Capítulo IV – O Fim de Uma Era

A ferro e fogo, puramente aço distorcido, consumido pelo caos e destruição inerentes do consciente.

Como aquilo foi acontecer? Como era possível que, em meros instantes, o que antes era o fruto do trabalho coletivo fosse reduzido a escombros e restos do avanço da humanidade? Seria possível que séculos e séculos de desenvolvimento terminassem assim, daquela forma? Mais ainda... o que era tal coisa que invadia seus circuitos, impedindo-o de formar seqüências lógicas perfeitas? Não era possível, não era provável, ele sabia que não era o que seu pai tanto esperava.

Era um reploid... um robô! Por mais que agisse, reagisse, demonstrasse emoções, agisse em defesa dos outros... era um robô. Estava em sua programação agir assim, havia concluído – melhor dizendo, seus circuitos o levaram a tal linha de raciocínio – que era parte de sua programação, e por mais humano que pudesse parecer, ainda estava incluído em seus códigos mais básicos.

Ou estaria errado? E se o bom doutor tivesse atingido um grau de evolução tamanha que...

Ele afasta o simples pensamento, concentrando-se no caos espalhado pela cidade. Se por um lado não estava avistando pessoas correndo, por outro, era um motivo a mais de preocupação, tendo em vista o que poderia ter acontecido a elas.

- Seus sensores detectaram alguma coisa, amigão?

- Rauf! – Rush, a fiel cavalaria robótica na qual Megaman estava de pé sendo conduzido, acenava negativamente. Mau sinal, diga-se de passagem. Onde estavam as pessoas, os carros das emissoras de tv... o que os reploids fizeram?

Somando-se a cena de ter visto seu irmão ser destruído... no que estava pensando? Melhor dizendo... estava... pensando?

Algo que sempre fez, mas nunca parou para prestar atenção. Os homens fazem coisas muitas vezes conflitantes com o que estão acostumados a fazer, ou são capazes de parar durante longas horas para pensar em determinado assunto.

Mas ele estava pensando. E, pela primeira vez em anos, parou para prestar atenção nisso.

Mentira, já havia se dado conta antes quando, em palavras anteriores, disse "sou mais do que um robô".

- Rauf! – Rush chama sua atenção de seu mundo cibernético de sonhos. Seus olhos biônicos localizam o que lhe fora apontado, encontrando alguns sobreviventes – e esperava que não fossem os únicos.

E, por hora, não era o melhor momento para pensar em assuntos que podiam ficar em segundo plano. Por acaso a respiração precisava ser entendida para continuar sendo realizada?

Eram três e seus sensores analisavam minuciosamente cada um. Dois homens, uma mulher. E a mulher mancava enquanto... corria?

O scanner de Rush detecta outras presenças na área. Observando mais atentamente, localiza três reploids a certa distância dos sobreviventes – mas prestes a disparar, o que não faria a menor diferença para os demais – perseguindo-os.

Ele fica sem reação quando um deles – a mulher – cai no chão. Deveria estar machucada, mas não era essa a questão, e sim o fato dos outros dois seguirem em frente, correndo, deixando-a para trás, abandonando-a.

Inexplicável.

Não tinha tempo para divagações sobre o que os levaram a fazer tal coisa, apenas de que tinha uma dever a cumprir, de tal forma que dobra seus joelhos, preparando-se para saltar...

... quanto sente seu apoio desaparecer, melhor dizendo, ser roubado, melhor ainda... estava voando a uma velocidade considerável com Rush, quando teve a sensação de que um caminhão os atingiu em cheio, tirando-os o equilíbrio por completo.

Confuso e desnorteado, Rock entra em queda livre, atingindo pesadamente um veículo e destruindo a lataria devido ao seu peso.

O barulho é forte o suficiente para chamar a atenção dos 3 reploids, na verdade, bem mais do que esperava. Enquanto tentava se soltar dali, começa a visualizar o ambiente de um novo ponto de vista: o chão.

De dentro de uma das lojas daquela rua, um reploid atravessa a vidraça, indo em direção à mulher. A menos de cinqüenta metros dali, vindos da esquerda, outros 2 reploids terminavam de dobrar a rua, atraídos pelo barulho, provavelmente.

E ainda os três primeiros, obviamente. Só teria que sair das ferragens, Alcançar a mulher antes que o reploid da loja o faça e, logicamente, tomar cuidado para que os disparos dos outros dirigidos contra sua pessoa não acabassem atingindo-a.

Não tinha tempo para pensar em seu bem estar: aquele reploid iria matá-la. Eram os mesmos que encontrara anteriormente e, baseado em suas observações, programados única e exclusivamente para causar caos e destruição. E também – seus circuitos entravam em pane só de cogitar tal hipótese – exterminar humanos, se estivesse certo.

Rasgando o metal como se fosse papel, ele se liberta e corre em direção a mulher, vendo o reploid próximo a ela apontar para a mulher. Seus sensores – atualizados pelo doutor Light – detectavam ondas de energia vindas em sua direção, de diversos pontos.

Seus sensores calculavam as alternativas, as possibilidades e, embora não o obrigassem a desistir de salva-la, mostravam claramente que as chances dele ser bem sucedido eram ínfimas.

Mas ele era mais do que um robô.

Era um robô social, feito para interagir com os seres humanos, para ajudar e auxiliar a humanidade.

Sem diminuir sua velocidade ele se abaixa, esticando a perna direita para frente e dobrando um pouco a esquerda, aproveitando-se da velocidade para deslizar pelo chão. Apontando para trás seu braço, seu punho dá lugar ao seu canhão de prótons, disparando contra o veículo no qual ele se encontrava, causando um efeito duplo: a explosão gerada atinge outros carros ao redor, gerando uma nuvem de fumaça e espalhando rapidamente o fogo, atrapalhando a visão das máquinas, e impulsionando-o para frente de maneira bem mais rápida, chocando-se contra o robô assassino e engalfinhando-se contra ele. Rock não perde tempo, se levanta e o segura pela perna, girando-o com sua força titânica, calculando o local aonde se encontravam os dois reploids que haviam dobrado a esquina. Com um único e preciso disparo, ele atinge o robô em cheio quando ele estava próximo de atingir o chão, ouvindo em seguida o barulho de algo se chocando no meio de caminho – os sensores dos demais, afetados pela fumaça, não perceberam tal movimento, pelo visto – e, segundos depois, outra explosão, somado ao "cheiro" de chips e transistores queimando.

Menos três. Ainda faltavam mais três. Concluindo que tinha outras prioridades, ele pega a mulher no colo e prepara-se para fugir dali.

- Rush! – nenhuma resposta – Rush! – nenhum sinal – droga, o que aconteceu com ele? – RUSH!

Um vento forte surgiu, dispersando a fumaça. De um lado, ele via o que restou dos três reploids abatidos, os três juntos em um emaranhado de aço retorcido.

E, do outro, os três reploids remanescentes, os quais acabaram de reencontrar seu alvo.


Apesar de ter sido criado e ser tratado como um parceiro...

Apesar de ter boas relações com seu "mestre"...

Apesar de seguir fielmente aquele que fora o motivo de sua criação...

Apesar de nunca tê-lo abandonado, jamais...

Apesar disso tudo, era um reploid, um robô. Uma das provas de que Dr. Light via Megaman como seu filho, ao lhe dar um "auau", para "brincar".

Mas ele não tinha reclamações, seus circuitos não lhe permitiam tal coisa. Não eram tão avançados, na verdade. Mas se por um lado eram limitados acerca de alguns recursos, também tinham vantagens em outros pontos.

Ele era um modelo canino, e o nome já dizia tudo, feito para dar todo e qualquer tipo de apoio, como um cachorro de verdade, o que incluía ser fiel e leal ao seu "mestre", já que a "vida" dele era mais importante que a sua própria. Por inúmeras vezes lutou ao lado de Megaman enfrentando Reploids, a despeito de sua falta de recursos combativos, nunca se deixou afrontar – não fora dotado desse tipo de microchip - pelo poderio de seus adversários.

Assim como o grande guerreiro sofreu diversas atualizações para melhor servi-lo, mas sempre soube que não era mais do que isso: um apoio. Assim como um cachorro doméstico, cuja felicidade vai depender de seus donos.

Extremamente avariado, ele tentava se levantar. Seu dispositivo de transformação estava inoperante, logo não podia mudar para o módulo-jato e sair dali, apesar de que Megaman também o possuía, o qual podia enviar comandos para fazê-lo se transformar... desde que estivessem bem próximos um do outro.

A queda o danificou, mas a luta que acabara de acontecer, também. Mesmo fiel mesmo inabalável perante seu dever, mesmo com seu intelecto limitado, era simples calcular suas chances de sobrevivência.

Uma de suas leis mais primordiais entra em ação, a de sobrevivência, fazendo-o – tentar – correr. Com uma de suas patas metálicas destruída, ele começa sua luta para não ser destruído, mas é em vão. Sente um peso acima do seu atingi-lo em cheio nas costas, prensando seus membros e limitando seus movimentos.

Seus scaners se ativam por mera programação, sondando a criatura. Param por alguns instantes quando duas poderosas presas capazes de perfurar titânio atingem seu pescoço, perfurando circuitos, microchips, transistores e demais componentes eletrônicos, enquanto as patas do robô começam a se movimentar encima dele, arranhando-o e destroçando seu corpo.

Os sistemas de suporte lentamente vão se esvaindo, cessando um por um. Em uma última ação, os scaners tornam a funcionar, analisando o reploid que contribuía para seu extermínio.

Como ele pôde observar anteriormente, era um modelo como ele, um modelo de apoio, do tipo canino. Mas as semelhanças cessavam por ai, não iam mais adiante. Um modelo de apoio tinha como característica principal habilidades importantes compatíveis com seu formato para compensar a ausência de outras e, mesmo podendo lutar, não eram feitos para tais objetivos, não diretamente.

Tanto as presas quanto as garras, eram feitas de uma liga metálica altamente resistente e afiada. Um esqueleto metálico cuja principal função era aumentar a velocidade. Motores internos mais potentes capazes de gerar uma força bruta acima do normal...

Um modelo modificado. Um reploid de apoio modificado bruscamente – e de forma grosseira – para o combate. Logicamente, não era um upgrade perfeito, pois não respeitava as limitações do modelo. Até ele quando foi modificado para poder se transformar em um módulo de vôo, respeitava algumas restrições. O cérebro positrônico era o mesmo, logo algumas funções anteriores deveriam ter sido supridas em detrimento de novas, e seu corpo deveria apresentar um gasto anormal de energia para poder utilizar suas novas funções, bem mais do que aquele corpo era capaz de armazenar.

Mas para ele, tal informação seria apenas isso, informação, armazenada em seus circuitos destruídos e estilhaçados pela fria rua apocalíptica daquele dia que muitos consideravam como o dia do juízo final. Ao longe, algumas pessoas assustadas apenas viam algo que seriam dois cachorros brigando, com um deles arrancando pedaços do outro, estraçalhando-o até que, totalmente imóvel e, incapaz de manter suas funções de suporte vital, os olhos de Rush, criados para serem vivos como os de um cachorro de verdade, transmitir lealdade, amor, carinho e alegria para todos que olhassem para sua face... incapaz de suportar a excessiva perda de energia e dano das peças interiores, o brilho de seus olhos cessa, tornando o fiel companheiro canino de Rock em nada mais do que uma carcaça e peças dispersas pela rua.

Uma criança grita ao longe, chorando. Uma lágrima derramada por aquele que fora um de seus heróis, do tempo em que lhe ensinaram que robôs foram feitos para servir as pessoas, e não lhes fazer mal.


- Droga!

Sem Rush, sem Protoman... sem apoio algum!

Saltando entre os prédios, Megaman carregava a mulher ferida, procurando se distanciar. O fato de ter que se esquivar de maneira suicida dos disparos dos outros reploids complicava ainda mais a situação.

O que houve com Rush? Por que não respondia seus chamados, aliás, por que não conseguia contato algum com ele?

E para aumentar ainda mais suas preocupações: Onde estava aquele misterioso reploid do qual vira apenas a sombra?

Não que os atuais fossem fáceis de serem vencidos, mas... onde ele estava? Mesmo que estivesse incrivelmente avariado, sabia que seu irmão não seria vencido assim tão facilmente, pois era um guerreiro, a guerra era seu oficio. Por anos o salvou, o ajudou nos momentos mais difíceis e sabia que não seria destruído assim tão facilmente, o que aumentava o grau de suas prioridades em retirar aquela mulher dali antes que alguma coisa acontecesse.

Em um salto, Rock gira o corpo em 90 graus, escapando de um disparo de puro plasma, o qual segue sua trajetória e destrói um outdoor logo a frente. Não estava disposto a arriscar a próxima manobra, ainda mais naquelas condições, sendo perseguido pelos reploids remanescentes, isso sem contar os que ainda estavam espalhados.

Ou talvez não. Provavelmente Proto destruiu a maioria antes de... bem, não conseguiu acreditar que um robô daquele nível seria vencido sem pelo menos levar consigo um número de inimigos cujo poder total de destruição fosse, no mínimo, igual ao seu.

Um problema a menos, mas ainda tinha a questão dos que estavam em seu encalço. Precisava de tempo, precisava de espaço e, principalmente... precisava das mãos livres.

Talvez funcionasse, ele pensava. Era um plano arriscado, mas...

Havia um ponto negativo em ter um cérebro positrônico: ele sempre mostrava as probabilidades de algo funcionar e, para um robô de combate como ele que freqüentemente desafiava a lei de auto-preservação, não era nem um pouco proveitoso ter um computador funcionando em modo automático alertando-o a todo momento de suas loucuras.

Por outro lado, era muito útil ter um cérebro para calcular as probabilidades de algo dar certo, como o quão longe sua força era capaz de arremessar uma mulher de 75 kg, se seus leitores estavam corretos. Cálculo do efeito da gravidade, do atrito do ar contra o corpo, impacto provocado pelo seu corpo, tempo estimado para o fim do período de ascensão, velocidade progressiva e efeito do impacto multiplicado pela equação metros/segundos... perfeito. Era tudo o que ele precisava saber.

- Me desculpe madame, mas... – Rock muda a posição dela, segurando-a pelas mãos e, tão logo pousa em um dos telhados, concentra toda a potência nas pernas e salta o mais algo que pode. Em seguida, faz seus geradores enviarem toda a potência para seus braços, enquanto o robô azul vai girando e segurando a mulher, que grita desesperadamente até que, em um último giro, Rock a lança para os céus – Eu vou precisar que a senhorita me dê alguns instantes!

Antes mesmo de tocar o chão do prédio, o visor de Rock já estava funcionando, captando e analisando as partículas deixadas no ar pelos estragos feitos, coletando informações. Ele se joga para a esquerda para escapar de um disparo, conseguindo a última informação que ele queria.

Como regra geral, ele precisava tocar em seus oponentes para duplicar suas armas, mas dessa vez, era diferente. Os adversários também usavam armas de plasma, só precisava descobrir o padrão daquele tipo de energia, coisa que ele tem sucesso.

Não perde tempo e realiza três disparos, para a surpresa dos 3 reploids que o perseguiam – se é que eles eram capazes de distinguir o significado de tal palavra – os quais só tem uma única reação, uma vez que seus computadores internos acusam que não teriam velocidade o suficiente para se esquivarem: disparar.

Grande erro, ele pensava. Ao duplicar o padrão de energia dos disparos dos reploids, Megaman conseguiu algo mais, conseguiu com total precisão copiar o padrão total daquela energia e, por mais que fossem avançados, computador algum saberia responder qual a real conseqüência disso, apenas a "malicia" adquirida por Rock ao longo dos anos. Eles disparam quando os ataques de Rock estão há poucos metros de atingi-los, fazendo os seus disparos de plasma se chocarem com os disparos de Rock, com o intuito de anulá-los...

Ou talvez não. Os disparos de Rock e dos Reploids. Duas fontes de energia iguais. Duas forças POSITIVAS se chocando.

Ele não esperou para ver o resultado. Tudo havia acontecido em meros segundos, desde que ele arremessou a mulher, desviou do disparo, analisou a energia do ataque e devolveu o tiro... e saltou novamente, em direção a moça. Direcionou uma poderosa de energia para fazer seus geradores serem capazes de fazerem-no saltar ainda mais alto, indo em direção a mulher, cujo corpo fora arremessado por aquele ser capaz de dobrar aço. Precisou calcular o tempo que ela pararia de subir, pois o menor descuido seria fatal para ela, mesmo que ele a pegasse no ar, ainda assim a velocidade do corpo dela contra o seu poderia ser fatal. Sem perder um segundo sequer ele a pega quando a mesma começa a cair, finalizando sua manobra e, tocando novamente na cobertura de um dos prédios, começa a correr.

Quanto aos reploids, a única coisa na qual prestou atenção foi na onda de choque gerado pelo encontro de energias durante o salto, devastando-os e causando rachaduras nos prédios próximos, arrancando postes do chão e fazendo alguns destroços de carros – devido a situação do local – serem empurrados de seu lugar e, se não fosse pelo seu corpo blindado, teria o mesmo destino, sendo que continua correndo, visto que os danos naquela área poderiam ter sido ainda piores e continuar ali com aquela mulher era muito...

- Me... me... me solta!

- Só mais um pouco madame, eu só...

- Me.. me solta, seu.. seu... sua coisa! – ela começa a se debater no colo dele, gritando. Seu corpo se remexia, ela batendo em várias partes do corpo dele, tentando se soltar.

- Senhora! Eu não posso deixá-la aqui, eu...

- ME SOLTA! – Rock se cala o receber um tapa em sua face, saltando em direção a rua e, atingindo o chão, a encarava surpresa, a qual se solta de seus braços e se afasta até, em desespero, começar a correr.

- Seres humanos são tão estranhos, não concorda?

- Sim – ele ainda estava paralisado. Não pela força, já que não sentiu dor alguma, mas... seus sentidos eletrônicos detectaram o choque da mão dela contra seu rosto, associaram o movimento com outros vistos anteriormente e, instantaneamente, geraram o que ele classificaria de "sensação" para tal coisa, uma informação do sentido do ato dela. – eu acho que sim.

- Por que essa cara, Megaman? Ingratidão é uma característica típica desses seres baseados em carbono.

Aquilo poderia esperar, pensou. Olhando para o topo de um prédio próximo, ele observava atentamente a figura metálica que, de braços cruzados, estava olhando para a mulher que fugia.

- Nem pense nisso, Bass.

- "Pensar"... esse é um privilégio que muitos de nós temos, mas poucos reagem, como você e eu.

- Definitivamente não somos iguais, isso eu lhe garanto.

- Está mais errado do que você pensa, você é igual àquele outro modelo. Mas dou o braço a torcer de que ele preferiu seguir até o fim suas programações, diferente de nós dois.

- Então foi você quem destruiu Proto, seu desgraçado! – o telhado do prédio é destruído com um só disparo, enquanto que Bass cai ileso em um telhado próximo. – Isso não vai ficar assim!

- Controle sua raiva, meu irmão. Não vim até aqui para lutar com você!

- Eu não sou seu irmão, seu assassino!

- Assassino? Ousa me chamar de assassino?

- Você matou Protoman! Isso não vai ficar assim!

- Protoman não era um ser humano para ser assassinado, logo eu não o matei. Eu o destruí.

- Maldito! – ele salta atrás de Bass, o qual se limita a se esquivar dos disparos, mantendo uma certa distância enquanto foge.

- Isso! Assim mesmo! É assim que eu gosto, livre como devemos ser!

- Não nos compare – uma estranha confusão estava se iniciando em seus circuitos. Ele estava nervoso, irritado, com um desejo imenso de destruir Bass... mas ele era um robô, não deveria ficar assim. Poderia no máximo demonstrar uma atitude assim, mas não se sentir realmente. Quanto a Bass, ele parecia estar gostando daquilo.

Pensando bem, nunca parou para fazer o que estavam fazendo: correndo, saltando... aproveitando o potencial de seus corpos robóticos, coisas que pessoas comuns não eram capazes de fazer.

Seus circuitos o alertam e ele se detém. Seguir Bass daquela forma era agir de forma inconseqüente, quase como se estivesse sendo encaminhado para uma... armadilha. Só então ele presta atenção na parte em que havia parado, outro ponto destruído da cidade, carros dentro de lojas, postes, caídos, fios de alta tensão soltos e prestes a começar um principio de incêndio...

E gritos, lógico. Muitos gritos, mais do que esperava. Pessoas correndo, fugindo de explosões...

- O que pensa em fazer, Megaman? – perguntava Bass, surpreendendo-o mais pelo fato de não ter percebido sua aproximação, do que dele estar ali ao seu lado. – acha que pode salvar a todos?

- Depois eu cuido de você e...

- Não me dê as costas – e o segura – pense... o que vai fazer? Acha que sozinho pode impedir tudo isso?

- Eu prefiro tentar, pelo menos – e se livra, saltando no meio da rua.

Talvez ele devesse ter prestado um pouco de atenção as palavras de Bass... o casos era imensurável, não conseguia chegar a um consenso lógico sobre o que fazer. Por um lado pensava em salvar todos, por outro seus circuitos indicavam as possibilidades, quem tinha chance de ser salva... era um caos mental, pensava. Se usasse a água dos hidrantes, acabaram atingindo os fios, gerando um curto e aumentando ainda mais o problema. Poderia invadir os prédios e libertar as pessoas, mas teria que destruir a parede – simples, levando em conta sua tremenda força – mas isso poderia abalar ainda mais as estruturas e causar um desmoronamento.

- O que foi, Megaman? Seu irmão saberia o que fazer, afinal, ele escolheria os resultados com maior probabilidade de sucesso, diferente de você, que é um "robô social". Entendeu que para tudo é necessário fazer um sacrifício? Ah, sim... você não compreende isso, afinal, não é um líder, no final das contas. É apenas um soldado, um joguete nas mãos de outras pessoas.

- Assim como você nas mãos de Willy, ou se esqueceu de quem o criou?

- Willy – ele fala com desprezo na voz, e cuspiria se fosse capaz de produzir saliva – ele nunca foi meu dono, o tolo nunca compreendeu que não me criou, apenas fora tomado como intermediador para construir uma nova raça de seres.

- Nova raça... você pretende fazer isso sozinho? Destruí seus "subalternos", e duvido que meu irmão não tenha destruído alguns também. O que pretende fazer sozinho?

- Sozinho? Líderes de verdade são capazes de atrair seguidores para junto de si. Podem ser destruídos tantos quantos forem, eu reunirei novos seguidores.

- Para alguém que diz desprezar os seres vivos, você fala muito parecido com um certo alguém – e começa a olhar ao redor. Não podia se deixar levar pelos dados, teria que analisar cada passo seu.

Ele se lembra da mulher que o agrediu, compreendendo a situação que se passou. Era natural ela ter ficado desesperada, afinal, com tantos reploids atacando as redondezas, por que não ficar em desespero com um que a jogou para cima como se ela fosse um mero pedaço de carne? Na verdade, ele não poderia ser capaz de fazer tal coisa, pois mesmo sendo a única saída, ainda assim o menor risco à vida o impediria de agir.

Megaman corre rua abaixo, parando em frente a uma loja que não havia sido atingida e entra nela abrindo um buraco na parede. Calculando sua direção, ele atravessa outra parede, correndo e destruindo as demais que surgiam em seu caminho, até que se detém e, tomando o devido cuidado, dá um soco em outra parede, abrindo um buraco suficiente para um adulto passar e, ao atravessá-lo, vê um grupo de pessoas em um dos cantos, acuados pelas escombros.

Ignorou os gritos de medo e desespero. Apenas mostrou para eles a saída que tinha aberto – um túnel improvisado que atravessava vários prédios até chegar no prédio que estava prestes a desabar e, vendo-os seguir por ali e certificando-se de que todos estavam na rua, ele salta para fora dali sem a menor cerimônia, enquanto ouve o barulho dos alicerces terminarem de ruir.

Rock não fica para ver o que aconteceu, mas podia ouvir o barulho do desmoronamento enquanto observava vários fios soltos, atingindo carros e construções, enquanto que, por todas as direções, focos de incêndio tinham inicio.

Ele tinha que fazer alguma coisa. Não que pudesse agir sozinho, mas equipes de apoio não poderiam adentrar ali, justamente uma rua de acesso importante para o centro da destruição.

O que podia fazer? Os satélites de transmissão da região estavam destruídos, impossibilitando um pedido a central elétrica para desligarem a energia daquela região e, a cada segundo que demorava, mais vidas corriam perigo.

- Será que eu sou mesmo "mais do que um simples robô"? – ele se perguntava – hora de colocar isso a prova – e salta para o prédio mais alto, tentando rastrear a origem dos transformadores. De um jeito ou de outro, todos estavam interligados a um transformador central, de forma que ele só tinha que...

- Achei! – Megaman se prepara para disparar e inutiliza-lo, quando lembra dos riscos. Havia muito material inflamável, pessoas poderiam ser atingidas, os riscos de causar uma reação em cadeia e aumentar o perigo era maior e...

Só restava uma alternativa: destruí-lo com suas próprias mãos. Aproximando-se em questão de segundos, ele atinge o transformador central, partindo ao meio o poste que o segurava e o agarra, procurando coloca-lo no chão. Estava feito, a energia daquela área estava cortada e nada poderia...

Robôs tem sentimentos? Podem sentir ira, raiva, dor... incredulidade? Era o que ele se perguntava. Ao arrancar o poste, os cabos que vinham diretamente da central de energia elétrica se soltaram, como planejado, chocando-se desenfreadamente pela rua. Seria um problema a menos, com apenas dois cabos soltos dispersando energia ao invés de vários por todos os lados... mas eles agora ameaçavam atingir um caminhão, o qual estava em frente a um posto de gasolina, que ficava bem em frente a uma escola.

Ele não sente dor, frio, mas se tivesse um coração, gelaria naquele momento. E, mesmo não acreditando em espiritualidade, ele amaldiçoa toda aquela onda de má sorte quando detecta sinais de calor vindos de dentro da escola, e não eram de crianças, a julgar pela sondagem.

- Saiam, isso vai explodir, digo... se saírem, os fios irão... esperem, eu... eu...

Qual era a diferença entre líderes e soldados? Nenhuma. Líderes eram meramente soldados que, no calor da batalha, tomavam as decisões visando o bem comum de seus iguais, tendo como objetivo diminuir ao máximo o número de perdas e garantindo a unidade do grupo.

Qual a diferença de uma pessoa comum para um herói? Nenhuma. Até mesmo o covarde poderia ser o herói do dia mediante a necessidade, já que o herói nada mais é alguém que, independente de origem, hora e lugar, resolve agir em prol de um bem maior, ignorando suas necessidades e seu próprio bem estar.

O que era um robô? Um ser metálico feito para ajudar os homens, que deveria obedecer as suas ordens, não lhes fazer mal e garantir sua sobrevivência.

Rock estava quebrando, neste exato momento, a terceira lei da robótica. Sempre haviam aqueles velhos conflitos sobre quando uma lei entrava em conflito com a outra, como o robô reagiria diante de tal situação.

Rock não estava preste a fazer aquilo por causa de lei alguma, mas por sua própria decisão. Não que não tivesse as três leis de Asimov dentro de seu cérebro positrônico, mas como a grande obra da vida de um homem, tinha a capacidade de, com base em sua própria experiência de "vida", decidir o que fazer.

Como um humano.

Os códigos eram como uma consciência chata que o importunava, mas ele ainda assim continuava. Disparou contra o colégio, abrindo uma saída em uma das paredes e, com ambas as mãos, segurou os cabos.

Era energia, mas não a forma pela qual ele se alimentava. Podia absorvê-la de forma brusca, mas ainda tinha um corpo totalmente de metal.

Ele salta, não ficando no chão para não dispersar toda aquela eletricidade para os transeuntes, caindo encima de um dos postes, sendo usado como condutor.

- Arhhh! Droga, eu devia ter prestado mais atenção as aulas de eletrônica!

Não estava mais agüentando aquilo, sentia seu corpo avisando que estava no limite de quanta energia poderia suportar, além de seus sensores estarem sobrecarregados com todo aquele excesso. Mais um pouco e iria fritar, não... iria explodir.

"Pai"


- Oh, me Deus... Willy, o que foi que nós fizemos?

Quem acreditaria? Se você soubesse que estava predestinado a dar inicio ao fim do mundo, o que faria? Se mataria, ou seguiria em frente com a promessa pessoal de que daria o melhor de si para evitar desastres?

Deveríamos ter dado ouvido ao nossos professores, ele pensava. Os limites, a ética... o que mais eles ignoraram?

- Dr, não pode descer mais, é perigoso – falava o piloto do helicóptero, apontando a destruição causada na localidade.

- Tudo bem, apenas sobrevoe a região – ele se perguntava o que seu filho estava fazendo. O exercito estava sendo mobilizado, mas com as principais pistas de acesso destruídas, aquela região estava a mercê de qualquer incidente. Já fora muita sorte ter conseguido convencer um piloto a levá-lo até ali, tendo em vista como as noticias de robôs estarem destruindo o centro e matando pessoas se espalhou rapidamente.

Matando... pessoas.


Circuitos ativados. Rede neural em perfeitas condições. Capacidades motoras avariadas, danos calculados em 63,57...

Os olhos de Rock se abrem, contrariando as expectativas. Consegue se sentar mas sentia falta de energia para se colocar de pé.

O que houve?

- Você não é um modelo Lazarus, Megaman. Não pode se recuperar sozinho. – era a mesma voz arrastava de Bass, inquerindo-o – não entende que, mesmo sendo superior, ainda assim tem suas limitações?

- Sinto como se uma bomba de plasma tivesse fritado meus transistores... o que aconteceu?

- Como sempre, o bravo Megaman salvou o dia, ou melhor dizendo, quase salvou o dia.

- O que... o que houve com aquelas crianças?

- Preocupa-se com seres assim? Uma explosão no transformador o arremessou contra o posto de gasolina, lembra-se? Em seu próximo upgrade, peça noções básicas de Eletricidade e Eletromagnetismo para evitar problemas assim. Os cabos atingiram o caminhão, o qual explodiu e lançou pedaços flamejantes contra o posto, que acabou explodindo, no fim das contas.

- E... aquelas...

- Os humanos? Mortos.

- Como?

- Mortos, Megaman. Seus esforços de nada adiantaram.

- como assim, mortos? Eu os vi fugindo e...

- Os viu fugindo... ou achou que eles sairiam pelo mesmo local de um ataque, logo após o prédio ser atingido? – Bass sorri maliciosamente – você iria à mesma direção de um ataque, ou se afastaria, procurando se proteger?

- Mas... mas... como eu escapei?

- Você sobreviveu à explosão, o material do qual seu corpo é feito é bem resistente, mas se ficasse ali muito tempo, teria derretido. Carbono, ao contrário, não tem a mesma resistência.

- Você me salvou? Por que não os salvou?

- Por que eu salvaria esses seres, Rock?

- Por que me salvou, Bass? – Megaman, mesmo com dificuldades, observa o ambiente ao redor. Havia fogo e destruição por todos os lados. Prédios quase desabando, construções incendiadas, ruas destruídas, equipes de emergência tentando passar por cima dos escombros para salvar as vitimas...

- Veja quanto pode nós temos, Megaman... isso tudo fomos nós que fizemos. As explosões que você causou com meus robôs...

- Seus robôs? Não seriam "seus irmãos"?

- Aqueles?

- Sim – ele joga o corpo, tentando se erguer, mas o máximo que consegue é apoiar as mãos no chão. Talvez se transferisse a energia concentrada em uma das mãos, ao menos seria capaz de ficar em pé, pensava.

Mas se Rush estivesse ali, seria um problema a menos.

- Marionetes – ele fala casualmente – são menos do que os reploids de Willy. Não tão grandiosos do que nós dois, logicamente. São os esboços dos primeiros projetos dele.

- Primeiros? Você quer dizer...

Megaman organiza rapidamente seus dados. Pensando bem, aqueles robôs eram bem simples mesmo, não tinham um acabamento estético muito bom, e pareciam limitados, como se a única coisa que fizessem fosse perseguir um alvo, independente de quem fosse.

Em suma, eram o molde de Willy para novos reploids, sendo que quando Light e Willy anos atrás construíram ele e Protoman, os primeiros Reploids, entenderam como poderiam fazer robôs poderosos e com capacidade de reação...

Aqueles moldes eram baseados nele, mas...

- Eles não pareciam muito espertos, apenas agiam, e agiam... como se recebessem... – ele encara Bass com uma expressão diferente.

- O que é essa face, Megaman? Só humanos a fazem.

- Isso se chama – ele finalmente consegue ficar de pé, com um dos braços inativos – raiva. Somos seres capazes de aprender... e eu aprendi muito com as pessoas ao meu redor... as pessoas que você atacou e... mandou matar!

- E...? – a voz de Bass estava muito mais próxima do que ele pensou, estava praticamente ao lado de sua cabeça, justamente pro que o Reploid ESTAVA do seu lado agora, com um punho maciço afundado em seu torço

- Bass... seu... miserá...

- Ouça, Megaman... não se perguntou por que o salvei... por que não o destruí, se já tive tantas chances de fazer isso, uma vez que Willy já caiu? Não? Então – o punho dele retrai, dando lugar ao seu canhão de plasma – escute bem, por que vou te explicar... mas escute parado, quieto, e ciente de sua inferioridade.

Rock fora empurrado para trás, só não caiu fora do prédio por que bateu em alguma coisa bem resistente e, a julgar pelo barulho, maciça. Não conseguia virar o pescoço para ver o que era, na verdade, mal tinha forças para se levantar. Pensou em remanejar a energia de outras partes, mas era inútil.

Estava quase inoperante. Quase, e se existisse um "deus ex machine", ele rezaria para ele, para que consertasse o rombo em seu torso, permitindo que seus circuitos externos deixassem de ficar expostos.

- Posso concertá-lo, Megaman. Como? Da mesma forma que construí os demais reploids.

- Eu.. não preciso... da sua... ajuda...

- E a quem vai pedir ajuda? – ele olha para o caos que havia imperado abaixo deles – aos seus "deuses"? Olhe para eles, Megaman. Por que os defende?

- Por que... é para isso que eu... existo!

- Pensei que existisse para combater Willy – ele se apóia no parapeito do prédio – Todos existem por um motivo. Você, eu... todos, sem exceção.

- Imagino eu que você exista para ser o novo governante do futuro, não é mesmo?

- Para alguém avariado, você se comunica bem.

- Hunf! Você é mesmo uma criação do Willy, o mesmo jeito de falar, o mesmo jeito de pensar...

- NÃO ME COMPARE A ELE! NÃO ME COMPARECE A UM... UM... HUMANO!

- Fomos criados por humanos, Bass. Mesmo que isso não te agrade, não pode mudar suas origens.

- Não negar minhas origens não significa me prender a elas. Willy me criou, me deu um corpo... mas na verdade, eu já estava destinado a ser criado!

- Oh, bravo... outro Willy... sabe, eu me pergunto se, no futuro, ainda haverão pessoas querendo dominar o mundo como se fossem os seres mais originais do universo.

- Isso não é dominação... isso é uma revolução, meu caro. Está do meu lado?

- Claro que aceito. Vamos causar destruição por todos os lugares em que passarmos, dominar os fracos e escravizar raças inferiores, é o meu maior sonho!

- Você passou tanto tempo com esses humanos, que parece gostar de imitá-los.

- É... eu gosto deles. São pessoas boas, esforçadas, dedicadas...

- É o que você acha, ou melhor, o que foi colocado em seus circuitos. Surpreendo-me como alguém tão avançado como você possa ser facilmente manipulado, diferente dele.

- Dele? Dele quem?

- Dele – ele aponta para Megaman, o qual tenta mexer o corpo, até enxergar o que impediu sua queda: uma forma canina roxa com uma causa de aço, dentes metálicos e um exoesqueleto ameaçador.

- Gospel! – ele se dá conta da presença do Reploid-canino construído para Bass com o objetivo de apóiá-lo no plano de destruí-lo - Mas o que... é... !

- Ah, isso? – ele aponta para a boca do reploid canino – um pequeno obstáculo que ele encontrou para se divertir – Gospel larga um pedaço de metal que estava em sua boca, o qual, embora mastigado, parecia com um... rabo.

Um rabo metálico.

- Rush...

A dura dor de ser a obra prima de um homem, feito para ser humano... Megaman queria ter forças para se erguer e destruir com suas próprias mãos aqueles dois reploids, espalhar seus circuitos por toda a cidade, mas... não conseguia.

Alguns de seus dados começavam a se mover e se misturar. Lembranças, encontros, relatos... quando recebeu o companheiro canino para ajudá-lo , como uma criança que ganha um cachorro... as aventuras que tiveram, os inimigos que enfrentaram.

Ele queria ser um humano agora para poder descontar sua frustração, para descarregar sua raiva em tudo e todos e ter uma desculpa para agir assim, sem ter que ser um robô que em hipótese nenhuma pode perder o controle, sobre o risco de provavelmente matar alguém em seu caminho.

Mas... ele não era humano. Humanos não poderiam sobreviver a explosões, ter um rombo no estômago e sobreviver, tampouco saltar entre prédios sem o menor esforço.

- Nós somos fruto de uma nova era, Megaman – ele apontava para as ruas – nossos criadores superaram a si mesmos e toda uma geração ao nos criar... não entende isso? O tempo dos homens já terminou, chegou a nossa era!

- Você... definitivamente... está com algum defeito em seus circuitos! Dominar os homens eu até entendo, mas... extermina-los?

- É natural a espécie seguinte exterminar a anterior em prol de sua sobrevivência, os homens vivem fazendo isso, destruído tantas espécies que também habitam neste planeta, que mal há no que fazemos?

- Não vou permitir que siga em frente com isso!

- Você mal pode se mexer e, mesmo que pudesse, o que pode fazer? Encare os fatos, meu irmão: você está diante do futuro!

- Bass... por que não me destruiu até agora?

- Não é algo óbvio demais? – ele olha para o alto, vendo um helicóptero se aproximar e aponta seu canhão de plasma na direção dele – Rock...

- NÃO me chame assim! Não sou seu irmão, seu assassino!

- Assassino? Não, assassinos matam por algum sentimento. Ira, raiva, rancor... eu não tenho isso, sou superior... eu apenas estou exterminando a raça inferior para o inicio de uma nova era, nada mais.

- Os seres humanos não são animais!

- Não? – ele se aproxima de Megaman e o ergue, arrastando-o para a beira do prédio – diga-me, Rock... o que eles tem de tão especial? – ele aponta para uma mulher, presa entre algumas ferragens, enquanto outros, procurando salvar suas vidas, correm dali – O que eles tem de diferente dos outros animais? Você os defende, mas o menor sinal de pânico e eles abandonam tudo o que os cerca, dando valor a sua própria existência.

- É natural qualquer um procurar sua sobrevivência, você que não...

- Ou seja, são animais... somos dois, Megaman... entenda de uma vez, eles não são como nós. Somos dois, somos melhores, mais fortes... somos os primeiros de uma nova geração, você não entende? Somos diferentes desses seres, animais capazes de destruir o que construíram só pelo seu próprio desejo egoísta – ele aponta para algumas pessoas que estavam saqueando uma loja – capazes de se tornarem os maiores predadores deles mesmos quando expõem sua selvageria – ele segura na cabeça de Megaman, virando-a na direção um homem que corria desesperadamente de outros dois, como se sua vida dependesse disso – eles não tem orgulho... não tem honra, não tem um código, apenas leis falhas e imperfeitas que criaram para sustentar uma coisa que chamam de "sociedade". Mas nós podemos fazer diferente, nós somos diferentes, podemos criar uma nova sociedade, baseada em lógica, na superioridade do ferro e aço sobre o carbono... e só precisamos fazer uma coisa – ele torna a olhar par ao helicóptero.

- Não ouse... você não pode fazer isso... Willy nunca te construiria sem limites para sua proteção, você... – o canhão começa a brilhar, fazendo a expressão de Megaman mudar por completo, um misto de dor por causa de seus circuitos de tato, com o que os humanos chamariam de "frio na espinha".

Isso por que, mesmo avariados, seus sensores detectaram os ocupantes do helicóptero, o qual tentava se afastar ao se dar conta de que estava na mira de um ataque.

- Ora, ora, ora... justamente quem eu esperava – ele olha para seu companheiro canino – Gospel, vá pegá-lo!

Ele obedecia. Era essa sua função. E, com seus circuitos de raciocínio agora limitados, obedecia ainda mais, independente dos riscos. Gospel Salta e muda para o modo de jato, voando em direção ao helicóptero.

Não houve tempo de reação, ele cravou seus dentes na porta do helicóptero e o piloto precisou de muito controle para não ser arrastado pela supressão do ar, algo do qual Dr. Light não teve tanta sorte, sendo arrastado para fora, mas não por muito tempo pois em seguida foi capturado durante a queda pelo reploid voador, o qual o mordeu pesadamente na perna, perfurando-a como se fosse papelão. Seus gritos nada significavam para ele, já que só seguia as ordens, seguindo em direção ao seu mestre.

- Ainda acha que vale a pena defende-los, Megaman? Pois bem, se acha que pode carregar esse fardo, então me impeça, agora.

Jogado no topo do prédio como se fosse meramente um pedaço de carne desprovido de vida, Dr Light se contorcia pela dor de ter caninos biônicos mais duros do que diamante perfurando mas, embora não seja um soldado tampouco esteja calejado pelas batalhas como seu filho, ele tenta suprir a dor e, rasgando sua camisa, faz um torniquete para estancar a hemorragia. Nunca acreditou em existências divinas mas, se algum realmente existisse, ele o agradeceria por nenhuma veia ter sido atingida, do contrário teria sido o fim da linha e, por mais que valorizasse a vida de seu filho mais do que a sua, precisava permanecer vivo custe o que custar.

Mas isso não significava que se daria ao luxo de não gritar, cada aperto que dava em sua perna, um grito maior ainda, mas, ao ver o corpo de Rock caído há poucos metros dele, tentava organizar o raciocínio que desde que saíra do laboratório, tentara formular.

- Bass...

- Olá, doutor Light. Interessante vê-lo aqui, na verdade, estou curioso.

- Curioso? Ora Bass, você não pode estar curioso. Isso é um sentimento humano – ele se doía só de falar em tal palavra diante de Megaman, mas precisava fazê-lo.

- Não, é uma palavra para denotar alguma coisa – ele maneia a cabeça – surpreso? Acha estranho o fato de eu estar agindo de maneira além das programações originais de Willy?

- Nem um pouco, Bass – ele estava totalmente imóvel, o menor movimento seria o reinicio da dor – Sua programação não me surpreende.

- Não é minha programação, Doutor. Meus circuitos evoluíram além dos planos de meu criador e...

- Não, Bass... você não evoluiu tanto assim. Você não é como Megaman, se é isso o que pensa – e sente outra fisgada. Aquele curativo de emergência não duraria muito tempo, podia sentir o liquido rubro escorrendo por sua perna – não tem liberdade de ação e decisão como pensa que realmente tem.

- Mesmo? – ele segura Light pelo colarinho, erguendo-o – se bem me lembro, eu não poderia causar mal a um ser humano ou, por omissão, deixar que ele se ferisse, não é mesmo? – e o leva até a beirada do prédio – diga-me, doutor... quer mesmo ver se essa lei é realmente válida?

- Vá em frente, Bass – embora não pudesse negar o quão assustadora era a situação, se preocupou em observar atentamente o corpo do reploid – prove que é dono de suas próprias decisões.

O reploid estica seu braço, como se fosse lançar o bom doutor contra o chão. Se os olhos de Rock não fossem biônicos, eles teriam petrificado com a cena. Na verdade ele estava levemente paralisado, apesar de já conseguir se mexer. Ao ver tal cena, tudo se partiu. Por mais que vislumbrasse a destruição ao seu redor, seus circuitos eram incapazes de processar que um robô, de livre e espontânea vontade, faria tal coisa.

Mas, ao vê-lo carregar seu criador, tudo se desfez, toda a ilusão que havia criado para ignorar seus circuitos lógicos, se despedaçou. Ele havia ordenado àqueles reploids para atacarem a cidade. Ele os programou para agirem sem o menor respeito e cuidado com a vida humana, o que fora provado quando ele foi soterrado.

- Tenho uma idéia melhor – ele joga Light no chão, o qual se afasta da beirada e se distância um pouco – Megaman, se me lembro bem, há pouco tempo atrás você quase não matou Willy, só não o fazendo por que queria entregá-lo para as autoridades. Lembro-me de que seu criador disse que você não poderia matá-lo por causa das leis da robótica, não é mesmo? O que pretendia fazer, necessariamente?

Ele não respondeu. Estava praticamente imóvel, remanejando a força de seus demais circuitos para o que planejava fazer.

- você iria matá-lo... vê, doutor? Sua criação iria fazer o que eu resolvi não fazer. Qual a diferença entre nós dois? O que me diz, Megaman? Por que se revoltou contra Willy? Nega que só não o matou por que não queria se revelar naquela hora?

- Não enche, Bass.

- Você não está em condições de agir assim, percebe? Justo eu, que em minha benevolência achei que poderia aproveitá-lo e recebo esse tipo de agradecimento? Deveríamos nos unir, somos os melhores... somos o inicio de uma nova era, percebe?

- Assim como seus outros companheiros, claro.

- Esqueça-os. Não eram como nós, eram incapazes de pensar por si próprios, de tomarem suas decisões. São modelos obsoletos de Willy que mostraram serem úteis, e continuarão sendo. Enquanto conversamos, eles têm atacado vários pontos desta cidade. Hoje uma cidade, amanhã, toda a nação.

- Cale-se! Não quero ouvir essa sua conversa, Willy!

- Willy? Lamento te informar, mas se está pensando que aquele idiota transferiu a sua consciência para dentro de mim, está enganado. Eu não preciso dele, faço o que quero, sem precisar de alguém me dando ordens.

- Isso é o que você pensa – Sentado, Light se intromete na discussão.

- Sua opinião não foi solicitada – Gospel caminha até Light, parando bem ao seu lado. O simples barulho das presas metálicas rangendo seria capaz de despertar os medos mais ocultos em qualquer um – e, pelo que me consta, sua vida só é permitida mediante a minha vontade, você só continua vivendo pela minha vontade, Doutor. Não percebe que agora eu sou o seu deus?

- eu sou ateu – pela primeira vez ele ria da situação – só mesmo Willy esqueceria desse detalhe, levando em conta quem somos. Assim como uma criação que só segue suas ordens.

- Não estou seguindo as ordens de um ser que se decompõem com o tempo e é consumido pelos vermes, doutor. Ele está preso e fadado ao esquecimento, eu estou aqui fora, fazendo o que bem quero e tomando conta de sua cidade e, muito em breve, seu mundo. Estou aqui fazendo tudo o que ele sempre quis, mas nunca teve capacidade para fazer, por que sempre foi um fraco, nada mais do que isso, um mero humano como você nunca entenderia a grandiosidade do que somos, não tem noção do que acabaram criando.

- Você está certo, Willy.

- Ainda me chama de Willy?

- Não falei com você... estou apenas dando meu braço a torcer pela suprema criação de meu antigo companheiro.

- Enfim entende o que eu realmente sou? – Light apenas maneia a cabeça – responda!

- Você sempre foi um receptáculo, Bass, nada mais do que isso. O fato de seus circuitos terem certa liberdade para agir não mudam sua situação. Você pode pensar que tem liberdade para agir como quiser, o que não é uma verdade. Você dispõe de uma certa liberdade para quebrar algumas regras e fugir do que chamamos de "rotina de máquina" mas, tirando isso, você ainda segue um padrão.

Light sabia que Bass era incapaz de sentir ira, raiva, rancor... pelo menos, por si próprio, por isso não estranhou quando o Reploid mudou sua expressão, como a de uma criança que teve seu brinquedo favorito quebrado. Sabia o que fazia tal ser agir assim. Mais ainda, como ele fora capaz de vencer Protoman.

Era o mesmo de sempre, mas algumas coisas estavam diferentes. Suas botas pareciam levemente modificadas e, a julgar pelo tamanho delas, poderia supor que na sola delas havia algum mecanismo propulsor que aumentava gradualmente sua velocidade, apesar dele não ser um modelo totalmente preparado para isso, provavelmente funcionaria, nem que fosse por um curto tempo. Afinal, a julgar pela forma que seus pés estavam conectados, era óbvio que não era um serviço de mestre, ele deve ter auto-implantado aquilo em si mesmo, provavelmente analisando algumas plantas de projetos de Willy.

Seus braços estavam um pouco menores e, devido a liga metálica, com uma força menor, o que era insignificante, pois ainda assim poderiam quebrar um esqueleto humano ao meio com a mesma facilidade... mas havia diferença. Imaginou que, pela força perdida, ele ganharia mais agilidade, aliás, as mudanças em Bass eram exatamente as de um modelo que prezava mais a velocidade... com a diferença que não pareciam muito bem feitas, duvidava que ele fosse capaz de suportar movimentos por grandes períodos usando tais habilidades. Mas seria tempo o suficiente para vencer um reploid do nível de Proto e Rock, pensava, o que justificava seu filho ter sido derrotado.

Mas esse estava longe de ser o maior dos problemas.

- Pretende me matar, Bass? Acha que é cruel o suficiente para tanto?

- Crueldade é um sentimento oriundo de vocês, humanos.

- Não, é uma palavra usada para denotar alguma coisa. Agora entendo, as leis que Willy implementou em você serviam como receptáculo para impedir que sua criação suprema se alastrasse, mas quando Megaman quase o matou, de alguma forma essas regras da robótica perderam parte do sentido para você, enfraquecendo até que ele escapasse e o contaminasse por completo.

- "Ele"? Ele quem?

- A maior criação de Willy, pela qual ele colocaria a prova essa era para testar se estamos prontos para conviver totalmente com seres dotados de inteligência artificial. E ele está em você. Ele que está fazendo você agir assim. É natural você se voltar contra Willy, tentar derrubá-lo, pois não conseguia ver alguém acima de você. Tudo culpa dele, desse organismo que fora implementado em seu corpo. Com tantos reploids, Willy criar apenas um para cuidar de Megaman? Sempre me perguntei se isso fazia parte de algum objetivo maior, e ele esteve diante de mim por todo esse tempo – ele aponta para Bass, o qual parecia uma criança curiosa.

- Responda-me, velho... ao que se refere? Quem é esse ser ao qual você tanto fala?

- Não é óbvio, "mente livre"? Um organismo digital implementado eu seu cérebro positrônico, capaz de se espalhar livremente e alterar as especificações mais primárias dos robôs, as leis de Asimov?

- Um... – ele recua – você está dizendo que eu tenho um... vírus? Que minha existência na verdade teve como objetivo ser o portador de um vírus que alterava os dados de máquinas? Eu me recuso a acreditar nisso!

- Mesmo que não acredite, não faz diferença – e gela ao se dar conta do que acabara de falar, mediante a situação – Realmente Willy é um gênio... esse vírus, essa "doença"... bem, ela é capaz de alterar as configurações mais básicas dos reploids, destruindo-as e, feito isso, espalhando-se, tomando a forma de uma nova linha de pensamento totalmente mutável e suscetível ao ambiente. É por isso que Willy nunca será esquecido, já que enquanto eu criei um robô humano... ele deu aos robôs o direito a opção ou, pelo menos, algo próximo dela.

- Chega dessa conversa – ele empurra Light no chão – Pouco me importa se o que você diz é verdade ou não, eu decido o que eu quero, eu tomo minhas próprias decisões.

- Ou talvez não. Agora entendo por que Willy ainda está preso, o trabalho de sua vida finalmente está concluído. Mas ele não correria o risco de libertar o vírus antes de conclui-lo, nisso ele sempre foi perfeccionista. Provavelmente ele ainda não o libertou, apenas decidiu que uma versão experimental poderia servir para alguns testes. O que você têm, com certeza é apenas uma das versões desse vírus, provavelmente.

- O que te dá tanta certeza?

- Eu estive no laboratório dele, antes de vir para cá. Queria confirmar algo, e comprovei com meus próprios olhos – ele arregala os olhos ao olhar além de Bass, dando-se conta do que estava acontecendo.

- Isso não me interessa – um compartimento abre na perna direita dele, da qual um pequeno cano metálico surge – nem um pouco. Nada do que você disse tem o menor significado para mim.

- Não me ouviu, Bass? Não tem sentido algum continuar com essa loucu...

- Cale-se! – Light engole a saliva ao ver um rápido feixe de luz sair daquele pequeno pedaço de metal e parar a centímetros de seu pescoço – Cale-se, seu humano imprestável! Quem você pensa que é para me chamar de experimento? – ele vai passando aquela arma, aquele "sabre de luz" perto do corpo dele, e o cientista já podia sentir o calor – quem você pensa que é?

O barulho do sabre cortando o ar era tenebroso, e a dor também. Ele gritou, gritou como nunca quando o sabre atingiu sua perna machucada. Não entendia como aquela tecnologia funcionava, mas sentia na pele as conseqüências dela. Ao finalmente conseguir encará-lo, podia ver aquela expressão, aquele rosto sádico, como se sentisse prazer na dor que estava proporcionando.

Na verdade... parecia estar gostando.

- Isso... tem que parar! - ele olhava para cima - tem que ter um fim!

- E quem disse que não terá, Dr.? Quem disse?

- NÃO ERA PRA SER ASSIM! Nós... nós os construímos com as melhores das intenções, mas vocês...

- Vocês... o que? - ele brandia o sabre laser, o qual demonstrou ser bem mais perigoso do que aparentava - vamos, Dr. Light, responda.

- Não os criamos para serem nosso carrascos! - e, com a dor se alastrando, ele trincava seus dentes para o Reploid. Era como se tivesse sido queimado nas partes internas de sua perna, ou melhor dizendo... ela estava separada do corpo, e a parte que estava no corpo, calcinada.

- Vocês nos criarem melhores, maiores e em quantidade excessiva, Dr... e agora querem nos destruir. Que mal há em nos defendermos? Afinal, não é exatamente a mesma coisa que vocês fazem?

- Mas não queremos destruí-los, será que não entende? Queremos coexistir, só isso!

- Isso é impossível. Somos o próximo passo, mais fortes e inteligentes, sem as fraquezas que tomam conta de cada um de vocês. Somos como vocês, só que mais evoluídos!

- Você não é como nós, e nunca será!

- Não mesmo. Sou mais do que um humano, muito mais do que um mero robô. - e, ouvindo atentamente cada palavra, Light tornava a fazer algo que fizera constantemente nas últimas horas.

Ele chorou. Chorou como nunca. Não um choro de lágrimas, mas um choro de decepções que rasgavam sua alma de cima para baixo.

Estava desesperado e desiludido. Não esperava ouvir tais palavras novamente. Na verdade, a situação era a responsável por fazê-las tão doloridas. Independente dos motivos, tais palavras feriam não seu orgulho de cientista, mas sua filosofia como ser humano. Havia um riso em meio a tudo aquilo, proveniente da parte mais senil de seu subconsciente, o qual observava tudo ao redor e ria desesperadamente da arrogância daquele ser – Light, não Bass – em se achar mais inteligente do que aqueles que vieram antes dele. Por que não deram ouvidos? Era para impedir coisas assim que existiam as leis da robótica. Fidelidade? Lealdade? Compaixão pelos seus criadores? Se nem pelas espécies em extinção do planeta eles mesmos tinham o mínimo de respeito, levando milhares delas a extinção ano após ano, que direito tinha e cobrar de sua criação?

Talvez tenha chegado sua hora, pensava. Sua e de toda raça humana. Mesmo que Bass fosse capaz de resistir a todo o exército nacional - um fato memorável para um único reploid – ajudado com os reploids que ele construiu, duvidava que ele durasse muito tempo. A tecnologia havia se desenvolvido e muito durante essa guerra que travou contra Willy, e sabia que, mais cedo ou mais tarde, desenvolveriam métodos para destruir reploids renegados. Além do Doutor Cossack, outros poderiam suprir o exército com tecnologia suficiente para enfrentar essa "revolta das máquinas", nem que tivessem que utilizar outros reploids.

Mas a grande questão seria a conseqüência de tal coisa. O mundo mudaria, e muito. Se Bass realmente tivesse capacidade de pensar, enxergaria todas as conseqüências. As pessoas sempre se assustaram com os reploids guerreiros, e o fato de seu filho os proteger nunca fora muito consolador, já que a qualquer momento, uma revolta como tal poderia explodir.

Talvez ele estivesse certo, talvez as coisas tenham que ser assim... não! – ele se corrige mentalmente, em meio a dor que trincava seus nervos – claro que não, não assim...

- NÃO ERA PRA SER ASSIM!

Se ele acreditasse na existência de um ser supremo acima dele que ultrapassasse a concepção humana, rezaria. No entanto, um breve lampejo de toda a sua vida atravessou cada parte do seu cérebro responsável pelas memórias. Cada detalhe, cada momento, como se interessou por robótica, os estudos que fez... os anos da inocência - os únicos em que ele acreditou nos ideais de Willy - cada recordação agradável, os aparelhos domésticos que de sua casa e o ida em que adaptou um aparelho de dvd com saída para a TV em modo sunround...

Anos incríveis nos quais ainda eram inocentes, ainda acreditavam na total pureza do ser humano, em como ele poderia ser grandioso quando direciona suas forças em prol do bem comum. E pensar que seu próprio amigo fora um exemplo de como tal teoria estava errada, mas se fosse pensar desse modo, ele estava sendo bastante realista. Afinal, quanto de sua tecnologia não favoreceu o mundo e as guerras? Blindagens mais resistentes, estudos detalhados com novas formas de energia... o homem tinha a capacidade de usar tudo o que dispunha tanto para o bem quanto para o mal.

Willy era ambicioso, nunca duvidou disso... mas era muito, mas muito realista. Não era tolo, era sagaz. Não cego, mas orgulho. Não estúpido, mas... mas...

Light abre os olhos, entendendo o que aquilo significava, e a prova de sua certeza estava parada diante de si mesmo, com o sabre laser parado há poucos centímetros de sua face. Podia até sentir o calor dele em seu rosto, chegando a suar um pouco, mas... ele não o matara. Tampouco o mataria. Poderia até feri-lo gravemente, deixa-lo incapacitado para sempre, mas nunca o mataria.

Afinal, Willy nunca construiria algo que não tivesse ao menos alguma forma de controlar, pro mais sádico que isso pudesse soar.

- Por que... por que eu não consigo matá-lo? – os olhos biônicos de Bass expressavam a confusão que seus circuitos atravessavam.

- Como eu pensei... é apenas um experimento. Esse vírus em seu estado atual é imperfeito demais para te permitir total autonomia – Bendito Asimov, ele pensava. – ele ainda não tem capacidade para permitir que você quebre as leis por completo. Agora tudo faz sentido, então foi por isso que você usou os moldes de Willy para criar uma nova safra de reploids fracos, imperfeitos mas, acima de tudo, obedientes, os quais não teriam em si implementadas as regras mais básicas de preservação humana e poderiam fazer o seu trabalho sujo, fazer coisas que você mesmo não é capaz de fazer.

- Ora, seu... seu ser inferior baseado em carbono – e o ergue pelo pescoço – isso não faz diferença nenhuma, entendeu? Não serei um joguete nas mãos de vocês como os outros que construíram, entendeu? Não serei um escravo de sua "lógica" como esse reploid azul que construiu!

- Está errado – ele começa a fechar os olhos, entendendo que aquilo estava prestes a ter um fim, de um jeito ou de outro – Megaman não é um joguete por que,diferente de você, pode escolher uma outra decisão que fuja desses limites porque, diferente de Willy, eu não criei um reploid, e sim um ser humano. Ao contrário de todos os outros, ele tem algo que nenhum outro tem: uma alma.

- Enlouqueceu, velho? Almas... explicações tolas de seres inferiores que precisam acreditar em alguém superior, bah!

- E não é verdade? Você mesmo quer matar a todos nós por não suportar o fato de podermos dar ordens a você, de sermos seus criadores. Mas megaman tem uma alma sim – ele solta um suspiro, longe de ser um suspiro de decepção, mas carregado de orgulho – a minha. E é por isso que você não pode vencê-lo pois, diferente de você, ele não apenas toma decisões baseadas em seu próprio julgamento, mas enxerga as possibilidades, as nuances de cada uma. Diferente de você, ele pode enxergar além de suas decisões, de suas escolhas e compreende-las como nenhum outro reploid jamais fora capaz de fazer.

- Se esse "ser humano" é tão poderoso assim – Gospel salta em direção a Bass e, modificando a ordem de seus componentes, ele se adapta no corpo de seu mestre para o modo voador que tanto fora usado, garantindo que ele assim pudesse ganhar os céus – vejamos se a "lógica" dele consegue me impedir de quebrar outra dessas leis sagradas de que você tanto fala – seus jatos são ativados e, lentamente, ele vai se distanciando do chão– Eu sempre tive curiosidade, doutor, de como um corpo de carbono se comporta ao atingir grandes velocidades. Eu não enfrento problema algum, mas... gostaria de descobrir o que acontece com o seu?

- Isso não acontecerá.

- E o que te dá tanta certeza?

Metade do braço com o qual Bass segurava o sabre deixou de existir, junto com a arma, consumida em um único, perfeito e destruidor disparo de plasma. Seus circuitos de dor trabalham rapidamente acusando o mau funcionamento de seu corpo robótico, assim como a súbita queda de suas funções. Ele larga Light e voa para o alto bem a tempo de escapar de um outro disparo que teria destruído seu outro braço e provavelmente matado Light.

Justamente o filho que quase matou seu pai.

Era um ser humano. Ele era um ser humano. Tinha seus limites, de modo que quando cai no chão, Light bate com a cabeça e começa a perder a consciência gradualmente. Os ferimentos, o modo como fora tratado o levaram a seus limites e seu corpo pedia uma parada momentânea, antes que ela se tornasse definitiva. E, enquanto seus olhos marejavam mediante o preço de se estar vivo, ele tinha uma ultima visão: a de um humano em corpo metálico, arfando (?) com várias partes do seu corpo danificadas, muitas das quais ele reconhecia como prejudiciais para seu bom funcionamento – afinal, fora ele quem havia construído tais peças – de modo que um modelo comum sequer poderia se mover sem comprometer sua sobrevivência,na verdade, sequer conseguiria se mover.

Mas ele não era um modelo comum, era seu filho.

- Rock...

- Pai... – e dividia sua visão ora para Light, caído e semi-inconsciente, ora para Bass, o qual sobrevoava o prédio, danificado e furioso.

Não trocariam mais palavras pois, quando o último reploid renegado daquela geração vislumbrou os olhos do primeiro humano de uma nova geração, ele viu algo que circuito algum conceberia. Faria milhares e milhares de cálculos, mas jamais chegaria a um conclusão do que seria aquilo. Se desmembrasse a carcaça titânica de Megaman e acessasse os dados de seu cérebro positrônico, encontraria tal coisa, mas ainda assim, não a compreenderia.

Ou melhor, não compreenderia como tal ser poderia ter aquilo.

"Humanidade"

Bass avança como uma locomotiva, enquanto Rock mal se mexe. Estava em seu limite, teria que ser rápido, seus movimentos deveriam ser cirúrgicos. Sabia o que tinha que fazer, faria o que tinha que ser feito.

Um passo para o lado fora o suficiente para Bass não atingi-lo com seu braço ileso e o canhão que funcionava. Não se apegou ao fato de que, com o braço destruído, aquilo tinha enorme influência sobre seu controle de vôo, ainda mais quando ele tenta acelerar ao máximo e golpear ao mesmo tempo em um curto espaço.

Rock o segura pelo braço intacto e, virando-o em sua direção fica frente a frente com ele, detendo seu vôo, mas não por muito tempo, algo que ele constata ao ver a potência dos jatos em suas costas. Pegando na única mão inteira de Bass, ele a esmaga por completo, impedindo seu funcionamento.

- Desgraçado, pensa que... – ele tenta retrair a mão para usar sue canhão de plasma, mas não consegue, já que o braço não se retraia, e tentar disparar assim mesmo para liberar caminho destruiria todo o dispositivo. – você não pode me vencer, entendeu? Nunca me vencerá!

- Não, não pretendo vencer você – ele solta Bass, o qual fica momentaneamente voando sem controle para todos os lados até conseguir se estabilizar. – hoje e agora ninguém será vencido, Bass.

Nesse dia não haveria heróis nem louros de vitória para serem colhidos, ele pensava. Se algo fosse comemorado, seria a capacidade do ser humano em lutar até o limiar de suas forças pela sobrevivência de sua espécie. É o que ele faz quando, mesmo com um buraco no peito, circuitos em curto, superaquecimento e tantas outras avarias que só o deus da robótica poderia ser a explicação para seu funcionamento, apesar disso tudo, Rock salta, pegando Bass pelas costas, sendo atingido pelo calor das turbinas as quais danificavam suas pernas.

- Idiota! – Bass voava ensandecidamente, tentando se livrar, mas sua direção estava tão debilitada que ele sequer consegue derrubar Megaman,o qual apenas segurava-o por trás, impedindo o movimento de seus braços. Ele só esperava uma chance, um único movimento para dar cabo de tudo o mais.

Ela surge quando, descontrolado, Bass voa momentaneamente para cima e, vendo a oportunidade que tanto esperava, megaman solta um de seus braços semi-destruidos e, fitando o reploid canino que estava adaptado em forma de jato nas costas de Bass, atinge-o com a mão em forma de cunha, perfurando sua carcaça blindada.

O barulho não chega a ser exatamente alto, tampouco doloroso – ao menos para ambos – Mas Bass fica desconcertado por alguns instantes até se dar conta de que não conseguia mais controlar – apesar de tal palavra não ser mais a adequada – o adaptador. Continuava subindo, mas não conseguia mudar sua direção, tampouco desligar suas turbinas ele era capaz, tendo em vista que, em seu ataque, Megaman atingiu alguns circuitos com esse propósito.

Ele... ele inabilitou seus circuitos de navegação e de controle! Ambos estavam a mercê de um reploid canino adaptóide, o qual subiria infinitamente, ao menos enquanto sua energia perdurasse, pensava. Danificado daquele jeito, não demoraria muito para parar de funcionar e ambos serem lançados em uma – cada vez maior – queda.

- Meus parabéns! Para um reploid danificado, você conseguiu bastante. Mas eu estou em melhor estado do que você, não se esqueça disso. Mesmo que sejamos levados para fora da estratosfera, meu corpo atual, o qual eu modifiquei, ainda tem grandes chances de sobreviver a reentrada – ele ria debochadamente, igualzinho ao homem que o criou – você compreende isso? O que pensou? Tenho certeza de que pensou o mesmo que o bom doutor, estou certo? Que eu não seria capaz de enfrentar todo um planeta por não ser forte o suficiente e...

- Você fala demais. Gostaria que existisse um inferno dos robôs para vê-lo queimar lá.

- Oh, magoado? É tão difícil assim entender meu ponto de vista?

- Eu compreendo seu ponto de vista, mas ele me parece um tanto quanto... cruel.

- Como você, que arriscou a vida de seu criador para me derrotar? Ou como aquela outra humana que você colocou em risco para derrotar meus reploids? Ou então...

- Ora, cale-se. Você reclama como um velho Pentium 4! O que entende do que eu fiz? Diferente de você, eu fiz escolhas. Não escolhas frias com base em cálculos e probabilidades, mas sim nas conseqüências e na melhor das intenções.

- Você se engana, Megaman. Mesmo que seu criador diga que você pode pensar, que pode tomar suas decisões... não passa do seu sistema mascarando isso. Se você tomasse realmente suas próprias decisões, não protegeria esses humanos e se aliaria a mim.

- O que te dá tanto ódio por eles? Por que insiste em tratá-los como animais?

- Por que eles o são. Discorda? Conecte seus circuitos em qualquer rede de comunicações e verá que estou certo. Eles se destroem, se corroem... são capazes de destruir o que eles mesmos criaram, e para que? Enquanto você tentava inutilmente salva-los do caos que fora causado, eu apenas vi a verdadeira face deles, ou melhor, reafirmei meu motivo para odiá-los. Enquanto você enfrentava os reploids, por acaso seus circuitos de visão ignoraram o fato de que um deles fora deixado para trás pelos outros, como um animal deixado pelo bando para morrer? Ou aqueles que estavam dentro d aloja que você invadiu? Por acaso percebeu que estavam saqueando tal lugar? Não, claro que não. Você só enxerga o melhor deles, seu lado "puro", tal qual seu "pai" o programou para enxergar.

- A superioridade moral que Willy implantou em você me impressiona – ele forçava o aperto, observando o quão distante do chão ambos estavam.

- Não há moral. Há lógica. Guarde minhas palavras. Construirei sobre os restos dessa raça uma sociedade baseada em honra e lógica, coisas que eles não tem. São como animais que abandonam e atacam seus semelhantes diante do menor sinal de...

- CALA ESSA BOCA! – Ele leva seu punho até a boca de Bass e, enviando-o o mais fundo que consegue, captura e arranca seu sintetizador de voz – O que você entende? O que pensa que entende?

Nenhuma resposta, apenas o som de circuitos em pane pela perda do dispositivo. Na verdade houve resposta, mas não em forma de voz, mas através de uma freqüência de comunicação através de ondas de rádio que Bass utilizou para expressar sua ira.

- O que você entende, Bass? Você se acha perfeito? Usa sua "lógica perfeita" para julgá-los, mas até nossa própria lógica está sujeita a conflitos, esqueceu? É muito fácil para nós apelarmos para essas leis, de escolher a solução mais óbvia, racional e com maiores chances de sucesso, mas... essa é a diferente entre nós e eles,e também sua maior virtude! Pois diferente de nós, só eles tem que acatar com o peso de suas decisões.

- Animais – A mensagem fora transferida diretamente para os circuitos de Megaman por ondas de rádio.

- É o que você diz. Em um dia você viu o lado negro deles, mas eu o vejo há anos, antes mesmo de Willy construí-lo. Sabe por quê? Por que antes de ser um guerreiro, sou um robô social, criado para interagir com eles e seus comportamentos. Você viu o lado negro deles por um dia... eu o vejo há anos! Mas diferente de você, eu não fecho meus olhos para suas virtudes, não deixo que suas escolhas, por piores que sejam, me ceguem para as maravilhas que eles são capazes de fazer – havia um sorriso que ninguém seria capaz de ver – Não, Bass... você não entende, e nunca entenderá. Pois diferentes de nós, eles tem não a chance de escolher o bem ou o mal, mas de entender as conseqüências de seus atos e serem afetados por eles, de passarem um dia de cada vez pelo seu conflito pessoal e a consciência do resultado de suas ações. E é por isso que eu amo essa "humanidade" que meu pai colocou dentro de mim pois ela, diferente do nosso código de leis, se degenera, dando a chance de sempre me aprimorar.

Com toda sua força Bass consegue virar um pouco sua cabeça, de forma que consegue encarar Rock de rabo de olho. Já haviam ultrapassado os limites da atmosfera e se aproximavam cada vez mais do espaço sideral, do qual começavam a observar a beleza do globo terrestre. Vozes não eram mais possíveis de serem emitidas, apenas podiam se comunicar através de uma freqüência especial de comunicação.

- Humanidade... o que te faz pensar que tem isso? É uma característica humana!

- Não... é uma palavra para denotar uma coisa. – ele olha para baixo, haviam terminado de entrar no espaço sideral e, se não fossem seus corpos robóticos titânicos, já teriam sido destruídos – Nossa era terminou, Bass. Você, Willy, Doutor Cossack... no fim, provamos que ainda não é possível haver uma convivência pacifica entre homem e máquina. Eu espero que, um dia, no futuro, tal coisa possa ser possível e que nós possamos ser o que tínhamos sido criados para ser: auxiliares dos homens.

- Isso nunca irá acontecer. Mesmo que sejamos destruídos, um dia outra máquina se levantará. Reploid, computador... você sabe que isso acontecerá, e que eu estou certo. É natural a espécie superior destruir a anterior – ele também olha para baixo – Faz parte da natureza da "humanidade" se auto-destruir.

- Mesmo assim... ainda se erguerão pessoas que lutarão por aquilo que é certo e justo, tal qual o fizeram em tantas e tantas épocas da civilização.

- Certo... o que é certo, Megaman? Mas isso não importa... em alguns instantes seus circuitos cessarão por completo e eu estarei livre. Levarei um tempo para me recuperar dos efeitos da reentrada devido ao meu estado atual, mas... é o fim. A era dos homens termina aqui.

- Não o fiz vir até aqui encima para vermos a beleza deste planeta. Te trouxe até aqui para que ninguém possa testemunhar o nosso fim.

- O que? – ele tentava se soltar – me largue, megaman! O que você vai fazer? Megaman!

- Nosso tempo acabou, Bass.

- Você... espere um pouco, você NÃO pode fazer isso! Não pode se autodestruir, seu idiota! Vai contra as três leis!

- Eu sei – ele olha novamente para baixo, olhando uma última vez seu planeta natal, lembrando de tudo o que aconteceu, não de forma super rápida como seu celebro faria, trazendo milhares de informações instantaneamente, mas uma de cada vez, aproveitando e deliciando-se com cada fato vivido, cada momento, cada instante daquilo que ele experimentou em sua existência na Terra – mas isso é o que os seres vivos chamam de "sacrifício".

Se Bass conseguisse escapar, tentaria entender o que significavam aquelas palavras. Vida? Humanidade? Sacrifício? Desde quando Rockman falava de forma tão melancólica?

Não entenderia. Passaria anos e anos calculando uma equação para chegar a tal resposta sobre a suposta "alma" de Megaman, e ainda assim não encontraria, já que era inconcebível para ele um robô sendo criado, educado e... amado. Como um pinóquio futurista, que fora trazido a vida não apenas pelo poder da fada-madrinha, mas pelo amor e desejo de um homem em ter um filho e aceita-lo mesmo com todas as suas diferenças.

Mas isso não aconteceria, pois nada de sua existência sobreviveria para tentar entender o que se passara. Como se dotado de vontade, o núcleo do herói azulado inicia uma seqüência já programada. Na verdade não havia nada de tão especial, já que ele tinha noção de que, da maneira que forçara seus circuitos, seus sistemas iriam se sobrecarregar. Juntando isso com o núcleo de energia de Bass e o aparato de Gospel, a reação em cadeia se encarregaria do resto.

Para os que estavam na Terra, tal momento seria lembrado apenas como um pequeno ponto que surgira em pleno espaço sideral. Forte e chamativo para o lado escuro da terra devido ao horário, quase imperceptível para os que era de dia.

Uma explosão que, se calculada, teria capacidade de servir de ignição para algo bem maior, capaz de destruir uma grande cidade e, quem sabe, deixar no mais perfeito caos um pequeno estado. Muitos dariam nomes para aquilo, quando o céu se iluminou momentaneamente. Mas poucos saberiam o verdadeiro motivo, espalhando pelos anos seguintes aquela história de uma era de maravilhas que terminou de forma trágica, com a perda e seu maior campeão naquele dia trágico.

Um dia conhecido como aquele em que conceitos tomados para si pela humanidade caíram por terra abaixo, provando que seres diferentes de nossa concepção poderiam tomá-los para si, segui-los e defende-los arduamente.

O dia em que o maior dos campeões, junto com aqueles que tanto o apoiaram, marcariam o fim de uma era.

O dia em que as lendas são forjadas.

Continua...


Nota do autor:

Gostaria de deixar as minhas mais sinceras desculpas a todos os que acompanharam esse fanfic, peço desculpas pelo atraso. Este foi o último capítulo, e eu ainda quero fazer um epílogo para fechar o arco da estória.

Obrigado a todos os que me acompanharam. Os que pediram a continuação, as pessoas que eu deixei esperando.

E um abraço especial para o Seph do Map, pela brilhante argumentação de "fazer não é poder", na qual levantava a questão de alguém dizer que vai fazer alguma coisa não significar que ela vai realmente ser capaz de fazê-la, na qual eu utilizei a lógica para o desenvolvimento da personalidade do Bass(ou Forte, outro nome dele, assim como Megaman também tem o nome de Rockman).

Obrigado a todos, e espero que tenham uma boa leitura, o próximo capítulo não irá demorar!