AUTOR: MISS EYRE

"ENCARNAÇÃO"

Capítulo 4

"OUTROS REENCONTROS E UMA REALIZAÇÃO"

"Papai... papai..." gritava o jovem Eduard Malone Roxton, de apenas três anos de idade. Ele estava aprendendo a andar de cavalo, seu instrutor o segurava com força com uma das mãos, mas mesmo assim, Malone estava morrendo de medo e gritava pelo socorro do pai.

John dizia sempre para Malone ficar em casa com a mãe quando ele fosse montar, a montaria era uma das grandes paixões de Roxton, mas o menino insistia em seguir o pai em todos os lugares que ele ia, desta vez ele inventara de aprender a montar como seu pai. Há cinco meses estava tendo aulas, mas Roxton não via nenhuma melhora, Malone tinha medo, porém Roxton preferia dizer que era por ele ser muito jovem ainda, apesar de John ter montado pela primeira vez quando era mais jovem do que o filho era agora.

John Roxton casara-se aos vinte e dois anos, com uma moça que era filha de um dos melhores amigos de seu pai. John a conhecia desde que ela nasceu, dois anos depois dele, foram praticamente criados juntos e Roxton tinha uma grande feição por aquela menina loira e doce, chamada Lucy. Porém Lucy o tirava do sério, pois era extremamente ciumenta e não tinha paciência nenhuma com o filho do casal, talvez fosse por isso que o pequeno Malone era tão apegado ao pai, que o amava acima de tudo e de todos.

"Venha meu rapagão." Disse John tirando o filho de cima do cavalo. "Que tal voltarmos para casa para ver como a mamãe está e depois almoçar?" perguntou ao menino no seu colo.

"Claro papai!" ele iria para onde o pai fosse sem questionar ou reclamar, pois o importante era estar sempre ao lado de seu maior ídolo e fã.

"Vocês estão imundos!!!" disse Lucy fazendo careta para o marido e o filho. "Vão já tomar um banho, não quero vocês sujos assim na minha mesa." Os dois ouviram a ordem calados e subiram para os quartos, a ama de Malone já o esperava com o banho preparado, Roxton deu um beijo no filho e foi para seu quarto preparar seu banho.

Enquanto tomava o banho estirado numa imensa banheira de porcelana, Roxton refletia sobre sua vida. Ele tinha uma ótima influência social, tinha um pai lord, tinha um filho lindo e era muito bem casado, mas ele sentia que faltava alguma coisa, ele tinha tudo para ser feliz, mas só o era quando estava com o filho, só o dois, pois quando voltava para sua realidade, percebia que ele podia ter tudo, mas na verdade não tinha nada além do inocente amor daquela criança.

De repente lembrou-se de uma noite passada há quase cinco anos, uma noite mágica, onde conhecera uma fada encantadora, mas que foi obrigado a deixá-la, pois ela não era tão corajosa e audaciosa como ele, que se ela permitisse, a tomaria nos braços e fugiria para algum canto bem escondido do mundo, onde só viveriam os dois. Mas ela não lhe deu a chance de mostrar do que ele era capaz, ela o arrancou de sua vida antes mesmo de ele entrar pra valer. Mas isso era passado, agora ele estava casado com uma mulher que ele não amava, mas que respeitava muito, pois afinal, ela lhe dera a maior alegria de sua vida, que era seu filhinho. Embora soubesse que seria muito mais feliz se tivesse sua linda fada ao seu lado, e que ela fosse a mãe não só deste filho, mas de muitos outros.

"Ela já deve ter seus filhos com aquele senhor Temple." Roxton pensou em voz alta. "Por que as coisas não foram diferentes? Por que ela teve que escolher casar-se com outro, quando na verdade ela queria a mim? Eu sei que ela não disse isso, mas podia-se ver em seus olhos, não desejava aquele senhor, ela me desejava.... e eu desejava tanto ela, por que eu não fui mais firme e a obriguei a fugir comigo? Por que mesmo depois de tantos anos eu ainda penso naquela garota que eu só vi uma vez na vida?" Roxton se perguntava isso durante todos aqueles anos, mas nunca encontrava respostas....

Nesse momento ouviu Lucy entrar no quarto e apressá-lo, pois o almoço já estava pronto.

Armand não se agüentava de tanta felicidade, ele chorava feito um bebê, finalmente tivera seu filho, um menino, como sempre desejara.

"Maurice... meu filho!" falava olhando orgulhoso para a criança nos braços de Marguerite que já havia se recuperado do parto e estava agora admirando seu lindo menininho, que já havia mamado muito e agora dormia.

"Finalmente temos agora aquele que perpetuará o nome da família Temple!" dizia Benjamin feliz com o nascimento do neto e a realização de Armand.

"Sim. Esse será meu sucessor, e quando morrer, cuidará de sua mãe e de suas irmãs."

"Nada disso! Eu sei me cuidar muito bem e sei cuidar também das minhas filhas, e quando você morrer, o que vai demorar a acontecer, minhas filhas já serão adultas e cuidarão de si mesmas." Disse Marguerite revoltada com o machismo do marido.

"Mas vocês precisarão de um homem!" argumentou Armand.

"Eu não preciso de ninguém, só de meus filhos, que eu quero que estejam sempre comigo, do resto eu cuido sozinha, sem a ajuda de ninguém." Marguerite estava ficando nervosa com aquela conversa, seu pai percebendo isso, resolveu mudar de assunto.

"Mas... e se novamente tivesse nascido uma menina?" quis saber.

"Eu morreria de desgosto, não que eu não ame minhas filhas... mas é que você sabe Ben, é o sonho de todo homem ter um filho também homem." Respondeu Armand.

"Eu nunca tive um filho homem e sou muito grato a Deus por ter me dado minha garotinha." Ele olhou para Marguerite que riu e mandou-lhe um beijo.

"Eu ficaria feliz, mas ao mesmo tempo triste por não ter sido capaz de realizar o sonho de meu marido." Disse Marguerite séria. "Mas Deus desta vez quis que fosse um rapazinho, e vamos amá-lo muito." Finalizou a conversa e beijou a testa de Maurice.

Logo que Marguerite acordou, Jessy recebeu seus agradecimentos e pediu para ir para casa mais cedo pois estava muito cansada, Marguerite permitiu e ela foi praticamente correndo embora daquela casa para nunca mais voltar.

"George, George..." gritava Jessy entrando em sua pequena casa, de apenas três cômodos, diferente daquela de onde fizera o parto de sua própria filha, pois ela dera o que a patroa queria, um filho homem, e por direito a menina tornava-se sua.

"Não grite tanto Jessy." Repreendeu Challenger "A menina está dormindo."

Após ter ajudado Jessy com a troca dos bebês, Challenger voltou o mais rápido possível para sua casa, terminou de limpar a menina, pois na pressa Jessy não o fez direito, enrolou-a em um dos xales que Jessy tricotou para o enxoval da tão esperada filha e colocou-a no cestinho de palha forrado, que ficava ao lado de sua cama e de Jessy.

Challenger não achava certo toda aquela situação, era injusto tirar um bebê tão pequeno do colo da mãe; o menino, que agora era filho de gente rica e importante, foi encontrado numa daquelas casas que cuidavam de crianças abandonadas, e as freiras que tomavam conta desta casa, estavam tão ocupadas cuidando das crianças que nem fizeram muita cerimônia em entregar o bebê para Challenger, que elas conheciam muito bem, pelo fato de ele ir sempre até lá para levar alguma coisa que alegrasse as crianças mais velhas ou simplesmente ajudar as moças a cuidar das mais novas. Challenger adorava crianças, e por ir sempre colaborar com as freiras, ele já tinha certa prática com crianças tão pequenas como aquela.

"Ela é tão lindinha... nossa Verônica." Disse Jessy olhando para a pequena que dormia profundamente, sem ter a mínima consciência do que acabara de acontecer em sua vida.

"Verônica, venha, o jantar já está pronto!" gritava Jessy para a menina que desceu rapidamente da árvore do jardim. Verônica adorava subir em árvores, e nunca caía de nenhuma delas, sorte sua que seu quintal e toda a vizinhança era bem provida de árvores.

"Cadê o papai, mãe?" perguntou a menina de oito anos, que usava um vestido branco de algodão impecavelmente limpo, Jessy ficava impressionada em ver a filha sempre tão limpa, apesar de adorar brincar de ser "macaquinha", que era como todos os seus amiguinhos a chamavam, Verônica estava sempre limpinha, pois tinha um grande cuidado com suas roupas.

"No seu quarto." Respondeu a mãe colocando os pratos na mesa.

Verônica correu para seu quarto que já era pequeno e agora era menor ainda, pois Challenger o dividira em dois e usava uma das metades como "laboratório", onde vivia fazendo experiências. Ele não tinha muito estudo, mas adorava ler e certa vez conhecera um velho cientista que lhe deixou uns bons livros como herança, desde então, Challenger se empenhara em fazer de tudo, seguindo o livro ou sua própria mente brilhante.

"O que está fazendo papai?" perguntou Verônica ajoelhada num banquinho ao lado da cadeira do pai.

"É uma outra invenção, minha querida, mas é secreta e não posso te contar." Respondeu vendo a decepção no rostinho emoldurado pelos cachos louros da filha.

"Mas nem pra mim, papai? O senhor disse que nunca me esconderia nada e me ensinaria tudo que o senhor sabe, para que eu continuasse as experiências que começasse e te ajudasse quando precisasse." Disse fazendo biquinho.

"Eu sei, minha princesa, mas esta é realmente uma coisa que não pode ser dividida com ninguém enquanto ela não estiver totalmente pronta para ser vista, e eu não posso revelar nem mesmo para minha lindinha." Respondeu dando um beijo carinhoso no rostinho rosado da filha.

"Mas..." começou Verônica, Challenger sabia que ela não desistiria fácil e deu graças por Jessy tê-los interrompidos.

"Vamos jantar!" ela já estava perdendo a paciência, e os dois como duas crianças que levaram bronca, levantaram-se, lavaram as mãos na pia da cozinha e sentaram-se a mesa para jantar, mas não antes de Jessy fazer orações para agradecer o alimento daquele dia, Challenger achava que isso não era necessário, mas respeitava a crença da mulher.

CONTINUA...

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