AUTOR: MISS EYRE

SINOPSE: Esta fic trata de uma encarnação anterior a dos nossos exploradores. Acredito que certas pessoas não aparecem em nossas vidas por acaso, que não as conhecemos naquele exato momento, mas sim que aquilo pode ser um reencontro, algo em vidas passadas ficou pendente ou somos muito apegados para nos separarmos, por isso nascemos na mesma família ou nos encontramos (ou reencontramos) pelos caminhos de nossas vidas. Aqui eu procurei mostrar como poderia ter sido uma vida anterior dos aventureiros que se conheceram por possuírem paixões, medos e/ou desejos em comum. Mas por que Marguerite? Por que Roxton, Challenger, Verônica ou Malone? Por que não outros? Eu tento mostrar uma ligação entre cada um deles, e explicar o porquê desse reencontro, um reencontro que resultou num maravilhoso grupo de pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão dependentes uns dos outros. Espero que vocês gostem, boa leitura!

PS1: Não é minha intenção pregar algum tipo de doutrina ou religião, é que como escritora, tento expor minhas idéias da melhor maneira possível e para isso tenho, às vezes, que mexer em assuntos delicados, para melhorar a qualidade da minha estória.

PS2: Procurei manter os nomes de nossos personagens, por que, afinal, eles continuam sendo os mesmos. E essa não é uma fic exclusivamente de Marguerite e Roxton, ou Malone e Verônica, falo de todos, um capítulo pode falar mais de um personagem, em outro fala de outro.... e assim por diante.

JE

"ENCARNAÇÃO"

Capítulo 1

O PRIMEIRO REENCONTRO

LONDRES – segunda metade do século XVIII

Seu vestido carmim era esplêndido. A cor era forte para uma moça de apenas 16 anos, mas Marguerite Krux fez questão de vestir aquele vestido que combinava com sua personalidade também forte, que não permitia que ninguém a fizesse mudar de idéia em relação a nada, nem mesmo Flora, a ama baixinha e rechonchuda que cuidou de Marguerite desde a morte de sua mãe, conseguia persuadi-la.

O nascimento da jovem Krux fora o acontecimento daquele ano. Seus pais tentavam ter um bebê há muitos anos mas tinham certa dificuldade, depois de muito tentar, finalmente conseguiram, e Anne deu à luz a um lindo bebê de olhos verdes.

A criança crescia rápido e era extremamente inteligente além de bela. Quando a jovem Marguerite tinha apenas 6 anos sua mãe morreu de uma grave moléstia, o pai, Benjamin Krux, ficou inconsolável, se não fosse pelo seu grande amigo de infância, Armand Temple, que estivera o tempo todo ao seu lado, dando-lhe força e dizendo-lhe que ainda lhe restava uma linda garotinha que necessitava de sua atenção e amor, ele teria sucumbido.

Armand fora uma pessoa maravilhosa nesta fase difícil da vida daquela pequena família, Benjamin não sabia como retribuir toda aquela preocupação e atenção que Armand deu a ele e à sua filhinha. Não adiantava oferecer-lhe uma recompensa em dinheiro, pois Armand era tão ou mais rico que Benjamin e nem todo o dinheiro do mundo poderia pagar tamanha prova de amizade.

"Papai..." a vozinha da pequena Marguerite tirou o pai de seus pensamentos.

"Olá querida, venha cá"

Marguerite correu para os braços do pai que a colocou em seu colo. Ele estava sentado na enorme poltrona da biblioteca, seu lugar preferido daquela imensa casa. Olhando para a filha, percebeu que ela era seu maior tesouro, e que quando morresse gostaria que este tesouro ficasse em boas mãos. Foi então que teve a grande idéia: nada seria mais justo do que dar seu maior tesouro a quem o merece, ou seja, para Armand, seu melhor amigo, que sempre o ajudou em tudo e estivera com ele em todos os momentos, bons e ruins, de sua vida. Pronto! Estava decidido, Marguerite se casaria com seu amigo Armand.

"Querida, papai já sabe quem será seu marido." Disse Benjamin para a filha em seu colo.

"Marido, papai?!" indagou Marguerite confusa.

"Sim, como eu era de sua mãe" explicou.

"Eu sei o que é um marido" riu Marguerite divertida com a inocência do pai. "Mas eu só tenho 7 anos e eu ainda não posso me casar."

"Não mesmo" riu Benjamin "Mas não será agora, mas sim daqui a alguns anos e sabe quem será o felizardo a se casar com minha princesa?"

"Quem?" Marguerite não estava muito animada com a idéia, ela não sabia exatamente o que era ser casada com alguém, mas sabia que teria que morar com esse "alguém" e morar com outra pessoa que não fosse seu pai e nem sua querida ama, não a agradava nem um pouco.

"Armand!" anunciou o pai.

"O tio Armand??!" Marguerite ficou surpresa.

"Sim. E de agora em diante você não pode mais chamá-lo de tio, tudo bem?"

A menina concordou, afinal, tudo que seu pai fazia ou dizia, para Marguerite, era lei e no dia seguinte Benjamin anunciou sua decisão a Armand. O homem, que era 25 anos mais velho que a menina, ficou surpreso com a idéia do amigo, mas não queria fazer desfeita e aceitou torcendo para que Benjamin algum dia percebesse que tudo aquilo era um erro, com tamanha diferença de idade, esse casamento não daria certo e além disso, Armand via Marguerite como sua própria filha.

Infelizmente Benjamin não mudou de idéia e Marguerite desde pequena estava acostumada com a idéia de ser a noiva de Armand Temple, e nunca se opôs à vontade do pai.

Na festa de seu aniversário de 16 anos, na qual usava seu lindo vestido carmim, que aconteceu uma semana antes de seu casamento, algo que Marguerite não esperava aconteceu....

Ela descia a escadaria forrada de vermelho sangue, que dava para o imenso salão de festas, que ficava no andar térreo de sua mansão, e viu uma centena de par de olhos voltar-se em sua direção, cada um mais admirado que o outro com tanta beleza numa só criatura. Seu corpo esguio, seus lindos cachos que iam quase até sua cintura, caídos pelas suas costas, presos por uma presilha com pequenos rubis, sua pele clara e seus lindos olhos verdes, encantavam qualquer pessoa, e não foi diferente com aquelas pessoas que a vieram prestigiar em seu aniversário.

Antes de descer os últimos degraus da escadaria, Marguerite avistou seu pai, que desviando da multidão boquiaberta, ficou ao pé da escada esperando seu "tesouro". Marguerite deu a mão ao pai, que a acompanhou até o meio do salão e pediu que os músicos parassem de tocar por alguns instantes.

"Peço um minuto da atenção de vocês, quero dizer umas palavras e prometo ser breve" disse Benjamin com voz forte e alta, para que todos do salão o ouvissem.

Todos fizeram silêncio para que seu anfitrião falasse e ele continuou quando percebeu que todo mundo prestava atenção nele.

"Bem..." começou ele sem baixar o tom de voz. "Primeiramente eu gostaria de agradecer a todos vocês por terem vindo até aqui para prestigiar minha filha, ela e eu estamos felizes e encantados com a presença de vocês. E eu queria também dizer outra coisinha...." ele ficou nas pontas dos pés, parecia procurar algo ou alguém no meio da multidão, segundos depois, avistou quem queria:

"Armand! Venha até aqui, meu amigo!" chamou Benjamin.

As pessoas foram abrindo caminho para que Armand se aproximasse do casal que estava no meio do salão. Quando finalmente Armand chegou e cumprimentou Benjamin com aperto de mão e Marguerite com um delicado beijo no rosto, Benjamin continuou:

"Eu quero lembrar aqui, a todos vocês, que na próxima semana, minha filha e meu amigo aqui" disse ele dando tapinhas nas costas de Armand "Irão se casar, eu sei que vocês já sabem, pois mandei convite para todos, mas espero que não se esqueçam" disse rindo, ele e todos do salão, pois era impossível esquecer do casamento da herdeira Krux e do milionário Temple, seria o acontecimento da década, não por causa da incrível diferença de idade entre os dois, ela com 16 e ele com 41, pois naquela época era normal o casamento de homens bem mais velhos com meninas jovens, mas sim pelo motivo de as duas famílias mais tradicionais de Londres finalmente estarem se unindo formalmente.

Dizendo isso, ele pediu para que os músicos continuassem a tocar e a multidão se dispersou, uns foram dançar, outros se sentaram em suas cadeiras e ficaram admirando e reparando nos outros convidados, e outros ainda foram passear no lindo jardim da mansão Krux.

Marguerite, o pai e Armand, foram sentar-se na mesa reservada para eles. Armand puxou a cadeira para Marguerite e depois se sentou em sua frente enquanto Benjamin sentava na cabeceira da mesa. Os dois amigos começaram a conversar sobre política, o que interessava Marguerite, mas não na noite de sua festa de aniversário, então preferiu correr os olhos pelos convidados sem muito interesse, pois já estava cansada de ver a cara da maioria deles. Foi com muita surpresa que avistou do ouro lado do salão um rapaz que ela nunca havia visto, ele usava terno, como todos os outros convidados masculinos, mas nele o terno ficava ainda mais bonito, tinha um caimento que encantou Marguerite.

Ele olhava também para as outras pessoas da festa, sem muito interesse, ele parecia entediado. Marguerite ficou olhando para aquele belo rapaz, alto, de pele bronzeada, ombros largos, e uma elegância fora do comum, ela estava curiosa para saber mais sobre aquele rapaz que a cativou logo de cara.

"Papai..." sussurrou ela, para que Armand não percebesse, não que ele tivesse ciúmes, mas ela o respeitava muito, então na primeira pausa da conversa dos dois, ela aproveitou para questionar o pai. "Quem é aquele rapaz ali?" ela indicou o rapaz com um movimento discreto de cabeça.

"Qual?" procurou Benjamin na direção indicada pela filha.

"Aquele ali, encostado na parede"

"Ah!" parecia que Benjamin finalmente havia visto quem Marguerite indicava "Aquele com cara de rabugento?" perguntou.

"Sim" respondeu Marguerite não gostando muito do adjetivo que o pai usou.

"Não sei minha filha, deve ser parente de algum convidado ou então entrou sem ser convidado"

"Ele não tem jeito de penetra, papai"

"Ele é filho do Lord Roxton" respondeu Armand, deixando os dois surpresos, pois não esperavam que ele estivesse ouvindo a conversa. Marguerite ficou vermelha de vergonha quando Armand a olhou duramente. Ela baixou os olhos. "Por que o interesse, Margie?"

"Por nada, é que ele me parece entediado e eu não gosto de ver meus convidados assim."

"É só isso?" perguntou Armand desconfiado.

"Claro!" respondeu Marguerite cada vez mais reprimida com a atitude de Armand.

"Pode convidá-lo para dançar se quiser, querida." Disse Benjamin, que recebeu um olhar fuzilante do amigo.

Marguerite ergueu o olhar para Armand, que a encarava fortemente, percebendo que aquilo não agradava nem um pouco seu noivo, ela resolveu seguir o conselho do pai, ela tinha que mostrar desde já a Armand, que mesmo ele sendo seu noivo, e logo seu marido, ele não seria seu dono e independente da vontade dele, ela faria sempre o que ela acreditasse ser o certo.

"Já volto" anunciou Marguerite saindo da mesa.

"Que negócio é esse Benjamin?" perguntou Armand furioso, quando Marguerite não podia mais ouvi-lo.

"O que? Permitir que minha filha dance com seus convidados? Qual o problema?"

"Ela é minha noiva, e devia ter me pedido permissão" Armand estava furioso.

"Antes de ela ser sua noiva, ela é minha filha, e antes de vocês se casarem, ela deverá pedir permissão a mim, entendido?" Benjamin estava perdendo a paciência com o amigo

"Tudo bem." Respondeu Armand resignado. "Você tem razão, meu amigo, mas é que ela é tão jovem e bela, que eu me sinto em desvantagem" desabafou

"Não seja bobo" riu Benjamin. "Ela será sua e você apesar da idade, não está nada mal" os dois riram.

Antes de Marguerite chegar perto do Roxton, ele já havia percebido que ela o olhava de longe e que estava indo falar com ele, mas preferiu ignorar, apesar de ter apenas 19 anos, Roxton já era expert em mulheres e percebeu que aquela em especial seria difícil de cair em sua lábia.

"Olá" cumprimentou Marguerite.

"Meu Deus, que voz linda e que sorriso...." pensou Roxton, mas não disse nada, apenas sorriu e beijou a mão que a moça lhe ofereceu.

"Eu sou Marguerite Krux, a dona da festa e você, quem é?".

"John Roxton" respondeu simplesmente.

Marguerite vendo que o rapaz era de poucas palavras, talvez fosse tímido, tentou ser o mais simpática possível, pois ele era encantador e não fazia aquela cara de bobo que todos os homens faziam quando ela chegava perto deles, isso a deixou mais à vontade e mais segura e além disso ele era ainda mais bonito de perto, tinha olhos verdes, rosto maduro e suas mãos eram lindas e másculas.

"Eu sei que não é comum uma dama pedir isso a um cavalheiro, mas você quer dançar?" perguntou sorrindo.

"Não." Foi a resposta seca e rápida dele. Marguerite ficou sem graça mas não desistiu, ela não era de desistir fácil.

"Por quê?" perguntou.

"Porque não sei dançar, e não quero machucar seus pés" disse ele sério.

"Tudo bem, eu só vim ver porque que você estava não isolado, parecia não se divertir e eu não gosto de ver meus convidados assim" disse ela totalmente sem graça e irritada consigo mesma por ter perdido seu tempo indo falar com um grosseiro.

"Obrigada, mas estou me divertindo, ou estava, antes de você vir me tirar de meus pensamentos" disse ele bebendo um pouco do que havia no copo que segurava.

"Mil perdões, eu não queria incomodar" disse Marguerite fazendo uma reverência, tentando ser sarcástica mas fazendo um esforço imenso para não dar um tapa na cara daquele grosso. E voltou para sua mesa, a festa para ela havia ficado insuportavelmente chata.

Na mesa, seu pai e seu noivo conversavam tão animados, que nem perceberam seu retorno, foi melhor assim, pois não fariam perguntas sobre sua cara fechada.

Quando finalmente Marguerite estava mais calma e debatia o futuro do país com seu pai e Armand, Benjamin perguntou:

"Ei Margie, aquele não é o rapaz entediado?" perguntou rindo e apontando para um casal que no meio de uma grande roda dançava perfeitamente bem.

"Ele dança bem, os outros até pararam para vê-lo dançar com sua parceira" observou Armand.

Marguerite ficou furiosíssima, ele havia mentido porque não queria dançar com ela, isso era uma tremenda falta de educação. "Imbecil... imagina se soubesse dançar!" pensou Marguerite olhando o casal. De repente levantou-se de sua cadeira e foi em direção ao casal. Atravessou o salão e tocou no ombro da parceira de Roxton:

"Você pode dar a honra à anfitriã de dançar com o cavalheiro?" a moça surpresa com a interrupção feita pela dona da festa, largou seu parceiro e se perdeu no meio da multidão.

Marguerite colocou uma das mãos no ombro de Roxton e com a outra segurou a grande mão do rapaz, ele não parecia estar surpreso, pelo contrário, parecia que só estava esperando por aquele momento, ele segurou com firmeza a cintura fina da moça e começaram a dançar.

Os convidados, agora mais do que antes, olhavam admirados o casal que se exibia no meio da roda, agora maior, formada pelos convidados estupefatos. Eles dançavam no calor da melodia tocada pelos melhores músicos de Londres, parecia que ninguém os observava, um olhava bem dentro dos olhos do outro e durante aquela dança, para os dois, só quem existia no mundo era ambos, e eles nem ligavam para o que as pessoas pudessem estar pensando de tudo aquilo, e nem ligariam se a música ou o mundo acabasse naquele instante contanto que eles continuassem a dançar e dançar, cada vez mais freneticamente....

Mas a música acabou e embora os dois nem tivessem percebido, os aplausos das pessoas ao redor, fez eles saírem daquele transe que ambos haviam entrado juntos, como se estivessem sob o poder de algum encanto.

Marguerite ficou meio sem graça quando percebeu que todos olhavam admirados para ela e para seu companheiro de dança, mas ficou nervosa ao perceber que Armand a olhava não com admiração, mas com raiva, olhava para ela como se o tivesse traído, como se tivesse pecando, como se fosse uma moça suja, ele a olhava com nojo. Marguerite ficou revoltada..."Quem ele pensa que é? Meu dono?" até mesmo seu pai, que estava ao lado de Armand, ria e aplaudia sua performance. Já era a segunda ceninha que Armand fazia naquela noite, se ele agia assim antes de se casarem, imagina como ficaria depois do casamento? Marguerite que não era nenhuma santa e adorava provocar quem a provocava, pegou a mão de Roxton e disse:

"Vamos até o jardim? Eu estou com um pouco de falta de ar"

"Claro!" respondeu ele sendo levado pela mão por aquela moça encantadora.

CONTINUA....

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