AUTOR: MISS EYRE

"ENCARNAÇÃO"

Capítulo 3

"SEU PEDIDO FEITO COM FÉ É UMA ORDEM."

Marguerite estava linda em seu vestido de noiva branco com uma imensa calda e pequenos diamantes na gola e nas pontas das mangas, seu cabelo estava trançado com delicados fios de ouro e uma fina correntinha também de ouro, caía em volta do topo de sua cabeça e vinha até metade da testa, ela estava deslumbrante! Foi o que todos os convidados disseram quando ela entrou na igreja para a cerimônia religiosa que aconteceu um pouco antes da grande festa, onde havia centenas de convidados dos mais ilustres. Marguerite se divertiu muito, apesar da presença constante de Roxton em sua mente, ela tinha esperanças de que ele aparecesse, ela queria vê-lo mais uma vez, só por um instante, mas ele não apareceu.

Armand fora maravilhoso na noite de núpcias dos dois, ele era um homem carinhoso e paciente, Marguerite se sentiu à vontade com ele e percebeu que Flora tinha razão, ele era um bom homem e ela iria amá-lo a sua maneira.

Dois meses depois Marguerite descobriu que esperava seu primeiro filho, Armand torcia para que fosse um menino, era seu sonho ter um filho homem que levasse seu nome e seguisse seus paços. Durante todos os meses de gestação, Flora ficou ao lado de Marguerite cuidando dela e ajudando-a a preparar o enxoval.

"Vamos fazer roupinhas azuis, Flora, pois sei que será um menino, como Armand quer." Dizia Marguerite percebendo que Flora nunca respondia nada em relação ao sexo do bebê. Não queria pensar que não fosse um menino, Flora não podia acertar sempre, e ela tinha certeza que Flora achava que seria uma menina, mas não poderia ser, Armand ficaria muito decepcionado.

Meses depois Marguerite deu a luz a uma menininha frágil e delicada. Armand ficou nervoso e triste ao mesmo tempo, ele queria demais um menino, mas ficou mais calmo quando Benjamin disse que eles poderiam ter mais filhos e todos meninos.

Eles deram o nome de Elisabeth à menina, que crescia pouco apesar de comer bem. Marguerite tinha medo de que uma daquelas doenças contagiosas tomasse conta da cidade e levasse sua filha, que parecia tão frágil. Mas Flora a acalmou dizendo que apesar da aparência frágil, aquela menina era forte como a mãe.

Dois anos após o nascimento de Elisabeth, Marguerite descobriu que esperava seu segundo filho. Ela e Armand ficaram radiantes, desta vez tinha que ser um menino, um varão, como dizia Armand. A gravidez foi calma e desta vez Marguerite fez questão de fazer o enxoval todo azul e nem ligou para as caretas de Flora que dizia:

"Não deseje tanto uma coisa, minha filha, pois ela pode se realizar da pior maneira possível."

Marguerite não sabia o que ela queria dizer com isto e nem queria saber, estava tão feliz com a hipótese de dar um filho homem a seu marido, que as coisas que aconteciam ao seu redor não a atingiam.

Marguerite realmente aprendera a amar Armand, ele era um homem extremamente carinhoso com ela e com a filha, amava-as demais e dava tudo o que ambas precisavam ou queriam, nesse ponto, Elisabeth puxara a Marguerite, já era caprichosa e vaidosa com apenas dois anos de idade, a mãe morria de orgulho e a menina era tudo para os pais e para o avô coruja.

O nascimento de outra menina fora uma tremenda decepção não só para Marguerite, mas também para seu pai e para Armand. Flora que já esperava por isso, consolou Marguerite dizendo-lhe que ela tinha apenas dezoito anos e ainda poderia tentar mais vezes ter um menino. Marguerite estava desolada, perguntava-se por que não podia realizar o desejo de seu marido, sua depressão pós-parto fora intensa e ela nem sequer amamentou a pequena Sophia, nome escolhido pelo avô.

Sophia, diferente de Elisabeth, era uma menina forte e quando tinha apenas dois anos tinha o tamanho da irmã de quatro. As meninas eram lindas, Elisabeth tinha os olhos verdes da mãe e os cabelos acobreados da avó materna; Sophia possuía olhos negros e cabelos castanhos, apesar de ter a pele clara do pai. Elas se adoravam e aonde uma ia a outra ia atrás, não se desgrudavam, brigavam e brincavam juntas e aprontavam com a pobre Flora.

Marguerite brincava com as meninas no jardim frontal da casa onde morava ela, sua família e seu pai, quando uma senhora de mais ou menos uns quarenta anos apareceu no portão e a chamou.

"Posso tomar um pouco de seu tempo, minha senhora?" perguntou para Marguerite.

"Claro! O que deseja?" Marguerite foi simpática com a mulher.

"É que eu estou procurando um emprego e gostaria de saber se vocês não têm um lugar na sua cozinha, eu cozinho muito bem." Disse a mulher ansiosa por ser aceita.

"Na verdade eu não sei, quem cuida disso é Flora, vou pedir para abrir-lhe o portão enquanto a chamo."

"Obrigada." Disse a mulher. Quando Marguerite virou as costas, ela olhou bem para aquelas lindas meninas brincando no jardim e disse para si mesma: "Meninas tão bonitas.... como as que sempre desejei ter, mas nunca pude, maldita seja a mulher que tem aquilo que eu sempre quis." A mulher tinha um ar diabólico ao dizer essas palavras.

O porteiro abriu o portão e logo Marguerite voltou com Flora, que quando viu o rosto pálido daquela visitante, sentiu uma pontada no peito e desmaiou.

"Socorro!" gritava Marguerite apavorada.

O porteiro ajudou Marguerite a carregar Flora para o quarto e esqueceu da mulher e de suas filhas que brincavam no jardim.

Marguerite pediu que o cocheiro fosse buscar o médico da família o mais rápido possível, neste meio tempo Flora recobrou a consciência, mas estava ofegante...

"Essa mu.... essa...." ela não conseguia falar.

"Não se esforce, Flora, o doutor já deve estar vindo, fique quietinha, está bem?" Marguerite a acalmava.

"Mas.... mas...." e Flora mais uma vez perdeu a consciência.

Quando o médico chegou já era tarde, Flora morrera de um ataque cardíaco. Foi muito triste para Marguerite, ela chorava descontroladamente, primeiro havia sido sua mãe e agora Flora... duas perdas terríveis. Depois de mais calma, foi que se lembrou das meninas que estavam até agora no jardim, correu para lá... "Que mãe eu sou que esquece de suas filhas?".

Chegando lá ficou surpresa ao vê-las brincando com a mulher que havia pedido um emprego, elas pareciam gostar dela, então, com a perda de Flora, que a ajudava a tomar conta das pequenas, Marguerite resolveu contratar a mulher não para cozinhar, mas sim para ajudá-la com as meninas. Ela se chamava Jessy Challenger e morava num pequeno povoado perto de Londres, era casada com George Challenger e não tinha filhos e seu maior sonho era ter filhinhas como as de Marguerite, mas como não podia ter, se contentaria em poder cuidar delas. Marguerite ficou encantada com Jessy, ela era muito paciente e carinhosa com as meninas.

Marguerite ficou amiga facilmente de Jessy, não eram só as crianças que gostavam dela, mas os adultos também, ela contou-lhe sobre a vontade que tinha desde a primeira gravidez, de ter um menino e das decepções que ela e Armand tiveram, disse também quão importante era para seu marido ter um filho homem. Neste instante Jessy teve uma grande e diabólica idéia, seu marido ficaria orgulhoso dela.

"Eu conheço um homem, Marguerite, um homem que pode resolver esse seu problema." Disse Jessy.

"Como?" perguntou esperançosa.

"De um jeito bem simples, preste atenção.... meu marido é curandeiro, o que as pessoas geralmente chamam de feiticeiro, ele pode realizar o desejo de qualquer pessoa contanto que o desejo não prejudique ninguém, ele não gosta muito de mexer no futuro das pessoas, mas como a senhora é minha patroa, ele a ajudará sem cobrar nada. A senhora nem irá precisar ir até lá, eu mesma pedirei para que ele prepare uma mistura que a ajudará a ter o que deseja, ou seja, um filho homem!" Marguerite estava boquiaberta.

"É contra as leis de Deus, esse é um ato pagão!" ela estava perplexa.

"A senhora é quem decide, pensei que quisesse mesmo um menino...." disse Jessy.

"E quero!" respondeu Marguerite firmemente.

"E então...?" Jessy queria saber logo se iria conseguir levar seu plano adiante.

"Tudo bem... eu aceito. Mas com uma condição!" Jessy esperou Marguerite continuar:

"Você não dirá nada a ninguém, ouviu? A ninguém! Nem mesmo a seu marido, não diga que é para sua patroa, diga que é para uma amiga."

"Está bem!" Jessy conseguira dar seu primeiro passo.

"Mas que idéia mulher!" gritava Challenger para sua mulher que acabara de contar-lhe o tinha em mente. "Que negócio é esse de feitiçaria? Você sabe perfeitamente que eu não entendo nada dessas coisas!"

"Eu sei, mas você não precisará fazer nada, ou melhor... você vai fazer uma coisa sim, quando ela estiver prestes a dar a luz, você vai arranjar para mim um bebê, um menino."

"O quê??? Pra que e como?" Challenger estava cada vez mais abismado com as idéias da mulher, ela estava ficando doente pela idéia de ter uma filha.

"Não sei como, mas arrume um! Tenho fé de que logo ela irá ficar grávida, eu ajudarei no parto e serei a única a ver o sexo do bebê, então se for um menino as coisas continuarão como estão, mas se for uma menina, eu troco os bebês e ficaremos todos felizes!" dizia toda sorridente. Challenger achava tudo aquilo uma loucura, mas amava demais sua Jessy e faria o que ela quisesse.

Quase um ano depois de estar tomando todos os dias a poção que Jessy trazia para ela, na verdade feita de hortelã e outras ervas cultivadas num jardim, Marguerite ficou grávida pela terceira vez. Desta vez ela tinha certeza que seria um garotinho, Armand também queria acreditar nisso, mas ele já havia se decepcionado duas vezes e ficava apreensivo em acreditar que desta vez seria diferente e ele finalmente realizaria seu maior sonho.

Quando Marguerite entrou em trabalho de parto, pediu a todos, a pedido de Jessy, que somente as duas ficassem no quarto. O parto, desta vez não fora fácil como os outros dois, Marguerite achava que era porque estava mais velha, tinha agora vinte e um anos, e sentia-se cansada. A dor era insuportável e parecia que não ia agüentar, Jessy, que estava ao seu lado, ajudava-a a fazer força, segurava sua mão com uma das mãos e com a outra ajudava a empurrar o bebê para baixo. Depois de horas de dor e sofrimento, Marguerite finalmente deu a luz, mas no momento em que ouviu o chorinho de seu bebê, fechou os olhos e dormiu profundamente.

Jessy estava radiante...

"Meu bebê, meu bebê!" dizia sozinha segurando a menina, a mais nova filha de Marguerite.

Ela enrolou a menina num lençol branco e abriu a janela que dava para o jardim dos fundos, sorte dela que Marguerite preferiu que seu parto fosse no andar térreo, no quarto que era de Flora, ela dizia que Flora a ajudaria no parto, como fez nos outros. Jessy chamou Challenger, que estava já cansado de tanto esperar com aquele menino recém nascido nos braços.

"Pegue nossa filhinha, meu querido, e dê-me cá o novo filho da patroa." Uma Jessy sorridente fez a troca dos bebês, e Challenger levou sua nova filha para casa, seu nome já tinha sido escolhido por Jessy, ela se chamaria Verônica.

CONTINUA....

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