual dúvida era a de Ted, pois Remo também tinha feito a mesma pergunta quando soube da festa. Acontece que, por ser trouxa ele não sabia que os costumes bruxos são muito diferentes dos demais. Sirius encheu a caneca com mais cerveja e encarou o resto da sala indiferente enquanto eu já preparava a extensa explicação, mas foi Aluado quem se manifestou primeiro:

- Os costumes bruxo são um pouco diferentes – começou ele já ciente. – A despedida de solteiro é realizada assim que o noivo anuncia o pedido, e não um dia antes da cerimônia como os trouxas fazem. - Incrível como basta explicar uma vez e Remo já consegue passar a informação adiante como um professor.

- Ah, e por quê? – Ted voltou a perguntar

- Isso evita que o noivo apareça de ressaca no dia do casamento. – expliquei empurrando de volta a caneca de cerveja que Almofadinhas me oferecia.

- Salva ele dos feitiços "anti-canalhisse" que a Lílian usa nele todas as vezes que saímos juntos, e que provavelmente vai usar com mais cuidado no dia que ela pensa ser o sucessor desta festa.

E não é que nem eu tinha pensado naquilo? A Lílian tinha maneira horríveis de me deixar à sua mercê e a primeira vez que eu passei por aquele teste que ela denominava fidelidade (como se eu fosse traí-la mesmo), ficamos uma semana sem se falar. Isso foi apenas porque o Sirius estava impregnado com o perfume de seis garotas diferentes, e devido ao nosso pouco alterado naquela noite, acabamos voltando para casa exprimidos no Noitêbus. Nem preciso dizer que eu fiquei cheirando tudo quanto é perfume que existe no mercado bruxo né? E depois de apelos desesperados eu finalmente consegui a confiança da Lílian de volta. Defitivamente, nossos costumes com certeza me salvaram de mais uma briga. Mas por via das dúvidas, era melhor não abusar.

- A festa também realça que o noivo já está condenado assim que faz o pedido – retomou Sirius com uma expressão confusa por eu não ter aceitado a bebida. – O que houve Pontas?

- Eu prometi a Lílian que não ia beber muito.

- Viu só? – Sirius enfatizou o seu depoimento – Condenado. – e sorriu para mim em seguida, empurrando a caneca cheia para perto – Agora beba!

- Não, obrigado. – devolvi áspero.

- Bebe logo, Tiago. – insistiu ele.

- Não! – reforcei me virando para Remo a fim de ignorá-lo, mas ele segurou meu ombro.

- Ah Tiago, qual é graça e ter uma despedida de solteiro se você não vai aproveitar nem um pouquinho? – e me olhou com uma cara de falsa inocência.

- Sei muito bem o que significa seu pouquinho Almofada... – ele bebeu um gole e procurou ajuda na mesa – Cerveja? – ofereceu à Remo com um enorme sorriso de boa vontade.

- Não obrigado, já tomei duas quando cheguei.

- Ah qual é? – ele nos lançou um olhar impaciente – Cadê a animação? Cadê o espírito da festa? – mas ninguém lhe deu atenção. Foi quando ele sorriu - Hummmm... Eu tive uma idéia, Pontas.

- Qual? – indaguei animado enquanto Remo já nos olhava desconfiado e temeroso.

- Não quer beber certo? – eu assenti positivamente – Que tal uma aposta? – de repente aquilo me pareceu tão interessante.

Aquela sensação de vitória viria a calhar numa noite dessas. Porque é claro, Tiago Potter não é tão facilmente vencido. De fato, o único indivíduo (além de Lílian) a se comparar é exatamente aquele com quem falava. E por isso as apostas entre Sirius e eu eram as mais disputadas. Senti-me revigorado, aquele sentimento destemido manipulando todas as células do meu sangue, que por fim pediram por mais detalhes:

- Continue...

- Aposto que consigo embebedar o Remo antes de você fazer o mesmo com o Slughorn.

- Ah, por favor... – falei desdenhoso - O Slughorn? – O nosso professor de Poçoes já era naturalmente bêbado - Dê-me um desafio, até o Remo poderia conseguir.

- Ei, eu estou aqui se não perceberam... – falou o mesmo com uma pitada de indignação.

- Remo faria isso numa explicação do porque a cevada é importante para o organismo e seria capaz de ditar todas as características que fazem o álcool agir no nosso comportamento. – continuou Almofadinhas, nós dois rimos e Aluado fechou a cara.

- Para a sua informação, a bebida faz muito mal ao fígado e...

- Shhh... Logo logo você vai provar essa teoria na prática, agora fique quieto. – Sirius censurou-o – Estamos discutindo seu futuro.

- Aceito a aposta, meu amigo. – apertei a mão de Sirius rapidamente e dei uma risadinha debochada – Isso vai ser mais fácil do que tirar doce de criança...

Assim que me levantei, já avistei Slughorn segurando uma caneca trasbordante de cerveja amanteigada e acabei de me convencer de que sairia vitorioso. Era até desagradável constatar a minha inteligência extraordinariamente gratificante naquela simples aposta. Para não dizer que era uma injustiça com meu melhor amigo. Enfim... Triunfo está apenas algumas canecas à frente. Foi quando senti Almofadinhas puxar meu braço me obrigando a fitá-lo:

- Que foi? – debochei mesmo notando que ele não estava apreensivo - Já quer desistir?

- Está brincando? – o moreno me olhou divertido e voltou a falar – Você quer um desafio? Eu lhe dou um. – e apontou algo por cima do meu ombro, ao que eu me virei para encarar o diretor de Hogwarts: Alvo Dumbledore, sentado e conversando animadamente com um penetra muito simpático de sobrenome Weasley.

- Dumbledore? – indaguei esbabacado. Mas não pelo fato da proposta ser absurdamente impossível, era mais pela visão bizarra que eu tive do diretor de Hogwarts soluçando e caindo de bêbado. – Sirius, fala sério.

- Ora Tiago, não me diga que está com medo?– zombou ele sentando na ponta da cadeira e empurrando uma caneca de cerveja na direção de Remo.

- É claro que não! – discordei prontamente, mas algo começou a esfriar no meu estômago. James Potter inseguro? Pois é, milagres acontecem. – Mas... Acha mesmo que o Dumbledore vai encher a cara?

- Isso já é problema seu! – ele riu enquanto empurrava mais uma bebida para o lado de Aluado, que nem sequer lhe deu atenção – Eu aposto a sua surpresa!

- O quê? – Aquele cachorro miserável jogava muito sujo e eu devia saber. Se não estivesse tão curioso eu até poderia discordar, mas havia mistério demais naquela surpresa e eu não podia negar que eu era estava definhando para desvendar o mistério – Não é justo!

- Ei ei, a festa é sua... – devolveu ele ainda zombeteiro - Eu sou apenas o convidado animador e garanto... Estou animadíssimo!

Por um segundo, eu tive um ímpeto (quase) incontrolável de estuporar Sirius ali no meio daquela sala de estar. Remo cansara de ignorar as cinco canecas a sua frente e tomava seu tempo com a primeira enquanto continuava a papear com Ted. Sirius ainda me olhava com uma expressão desafiadora e acho que tive um aneurisma no momento, pois acabei apertando a mão dele e dizendo:

- Se a surpresa não for boa, vamos beber suco de abóbora na sua despedida de solteiro. – e vi-o esboçar uma careta antes de empurrar mais uma bebida na direção de Remo que já estava na segunda caneca.

"Preciso me apressar" pensei enquanto escolhia uma bebida na adega restrita de Sirius. O que significa pinga afinal? Eu realmente não entendo essa linguagem trouxa, e entendo menos ainda o porque Sirius tinha um estoque tão grande de cachaça ali. Claro Tiago, deve muito ruim para ele por estar sobrando. Virei-me para observar Dumbledore apreciando um enorme caramelo desembrulhado nas mãos e senti um braço envolvendo meu pescoço antes de ouvir a voz de Remo, um pouco embargada pela quarta caneca de bebida segura na mão.

- Tirar o doce da criança pode ser mais difícil do que oferecer um para ela... – uma baforada nauseante impregnou o ar.

O que diabos aquilo significava? Remo já estava alterado e Sirius percebendo que eu notara isso, me encarou com aquela cara insuportável de "Venci de novo!" (aviso que o de novo era muito raro), mas eu fui logo falando:

- Você ganha quando Remo deixar o Snuffles lamber a boca dele. – e ouvi um latido indignado do cachorro de Almadinhas.

- Snuffles, faça isso e te conto onde escondi o seu osso. – Numa fração de segundo, eu visualizei Sirius cavando um buraco no jardim sem assumir sua forma de animago, ri sozinho antes de perceber a nova jogada daquele maroto.

- Não vale chantagem... – e pensei numa solução rapidamente – Se Remo revelar onde passou a noite depois da formatura, a vitória é sua! – Almofadinhas pareceu considerar a proposta chamativa.

- Certo, mas chega de termos. - E foi logo apressando mais uma caneca de bebida na mão de Aluado, que bebeu sem hesitar.

Uma ondinha fria atravessou meu estômago antes de... Remo era mesmo um gênio! Mesmo bêbado. Conjurei um enorme palito de churrasco e fui logo apanhando a primeira garrafa de bebida que vi na frente, com letras grandes e decorativas: absinto. Despejei o máximo que pude numa caneca e enfiei o palito até o fundo, proferindo - "Congela" – e vi a bebida texturizar-se até ficar semelhante a um enorme picolé.

Sorrindo com o sucesso da minha idéia maravilhosa, eu me aproximei do professor mais sábio que conheci:

- Professor Dumbledore! – exclamei sorridente - Fico feliz que teve tempo para vir.

- Felicidades, Tiago... – falou no tom calmo costumeiro – E não há necessidades de formalidades, sou apenas Alvo.

- Acho que chamá-lo de professor se tornou um hábito – comentei enquanto via-o desejar curiosamente o sorvete na minha mão – Oh, desculpe a falta de educação. Aceita um picolé?

- Seria tolice eu suponho – respondeu desanimado - Estou um pouco resfriado.

- Ora, nada que uma poção não conserte mais tarde. – e balancei o absinto congelado para ele – Eu até deixo você ficar com esse inteiro, não sou muito fã de sorvete de limão.

Seu rosto velho abriu um largo sorriso antes de apanhar o picolé das minhas mãos:

- Obrigado, é muita gentileza – e foi logo saboreando o suposto sorvete – Não parece muito com limão. – falou ele numa expressão confusa.

- Deve ser a gripe... – acrescentei rapidamente – O que achou?

- Delicioso! – abri um sorriso amarelado e me afastei para perto da adega novamente.

- Espere só, o congelador está cheio deles.

Uma hora depois, não havia um só bruxo são naquela sala, exceto Siriu e eu. Slughorn roncava deitado numa posição cômica na poltrona abraçado à uma garrafa de pinga; Arthur desmontava um relógio trouxa sem ponteiros de Ted; este parecia vislumbrado com o que via agora nos quadros da sala de estar; Remo estava milagrosamente acordado ainda, sentado no chão e deixando Snuffles lamber não só sua boca, mas todo o seu rosto enquanto o restante dos convidados (inclusive Dumbledore) entoavam uma canção com direito a coreografia de canecas e taças enfeitiçadas no ar:

Tomorrow will take us away

Far from home

No one will ever know our names

But the bards' songs will remain

Tomorrow will take it away

The fear of today

It will be gone

Due to our magic songs

Como sendo os únicos sóbrios da festa, Almadinhas e eu conversávamos num canto, obersanvo abismados aquela cena surpreendente.

- Longa noite huh?... – começou Sirius indiferente – Dou-lhe os créditos, Dumbledore imitando Elvis Presley, seja lá quem for, foi realmente o ápice da noite.

- Obrigado, - nossa aposta fora radicalmente ganha por ambas as partes, ao mesmo tempo - Remo revelando finalmente a sua ausência na entrega dos diplomas também foi espantoso.

- Só não sei como ele conseguiu manter isso em segredo tanto tempo, - riu-se ele, levando a garrafa de cerveja aos lábios e dando uma rápida golada – Quero dizer... A Skeeter não é muito discreta quando se trata da vida pessoal dos outros.

- Creio que a dela inclusa no pacote pode ter mudado isso... – e ri – Aposto que não ia gostar que soubessem que ela era perdeu a virgindade com um lobisomem no banheiro dos monitores né?

- Oh sim... O banheiro dos monitores – falou com se o anunciasse – Um bom lugar para dar amassos...

- Eu que o diga - nossos olhares se cruzaram para recordar lembranças memoráveis dos tempos de Hogwarts.

"Bons tempos..." pensei visualizando os cabelos ruivos dispersos no meu travesseiro pouco antes da manhã de Natal do sétimo ano. Minha primeira noite com Lílian fora inesquecível, mesmo que repleta de confusões. Tive grande dificuldade em convencer todos os marotos a deixar o dormitório livre, mas valeu a pena. Pela Lílian, tudo valia a pena. Um estampido me censurou (nos dois sentidos) e uma figura aparatou bem no meio da sala, assustando todos os convidados que caíram no chão ou escoraram nas paredes se afastando. A pessoa estava envolva em uma capa preta que cobria todo seu rosto e corpo e ficou imóvel até que Sirius gritou em plenos pulmões:

- SURPRESA! – Apontou a varinha para um objeto grande na estante e uma música começou a tocar.

A capa deslizou para o chão, e agora havia uma mulher seminua rebolando no meio da sala de estar. Tinha cabelos negros e lisos que desciam pouco abaixo dos ombros, a pele pálida e os olhos castanhos. Usava um sutiã preto com detalhes vermelhos e uma calcinha combinando com véus pendurados na cintura, luvas pretas a longas e botas de couro preto até o joelho (não que eu estivesse reparando).

You burden me with your questions

You'd have me tell no lies

You're always asking what it's all about

But don't listen to my replies

Parecia que o Natal tinha chegado mais cedo para Almofadinhas, pois o sorriso dele era exageradamente grande, como se tivesse dormido com um cabide na boca ou algo do tipo. Mas eu sim sabia o que aquilo significava: encrenca! Eu nunca escapei ileso daquele detector de mentiras ruivo e com certeza, hoje não seria diferente. Encarei Sirius irritado, ouvira falar dessa tradição dos trouxas em ter uma dançarina exótica na despedida, mas nunca imaginei que fossem copiar aquilo.

- Sirius! – chamei tentando sobressaltar-me na melodia – Você ficou louco? Uma stripper?

You say to me I don't talk enough

But when I do I'm a fool

These times I've spent, I've realized

I'm going to shoot through

And leave you

A mulher continuava dançando enquanto enrolava um dos véus que acabara de tirar da cintura no pescoço de Aluado. Este tinha expressão de intensa felicidade no rosto, assim como o restante dos convidados que continuavam apreciando o show, e Slughorn parecia mais acordado do que nunca. Ele meramente se intimidou e esboçou um olhar confuso e

- Estranho... – Sirius falou com uma expressão confusa – Eu acho que conheço essa garota.

- Claro que conhece, você a contratou! – ralhei indignado.

- Não, foi por uma agência, mas... - a mulher vinha na minha direção neste momento e eu não tinha um bom pressentimento sobre isso.

"A Lílian vai me trucidar" pensei quando ela começou a me puxar pela gola até o meio da sala.

- Ei, eu... Er... É melhor... - Balbuciei aquelas palavras sem nexo enquanto via-a tirar mais um véu enrolando em meu pulso.

The things, you say

Your purple prose just gives you away

The things, you say

You're unbelievable

Um pingente dançava com ela, preso de alguma forma ao seu umbigo. Muito atraente, pensei tentando me lembrar o nome daquele acessório trouxa e notei que ela sorria ao perceber que eu a admirava. Desviei o olhar, "Se a Lílian descobre, estou frito...!" Tive uma levíssima impressão de que conhecia aquele rosto de algum lugar, e minhas suspeitas foram confirmadas quando Sirius berrou:

- BELLATRIX! – Todos o encararam nesse momento, e a mulher parou de dançar sorrindo de maneira zombeteira.

A prima do Sirius tinha um piercing no umbigo? Como eu nunca percebi isso antes? Se bem que andar com o umbigo exposto não era bem uma tradição das irmãs Black. Muito menos dançar seminuas em despedidas de solteiro. Aquela era uma família culta, correta, puro sangue. Em outras palavras: esnobes. Mas pensando melhor, Bellatrix sempre fora um tanto rebelde, assim como Sirius e aquele piercing com certeza era um ato em favor disso. "Bem que a Lílian podia por um também" meu raciocínio inapropriado for cortado quando a mulher falou.

- Que foi, priminho? Algo errado? – sarcasmo. Era muito comum entre os Black.

- Mas que diabos pensa que está fazendo sua louca? – perguntou ele entre dentes agarrando o braço dela fortemente.

- Trabalhando. – ela respondeu simples, e lançou mais um olhar divertido ao primo. – Conhece a palavra?

- O que? – ele retrucou adquirindo uma coloração avermelhada - Você é inacreditável!

- Nem vem, foi você que escolheu essa música idiota – devolveu ela em teor debochado.

- Pare de gracinhas, Trixie! – e apertou ainda mais o braço enluvado dela.

- Ai, me larga seu psicótico! – ela se libertou do puxão que ele dava em seu braço. – E não me chame assim, você sabe que odeio esse apelido!

- Ah Trixie. – ele frisou a palavra - Quando seu pai ficar sabendo disso...

- E quem vai contar? – interrompeu-o novamente – Você? – e sem esperar resposta, ela começou a gargalhar gostosamente.

- É claro que vou! – ele agarrou o braço dela de novo e foi puxando para fora da sala enquanto ela se debatia inutilmente, pois Sirius irritado era duas vezes mais forte que o normal. – Agora mesmo!

- Me larga ou eu te mato! – ela berrava enquanto ouvíamos subindo as escadas – Para com isso! – os gritos foram abafados pela porta do quarto em que Sirius a trancara.

Com certeza usaria a lareira do quarto para levá-la de volta à mansão dos Black, mas ninguém ousou interferir em nada, nem na discussão, e muito menos nas ameaças dos primos. É fato comprovado de que "Em briga de Black, ninguém mete a varinha". Eles discutem quase todas as vezes que se vêem e são capazes de lançar azarações proibidas em quem tentar intrometer. Por ser uma família unida pelo sangue, eles não suportam esse laço. Um complexo, estranho demais para pensar a respeito.

Como todos ali estavam acostumados (e cansados) de ver aquela cena, principalmente daquele casal, já sabiam que não tardaria até os dois esquecerem aquela briga e arrumar outra. Na verdade, eu desconfiava que toda aquela encenação escondia uma certa... Paixão recolhida. Porque era quase impossível contar o tanto de vezes que eu peguei os dois se agarrando pelos cantos da escola quando ainda estudávamos em Hogwarts. Sirius sempre dizia que ela o tirava do sério, mas como eu presumo que ele nunca foi sério mesmo, ser deixado daquele jeito era algo que ele apreciava.

Alguns olhares confusos pousaram em antes que pudesse retomar a fala:

- Nem Merlin pode impedir os Black de brigar – alguns riram do comentário, outros me lançaram olhares confusos.

Eu apenas sorri para ambas as expressões tomando uma nota mental do que pediria a Lílian no nosso primeiro aniversário de casamento: um piercing á claro! Mal sabia que demoraria um pouco mais do que eu esperava para ela poder usar um pingente preso ao umbigo...