Título do Fanfic : Não Era Pra Ser Assim

Autor: Lexas(joaotjr@hotmail.com)

Obs.: Meu fic-homenagem a Megaman(Rockman no Japão) não deixem de comentar, e também de me avisarem acerca de qualquer absurdo!

Capítulo I - Meu Filho, Minha Vida

- Hmmm...

- Descanse seus circuitos, isso não irá demorar.

- De novo aqui, doutor? Acho que o Willy está ficando cada vez mais louco!

- Acho que sim - o bom velhinho dava uma risada - infelizmente para isso eu não tenho remédio algum, Rock.

- Eu sei - em sua cama, ele continuava imóvel - por quanto tempo eu estive desativado?

- Alguns dias.

- Tanto assim?

- Tive que refazer seu corpo, filho. Totalmente.

- ...

- ...

- ...

- ...

- Meu corpo... totalmente? Eu... eu...

- Agradeça a Rush. Se não fosse por ele, você estaria em frangalhos a essa hora - Havia uma certa melancolia na voz de Light ao olhar para Rock - se não fosse por ele...

- Onde ele está? - Rock perguntava, temendo pelo pior.

- Bem ao seu lado, mas não se mexa, ou vai me atrapalhar.

- Ele esta bem?

- Vai ficar - Light apenas se concentrava no que estava fazendo. Devido a um descuido de Rock, seu corpo fora reduzido a peças dispersas e soterradas.

Não, não foi um descuido, longe disso. Ele atrasou um desabamento, o qual teria matado muito mais pessoas.

antes que seu filho pudesse fazer outras perguntas, Light desativa seus circuitos. Olhando para o lado, ele ativa o monitor, o qual começa a passar o momento em que tudo aconteceu. O desabamento em si foi impedido, mas apenas por um curto espaço de tempo.

E como esquecer? Tinha tudo gravado, perdeu a conta de quantas vezes assistiu aquele vídeo nas últimas três horas.

Era algo tão simples... como as coisas chegaram a tanto? Era verdade que Willy estava preso, mas sua loucura parecia ter sido transmitida para suas criações.

Lembrava-se muito bem. Era o dia em que seriam votadas novas leis para robôs na câmara Federal, e muitas pessoas importantes estariam lá.

Políticos, lideres, representantes, embaixadores... muitas das leis limitariam a área de atuação dos replóides, mas por outro lado, lhes concederiam muitas outras vantagens.

Mas... qual era o propósito daquele ataque? Era sabido que um grupo de robôs renegados criados por Willy estava agindo na clandestinidade, tendo alvos diferentes entre si. Demoraram meses para tentar criar um padrão, entender qual era o motivo dos ataques. Afinal, era praticamente impossível resgatarem Willy, apesar de isso já ter sido feito antes. Mas o fato das ações deles de longe possuir alguma ligação com Willy era cada vez mais evidentes.

Nada de roubos, seqüestros ou coisas parecidas. Ele mesmo não acreditou. Na verdade, Willy parecia ter um sorriso irônico no rosto quando recebeu sua visita.

"Você se lembra do que tanto conversávamos em nossos anos dourados, não lembra?", foram as palavras de Willy.

Sim, ele se lembrava. O maior medo... o único medo que ele e Willy compartilhavam até os dias atuais.

A revolta das máquinas.

Sempre teorizaram se tal coisa era possível. Teorias ingênuas, pensamentos confusos... a verdade era que isso lhes custou longas horas de discussões ao longo de suas vidas.

Mas eram tempos que faziam falta. A época na qual ele e Willy compartilhavam não apenas de objetivos em comum, mas também de pontos de vista.

Afinal, com o desenvolvimento da tecnologia e o surgimento da inteligência artificial, até que ponto as máquinas chegariam? Se um dia chegassem a serem capazes de tomar decisões, o que garante que tomariam a decisão correta?

E se tomassem, correta para quem?

Sim, lá estava a cena do vídeo. Era previsível que os replóides atacariam a camara Federal. Mais do que isso, os últimos ataques apontavam para aquele local.

Era sabido que os replóides de Willy possuíam um certo grau de liberdade para planejarem melhor de acordo com a situação. O que não esperavam era que tal "liberdade" pudesse ser ampliada.

Inteligência artificial, lembrava-se do sorriso de Willy. Foi a primeira e única vez que ele realmente sentiu um profundo ódio de seu antigo companheiro.

A fábrica... como ela se chamava? Road Runner? Heel's Pit?

Definitivamente isso não era o mais importante. Nem de longe, visto que, mediante a situação, não era o que ocupava sua mente.

Lembrava-se. Como tais replóides poderiam ser tão maldosos? Até mesmo Willy tinha um certo grau de dignidade. Sempre quis dominar o mundo, mas nunca, nunca ordenou o ataque a pessoas. Controle, dominação... mas ferir diretamente, nunca.

Na verdade, os robôs de Willy serviam mais para deter seu filho. Mas nenhum deles, até então, havia jogado tão baixo.

Quantas vezes Rock esteve em perigo? E quantas vezes ele sobreviveu? Rush não fora criado a toa, sabia que Willy estava ficando cada vez mais perigoso.

Mas nada se comparava aos últimos robôs.

Uma emboscada, lembrava-se. Uma fábrica de pneus abandonada - lembrava-se vagamente de seu filho Ter lutado lá em outra ocasião - aonde eles ameaçavam explodi-la.

Uma ameaça que poderia ser ignorada, se não ficasse próxima a prédios, e o sistema de gás de todo o bairro não fosse interligado.

Por que não pensou nisso? Era óbvio demais que era uma armadilha.

Mas isso nunca fez diferença para Rock. Nunca.

Por que ele nunca desistia. Rock, o replóide criado para servir a humanidade. Sua criação, seu filho, transformado em um guerreiro devido a necessidade.

Um herói, acima de todas as coisas.

Light para o que estava fazendo quando sente algo tocar em sua mão. Algo liquido.

Lágrimas. Suas lágrimas.

Não era para as coisas terem chegado àquele ponto. Os replóides de Willy entraram no estacionamento de um prédio e ameaçaram destruir tudo. Só podiam estar blefando, era o que ele disse ao ver a cena através da camera que Rock carregava. Máquinas não agiam assim. Nem mesmo o mais terrível dos replóides de Willy agiria assim. Em geral, seguiam planos pré-concebidos, ao invés de... improvisar.

Improvisar, não. Reagir. Adaptar. Improvisar.

E foi o que fizeram. Máquinas pensantes com a incrível capacidade de aprenderem e se adaptarem. Danificaram seriamente os alicerces do prédio, causando uma confusão em massa.

Como previsto, Rock serviu de sustentação. Mas nem ele seria capaz de permanecer ali para sempre. Trabalhando em conjunto com Rush, eles começaram a evacuar o prédio.

A cena do cão metálico voando ainda estava passando no visor. Os circuitos de Rock estavam sobrecarregados devido ao esforço, sabia que ele não resistiria por muito tempo.

Na verdade, matematicamente falando era impossível ele conseguir segurar as sustentações do prédio antes que todos saíssem. Era algo óbvio e, mesmo não desistindo em momento algum, Rock tinha ciência desse fato.

Os replóides haviam temporariamente vencido, com algumas cartadas haviam imobilizado o maior defensor dos seres humanos e estavam livres para cumprir seu objetivo. Felizmente eles não conseguiram seguir adiante, pois encontraram um grande obstáculo.

Seu outro filho.

Aquele que sempre ajudava Rock nas horas mais difíceis. Não sabia quando Rock fez contato com ele, mas o mesmo estava lá, protegendo a camara federal. Os poucos replóides que não foram destruídos, fugiram seriamente feridos.

Era mais um dia. Mais uma batalha vencida. Tudo poderia ter terminado sem grandes perdas, mas... eles TINHAM que fazer aquilo.

Por que? Como máquinas podiam ser capazes de tal coisa? Como criaturas criadas por seres humanos podiam ser tão... frios?

Espertos. Espertos, frios e calculistas. Haviam se dividido em dois grupos, os que cuidariam de Rock, e os que se encarregariam do resto da missão.

Mas, ao contrário do que Rock imaginou, o "seu grupo" não se dispersou enquanto ele segurava o prédio.

Não, eles estavam lá - Dr. Light congelava a imagem em que mostrava o olhar de surpresa de Rock ao vê-los - e esperando.

Por que eles tinham que fazer aquilo, afinal? Não acrescentou nada ao seu objetivo, mas... por que?

Por que tinham que atacar Rock, imobilizado? Era óbvio que mais alguns segundos e tudo desabaria, mas... por que?

Dr. Light se vira, olhando para o computador central que estava logo atrás dele. Com alguns toque no teclado ele acessa os arquivos centrais do prédio, o registro da cameras.

Ele para, observando o vídeo. Não o vídeo da batalha de Rock, tampouco dos escombros, mas sim as imagens que a camera interna de seu laboratório captou, aonde mostrava seu desespero.

É como se uma flecha atravessasse seu coração quando ele vê aquela cena novamente. O seu grito, seu medo...

"ROCK!!!!" - aquilo estava gravado no fundo de sua alma. Fora no exato momento em que os Replóides dispararam contra ele, impiedosamente.

Ele, óbviamente, permaneceu ali, recebendo cada disparo. Em momento algum fraquejou. Em horas como aquela ele desejava não ter adicionado sensores de dor ao seu "garoto".

Mas, se determinação era o que ele tinha de sobra, resistência não era uma dádiva. Bem ou mal, ele não podia resistir para sempre. E, com todo o seu corpo direcionando suas forças para segurar o prédio, o resultado era previsível.

Quando o corpo de seu filho foi destruido, ele gritou. Gritou como nunca. A sobrecarga em seus circuitos foi demais para ele, de modo que seu corpo acabou por explodir. Consequentemente o prédio ruiu. No fundo, sentia-se um egoísta, já que muitas pessoas morreram e, no fim, só conseguia pensar em uma única pessoa: Rock. Em algum lugar, debaixo de toneladas de concreto, jaziam os restos do corpo de seu filho.

Foi pura sorte o replóide - médico ter socorrido Dr. Light, do contrario o mesmo já estaria morto a essa hora. O choque de ter visto o corpo do filho explodir foi demais para o pobre idoso.

E, se não fosse por Rush, seu filho teria se perdido para sempre, também.

Rush, um Replóide - cão. Fiel e obediente como um verdadeiro canino. Um verdadeiro anjo da guarda, o qual escavou os escombros até encontrar os restos de seu filho. Os únicos restos, o que restou de sua cabeça e seu cérebro positrônico, semi - destruido.

Sentiu como se suas forças tivessem retornado naquele momento, como se um filho pródigo tivesse retornado ao seu lar. E, mesmo contrariando o estado de seu corpo, passou as últimas horas reconstruindo seu filho, sua jóia.

Estava cansado, muito cansado. Pela primeira vez se deu conta da magnitude de seus sentimentos para com Rock. Sempre o viu de maneira especial. Mais do que uma obra de arte, o filho que nunca teve. E vê-lo sendo destruido apenas agravou seu estado.

E pensar que alguns diziam que era impossível manter sentimentos em relação a uma máquina. Era verdade, ele sentia um amor enorme por Rock mas, nas últimas horas, passou a sentir outra coisa. Na verdade, algo que em toda a sua vida ele teve poucas oportunidades de experimentar.

Ódio. Raiva. Ira.

Não era o auge da perfeição para ser livre de tais sentimentos, mas tal coisa o deixara surpreso. Sempre acreditou que era difícil alguém odiar outra pessoa do fundo do coração.

E, nesse momento, era o que sentia. Em seu intimo, sabia que os replóides não eram responsáveis por aquilo, que toda a responsabilidade pelo ato era de Willy, e apenas dele.

O desabamento, as mortes... ele era o responsável. Mas, apesar disso, apesar de todas as evidências, ainda assim ele não conseguia deixar de odiar os replóides.

Precisava fazer algo, tomar uma atitude, e sabia perfeitamente quem era a pessoa ideal para ajudá-lo.

Meia hora depois, Dr. Light passa em seu laboratório e, tomando o devido cuidado, começa a apagar as luzes. Estava usando um terno escuro, com um chapéu e uma bengala da mesma cor. Ele para por alguns instantes, observando o novo corpo de seu filho, o qual estava desligado. Ao se virar, em outra bancada, estava o corpo de Rush, bastante avariado. Fez bem em dar aquele anjo - da - guarda para seu filho, e pensar que disseram que ele queria tornar seu garoto mais humano dando-lhe um cachorro...

Mas... não era verdade? Talvez fosse isso, em seu intimo talvez fosse esse seu maior desejo, se tornar um verdadeiro "Geppeto".

Ele termina de apagar as luzes do laboratório e sai para a rua. Normalmente faria isso à tarde, mas não tinha tempo para meros detalhes.

Tinha dúvidas. Tinha perguntas. Sentia-se como uma criança que acabou de descobrir que o mundo não gira ao seu redor.

Queria ter outra alternativa, mas estava em um beco sem saída.

Só uma pessoa poderia ajudá-lo, aquele que durante muito tempo foi um de seus maiores amigos.

E, definitivamente, a última pessoa que ele esperava chamar para conversar.

Continua...