AUTOR: MISS EYRE

"ENCARNAÇÃO"

Agradecimentos: Kakau, Jessy, Cris, Claudia e Nirce, muito obrigada pelas reviews.

Capítulo 2

"LIVRE ARBÍTRIO"

No começo, quando Roxton percebeu que Marguerite o estava olhando e que parecia estar interessada nele, ele adorou a idéia de se divertir um pouco com aquela bela menina, que deveria ser chatinha e mimada, mas depois da atitude de Marguerite, pareceu que ela ganhou um novo fã, e talvez o maior de sua vida. Agora para Roxton era uma honra ficar perto de uma moça de feições tão doce e personalidade tão forte, o desafio seria maior e conseqüentemente melhor, agora que ele sabia um pouco do que a jovem Marguerite era capaz.

Eles atravessaram a multidão e foram para o jardim, que era separado da casa por uma varanda. Marguerite levou Roxton para um lugar bem escondido, no meio de árvores gigantes, onde seria difícil serem vistos. Não era a intenção de Marguerite fazer qualquer coisa considerada errada pelas pessoas da sociedade, ela só queria ficar um pouco em paz e também conhecer melhor aquele rapaz misterioso, e aquele lugar era perfeito.

"Pronto! Chegamos" disse Marguerite sentando-se num banco de pedras que ficava debaixo de uma árvore.

"Chegamos onde?" perguntou Roxton olhando em volta.

"No jardim. É um lugar lindo, não é?"

"Maravilhoso!" disse Roxton não se referindo ao jardim, mas sim a Marguerite. Ele sentou-se ao lado dela e perguntou: "Por que você fez aquilo?"

"Aquilo o quê?" perguntou fingindo não saber do que ele falava.

"Chegar daquela forma e praticamente me obrigar a dançar com você."

"Me deu vontade" respondeu Marguerite com um leve erguer de ombros.

"Te deu vontade!? Simplesmente isso??" Roxton ficou surpreso com a audácia daquela jovem.

"Simplesmente isso. Por quê? Você não gostou? Não foi o que pareceu quando estávamos rodando na pista ao som da música." Provocou Marguerite.

"Não vou mentir, você me surpreendeu, mas eu meio que já esperava por uma atitude assim vinda de você"

"Como? Você nem me conhece, como poderia estar esperando algo assim?"

"Sei lá... intuição, eu acho." Respondeu Roxton rindo.

"Intuição..." repetiu Marguerite não acreditando muito naquela explicação. De repente Marguerite baixou os olhos e parecia lembrar de algo triste.

"Que houve? Alguma coisa que eu disse?" perguntou Roxton

"Não, é que me lembrei de uma coisa."

"Quer falar sobre isso? Pode não parecer, mas eu sou um bom ouvinte, e tudo que você me disser, ficará guardado a sete chaves"

Marguerite riu com o jeito que ele falou, por um momento parecia uma criança, assim como ela se sentia às vezes, uma criança que só sabia obedecer às ordens dos mais velhos.

"É que eu vou me casar semana que vem, você já deve saber, todo mundo sabe e meu pai reforçou hoje no começo da festa"

"Cheguei atrasado e não sabia" ele parecia um pouco decepcionado. "E eu estava na França, minha mãe é de lá."

"Então vou contar..." começou Marguerite puxando ele pela mão para que se sentasse ao seu lado no banco. "Meu casamento, como eu disse, será na semana que vem, vou me casar com o senhor Temple, um amigo de infância de meu pai, ele é bem mais velho que eu, mas não é isso que me perturba"

"O que é?" perguntou curioso e com um pouco de pena da garota que apesar de forte, tinha suas fraquezas.

"É que... eu acho que falta algo, eu gosto dele e sei que ele gosta muito de mim também, mas não sei... parece que falta.... não sei como definir, mas sei que nosso casamento não será completo sem isso" terminou Marguerite.

"Então por que vai se casar?"

"Meu pai quer assim" Marguerite estava à beira das lágrimas, mas era muito orgulhosa para chorar.

"Você não tem que fazer as vontades de seu pai ou desse senhor Temple, você tem que fazer o que você quiser, e se você não quer casar, não se case!" disse Roxton revoltado com a atitude de submissão da garota, talvez ela não fosse tudo aquilo que ele pensou que era no começo.

"Era o que eu queria fazer, mas agora é tarde, tudo já está arrumado para a festa, toda Londres espera por isso e eu não vou decepcionar meu pai, ele é tudo que eu tenho na vida" desabafou.

"Entendo" disse Roxton resignado. "E eu sei o que falta entre vocês"

"O que?" perguntou ansiosa

"É tão óbvio.... você não o ama, nem ao menos está apaixonada"

"É isso? Mas como eu vou saber se estou ou não apaixonada?"

"Quando você sentir suas pernas tremerem, suas mãos suarem, seu coração acelerar e um friozinho no estômago, quando você olhar para a pessoa e desejar beijá-la até o fim dos tempos, desejar que o mundo pare e que só você e ele existam..."

Roxton dizia isso olhando bem dentro dos olhos de Marguerite, que parecia hipnotizada pelo seu olhar, eles não perceberam, mas um imã que parecia ter entre ambos, fez com que seus lábios se aproximassem e se tocassem levemente. Roxton roçava sua boca máscula na boca delicada de Marguerite, deixando-a desejar cada vez mais uma coisa que nem ela mesma sabia definir. De repente ele enfiou os longos dedos entre os cachos dela e forçou seus lábios contra os dele até que se abrissem e se entregassem totalmente ao seu beijo. Ela sentia a língua dele dentro de sua boca e uma sensação maravilhosa tomou conta de seu corpo, enquanto sua língua explorava a doce boca daquela garota, seus dedos acariciavam sua nuca.

Depois de alguns minutos seus lábios finalmente se separaram. Marguerite abriu os olhos lentamente e olhou para Roxton, que estava agora, mais bonito do que antes.

"Eu nunca havia beijado ninguém e sempre achei que aconteceria no dia do meu casamento e com meu marido" disse Marguerite num sussurro.

"Me sinto lisonjeado de ter sido o primeiro, assim você nunca irá se esquecer de mim" riu Roxton totalmente arrependido de ter achado que havia se enganado com a moça, ela era bem mais do que ele imaginava, apesar de já ter beijado várias garotas, nunca havia sentido algo assim.

"Mesmo se o beijo não tivesse acontecido, eu não iria me esquecer de você. Você acha que é todo dia que uma garota se apaixona?" disse divertida e ao mesmo tempo séria.

"Você está apaixonada?" perguntou surpreso

"Estar apaixonada é sentir tudo aquilo que você disse há pouco?" ele abalançou a cabeça afirmando. "Então eu estou, quero te beijar pelo resto da minha vida e quero que todas as outras pessoas morram!"

"Mas você vai se casar" lembrou ele.

"Eu sei" respondeu voltando à realidade. Ela se levantou do banco, e começou a caminhar pelo jardim. "Vamos voltar para a festa" disse.

"Já? Mas..." começou ele levantando-se.

"Eu tenho que ir, foi bom mas é um erro, não tem sentido, mal nos conhecemos e eu vou me casar daqui a dias, vamos voltar para lá e esquecer do que aconteceu" disse ela dando-lhe as costas. Mas Roxton a segurou pelo braço fazendo-a olhar para ele.

"Você quer mesmo esquecer?" perguntou firmemente.

"Sim!" a resposta foi curta e seca.

"Mas e esse papo de estar apaixonada?" ele estava confuso.

"Acho que foi coisa do momento, seu beijo é bom, apesar de não conhecer nenhum outro, eu sei que é, e agora acabou e temos que voltar a nossa realidade" ela foi firme.

"Você é como as outras... submissa, fácil de se manipular e conformada com o que os outros impõem a você, você é fraca como toda mulher, achei que tinha encontrado uma moça diferente mas me enganei, você é capaz até de abrir mão da sua felicidade para fazer a vontade de seu pai e para não ficar suja na sociedade, você é fútil como as outras e se preocupa com o que os outros pensam." Roxton estava revoltado com a atitude infantil de Marguerite.

"Você não tem o direito de falar assim comigo!" gritou Marguerite.

"Vou embora, nada aqui me interessa mais." Roxton deu as costas para Marguerite e saiu do jardim em sentido ao portão de saída da casa.

"Você não entende nada! Só saberá o que sinto quando tiver uma família e amá-la mais do que qualquer outra coisa!" gritou ela antes que ele sumisse totalmente, mas não tinha certeza se ele ouvira ou não.

Marguerite ainda ficou um tempo ali, sentada e pensando em tudo que, aquele rapaz que a tocou profundamente, disse. Ele tinha razão, ela tentava passar uma imagem forte e determinada, mas no fundo ela era praticamente o brinquedinho de seu pai e além disso, dava importância ao que as pessoas pensariam dela. Mas daquele momento em diante, Marguerite prometeu para si mesma que mudaria, que não seria mais a boboca fácil de ser manipulada, o que adiantava mandar nas suas roupas mas não mandar em seu próprio destino? Amava o pai, como havia dito, acima de tudo e de todos, mas estava decidida, mudaria e quando se encontrasse com Roxton de novo, mostraria para ele que ela não era tudo aquilo que ele disse.

A festa acabou. Marguerite se despediu de Armand, deu um beijo no pai e foi para seu quarto que ficava no segundo andar da mansão, na ala leste, num corredor largo e comprido. O quarto era dividido em três cômodos, o primeiro era uma pequena sala com duas poltronas, uma mesinha de centro, um lindo tapete persa, uma ampla janela, algumas molduras com desenhos simples e duas portas, uma de frente para a outra, a primeira, que ficava do lado esquerdo de quem entrava no aposento, dava para o dormitório que possuía uma enorme cama coberta por uma colcha azul marinho, numa das paredes tinha encostado um armário com varias portas e do lado oposto, uma janela idêntica a do cômodo anterior. A outra porta, dava para o banheiro com uma banheira de porcelana e toalhas brancas.

Marguerite, com a ajuda de Flora, sua ama e melhor amiga, despiu-se, escovou os cabelos e deitou-se na cama, fez tudo isso em silencio, Flora estranhou mas conhecia muito bem aquela menina tão amada por ela e sabia que era melhor não perguntar nada, pois se tivesse acontecido alguma coisa, e ela sabia que tinha acontecido, Marguerite contaria quando quisesse e Flora sabia que ela sempre acabava contando.

Flora nunca errara nada em relação à Marguerite, ela conhecia aquela garota como a ela própria. Ela havia ido para aquela casa logo que os pais de Marguerite se casaram, viu todo o sofrimento deles por não conseguirem ter um bebê e também viu a alegria quando Marguerite nasceu, chorou a morte de Anne e prometeu em seu leito de morte, que cuidaria de sua filha, e cumpriu sua promessa, ela amava Marguerite como se fosse sua própria filha, talvez por nunca ter tido filhos ou família, ninguém sabia o motivo, só sabiam que ela era capaz de tudo para ver sua Marguerite bem.

Dito e feito! No dia seguinte, depois de um solitário café da manhã, pois seu pai havia saído para resolver assuntos da festa de casamento, Marguerite chamou Flora para o escritório de seu pai e contou-lhe tudo que havia acontecido na noite anterior, desde o momento em que viu Roxton até o momento que ele se foi deixando-a sozinha no jardim, contou-lhe também do beijo e do que sentiu quando foi tocada por ele. Flora ouvia tudo calada e só quando Marguerite acabou sua narrativa foi que disse:

"Você o ama"

"Como??? O que deu em você?" Marguerite ficou abismada com o jeito que Flora falou, parecia que ela tinha certeza do que dizia.

"Eu sei, minha querida, eu vi certa vez que você conheceria um rapaz que mudaria sua vida, ele viria do nada e iria depressa, sem dar satisfações, mas ele não mudará as coisas agora, a mudança será feita a longo prazo e só depende de você." Flora as vezes era muito misteriosa e Marguerite sabia que ela tinha, de vez em quando, certas "visões", ela acertara muitas vezes o que iria acontecer na vida das pessoas.

"Então vou me casar com ele?" perguntou Marguerite assustada.

"Não. Você se casará com o senhor Temple." Disse certa.

"Não Flora, eu pensei bem e achei que tudo isso é loucura, eu não o amo." Anunciou Marguerite sua decisão, Flora não parecia nada surpresa com as palavras da garota.

"As coisas não são tão simples assim, minha pequena Marguerite, você se comprometeu, lembra-se? Você acha que é justo faltar-lhe com a palavra as vésperas do matrimônio? E que mulher você é, que toma uma decisão e depois desiste? Você não prometeu a si mesma que iria crescer e mudar? Comece por aí, seja responsável e cumpra seus compromissos." Flora falava calmamente, como sempre, com sua vozinha doce e meiga.

"Mas....não serei feliz casando-me com um homem que eu não amo" Agora Marguerite estava parecendo aquela garotinha que Flora conhecera, que quando aprontava inventava um monte de explicações para suas travessuras. Flora teve vontade de abraçá-la, deitá-la em seu colo, dizer-lhe que a protegeria de tudo e de todos e que ela seria feliz. Mas isso seria um erro, Marguerite precisava crescer.

"Você será feliz, meu bem. Ele é um homem bom e você aprenderá a amá-lo da sua maneira." Flora beijou sua testa e Marguerite parecia mais aliviada, ela acreditava nas palavras daquela boa senhora.

"Acho que você tem razão, Flora." Disse a menina aceitando sua sina.

CONTINUA.....

..........JE..........